Trabalho e Formacao

Requinte de segunda mão

Brasiliense idealizou um brechó de luxo para a irmã trabalhar, mas, depois que ela morreu, assumiu as rédeas do negócio e se apaixonou pela área. Criteriosa, a empresária só revende marcas de alto padrão

Ana Paula Lisboa
postado em 07/05/2017 15:59

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No Comadres Brechó de Luxo, Tatiana Rodrigues, 32 anos, revende peças de marcas de alto padrão, como Marc Jacobs, Gucci, Hugo Boss, Miu Miu, Louis Vuitton, Prada e Chanel. A loja foi aberta na 214 Sul em março de 2012 e, há dois meses, mudou para o Liberty Mall, onde ela atende clientes com a ajuda de uma funcionária. ;Ficamos bem na entrada do shopping, então muita gente fica curiosa para conhecer. É bem diferente, pois, antes, chegava-se ao espaço (que era uma sala no segundo andar) exclusivamente pelo boca a boca;, compara. ;Eu não perdi o público que está comigo desde o início e, agora, há uma projeção maior.; A recessão econômica só tem trazido bons frutos ao negócio. ;Não senti a crise, muito pelo contrário. Eu me tornei uma alternativa para comprar itens de luxo, mas pagar menos. Isso ajuda a diminuir o preconceito que se tem contra brechós e coisas usadas;, percebe.


Tatiana observa que esse ;pé atrás; some ao se entrar na loja e ver tudo em bom estado e organizado. No entanto, há quem tenha dificuldade de aceitar as cifras estampadas nas etiquetas. ;Tem pessoas que não entendem os preços, dizem que são altos, saem revoltadas, xingando, pois acreditam que peças de segunda mão precisam ser muito baratas;, conta. A empresária explica, porém, que itens de luxo não perdem valor com facilidade, a não ser que não sejam bem cuidados. ;Há quem não compreenda a questão da marca. Para certo público, o fato de uma bolsa ser da Gucci não significa nada. Mas há uma parcela que valoriza isso.; A proprietária sempre toma cuidado para que a compra valha a pena. ;Os itens saem, em geral, de 20% a 25% mais baratos;, garante. Muitas variáveis podem afetar a quantia cobrada. ;Peças de edição limitada ou de coleção esgotada podem custar mais caro do que na época em que foram lançadas;, informa.


Tatiana se considera perfeccionista e aplica essa característica no negócio. Antes de aceitar qualquer artigo, ela faz um estudo minucioso do estado de conservação ; que precisa ser excelente ; e comprova a autenticidade da peça. ;Eu não me importo de pegar roupas de marcas nacionais, desde que sejam consagradas. No entanto, só aceito bolsas e sapatos premium, de grifes internacionais. Se um brechó não tem critérios, vira depósito;, explica. ;Eu recuso muita coisa, não porque sejam ruins, mas por causa do perfil da loja.; Quando alguém leva algo para o Comadres, normalmente a venda ocorre em consignação. ;Em geral, 50% fica comigo e 50% com a pessoa. Se o produto não for comercializado em até 90 dias, é devolvido;, afirma. A maior parte dos objetos vendidos é para o público feminino. ;Vira e mexe alguém pergunta sobre produtos masculinos, é algo em que ainda quero focar, mas ainda não consegui fornecedores;, diz.
Superação

Tatiana começou a trabalhar com a revenda de roupas, calçados, bolsas e acessórios de marcas de alto padrão quase que por acaso. Designer de interiores, ela idealizou o projeto para a irmã, Thaís, que sofria de depressão. ;Ela fez direito, mas não conseguia trabalhar. Toda a família se preocupava com o futuro dela;, conta. ;Às vezes, eu dava roupa para a minha irmã vender em brechós e, assim, ganhar um dinheiro;, lembra. Quando Tatiana visitou um estabelecimento do tipo, viu que havia muito movimento tanto de pessoas que queriam se livrar de peças quanto de compradores. ;Eu tinha uma sala parada na 214 Sul e resolvi liberar para isso. Não precisamos comprar estoque porque minhas amigas ; que chamo de comadres ; nos abasteceram e nos abastecem até hoje.;


Da ideia à inauguração, passaram-se dois meses. ;Menos de 30 dias depois, a Thaís foi diagnosticada com suspeita de leucemia. Quando o diagnóstico foi confirmado, tudo aconteceu muito rápido e ela morreu em 28 dias, aos 33 anos;, relata. Superando a dor e a saudade, Tatiana deu prosseguimento à empresa. ;Ele me ajudou muito e me deixou de herança um negócio pelo qual me apaixonei. Sempre gostei muito de moda;;, diz. A partir daí, ela abandonou a profissão de designer de interiores. ;Hoje, só faço projetos para pessoas que eu adoro e não posso dizer não;, explica. O fato de ter administrado um negócio nesse ramo no passado ajudou Tatiana a ter facilidade para gerir a parte financeira do brechó.


Entre os fatores que contribuem para o sucesso do Comadres, ela lista o fato de ser organizada e séria, de ter uma boa rede de relacionamento e de adorar o que faz. Tudo isso ajudou Tatiana a conquistar a confiança da clientela. ;Faço tudo certinho, tenho prazer nisso e passo 24 horas por dia pensando no negócio;, conta. O contato com clientes no WhatsApp da microempresa (pelo número 9-8290-6668) é intenso. ;Isso humaniza a venda;, conta. Tatiana ainda alimenta o site (www.comadres.com.br) e o Instagram (@comadres) do negócio. As vendas on-line para fora do DF são, inclusive, uma frente em crescimento da empreitada. Presencialmente, o movimento varia bastante, mas, são, em média, de 30 a 35 clientes atendidos por dia. Questionada sobre o futuro, Tatiana tem muitas metas. ;Ainda estou no começo e quero chegar aonde me for permitido. Eu gostaria de vender R$ 300 mil por mês (estou em 20% disso daí) e de ser um dos cinco maiores brechós do Brasil;, almeja.

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