Para regulamentar os concursos públicos
Ao estender o prazo de validade das seleções, o senador Paulo Paim acredita que o governo poderá economizar e, assim, chamar todos ou quase todos os aprovados. ;Você deixará de ter um gasto exagerado fazendo um novo concurso desnecessário, sendo que há pessoas prontas para serem convocadas.; André Alencar, professor de direito constitucional e de processo legislativo no Gran Cursos Online, ressalta que a mudança de validade não seria tão grande, mas traria efeitos significativos. ;O prazo inicial passaria de até dois anos para dois anos. Isso seria útil para o órgão, pois, se houver uma grande saída de servidores ou expansão, ele teria gente para convocar;, diz. ;Além disso, com mais prazo para convocar, a administração evitaria custos, por exemplo, de ministrar cursos de formação e, depois, não poder empregar os aprovados.;
Esse problema marcou a vida de Fabrício Duarte Caires, 41 anos. Ele passou nos concursos para médico-legista da Polícia Civil do Distrito Federal duas vezes: em 2008 e em 2014. Na primeira vez, chegou a fazer o curso de formação obrigatório, mesmo assim, não foi convocado. Após passar no certame de novo, concluiu essa capacitação novamente, agora, aguarda a convocação e é membro da Comissão de Médicos-Legistas Aprovados no Concurso de 2014. ;É antieconômico gastar ministrando curso de formação (com mais professores, materiais e estrutura), repassando informações sensíveis a quem não vai fazer parte da corporação;, critica. ;Sou repetente. Em 2008, chamaram até o 27; aprovado e eu era o 30;. Agora, eram 20 vagas efetivas e 40 de cadastro de reserva e eu fiquei na 24; posição;, relata. O prazo de validade de ambos os concursos era de um ano prorrogável por igual período.
;Se, na época, essa PEC estivesse valendo, eu teria sido convocado da primeira vez. Fui vítima de prazos muito curtos;, afirma. ;Além disso, a minha vaga nem seria de cadastro de reserva, que passaria a ser de no máximo 20% das chances efetivas. A PEC está querendo dizer que o cadastro de reserva é cruel e que é preciso estabelecer algo razoável;, diz. O médico, servidor da Secretaria de Saúde do DF há nove anos, espera que, se a PEC entrar em vigor, também diminua a quantidade de processos abertos na Justiça por pessoas que exigem ser empossadas. O senador Paulo Paim vê um grande problema em situações como a enfrentada por Fabrício. ;Quando se é aprovado e até chamado para um curso de formação, subentende-se que a pessoa será contratada. Ao não fazer isso, você corta sonhos e esperanças dos concurseiros e deixa a população desassistida;, analisa o parlamentar.
Outras propostas
A PEC n; 29/2016 retoma o que foi discutido na PEC n; 48/2004, que acabou arquivada. Alguns dos objetivos dela aparecem repetidos no substitutivo da Câmara dos Deputados n; 12/2015 ao Projeto de Lei do Senado (PLS) n; 122/2008 (o qual aguarda designação de relator), que estabelece que concursos para cargos e empregos públicos federais deverão indicar o quantitativo de vagas para provimento, veda a realização apenas para formar cadastro de reserva e confere direito à nomeação dos aprovados no limite das vagas, não computadas as desistências.
Além dessas propostas, há muitas outras que pretendem regular concursos públicos. A PEC n; 75/2015 (pronta para deliberação no Plenário do Senado desde julho do ano passado) visa criar uma lei geral para os certames. A PEC n; 130/2015 (pronta para deliberação no Plenário do Senado desde outubro do ano passado) pede que seja suspenso o prazo de validade de concurso público quando a administração suspender nomeações ou a realização de novos concursos públicos. (APL)
Fale, concurseiro
Pessoas que se preparam para certames dão opinião sobre a PEC n; 29/2016
Michael Rios*
Bruna Cristine, 23 anos, bacharel em direito
pela Universidade Paulista (Unip)
;Não acho que a PEC seja uma boa ideia. Tirar o cadastro reserva não é a solução. Se eles conseguirem realmente que chamem o número de vagas que nem pretendem os autores da PEC, seria bom. O cadastro reserva ajuda o concurseiro, então acaba sendo meio a meio: não é ruim, mas também não é muito bom. O que me fez começar a prestar concursos públicos é que tenho muita vontade de ser policial. Normalmente estudo no horário de almoço do trabalho ; sou auxiliar administrativa num negócio imobiliário ; e, quando chego em casa, continuo a rotina de preparação. O que me ajuda são videoaulas.;
Vanessa Cardoso, 23, aluna do 10; semestre de arquitetura na Universidade de Brasília (UnB), estagiária no Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT)
;Concordo com a ideia de não iniciarem outro certame até todas as vagas do anterior serem preenchidas porque os concurseiros investem nos exames e tem gente que até vem de outros estados para tentar uma chance. Meus pais são assistente administrativa e vigilante da Secretaria de Estado de Educação, minha família toda praticamente é de servidores. Faço cursinho pela manhã todos os dias, com exceção da quarta-feira, quando vou para a universidade. Meu objetivo é entrar em uma vaga na minha área (arquitetura) e me interesso atualmente pelos concursos que devem abrir, da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), da Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano (Cdhu) e da Câmara Legislativa.;
Rarison Erlevi, advogado, trabalha como técnico em
secretariado na Defensoria Pública da União (DPU)
;Para mim, é excelente acabar com o cadastro de reserva porque ele gera uma expectativa para tomar posse do cargo: você pode ser chamado quando forem surgindo vagas, mas e se essas vagas jamais vierem? Para os órgãos, o cadastro de reserva é bom, pois a administração pública não é obrigada a chamar os aprovados. Hoje, viso ao próximo concurso do Tribunal Superior do Trabalho (TST) e, daqui a três ou quatro anos, para o Ministério Público. Minha meta é me tornar promotor.;
Anne Cellos, 25 anos, pedagoga, atua como professora temporária na Escola Classe 116 de Santa Maria
;Estudei para o concurso da Secretaria de Estado de Educação do DF, passei em oitavo lugar e aguardo ser chamada. A preparação foi muito difícil, estava exausta, estudava durante o intervalo do trabalho, fazia resumos e resolvia questões regularmente. Até dou uma dica para quem quer prestar concurso público: resolva exercícios. Foi o que me ajudou a passar. Acho a PEC interessante porque ela acaba com concurso só para cadastro de reserva e obriga os órgãos a convocarem. Fazer uma prova demanda tempo, estudo, e a ideia de não ser chamado é complicada.;
Jeniffer Suzarte, 28, educadora física e
pós-graduada na área
;Aparentemente, a PEC n; 29/2016 seria boa para o concurseiro porque garantiria vaga para quem fosse aprovado, o problema é que, no Brasil, nada funciona como dizem. Além disso, com a PEC n; 241/2017 (que limita os gastos públicos), sobrarão poucas oportunidades para o concurseiro. Quando decidi prestar concurso público, foi pela estabilidade. Em 2011, cheguei a passar no concurso do Metrô, mas nunca fui chamada. Hoje trabalho na Academia Nova Geração como professora, estudo duas horas por dia com videoaulas e exercícios de provas anteriores de algumas bancas e quero tentar o concurso da Polícia Militar quando sair o edital.;
*Estagiário sob a supervisão de Ana Paula Lisboa