;Todo mundo nasce empreendedor. Alguns têm a chance de libertar esse potencial. Outros nunca vão ter a chance ou nunca souberam que tinham essa capacidade;. A frase de Muhammad Yunus, economista ganhador do Prêmio Nobel da Paz em 2006, é fonte de inspiração para a empreendedora social Mariana Serra, 31 anos. No ano passado, ela apareceu na lista dos jovens de até 30 anos mais promissores do Brasil, elaborada pela revista Forbes, por ser cofundadora e idealizadora da Volunteer Vacations (VV). Em português, o nome da empresa, aberta em 2013 com sede no Rio de Janeiro, significa ;férias voluntárias; e o objetivo é oferecer ao público a oportunidade de embarcar em viagens nacionais e internacionais e ainda fazer o bem. A organização atende, em média, 300 pessoas por ano.
Filha de uma enfermeira e de um professor de educação física, Mariana nasceu e cresceu no Rio de Janeiro. Formada em relações internacionais pela Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM-RJ), ela cursa MBA em gestão de negócios no Ibmec. Antes de se lançar pela jornada do empreendedorismo, foi responsável institucional do setor de óleo e gás no Grupo Andrade Gutierrez.
Mariana fez trabalho voluntário em diversos países, incluindo Brasil, Estados Unidos, Costa Rica, Haiti, Quênia, Tanzânia, Líbano, Jordânia, Índia e Tailândia. Chegou a morar fora durante três anos ; dois no Taiti, onde iniciou o curso de relações internacionais na Universidade da Polinésia Francesa (UPF); e um na Nova Zelândia para um intercâmbio focado no aprendizado da língua inglesa. Atualmente, está envolvida em projetos sociais: é madrinha da instituição Amparando Jardim Gramacho, parceira da VV, e pretende criar uma empresa voltada à educação, ainda em fase de planejamento.
Como você se sentiu ao ser classificada pela revista Forbes como uma das jovens
mais promissoras do Brasil?
Quem entrou em contato comigo foi o próprio CEO da Forbes (Michael Perlis). Fiquei superfeliz, foi um grande reconhecimento não só para mim, mas para o empreendedorismo social. Sempre tive o sonho de ajudar pessoas e o impacto que estamos causando com a Volunteer Vacations foi o destaque para a indicação.
Como você define empreendedorismo social?
O empreendedor social visa não apenas ao lucro, mas busca melhorar a sociedade (seja pela venda de um produto, seja pela troca de experiências). A importância disso é enorme. Durante uma palestra, certa vez, disseram-me: ;O mundo e o Brasil estão em crise. Você acha que há mercado que vai querer consumir isso?; A resposta é sim. O empreendedorismo social é como se fosse uma mina de ouro nessas situações. Existem tantos problemas que carecem de solução. Esse modelo ainda é novo no Brasil, mas está crescendo cada vez mais. De modo geral, é um caminho natural que o ser humano tem que seguir. As pessoas estão percebendo que não dá para sermos individualistas e que as empresas são parte importante da sociedade e devem agir para melhorá-la.
De onde surgiu a ideia para começar a Volunteer Vacations?
Sempre trabalhei como voluntária por incentivo dos meus pais e viajar é algo que amo. Em 2010, procurei uma viagem para fazer trabalho voluntário. Não queria apenas sair de férias por sair, queria conhecer o local, ver o que poderia construir e deixar um legado ali; ou seja, eu buscava uma forma de turismo consciente. A maioria das oportunidades que eu encontrava duravam mais de um mês e não condiziam com o tempo que eu tinha disponível. Em 2013, após viajar, por meio de um programa da faculdade, para os Estados Unidos, retornei ao Brasil com o conceito de férias voluntárias. Quando descobri isso, meu mundo mudou. A partir daí, transformei meus amigos Alice Ratton e André Fran em sócios e começamos a pesquisar para colocar o projeto em prática. Fiz a primeira viagem, para o Quênia, como teste. Existem empresas que se preocupam apenas em levar as pessoas para o exterior e não desenvolvem uma metodologia de voluntariado. A VV busca capacitar, por isso pedimos que os interessados entrem em contato conosco pelo menos três meses antes da viagem.
Qual a importância da VV?
Trazer novas empresas desse tipo para a sociedade. Pensando bem, serão até concorrentes nossos. Mas é maravilhoso porque quanto mais empresas estiverem nascendo, mais pessoas viajarão e viverão essa experiência. Imagine o tamanho do impacto. Esse trabalho envolve formar pessoas, dar uma experiência de turismo voluntário que consegue fazer com que elas percebam como ser cidadãs transformadoras.
Você tem planos de abrir outros negócios sociais?
Sim. Não me imagino acordando todo dia e indo trabalhar apenas pelo dinheiro. Acordar trabalhando para mudar vidas é muito diferente! Até quando fui passar férias no Uruguai, não aguentei e logo saí perguntando sobre projetos sociais por perto.
Como começou sua experiência com o empreendedorismo?
Na escola, eu fazia pulseirinhas e as vendia. É algo que vem de cada um, mas teria sido ótimo se eu tivesse aprendido algo sobre isso naquela época. É bacana que existam colégios e iniciativas que acreditam nisso.
aFérias humanitárias
É possível conferir projetos, valores e tempo de estadia no site www.volunteervacations.com.br. Destinos: Brasil, Estados Unidos, Haiti, Costa Rica, Peru, Chile, Gana, África do Sul, Tanzânia, Quênia, Oriente Médio, Afeganistão, Índia, Tailândia e Indonésia. Atuações voltadas para crianças, educação, esporte, humanitário, saúde, cuidados com animais, construção e reformas. Custos: a partir de R$ 370. Duração mínima: uma semana. Estadia: hotéis, hostels ou casas específicas para os voluntários. O turismo fica a critério de cada um: o prticipante pode sair para conhecer atrações ou apenas optar por passar todo o período no projeto social.
* Estagiário sob a supervisão de Ana Paula Lisboa