Há 18 anos, o motorista de transporte escolar João Batista, 53, mantém a mesma rotina: acorda às 4h20, sai de casa em Santa Maria em direção ao Lago Norte, onde para em diversas residências para buscar estudantes até encher o carro. De lá, parte para a Asa Sul e deixa alunos em colégios particulares. ;Passo na primeira casa às 6h. O pessoal precisa estar na escola às 7h15, então não posso me atrasar,;, explica. Quando a aula acaba, em geral, no fim da manhã ou no fim da tarde, se o colégio for de período integral, ele está lá novamente para apanhar a meninada. A fim de que tudo funcione corretamente, a pontualidade precisa se estender aos clientes. ;Dou tolerância de até dois minutos. Não enfrento problemas, a galera do Lago Norte é muito boa de se trabalhar;, conta. Para garantir o cumprimento do horário com rigor, João elucida todos os detalhes no contrato fechado no início do ano com os pais, cada um por R$ 480 mensais.
O documento ainda especifica normas, como usar cinto de segurança. Atualmente, ele só transporta crianças acima de 7 anos, adolescentes e jovens. Dirigindo uma Sprinter com capacidade para levar 15 estudantes, trafega com a capacidade máxima à noite, quando busca alunos na Universidade de Brasília (UnB) em direção a Santa Maria. Durante o dia, leva de 12 a 13 pessoas na condução. Marcas registradas de João são a responsabilidade e a cordialidade. ;O que acho melhor no meu trabalho é a chance de conhecer e interagir com pessoas de vários jeitos. Mantenho um bate-papo legal tanto com os estudantes quanto com os pais, nunca tive dificuldade de lidar com gente;, observa. Na igreja (católica), desde cedo trabalhei com grupos de jovens e, antes de dirigir van escolar, fui cobrador de ônibus, sempre em contato com o público. Isso não me estressa, pelo contrário;, afirma ele, que é formado em teologia pelo Instituto São Boaventura.
Não é à toa, portanto, que a freguesia é fidelizada. ;A maior parte das pessoas chega a mim por indicação. Tem alunos que andaram comigo e, hoje, casados, colocam os filhos na minha condução;, relata, com orgulho. Nos fins de semana, João Batista não para. Clientes não faltam e ele é contratado para transportar grupos para festas, casamentos, encontros, excursões, visitas a asilos e orfanatos. Só a rotina atrás do volante é suficiente para encher a maior parte da agenda, mas o mineiro de Patos de Minas não se contenta com isso e arranjou ainda fontes de renda alternativas. Enquanto espera o horário de buscar a clientela de volta nas escolas, não fica parado: faz bico vendendo água de coco numa barraca na 712/713 Sul. ;Comecei substituindo um colega que precisou fazer uma cirurgia e, hoje, tenho um trato com o dono da barraca. Com isso, ganho mais de um salário mínimo por mês.;
Além disso, comercializa bombons trufados preparados pela esposa, Jaqueline Rodrigues. ;Ela começou a fazer há três anos e tem dado muito certo. Vendo cerca de 40 por dia, cada um por R$ 1, dentro da condução e na barraca. São muitas opções de sabores: coco, maracujá, morango, leite em pó, chocolate;, diz o pai de um rapaz de 21 anos e de duas adolescentes de 12 e de 16 anos. Trabalhando manhã, tarde e noite, de domingo a domingo, João Batista está sempre com um sorriso no rosto. ;Se eu ficar só em casa no fim de semana, até fico chateado. Para dar certo, em qualquer coisa, é preciso se dedicar e gostar do que faz. Esse é o segredo do sucesso;, acredita.
Vida melhor
João Batista se mudou de Minas Gerais para Brasília aos 16 anos. ;Duas irmãs tinham vindo para cá e eu vim estudar e tentar a vida. Terminei o ensino médio no Cruzeiro Velho.; Aqui, foi datilógrafo no Ministério das Telecomunicações até adentrar o ramo do transporte, quando se tornou cobrador de ônibus da TCB. Depois de conhecer um colega que também trabalhava com condução escolar, resolveu conciliar as duas atividades. Com o tempo, ele precisou sair do emprego para se dedicar inteiramente à nova ocupação.