Fim de ano é época de dar uma pausa no trabalho para muita gente. Em muitos casos, é preciso compensar as horas de folga, mas, segundo especialistas, vale a pena para diminuir o estresse e, assim, voltar à ativa com mais produtividade
O recesso não é obrigação trabalhista. Contudo, é comumente oferecido tanto na iniciativa privada, quanto no serviço público. Em algumas instituições, a pessoa pode escolher se pegará ou não a folga no período das festas de fim de ano e, caso opte por usufruir do descanso, precisa ;pagar; as horas ou trabalhar a mais para deixar processos e tarefas prontos para o período de ausência. Para muita gente, independentemente do esforço necessário a fim de poder aproveitar o período, essa temporada de descanso é a oportunidade perfeita para passar mais tempo com a família, viajar, repousar, ler, estudar... Enfim, recarregar as baterias. Mesmo quem não terá essa interrupção na jornada, no entanto, terá alguns dias de quietude em virtude dos feriados de Natal e ano-novo.
Segundo a psicóloga Lia Clerot, momentos de intervalo são muito positivos, pois o corpo humano funciona em ciclos. ;O recesso serve para descanso não apenas físico, mas também mental, além de ser importantíssimo para o fator social. Dar essa pausa significa parar a rotina louca do dia a dia, essencial para que o organismo descanse e volte a funcionar de forma regulada;, afirma. Quando a pessoa é privada desse tipo de quebra no cotidiano, pode haver consequências negativas. ;A ausência desse período de descanso pode gerar sérios problemas de saúde, como ansiedade, estresse, alterações na pressão arterial, além de falta de concentração e foco;, elenca.
Júlia Ramalho, coach, psicóloga e administradora, defende que o hiato de fim de ano é benéfico tanto para funcionários quanto para empresas. ;Se não há serviço, não é preciso ficar funcionando, assim há redução de custos;, destaca. No entanto, há áreas em que não pode haver interrupção, por isso, há organizações que dividem a equipe e proporcionam folga em períodos diferentes. Júlia acrescenta que, apesar de ser uma ótima ideia liberar os colaboradores, há casos em que o efeito obtido pode ser o contrário do esperado. ;Tem gente que fica deprimida nesta época e o trabalho é um recurso importante. Ser obrigado a parar pode não ser bom;, recomenda.
Por isso, é importante que o indivíduo tenha a opção de escolher. O problema é que, em momentos de crise econômica, mesmo quem tem vontade de pegar a folga pode ficar com receio de aderir ao recesso. ;Mas precisamos nos lembrar de que até máquinas precisam de manutenção. Nosso corpo também, quando cansado, passa a não render como deveria. É preciso enxergar essa pausa como um investimento no bem-estar do profissional, que passa a trabalhar mais satisfeito e com qualidade;, explica.
Para espairecer
A folga pode ser de poucos dias, mas, segundo Lia Clerot, a melhor forma de aproveitá-la é se desligar do trabalho e investir no que faz bem a cada um. ;Este período é para recarregar as energias. Viajar, curtir momentos ociosos em casa, ficar com a família... Enfim, experiências alheias ao meio profissional podem trazer novo vigor;, aponta. Júlia Ramalho acrescenta que essa fase é também uma oportunidade de reflexão. ;Na hora em que fazemos uma pausa, podemos nos ouvir. E é importante usarmos esse tempo com coisas de que realmente gostamos;, diz.
Outra possibilidade é usar o período para ampliar os conhecimentos. ;O recesso também serve para repensar a carreira. Existem cursos curtos, microlearning, se isso for o que te move. Mas temos de lembrar que não somos obrigados a produzir sempre;, explica Júlia. ;De qualquer modo, participar de uma capacitação ajuda a pessoa a sair dos processos rotineiros e abre novas perspectivas;, afirma Lia. ;Valorizar esse período não é só procurar um monte de coisas para se ocupar, é se conectar consigo mesmo. Viagens servem para isso, mas só ficar em casa também pode ser ótimo;, enfatiza.
Para alguns, este é o único período do ano em que a demanda no serviço diminui, então dá para descansar. Esse é o caso do advogado Mike Carvalho, 24 anos, que usufrui da folga por causa do recesso do Poder Judiciário. Além disso, o novo Código de Processo Civil estabelece que os prazos processuais sejam interrompidos entre 20 de dezembro e 20 de janeiro. ;Quando se trata de escritório, há uma grande quantidade de trabalho e, se não fosse isso, eu teria de trabalhar para não perder os prazos;, explica. ;Assim, podemos fazer tudo que as pessoas que não precisam cumprir prazos podem fazer. Posso me organizar para viajar, estar com a minha família e traçar projetos pessoais;, comemora o funcionário do escritório Chenut Oliveira Santiago.
Tenho direito?
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Apesar de muita gente folgar nas vésperas de Natal (hoje) e ano-novo (dia 31), essas datas não são feriados; 25 de dezembro e 1; de janeiro é que são. ;Pela legislação, as vésperas são ocasiões normais. É mais uma praxe liberar os funcionários, mas não há uma garantia. A não ser que existam acordos coletivos em sindicatos, como é o caso do Sindivarejista (Sindicato do Comércio Varejista do DF);, observa Alessandro Costa, professor de direito processual do trabalho da Universidade Católica de Brasília (UCB). ;Este ano, as vésperas caem em domingos, então pode ser que empregados que trabalham nesses dias sejam liberados mais cedo;, diz.
Entre as empresas que oferecem recesso, é comum adotar sistema de banco de horas. ;Isso pode ser acordado. Além disso, com a reforma trabalhista, a negociação entre empregado e empregador ficou ainda mais forte. Então o funcionário pode trabalhar uma ou duas horas a mais por dia, antes ou depois do período de folga, para compensar;, esclarece. Mestre em ciências políticas pelo Centro Universitário Euramericano (Unieuro), Alessandro destaca que o importante é que haja o diálogo entre ambas as partes. ;É sempre prudente para o patrão ter a sensibilidade de liberar mais cedo o empregado para que ele possa participar das festas com os familiares porque é uma questão religiosa;, recomenda.
As férias coletivas também são uma opção para instituições que, nesta época, não têm motivos para funcionar, como é o caso do Grupo Paulo Octávio, que usa este período para liberar todos os funcionários por 15 dias. ;Como a empresa fecha no fim do ano, a gente sabe que não surgirá nenhum problema;, diz Anísio Fontenelle, 40 anos, gerente administrativo na companhia. Para ele, as férias coletivas são uma boa alternativa para poder se organizar para viajar e ficar com filhos. ;Eu, por exemplo, vou usar todos os dias numa viagem.;
Para acabar com o estresse
Elcio Pires Júnior, médico
Na visão do médico Élcio Pires Júnior, o recesso é uma ação acertada para diminuir o estresse no ambiente corporativo. ;Ele serve para diminuir o cansaço acumulado durante o ano. Em todos os segmentos, colaboradores sofrem com prazos e demandas, então a pausa ameniza a pressão;, ressalta. No caso de companhias que, devido à carga de serviço nesta época, não podem parar, Élcio, coordenador de cardiologia, cirurgia cardiovascular e Unidade de Terapia Intensiva do Hospital e Maternidade Sino-Brasileiro, destaca a possibilidade de desenvolver ações de descompressão e recreação, visando a saúde e o bem-estar dos funcionários.
;Tentar diminuir a carga de serviço, reduzir a jornada de trabalho ou promover pequenas pausas durante o dia para fazer um relaxamento ou alongamento será benéfico;, diz. Para empresas que trabalham com banco de horas, ele recomenda que, antes de aceitar pegar o recesso, o empregado deve observar quantas horas de serviço aquilo gerará para compensar o tempo fora. ;Se não for muito extensivo e puder ser pago em longo prazo, é melhor fazer a compensação e ter o período de descanso;, afirma. Isso porque, de acordo com ele, o estresse aumenta a incidência de doenças cardiovasculares, como infarto, Acidente Vascular Cerebral (AVC) e hipertensão.
*Estagiária sob supervisão de Ana Paula Lisboa