Para conseguir o tão sonhado diploma de nível superior, a maior parte dos universitários brasileiros precisa fazer um trabalho de conclusão de curso (TCC). A monografia ou produto final, em geral, exige grande empenho e pode ser frustrante que ideias tão legais, às vezes, acabem morrendo ali, durante a defesa perante a banca. Mas e se desse para transformar o projeto final em algo mais? É para isso que existe o programa Academic Working Capital (AWC), do Instituto Tim, cujo objetivo é incentivar estudantes de graduação a abrirem empresas de base tecnológica a partir do TCC (saiba mais no quadro Educação empreendedora). Os selecionados participam de workshops, recebem orientação e apoio financeiro, além da chance de apresentar a proposta de negócio a uma rede de investidores. A partir da tutoria do programa de educação empreendedora, a iniciativa ajudou 14 startups, de cerca de 200 estudantes, a se lançarem no mercado. Um trio de estudantes da Universidade de Brasília (UnB) foi selecionado pela iniciativa e recebeu ajuda para transformar a monografia em negócio durante todo o ano passado: Wagner Starling, Marcos Starling e Fernanda Vilela.
O engenheiro eletricista Wagner, 24 anos, toca bateria e guitarra. A partir da familiaridade com a música, teve uma ideia para facilitar a vida de quem atua no ramo e resolveu transformá-la em projeto final de curso ; bastante elogiado por professores da UnB. ;Pensei nisso tanto para suprir dificuldades que tive quanto para ajudar outras pessoas;, conta. Ele idealizou o equipamento RoadieBot, que permite o controle automático e a distância de amplificadores analógicos de guitarra e baixo. O produto é composto por módulos motorizados que são acoplados a instrumentos musicais e configuram como devem ser os ruídos emitidos. ;O dispositivo possibilita a geração de novos sons e a interação do músico com o equipamento de maneira mais fácil;, diz. O RoadieBot torna possível armazenar configurações e acessá-las com facilidade enquanto toca. Já o engenheiro de som, ao usar o dispositivo, economiza idas à sala onde ficam os amplificadores para ajustar as configurações manualmente. Com a automação, o profissional faz o mesmo trabalho de onde estiver.
Durante a pesquisa, Wagner se deu conta de que a invenção tinha potencial empresarial. Depois de saber do edital do AWC, convidou a ex-colega de curso Fernanda (que toca violão, baixo e teclado) e o irmão Marcos (guitarrista e estudante do 6; semestre de engenharia da produção na UnB) para competir por uma chance no programa. O gosto pela música e a vontade de empreender uniu os jovens em torno do projeto. Com o apoio do Instituto Tim, o trio transformou o TCC numa startup, que conta com mais três pessoas na equipe. ;Essa assistência fez a gente passar da água para o vinho;, comenta a engenheira eletricista Fernanda, 24. Ao longo de um ano, os jovens empresários fizeram pesquisas e testes, elaboraram um plano de negócios e, agora, estão em fase criação do CNPJ (Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica). ;O AWC é um programa completo, uma oportunidade sem igual. A equipe ajuda ideias a se tornarem algo mais;, afirma Marcos. ;Com a experiência, aprendemos a inovar sempre. Se algo não der certo, podemos tentar de outro jeito;, completa Wagner.
Os elogios são recíprocos: a equipe do AWC tem só coisas boas para falar do time do RoadieBot. ;Eles entendem muito de tecnologia e chegaram com uma ideia diferente.
Percebemos que valia muito a pena apostar na proposta e deu muito certo;, garante Diego Dutra, coordenador de conteúdo do programa. Tanto que, apesar de ainda ser um protótipo, o RoadieBot tem como clientes dois estúdios de som, um em Brasília e outro em São Paulo. O AWC permitiu que os jovens fizessem vários testes. ;É diferente quando você sabe do que o público precisa;, aponta Fernanda. ;E pode aprimorar o produto com base nos usuários;, completa Marcos, 21. Os colegas convidaram, entre outros profissionais, o engenheiro de som Daniel Félix, indicado ao Grammy Latino de 2013 por um álbum da banda Natiruts, para usar a engenhoca. A partir do
feedback, melhoraram a ferramenta.
Educação empreendedora
Mãozinha para universitários
;O Academic Working Capital é um projeto único. A forma com que os universitários aprendem sobre educação empreendedora faz com que eles acabem tendo um contato real com o mundo dos negócios e os clientes. Por consequência, conseguem melhor desempenho;, ressalta o coordenador de conteúdo do programa Diego Dutra. Sócio e diretor-executivo da consultoria em inovação e design CAOS Focado, ele ressalta que os editais têm muito mais a oferecer do que ajuda financeira. A coordenação acadêmica do AWC fica a cargo de Marcos Barretto, professor do Departamento de Engenharia Mecatrônica e de Sistemas Mecânicos da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP). Para participar da seleção do Instituto Tim, é preciso ter mais de 18 anos e formar grupos que tenham de dois a quatro integrantes (pelo menos um dos membros precisa estar na fase final da graduação). Na edição de 2016, outro projeto da UnB foi beneficiado pelo programa: a startup E-sporte Soluções Esportivas, que oferece ao público um dispositivo para medição de desempenho em avaliações esportivas. ;Em 2016 e 2017, tivemos uma safra muito boa dessa região;, elogia Diego Dutra. Saiba mais em awc.institutotim.org.br.
Entenda o nome
;Roadie;, em inglês, é o termo usado para designar pessoas que arruma equipamentos em um palco. Já ;Bot; em da palavra ;Robot; (robô).
Saiba mais
No site roadiebot.launchrock.com,
é possível encomendar o produto.
*Estagiária sob a supervisão da subeditora Ana Paula Lisboa