Jornal Correio Braziliense

Trabalho e Formacao

Fazer intercâmbio custa caro e trabalhar lá fora é saída para economizar

No período de crise, aumenta a quantidade de brasileiros que procuram conciliar temporadas no exterior com experiência profissional ou de voluntariado, tanto porque a preocupação com a própria carreira cresceu, quanto porque esse é um modo bem mais barato de custear a vivência

Num mundo conectado, profissionais que passaram um tempinho lá fora tendem a ser mais valorizados no mercado de trabalho. Com um intercâmbio no currículo, a pessoa demonstra ter conhecimento de língua estrangeira e iniciativa, sabendo se virar sozinha até fora da terra natal. Não faltam opções de programas para se aventurar no exterior e, no período de recessão, brasileiros continuam investindo nesse tipo de experiência. A diferença é que ganharam destaque modalidades em que é possível colocar a mão na massa a fim de ganhar um dinheirinho e, assim, baratear os custos da estada em outro país.

;Mesmo com a crise, os brasileiros não deixam de viajar. Mudam de destino, a duração e a modalidade da viagem, mas não desistem;, observa Neila Chammas, diretora de Relações Institucionais da associação de agências do setor, a Brazilian Educational & Language Travel Association (Belta). Segundo levantamento da instituição, o curso de línguas ainda é a opção mais comum, mas a possibilidade de trabalhar durante a viagem tem se destacado.

O estudo demonstrou que a segunda modalidade de intercâmbio mais procurada alia aulas de idiomas com oportunidade laboral. Além da crise, o foco no mundo do trabalho também tem a ver com a mudança, afinal, dois dos três principais motivos para esse tipo de viagem são ligados à carreira. O setor movimentou US$ 2 bilhões no Brasil em 2016 ; a instituição ainda não apurou os números de 2017. Cada brasileiro gastou cerca de R$ 27,8 mil para passar uma temporada fora, 82% a mais do que os clientes de agências toparam investir em 2015. O aumento no valor reflete a procura por itinerários de maior duração (com alta de 6,7%); no entanto, planos de até três meses ainda lideram o ranking, sendo responsáveis por 68,5% das viagens.


;Agora, o brasileiro busca programas mais longos para poder trabalhar e adquirir uma renda, principalmente por causa da atual situação econômica;, pondera Neila Chammas. Segundo ela, uma passagem pelo mundo corporativo de outro país confere ao profissional mais independência, autoconfiança e capacidade para lidar com diferentes tipos de pessoas, algo valorizado pela maior parte dos empregadores.

;Todas as pessoas deveriam fazer intercâmbio porque sair da bolha nos faz enxergar quem realmente somos;, salienta João Diogo Brites, diretor de Marketing da Aiesec (Association Internationale des Etudiants en Sciences Economiques et Commerciales) em Brasília ; a instituição que ele representa é um movimento de liderança jovem e promove, entre outras ações, intercâmbios.

Eduardo Heidemann, diretor de Intercâmbios da agência Travelmate, concorda. ;Ter uma experiência profissional no exterior é um grande diferencial na busca por emprego aqui.; Grande empecilho para muita gente é o preço, já que as oscilações do valor da nossa moeda interferem na quantia a ser paga, mas Heidemann é otimista. ;O real voltou para um patamar mais próximo da normalidade. Além disso, países com moeda barata, como África do Sul, acabam sendo grande atrativo;, explica.

João Diogo Brites, da Aiesec, observa que a instituição oferece modalidades de intercâmbio mais em conta (a partir de R$ 1,5 mil) para jovens de 18 a 30 anos. O tipo social envolve trabalho voluntário em alguma ONG. O tipo empreendedor proporciona experiência de trabalho não remunerado em startups. Já o intercâmbio profissional envolve trabalho remunerado em empresas no exterior durante intervalo de seis a 12 meses. ;É preciso experiências multiculturais em ambientes desafiadores para desenvolver lideranças;, afirma. Os destinos mais visados por aqueles que procuram a entidade são Argentina, Egito e Peru.

Queridinhos da Europa

A edição de 2018 da pesquisa Study.EU elencou os países europeus mais atraentes para estudantes estrangeiros. *Estagiário sob a supervisão da subeditora Ana Paula Lisboa

1;) Alemanha
2;) Reino Unido
3;) França
4;) Holanda
5;) Rússia
6;) Suíça
7;) Suécia
8;) Bélgica
9;) Itália
10;) Polônia

Feira temática

A maior feira de intercâmbio do mundo, a Eduexpo, desembarca em Brasília na próxima quarta-feira (14). Representantes do governo do Canadá, de universidades americanas e de instituições especializadas em preparar estudantes para ingressar em faculdades no exterior estão confirmados. O evento, gratuito, será no Centro de Eventos e Convenções Brasil 21, das 16h às 21h. Inscrições: www.eduexpos.com/brasil2018.


Minha história lá fora

Conheça casos de pessoas que usaram o período no exterior para trabalhar, com ou sem remuneração

Na labuta em Portugal


A publicitária Layanne Alves Ribeiro, 27, fez um intercâmbio profissional em Lisboa. Lá, trabalhou numa unidade ibérica da PPG Indústrias, multinacional americana do ramo de tintas. ;Eu estava desempregada, tinha sido demitida da agência de publicidade onde trabalhava, estava completamente perdida em relação ao que queria para a minha vida profissional. Durante os seis meses em Portugal, descobri muito sobre mim mesma;, relata ela, que atuou na área de marketing da companhia. O principal objetivo para tomar a decisão de enfrentar a empreitada a milhares de quilômetros de casa foi adquirir experiência internacional no ramo de atuação.

O salário era de 1 mil Euros, equivalente a R$ 3,9 mil, o que, de acordo com a brasiliense, era suficiente para se manter no país estrangeiro. Uma surpresa foi o bônus de poder praticar inglês e espanhol, mesmo indo para uma terra com o mesmo idioma. ;A maior dificuldade que tive lá foi a saudade de casa e o choque cultural;, lembra. Hoje, ela trabalha em uma agência de publicidade como analista de inteligência de negócios, cargo no qual aplica muito do que aprendeu em Portugal. Layanne continua investindo no próprio desenvolvimento e faz uma pós-graduação em marketing.

Voluntariado no Marrocos

Amynah Luli Graciano fez um intercâmbio social no Marrocos. Estudante de ciências sociais, ela participou de um projeto em que tinha de descobrir os principais problemas que atingiam a cidade de Marrakesh, a fim de promover ações. ;A educação foi o assunto principal, além do acesso ao que estava acontecendo fora da cidade. Então, formamos grupos de conversação em inglês;, conta. A viagem foi organizada pela Aiesec, instituição da qual ela é presidente no DF. No projeto, Amynah tinha como parceiros uma ucraniana, um turco e uma malasiana.

A jovem relata que decidiu abordar também a igualdade de gênero no projeto após ter sido cercada por três homens no segundo dia de intercâmbio, quando voltava para casa numa hora em que não havia mulheres na rua. Só a deixaram em paz quando mostrou o passaporte brasileiro. ;Eu me senti impotente porque não podia ultrapassar a barreira da religião muçulmana ao trazer esse assunto para as rodas de conversa;, confessa. Mesmo os momentos de dificuldade, porém, resultaram em aprendizados que ela considera fundamentais para sua formação. ;Desenvolvi minha habilidade com a oratória e aprendi a enfrentar a sua timidez, além de ter melhorado meu nível de inglês;, percebe.

Trabalhei na Colômbia

;O intercâmbio foi minha primeira vivência no exterior;, relata Antony Valadares, 23. Estudante de relações internacionais, ele passou um ano trabalhando em Bogotá, capital da Colômbia, como consultor de serviços ao cliente em uma multinacional. ;Eu falava inglês no ambiente de trabalho e espanhol no dia a dia;, lembra. Ele contava com uma remuneração correspondente a R$ 2 mil, quantia suficiente, segundo ele, não só para se manter, mas também para fazer viagens pelo país e até para Cuba. ;A experiência me fez amadurecer.;

Antony chegou ao país sem saber falar espanhol, língua em que se tornou fluente. O choque de costumes foi impactante, mas muito válido. ;É outra cultura, outra forma de pensar. Apesar disso, também há muitas semelhanças;, revela. ;Um intercâmbio profissional é algo que todos que tiverem a oportunidade devem fazer, você só percebe o crescimento quando está lá e é bem mais acessível do que imaginamos;, completa. Atualmente, Antony é estagiário de relações governamentais na General Motors.

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Estagiário sob a supervisão da subeditora Ana Paula Lisboa