A história de uma das famílias pioneiras no Distrito Federal começou pela obstinação de um casal que buscava uma vida melhor. Descendentes de imigrantes sírios, Jorge André e Geni Fayad André tiveram seis filhos (a professora aposentada e escritora Sandra, 70; o construtor Carlos Alberto, 67; a dentista Julieta, 65; o produtor rural Sérgio, 63; a advogada Maria Lúcia, 60; e o jornalista e publicitário Paulo, 58) e resolveram tentar a vida na capital federal, fugindo da pobreza em que viviam em Catalão (GO). Eles começaram a ganhar o sustento em terreno candango ainda morando em Goiás, antes de Brasília ser inaugurada. Conhecido como ;Sr. Catalão;, Jorge enchia um caminhão para trazer verduras, frutas e até galinhas para vender, com ajuda dos filhos, numa época em que não havia supermercados nem feiras no DF.
Uma rotina pesada que durou muitos anos. ;Ele foi pioneiro e, quando completou 90 anos, foi homenageado por ter contribuído com a construção de Brasília de uma forma diferenciada: trazendo alimentos para os operários;, descreve a filha primogênita, Sandra Fayad. Entre idas e vindas, a família vendeu o caminhão, o único bem próprio, para comprar um terreno e montar uma vendinha no Cruzeiro, fixando raízes por ali. ;Foi a primeira mercearia do Cruzeiro;, relembra Sérgio Fayad, filho do casal. Na região administrativa, os familiares tiveram ainda bancas na atual Feira Permanente do Cruzeiro, outra mercearia, um supermercado (no local, onde atualmente fica o Super Veneza) e um depósito de gás.
Cruzeirenses
;Foi aqui que meus pais conseguiram ter a primeira casa de verdade, de alvenaria, da vida deles. Antes disso, era sempre sem conforto;, relata Sandra. Dona Geni faleceu em 1983 e seu Catalão, aos 91 anos, em 2007, deixando, além dos seis filhos, 15 netos e 11 bisnetos. ;Meu pai morreu trabalhando, plantando;, diz Sérgio, com lágrimas nos olhos. O tempo passou, mas os ensinamentos, o tino para o comércio e o orgulho pela história de superação dos pioneiros permanecem nos descendentes ; supermercados no Guará, no Lago Oeste e no Plano Piloto, cursinho preparatório para concursos, bar, loja de bolos e casa de jogos estão entre outros negócios gerenciados por eles ao longo do tempo. ;Já tem bisneto do seu Jorge trabalhando no comércio;, cita Sandra, que registrou a história do clã e principalmente a do patriarca num livro.
Os laços com o Cruzeiro também perseveraram. Três gerações mantêm de pé o restaurante e bar Universidade da Cerveja, na Quadra 1505 do Cruzeiro Novo. O negócio é tocado pelo neto de seu Catalão e dona Geni Guilherme Fayad, 39, e a esposa dele, Fabiana dos Reis Palubo, 39. Três bisnetos ; Gabriel de Sousa Fayad André, 21; Lucca Fayad Palubo, 18; e Gustavo Fayad Palubo, 17 ; são funcionários ali. Por fim, Sérgio Fayad, o quarto filho dos pioneiros e pai de Guilherme, volta e meia está por ali para ajudar. ;É um local voltado para as famílias e nosso forte é a alimentação;, explica Fabiana.
O cardápio é variado, mas com tempero de influência mineira: galinha caipira, traíra, rabada, feijoada, estrogonofe, camarão internacional, carne de sol, baião de dois, frango com pequi e moqueca são algumas das opções de pratos. Entre os petiscos estão fígado com jiló, língua bovina, além de frango a passarinho. A presença constante dos donos (e de outros familiares) e a dedicação são alguns dos ingredientes dessa receita, que tem dado certo. Outro elemento essencial é o atendimento diferenciado. ;Eles têm o jeito árabe de conversar, são carismáticos, como era o papai, um contador de causos nato;, elogia Sandra. O espaço recebe cerca de 300 pessoas por dia nos fins de semana e 200 diariamente de segunda a sexta, servindo almoço, jantar e lanches.
O capricho com a organização, a higiene e a limpeza, segundo Fabiana, também são de suma importância. Para garantir a qualidade da gestão, o casal divide funções: ele cuida das compras, enquanto ela comanda as finanças e os 35 funcionários. ;Esse foi meu primeiro negócio mais desgrudado do meu pai. Não foi tão difícil porque fui criado trabalhando dentro de supermercados da família;, conta Guilherme. Criado em 1999, o estabelecimento é administrado pela família há cerca de cinco anos. ;Mantivemos o nome porque o local já era conhecido;, explica Guilherme.
Leia
Histórias de Jorge, o Batuta
Autora: Sandra Fayad
Editora: Thesaurus
176 páginas
R$ 30
A obra, lançada em 2013, está disponível para venda na Universidade da Cerveja
Saiba mais em www.sandrafayad.prosaeverso.net
Saiba mais
Universidade da CervejaQuadra 1505 do Cruzeiro
Novo / 3522-5740