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Confira entrevista com a aluna de Ceilândia que representou o DF em Harvard

Engajada em causas sociais e preocupada com a crise política nacional, estudante de serviço social brasiliense foi escolhida, entre 16 mil candidatos, para representar Brasília e o Centro-Oeste em evento internacional

Gabriela Andrade*
postado em 22/04/2018 16:36

Jéssica Almeida, de Ceilândia para Harvard

Interessada por política e cheia de vontade de fazer a diferença, a estudante de serviço social brasiliense Jessica Campos, 26 anos, discutiu assuntos que adora na Brazil Conference at Havard & MIT, no início do mês. Trata-se de um evento anual, organizado pela comunidade brasileira em Boston, nos Estados Unidos, que reúne representantes de diversas regiões e instituições. Filha de uma professora de matemática e de um motorista, a moradora de Ceilândia foi selecionada como ;embaixadora; do Centro-Oeste entre 16 mil candidatos e teve a estada e as passagens para a América do Norte custeadas por patrocinadores da conferência.

Engajada em causas sociais e preocupada com a crise política nacional, estudante de serviço social brasiliense foi escolhida, entre 16 mil candidatos, para representar Brasília e o Centro-Oeste em evento internacional

Jessica sempre estudou em escola pública e é bolsista integral do Prouni (Programa Universidade para Todos) na Faculdade Anhanguera, onde cursa o oitavo semestre de serviço social. No evento, a estudante simbolizou a juventude periférica e trouxe para o debate temáticas como a desigualdade social. A jovem foi embaixadora da juventude no programa Jovem de Expressão, criado em 2007 pelo Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (Unodc) e pela Caixa Seguradora, com o objetivo de dar aos jovens autonomia e liberdade para se expressar.

Você esperava participar de um evento desse porte?
Às vezes, acho que a ficha não caiu ainda. Não estava no meu imaginário ter uma experiência no exterior, já que vivo em uma condição econômica e social que não me permitiria isso. O fato de eu ter conseguido chegar lá demonstrou como vale a pena investir em ações de direito e cidadania para as gerações atuais e futuras. As pessoas precisam acreditar mais na juventude e investir nela, porque é a partir da liderança juvenil que será possível ter uma sociedade com mais inclusão social e responsabilidade moral e cívica. Os debates vivenciados lá ampliaram minha perspectiva social, política e de vida. Percebi também que existem pessoas engajadas em fazer a diferença. Ter contato com elas é muito útil, não só para a minha carreira, mas também para a minha comunidade, que é a minha motivação.

Afinal, o que significou ser embaixadora do Centro-Oeste na Brazil Conference?
Muita responsabilidade, porque eu representei a juventude periférica. O Brasil investe pouco em políticas públicas voltadas aos jovens. Então, ser uma embaixadora é trazer comigo todas as dificuldades que tive de vencer para ser essa representante, incluindo estigmas do meu corpo, como preconceito de gênero e social. Como os outros jovens, eu sou uma voz que, por vezes, não é ouvida nem representada pelo governo.

Como foi a experiência na conferência, que envolve instituições como a Universidade Harvard e o Instituto
de Tecnologia de Massachusetts (MIT)?

Foram dois dias bastante intensos. Existem pessoas que querem fazer a diferença e estão trabalhando por um Brasil melhor. Houve discussões e diálogos interessantes a respeito de posicionamentos políticos distintos e isso ocorreu de forma pacífica e compreensiva. Saímos de lá com a conclusão de que todos queremos uma nação melhor. Participar da Brazil Conferente foi muito gratificante, pois me senti responsável pelo desenvolvimento do meu país. Ter esse cargo de embaixadora, ainda mais pelo renome da faculdade, com certeza será muito bom para a minha carreira.

Sobre o que você falou por lá?
Eu viajei com a expectativa de aprendizagem, com o objetivo de compartilhar minhas experiências e expandir meu conhecimento. Discuti objetivos para melhorar o país. O foco da minha apresentação era desigualdade social, já que isso prejudica diretamente o desenvolvimento do Brasil. Participei de alguns debates e workshops sobre sociedade, economia e política.

Como você se interessou por participar da programação?
Tive conhecimento por meio das redes sociais. Eu me interessei pela temática (Eleições 2018), pois seria bastante provocativo e oportuno debater sobre isso em meio à atual situação política do país. Fiz minha inscrição, mas não tinha expectativas, pensei que não seria selecionada. Foram vários meses de processo seletivo, incluindo muitas etapas, como questionário de perfil profissional, acadêmico e psicológico, teste de raciocínio lógico e personalidade. Outra fase foi responder, por e-mail, a uma pergunta-chave enviada pelo comitê de organização. Depois, passei por uma entrevista via Skype com organizadores e um ex-embaixador. Por fim, foram escolhidos nove finalistas do Centro-Oeste, dos quais cinco passaram na seleção. Eu fui chamada para representar Brasília no evento.

De que maneira o evento contribui para a melhoria do país?
O encontro tem grande potencial porque reúne vários palestrantes com saberes distintos que, articulando entre si, podem movimentar e fazer a diferença. Estamos em uma crise política, mas isso não quer dizer que seja o fim. Debates como esse são enriquecedores, além de demonstrar que o saber não é privado e que está disponível a todos por meio da democratização da informação e da inclusão social. As pessoas não gostam de conversar sobre política, por desinteresse ou porque falta credibilidade ao governo. Isso traz para nós um deficit, uma limitação, pois acabamos não exercendo a democracia de fato, que não é só votar, mas, sim, ter valores de liberdade e igualdade. A maioria dos palestrantes eram brasileiros, inclusive a vereadora do Rio de Janeiro Marielle Franco, que foi assassinada, seria uma das palestrantes.

Por que escolheu cursar serviço social e o que pretende depois de formada?
Assim que terminei o ensino médio, não sabia o que fazer. Precisei pesquisar sobre diversos cursos e escolhi esse pelo meu interesse nos direitos humanos. Primeiramente, estou bem focada em concluir minha faculdade. Pretendo sempre estar envolvida em questões políticas que permeiam a sociedade. Penso também em tentar um mestrado. A partir dessa conferência, ganhei novas perspectivas de vida e pude entender melhor o que quero fazer. Algo que me motiva muito é o empreendedorismo social, área em que quero investir.

Participe!

O programa Jovem de Expressão, em parceria com a Brazil Conference at Harvard and MIT, promove amanhã (23), das 17h às 19h, debate sobre o tema ;O papel do jovem para que todos tenham uma educação de qualidade;. A estudante Jessica Campos será uma das palestrantes. Também falarão aos presentes Gina Vieira, professora e idealizadora do Projeto Mulheres Inspiradoras; e Erica Butow, presidente e cofundadora do Ensina Brasil. O evento é uma continuação da Brazil Conference at Harvard and MIT. A entrada é gratuita, e os presentes receberão certificado de participação. Local: EQNM 18/20 , Praça do Cidadão, em Ceilândia Norte.
Informações: 3372-0957 / jovemdeexpressao.com.br.


*Estagiária sob a supervisão da subeditora Ana Paula Lisboa

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