Trabalho e Formacao

Artesã dos crachás

Com o dinheiro que ganha com a venda das peças estilizadas, pernambucana que mora no DF há 18 anos custeia o tratamento do pai contra o câncer. Atividade acabou se tornando uma grande paixão

Ana Paula Lisboa
postado em 06/05/2018 15:44

Com o dinheiro que ganha com a venda das peças estilizadas, pernambucana que mora no DF há 18 anos custeia o tratamento do pai contra o câncer. Atividade acabou se tornando uma grande paixão

Pérolas, borboletas, caveiras, gatos, crianças, símbolos de time, corações, flores e uma infinidade de outras opções nas mais variadas cores e estilos enfeitam cordões de crachá elaborados por Robéria Lemos, 47 anos. A pernambucana de Triunfo sempre gostou de artesanato, atividade que aprendeu com a mãe, mas nunca tinha pensado em transformar um artigo do mundo do trabalho em arte ; ou joia! Afinal, as peças fogem da ideia que se associa ao elemento de identificação profissional e se parecem com colares. A iniciativa começou por acaso. ;Uma amiga sabia que eu mexia com artesanato e pediu ajuda para não passar mais vergonha por causa do crachá. Ela contou que foi a um seminário e se sentiu envergonhada por usar uma tira de pano acabada e suja no pescoço;, recorda. Criativa, Robéria começou a pensar numa forma de adornar o objeto. Na época, ela elaborava sapatinhos de bebê para vender e usou peças dos calçados infantis no processo.
;Para ficar elegante, fiz um cordão de pérolas. No roller clip, que é aquela pecinha redonda em que o crachá fica preso, coloquei uma flor de metal e uma pérola;, relata. A amiga não poderia ter ficado mais satisfeita com o resultado. ;Ela se encantou, achou lindo e delicado. As colegas de trabalho adoraram e passaram a me pedir;, conta. A partir daí, Robéria criou a marca Bella Crachá, inspirando-se num apelido de infância, e não parou mais de pensar em possibilidades para objetos do tipo. O principal objetivo é ajudar a clientela a se sentir sofisticada e elegante no trabalho. ;É para estar de crachá, mas produzida;, justifica. E há opções para os homens também, que preferem modelos mais discretos, com cordão de couro e símbolos de time, por exemplo. ;A cor que mais sai é a preta. As trabalhadoras mais velhas gostam muito de pérolas, até porque é algo mais alinhado, que dá para usar com um blazer. Tem gente que pede várias opções para combinar com a roupa que for usar no dia;, afirma.

Com o dinheiro que ganha com a venda das peças estilizadas, pernambucana que mora no DF há 18 anos custeia o tratamento do pai contra o câncer. Atividade acabou se tornando uma grande paixão

A atividade é trabalhosa e dividida em etapas. ;Para chegar ao resultado final, leva vários dias. Em um, faço só correntinhas. Em outro, só pecinhas. Fico horas e horas sentada para conseguir produzir;, diz. Como não gosta de repetição, Robéria elabora poucas peças iguais, sempre inovando de alguma maneira. O esforço para atender as vontades do público também é grande. ;Já pediram para fazer com porco, caveira, foto de filho e marido. Vou atrás, dou um jeito;, garante. Os preços de cada porta-crachá variam entre R$ 35 e R$ 40 e, num mês, ela consegue produzir até 100 unidades. O retorno do público é satisfatório. ;É a parte mais gratificante: é muito prazeroso ouvir que a pessoa amou, que ficou lindo. Quando recebo um elogio, fico superempolgada. Então, virou uma paixão.; E é do contentamento da freguesia que chegam mais clientes. ;A maior parte acaba me conhecendo por indicação, pelo boca a boca;, diz.


Robéria é técnica de enfermagem e trabalha no ramo, conciliando a profissão com o artesanato. Então, muitas das compras são feitas por pessoas da área da saúde. No serviço do marido, que é bancário, os crachás estilizados também fazem sucesso. ;Até porque são funcionários que precisam trabalhar mais arrumados, então gostam muito;, relata. Outro público, até de fora de Brasília, conhece as peças pelo Facebook e recebe por correio. Robéria não tem um ateliê ou loja, por isso, combina pontos de encontro para entregar as encomendas a moradores do DF. O Cruzeiro, onde ela mora, é a região de preferência. Mas, se o número de pedidos for alto, a pernambucana pode entregar. O público pode pagar com dinheiro ou cartão. Para conseguir o material necessário para o artesanato, Robéria procura na internet e em todas as viagens que faz. ;Meu marido brinca que agora só vai viajar comigo para cidade que não tenha armarinho, pois de cada lugar que vou trago alguma coisa.;

Com o dinheiro que ganha com a venda das peças estilizadas, pernambucana que mora no DF há 18 anos custeia o tratamento do pai contra o câncer. Atividade acabou se tornando uma grande paixão

Motivação
A Bella Crachá surgiu em novembro de 2015 como um complemento de renda para Robéria, mas por um motivo muito nobre: o pai dela recebeu um diagnóstico de câncer de intestino e não tinha plano de saúde. ;Bem na época, a rede pública estava de greve, então fomos procurar atendimento em São Paulo. Foi um dos momentos mais difíceis da minha vida, eu fiquei desesperada, pensei em vender carro e tudo mais que eu tinha;, lembra. A luz no fim do túnel foi ter achado uma alternativa para custear o tratamento. ;Eu pedia a Deus para me iluminar e me mostrar um caminho para ganhar o dinheiro necessário;, recorda. E esse caminho foi a Bella Crachá. Com os rendimentos do negócio, a artesã custeia não só o tratamento, mas as viagens e hospedagens envolvidas no processo. ;Meus pais moram em Pernambuco e precisei levá-los para São Paulo muitas vezes;, explica. No início, era preciso ir ao médico uma vez por semana; agora, a frequência tem sido de seis em seis meses.

;A quantia que ganho com as vendas vai toda para isso.; No passado, Robéria recorreu ao artesanato em outros momentos de dificuldade. ;Apesar de eu sempre ter mexido com isso por causa da minha mãe e porque fiz magistério num colégio de freiras onde tinha aula de trabalhos manuais, eu entrei nesse mundo para valer por causa da dor;, diz. ;Tive duas depressões pós-parto e procurei terapia ocupacional por recomendação médica. A partir daí, fiz camisas customizadas, sapatinhos para bebês, tiaras;, conta ela que tem dois filhos, de 10 e de 13 anos. Os crachás enfeitados foram a atividade mais recente e se tornaram uma paixão. Tanto que nem mesmo um problema nos braços causado por movimentos repetitivos a impede de continuar o trabalho. ;Eu tive epicondilite. Diminuí um pouco a produção: antes, eu era muito ansiosa, queria ver tudo pronto logo. Agora, faço numa quantidade mais moderada;, justifica.

Saiba mais

www.facebook.com/bellacracha
98112-2062

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