Ana Paula Lisboa
postado em 20/05/2018 16:02
Quem vê Oberlene de Sousa Coelho, conhecida como Lenne, vendendo sousplats (suportes de prato), guardanapos de tecido, porta-guardanapos e enfeites de mesa, como passarinhos e bandejas decoradas, não imagina que o artesanato, que hoje é a fonte de renda dela, chegou a gerar brigas matrimoniais. ;Meu marido odiava, dizia que me largaria porque eu passava as noites concentrada nisso e não tinha tempo para ele nem para os meninos;, recorda ela, que tem dois filhos, de 3 anos e de 8 anos. A situação mudou de figura quando o companheiro percebeu o potencial do trabalho. ;Ele viu que faço direitinho e que o pessoal gosta.;
Lenne e o companheiro tinham uma loja de bicicleta em Samambaia Norte, mas ela não gostava da atividade. Por isso, em qualquer folga que sobrava, ela se dedicava aos trabalhos manuais ; e não só a itens de mesa posta, mas também a caixas de porta-chaves de madeira decorados, bonecas de tecido, bolsas, protetores de cinto e de pescoço para carro, kits para berço e o que mais os clientes pedissem. ;Faço de tudo. Agora, estou fazendo mais artigos de mesa porque está no auge da moda;, explica. Depois de um tempo, o marido de Lenne colocou um funcionário para trabalhar na loja de bikes, de modo que a mulher pudesse intensificar a produção artesanal.
Há seis meses, o casal decidiu encerrar as atividades do estabelecimento comercial. ;Não estava indo bem por causa da crise;, justifica. Desde julho do ano passado, ela tem se dedicado quase que exclusivamente às Artes da Lenne, e o marido a ajuda, produzindo as bases para sousplats em MDF. A artesã faz capas de tecido para forrar os suportes. ;Tenho modelos variados em várias as cores.; Além de vender em feiras, ela comercializa os itens em locais como estação Rodoviária do Metrô, shoppings, Extra da Asa Norte, Parque da Cidade, órgãos públicos e outros locais que abrem espaço para artesãs. ;Fico cada dia num lugar diferente. É uma correria, não tenho nem tempo de atender toda a demanda. Minha vontade é montar uma loja de artesanato;, planeja.
Antes de chegar lá, há outros planos imediatos. ;Quero colocar gente para me ajudar, alguém para vender e alguém para costurar. Assim, eu teria mais tempo para negociar, oferecer a lojas de móveis e casas de eventos, que já compram de mim;, diz. ;Recebo muita encomenda para casamento e festas de aniversário. Se for para uma comemoração grande, preciso de pelo menos 15 dias de antecedência;, acrescenta. As vendas também são feitas no atacado. ;Tem gente que pega de mim para revender em shoppings e lojas. Está muito na moda, então a procura é grande.; A tendência de valorização da mesa posta tem surtido bons resultados. ;Consigo vender de R$ 10 mil a R$ 15 mil por mês;, comemora.
Carga pesada
O êxito é fruto de muito esforço. A rotina de Oberlene começa às 5h40 da manhã e termina só às 2h do dia seguinte. ;Saímos de casa às 6h40 da manhã. Meu esposo me deixa na Rodoviária, onde passo o dia todo vendendo, e me busca às 20h. Chego onde moro umas 22h. Aí começo a produção;, relata. No início, ela tinha apenas uma máquina, mas, com o tempo, se aprimorou e montou um ateliê com três equipamentos de costura na própria residência. Lá, ela costura até as 2h da manhã. ;Meus filhos nem reclamam, ficam grudados comigo. O mais velho faz dever de casa ali, e o pequeno dorme do meu lado;, conta. Nos fins de semana, ainda participa de feiras.
Quando a agenda está livre, intensifica a produção. Por mês, costuma fazer mais de 1.000 peças de tecido. ;Com o que sobra, ainda faço panos de prato e decorações em flor;, diz. A elaboração dos porta-guardanapos, com miçanga, é custosa. ;É demorado, meus dedos ficam doendo de mexer com o fio de silicone.; O trabalho de Lenne é tão intenso que ela acabou parando no hospital por causa de estresse. Depois disso, precisou maneirar na quantidade de responsabilidades. ;Diminuí um pouco porque é cansativo, mas gosto do que faço;, afirma. Lenne sempre encarou o artesanato como hobby, até que ele se tornou paixão e fonte de renda.
;Minha mãe era costureira e me ensinou a costurar, mas acho que nasci com o dom. Meu envolvimento começou na infância, quando eu fazia bonequinhas de pano;, conta. ;O que mais gosto é de entrar no meu ateliê, ficar olhando meus tecidos e as coisas que faço, mexendo nas pedrinhas; O que não gosto é de não ter tempo para atender toda a demanda.; Apesar de adornar uma grande quantidade de lares, só recentemente Lenne passou a ter jogos americanos para si. ;Eu não usava antes, só fui colocar na minha casa depois que fiz muitos. Lá só tem homem, então, só eu gosto dessas coisas organizadas e bonitinhas;, brinca.
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Artes da Lenne
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