Trabalho e Formacao

Tem bagunça? Pode deixar com os personal organizers

A profissão, ainda nem tão conhecida, vem crescendo no Brasil e tem, como principal objetivo, como o próprio nome diz, organizar ambientes, sejam eles residenciais ou corporativos

Thays Martins
postado em 03/06/2018 13:07
Sua desorganização, minha carreira

Personal organizers começaram a atuar no Brasil há cerca de 20 anos e ganham dinheiro organizando espaços de casa ou de trabalho. Ultimamente, o serviço se tornou mais acessível e popular, o que é boa notícia para profissionais do ramo, que passam a ser mais requisitados e valorizados. Os preços cobrados por hora trabalhada variam de R$ 80 a R$ 300

Imagine não perder tempo procurando chaves, documentos, roupas e outros itens que desaparecem em meio à bagunça. Isso é possível para quem tem uma casa ou escritório organizado, um sonho de consumo bastante comum. O problema é que, quando faltam tempo, disposição ou disciplina para ajeitar tudo, esse desejo fica muito distante. Quem trabalha como personal organizer percebeu essa demanda, descobriu um nicho de mercado e tem lucrado, ao dispor objetos de modo lógico e intuitivo. A atividade surgiu nos EUA no início dos anos 1980 e começou a ser exercida profissionalmente no Brasil há 20 anos.

A fonoaudióloga Sandra Bacelar, 49 anos, é cliente da personal organizer Milene Favilla, 55, há mais de um ano e não se arrepende. ;O jeito que ela arruma é diferente. A gente não consegue fazer igual;, diz. A motivação para procurar ajuda externa veio de revistas de decoração: Sandra tentava aplicar os conceitos em casa e se frustrava por não conseguir. ;Fiz o teste com a Milene com um guarda-roupa. Depois, ela arrumou a casa inteira;, lembra. Sandra mora com o marido e dois filhos. ;Isso dificulta manter tudo no lugar. Por isso, sempre a chamo para fazer a manutenção;, justifica. Sempre que termina um trabalho, Milene deixa uma série de dicas para os moradores. Depois de um mês, volta para a primeira manutenção, gratuita.
O jeito que ela arruma é diferente. A gente não consegue fazer igual  Sandra Bacelar, fonoaudióloga, cliente de uma personal organizer

;Avalio se a família está dando conta de manter porque é um investimento;, diz. ;Eu categorizo os objetos por tipo: calça com calça, vestido curto com vestido curto, toalha com toalha, leite com leite. Isso facilita e torna prática a busca não somente por roupas, mas por qualquer outro item;, relata ela, que é tecnóloga em publicidade e fez um curso na área de organização antes de começar a trabalhar no ramo. A vontade de ter tudo organizado e um estilo de vida agitado, que torna isso muito difícil, tem ajudado a impulsionar a profissão. ;Se a pessoa tem problemas de organização, a casa será reflexo disso;, explica a personal organizer Rafaela Oliveira, autora do livro Organize sem frescuras.

Bons ventos

Fatima Trindade, vice-presidente da consultoria de gestão de pessoas Thomas Case & Associados, vê na apreciação de ambientes organizados e na falta de tempo o grande trampolim que permitirá à profissão a chance de se firmar. ;Nesta vida corrida, em que o tempo é escasso, é importante ter tudo organizado de maneira inteligente, ocupando o menor espaço possível. Afinal, hoje em dia, todo mundo trabalha, estuda e faz mil coisas;, pondera. Fatima, que é psicóloga e especialista em carreiras, vê muitas vantagens para quem contrata. ;Esse tipo de serviço traz grandes mudanças à vida das pessoas, tornando-as mais disciplinadas e organizadas;, afirma. Outro resultado é a redução do estresse. ;A organização é transformadora. Você ganha tempo, qualidade de vida e praticidade. É um investimento;, concorda Rafaela Oliveira.

Os preços praticados variam bastante. Há desde quem cobre R$ 80 por hora até quem peça R$ 300 pelo mesmo período. Outros personais estipulam valores pelo resultado final, independentemente do tempo despendido. Em geral, o serviço é contratado por clientes de rendas média e alta, mas Rosália Ribas, idealizadora do Encontro de Personal Organizers do Centro-Oeste, defende que a contratação está mais acessível. ;Antigamente, existia essa ideia de que só a classe alta poderia contratar esse tipo de serviço. Hoje, qualquer pessoa que se encaixe no perfil de não ter tempo para se organizar consegue contratar;, acredita. Apesar disso, o preço ainda pode parecer um impedimento para boa parte da população, o que freia o boom do setor. Outro desafio da atividade é o fato de ainda não ser reconhecida pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) nem ser regulamentada.
Assim, o padrão de quem atua no ramo varia bastante: alguns fizeram cursos específicos, outros não. A classe, porém, já conta com uma entidade: a Associação Nacional de Profissionais de Organização e Produtividade (Anpop), criada em 2006. Geralmente quem exerce a atividade é autônomo, atuando como microempreendedor individual. ;A profissão está tendo grande visibilidade, interesse e reconhecimento. Podemos encontrar uma gama de cursos de aperfeiçoamento, inclusive, on-line;, afirma Fatima. Para Rosália Ribas, idealizadora do Encontro de Personal Organizers do Centro-Oeste, a carreira veio para ficar. ;As pessoas precisam de organização para ter qualidade de vida;, garante. ;A tendência é que a atividade seja reconhecida e regulamentada;, diz.

Quero trabalhar com isso. E agora?

Apesar de o setor contar com bons ventos, especialistas deixam o alerta para quem deseja migrar de carreira: nem todo mundo tem perfil. ;O candidato precisa entender que ajudará a organizar a vida das pessoas. Por isso, é importante ter algumas competências. Saber ouvir (para entender a real necessidade do cliente), ser naturalmente organizado e disciplinada, ter forte visão espacial, paciência, firmeza e gosto por pessoas são atitudes importantes;, ensina Fatima. ;O perfil aqui é diferente do dos Estados Unidos. Geralmente, quem vai para essa ocupação no Brasil tem curso superior e está procurando uma nova atividade. Na América do Norte, normalmente, é alguém sem curso superior, como uma empregada doméstica, que acaba entrando no ramo;, explica Rosália Ribas, com formação de personal organizer pela OZ! Organize sua vida.

Fatima diz que não há a necessidade de se pensar sobre concorrência. ;Nunca se deve esquecer do aprimoramento constantemente. Busque novas tendências de mercado, leia, visite espaços diversos e sempre dê o melhor de si, pois, nesse ramo, as indicações fazem a diferença;, orienta. Uma boa notícia é que a profissão pode proporcionar grande dose de prazer. ;Dá para se divertir, pois nada é mais agradável do que ver o ;antes; e o ;depois; na vida das pessoas e saber que você foi o responsável pela transformação;, observa Fatima. Rosália Ribas, pedagoga com especialização em administração de empresas, ressalta ainda a importância da capacitação constante. ;É como qualquer outra profissão. Não é só dobrar uma roupa, tem de ter cuidados e ética;, enfatiza.

Elas arrumam!

A profissão de personal organizer tem cada vez mais adeptos. Conheça algumas:

Segunda profissão

A profissão, ainda nem tão conhecida, vem crescendo no Brasil e tem, como principal objetivo, como o próprio nome diz, organizar ambientes, sejam eles residenciais ou corporativos

Milene Favilla, 55, trabalha como personal organizer há seis anos e teve a ajuda da família para descobrir a profissão que era a cara dela. Durante muitos anos trabalhou no ramo publicitário, mas sentia que era hora de mudar. ;A rotina foi me cansando e eu comentava isso em casa. Meu filho, pesquisando na internet, descobriu essa ocupação. Vi que tinha tudo a ver comigo. Desde a infância, eu gosto muito de organizar a casa;, conta. Na hora de virar a página, ela sentiu medo, mas nada que a impedisse de se aventurar. ;O que é novo causa receio, insegurança, mas o desejo de transformar foi mais forte do que o de ficar na mesmice.; A decisão foi acertada. ;Acho que a escolha foi a mais perfeita que eu podia ter feito. Amo organizar;, admite.
A profissão, ainda nem tão conhecida, vem crescendo no Brasil e tem, como principal objetivo, como o próprio nome diz, organizar ambientes, sejam eles residenciais ou corporativos

Para ela, a profissão está em alta e só tende a crescer, à medida em que mudam também os papéis dentro de casa. ;Cada vez mais novos profissionais entram no mercado, o número é exorbitante. Geralmente a função de cuidar da casa ainda é da mulher, que hoje é profissional, mãe, filha, esposa, estudante, pratica ações sociais, então não tem tempo;, justifica. Um problema da falta de regulamentação, segundo Milene, é que há pessoas se passando por personal organizers sem serem de fato. ;Depois que o serviço se popularizou, muita gente diz que também sabe fazer, mas não tem técnica;, denuncia.

Pioneira no DF

A profissão, ainda nem tão conhecida, vem crescendo no Brasil e tem, como principal objetivo, como o próprio nome diz, organizar ambientes, sejam eles residenciais ou corporativos

Podendo ser considerada umas das primeiras profissionais da organização de Brasília, Renata Muniz, 43, atua na área há 10 anos. Tudo começou pelo descontentamento com antiga profissão em tecnologia da informação (TI). A luz no fim do túnel ela tinha conhecido muitos anos antes, em 1999, quando morou nos EUA e teve o primeiro contato com a atual ocupação. ;Depois que me mudei para um apartamento muito pequeno, senti essa necessidade de alguém para me ajudar e não tinha;, lembra. Foi então, que resolveu estudar. Começou fazendo testes nas casas de parentes e amigos. ;Nós precisamos de técnica para otimizar os espaços. É um serviço personalizado, o que serve para um não dá para outro;, explica. Renata aprendeu isso a duras penas. ;Pensei várias vezes em desistir. Demorei três anos para me tornar estável;, ressalta. Hoje, o negócio cresceu. ;Vivo exclusivamente de organização. Meu marido saiu do emprego para me ajudar e tenho mais três pessoas contratadas;, comemora.

Decisão acertada

A profissão, ainda nem tão conhecida, vem crescendo no Brasil e tem, como principal objetivo, como o próprio nome diz, organizar ambientes, sejam eles residenciais ou corporativos

Patrícia Rodrigues de Paula, 38, atua na área quase um ano. ;Foi a decisão acertada;, garante. Formada em direito, mas sem ter exercido a profissão, fez um curso de design de interiores. ;Depois, fiz o de personal organizer e vi que era minha paixão;, conta. ;O trabalho vai além de organizar um ambiente, faço os clientes enxergarem seus excessos, acúmulos e apegos. Menos é mais, e a vida organizada e equilibrada ajuda os aspectos emocional, espiritual, físico e mental;, afirma. ;A cada dia, as pessoas têm menos tempo para dedicarem a suas casas, então as perspectivas para a carreira são ótimas.;
Estude!

Chance em Brasília

A Gab Treinamentos está com as inscrições abertas para curso de personal organizer. A capacitação ocorrerá entre 18 e 20 de junho e será dividida em três módulos (técnicas e métodos de organização de toda casa; profissionalizante de personal organizer; e organização de mudança). As aulas serão no Setor Comercial Sul, Quadra 6, Edifício Presidente. O investimento para o curso completo é de R$ 2.497, que pode ser dividido em até 12 vezes. As inscrições podem ser feitas pelo link:.

Leia!

A profissão, ainda nem tão conhecida, vem crescendo no Brasil e tem, como principal objetivo, como o próprio nome diz, organizar ambientes, sejam eles residenciais ou corporativos


Organize sem frescuras ; com menos tempo e menos dinheiro
Autora: Rafaela Oliveira
Editora: Astral Cultural
128 páginas
R$ 34,90
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A mágica da arrumação ; a arte japonesa de colocar ordem na sua casa e
na sua vida
Autora: Marie Kondo
Editora: Sextante
160 páginas
R$ 17,90

*Estagiária sob supervisão da subeditora Ana Paula Lisboa

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