Ana Paula Lisboa
postado em 10/06/2018 18:07
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Em 1984, os irmãos Rosilda Maria Silva Carvalho, 65, e Paulo José Araújo, 61, realizaram juntos o sonho de serem donos do próprio negócio, abrindo um brechó na 307 Norte, chamado Lixo Valioso, onde compram e vendem móveis, eletrodomésticos, louças, cristais, roupas e outros artigos. O nome desperta a atenção e, segundo Paulo, o objetivo é que ;fosse algo esquisito mesmo;. O termo é até patenteado e ele conta que muita gente tentou copiar. ;Todo mundo achou estranho no começo, mas deu certo. Outras lojas colocaram nomes parecidos depois, como lixo de luxo;, comenta. A motivação para inaugurar um comércio de itens usados surgiu depois de Rosilda visitar o que ela considera ser o primeiro brechó de Brasília, o Mercado das Pulgas, que ficava na 504 Norte. ;Foi quando tive a ideia de abrir o nosso;, lembra ela, que chegou a trabalhar no local para adquirir experiência no ramo. Antes disso, a comerciante atuou em lojas de roupa e numa ótica.
Na época da abertura do Lixo Valioso, Paulo trabalhava no Hotel Nacional e, depois que se tornou sócio da irmã, manteve o emprego por um ano, conciliando as duas atividades. ;Quando vi que daria certo, pedi demissão;, diz. Até cinco anos atrás, o brechó era dividido em duas lojas na mesma quadra: uma, na parte de cima, recebia móveis grandes; a outra, no subsolo, era para itens menores. Os irmãos fecharam a primeira para concentrar todos os trabalhos num espaço só. Ainda hoje, trabalham com móveis, como camas, mesas, cômodas, criados-mudos, cristaleiras, escrivaninhas e cadeiras, mas deixaram de aceitar guarda-roupas, por exemplo. A mudança teve motivação financeira. ;Era preciso ter muitos funcionários para carregar o peso, além de pagar dois aluguéis. Dava mais trabalho. Agora, nossos rendimentos diminuíram, mas nossos custos, também;, esclarece Paulo.
Atualmente, a dupla conta com apenas uma funcionária, Sônia Silva de Carvalho, 55, que está no estabelecimento há 17 anos. ;São chefes muito bons e compreensivos e conquistam todo mundo com simpatia. Não tem como não gostar deles;, elogia a atendente. Por dia, a microempresa recebe cerca de 30 clientes. ;No início, o pessoal tinha preconceito com artigos usados. As madames do Lago Sul vinham, mas não queriam que ninguém as visse;, recorda Rosilda. Essa resistência, porém, logo passou. ;Hoje, brechó é moda. As pessoas descobriram que tem muita coisa boa aqui. Às vezes, alguém vai se mudar ou viajar para o exterior e vende a casa toda. Aparecem relíquias;, conta. Os irmãos compram objetos de segunda mão, sempre em bom estado de conservação, levados por clientes à loja ou, quando são itens maiores ou em grande quantidade, na casa da pessoa.
Parceria
Ao longo da trajetória, foram chamados para adquirir artigos até em embaixadas. Os dois não sabem precisar quantos objetos estão no acervo da loja, mas garantem que as peças valem a pena. ;Aqui, você encontra coisas que não estão mais no mercado;, observa Paulo. Alguns dos itens são raros e disputados. ;Teve um cliente de Goiânia, inclusive, que comprou um piano de cauda conosco por telefone. Ficou sabendo que tínhamos o item, pagou por depósito e mandou um carregador vir buscar;, rememora. Atualmente, roupas e objetos de decoração são as categorias mais procuradas. A clientela está na segunda geração. Rosilda se diverte encontrando a freguesia em outros contextos. ;A filha de uma cliente bem antiga vinha aqui menina. Um dia desses, marquei uma consulta e, chegando lá, ela era a médica que me atendeu e que hoje é minha cliente também. Isso me deixa feliz.;
Uma grande satisfação para a comerciante é fazer amizade com o público. ;Boa parte dos que vêm aqui se tornaram amigos. É uma das partes mais prazerosas do trabalho;, relata. ;O que eu mais gosto no meu trabalho é encontrar pessoas de todos os tipos e de todas as classes e, do mesmo modo, objetos de todos os tipos. E é legal ver que algo que estava jogado em um canto na casa de uma pessoa pode ter muito valor para outra;, completa Paulo. A cliente Jandira Brito, 46, frequenta a loja há 15 anos. ;Venho para comprar principalmente roupas. Acho peças muito boas e bem mais em conta aqui;, relata ela, que é cobradora de ônibus e mora no Paranoá. O outro atrativo é o atendimento dos irmãos. ;Sempre sou bem atendida, eles são muito simpáticos;, comenta. ;Receber bem é uma das nossas grandes preocupações;, emenda Rosilda.
Naturais de São Bernardo (MA) e filhos de um lavrador e de uma dona de casa, ela e Paulo são os caçulas de sete irmãos. Os dois vieram para a capital federal tentar a vida depois que uma das irmãs se mudou para cá. ;Só um dos nossos irmãos continuou no Maranhão;, diz a comerciante, que tem dois filhos e três netos. Já Paulo tem três filhos, entre eles Dayana Vieira de Araújo, 31, graduada em gestão de RH, que ajuda a cuidar das finanças do negócio. ;Eles estão há 36 anos no mercado porque atuam em união, um sempre está ajudando o outro;, percebe Dayana. Trabalhar por tanto tempo entre irmãos não é problema na família. ;Somos muito unidos e respeitamos muito o trabalho um do outro;, explica Rosilda. ;A confiança também é importante. Temos confiança total. Algo que só dá para ter numa sociedade desse jeito;, afirma Paulo. ;Quando abrirmos a loja, nós dois éramos solteiros. Então, criamos nossos filhos aqui. É uma parceria de uma vida toda;, comemora Rosilda.
Lixo Valioso
SCLN 307, Bloco C, Loja 6 (subsolo)
3273-2950 / 9-8150-6904 (WhatsApp)