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Estrangeirismo é comum no vocabulário corporativo. Isso é bom ou ruim?

Workshop, briefing, coach, approach, CEO, commodity, deadline, feedback...2026 A lista de palavras estrangeiras que se tornaram comuns em conversas no mundo corporativo está cada vez maior. Você sabe o significado de todas elas? Ou fica perdido tentando entender tantos termos estranhos? A solução para não ficar de fora é se adaptar

Thays Martins
postado em 24/06/2018 16:48

Jargões estrangeiros tomam conta das firmas

Cláudio Santos em reunião com colegas em multinacional que trabalha como diretor de negócios estratégicos: inglês faz parte da rotina

Briefing, approach, CEO, commodity, deadline, feedback; A lista de palavras de fora que se tornaram comuns em conversas no mundo corporativo está cada vez maior. Você sabe o significado de todas elas? Ou fica perdido tentando entender tantos termos estranhos? A solução para não ficar de fora é se adaptar

;Boa tarde, vocês trouxeram o briefing? Precisamos fazer um brainstorm para definir o tema do workshop com o coach. O CEO e o COO pediram para darmos feedback logo, pois o deadline do job está próximo. Não podemos decepcionar o board!” Se você ouvisse essas frases numa reunião de trabalho, entenderia tudo? O excesso de termos em inglês na comunicação corporativa tem se tornado desafio para muita gente ; afinal, a maior parte da população brasileira não fala um idioma estrangeiro: na última edição do índice internacional de proficiência na língua inglesa da Education First (EF), o Brasil foi rebaixado e parou de fazer parte do grupo das 40 nações com melhor desempenho no idioma. Dependendo da área em que você atua, pode ter ficado perdido tentando saber o que estava sendo dito em determinadas ocasiões. Isso até poderia dar início a uma discussão sobre se o uso de palavras em outras línguas no dia a dia profissional é ou não positivo, no entanto, o recado de especialistas é claro: para não ficar por fora, o melhor é se atualizar e tentar acompanhar.

De acordo com Alexandre Bandeira, diretor de Inovação da empresa de recrutamento Harpio, não adianta reclamar. O jeito é tentar estar sempre por dentro dos termos usados. ;Faz parte do interesse de cada um avançar no conhecimento. Tem muito material na internet de forma gratuita para adquirir esse vocabulário;, diz. No caso de não entender alguma palavra em uma reunião ou seleção de emprego, a saída é assumir o desconhecimento. ;A sinceridade é sempre mais bem-vista. E a partir daí, o próximo passo é se preparar melhor;, ensina. Apesar de dificultar a comunicação com quem não conhece as palavras, estar habituado com o uso de expressões estrangeiras pode facilitar em um momento em que seja preciso lidar com pessoas de outros países. ;Se você estiver preparado para utilizar esses termos de forma adequada, terá uma vantagem em qualquer lugar do mundo;, destaca.

Uso exagerado?

Alexandre Lage trabalha com bitcoins e entende e acha positivo o uso de palavras estrangeiras no cotidiano

Trabalhando há um ano na CryptoRadar, empresa especializada em bitcoins que ajuda a quem quer comprar a moeda, o diretor de Marketing Alexandre Dantas Lage, 32 anos, entende essa necessidade. ;Como lidamos com criptos ativos (moedas virtuais), usamos muitos termos específicos. Agora mesmo, estou lendo um artigo todo em inglês sobre a influência dos bitcoins na economia;, conta. Alexandre não sente dificuldades para se adaptar ao vocabulário corporativo porque fala inglês e trabalhou como diretor e coordenador pedagógico em uma escola de idiomas, em que tinha muito contato com a língua. ;As pessoas têm de se preparar para entrar no mercado de trabalho e, para mim, isso envolve falar inglês;, opina. Para ele, os jargões estrangeiros usados para se comunicar dentro das empresas não são negativos. ;O mundo não é o Brasil, então o uso de um linguajar com influência externa é positivo porque você adquire conhecimentos de fora. Assim, somos preparados para trabalhar em qualquer lugar;, completa.

Cláudio Santos, 42 anos, diretor de Negócios Estratégicos de Governo e Healthcare da Wolters Kluwer (multinacional holandesa que fornece produtos e serviços para profissionais de saúde) em Brasília, vê o inglês como o pontapé que permitiu que ele alcançasse altas posições no mercado de vendas em que atua há 20 anos. ;Como a maior parte das multinacionais são americanas, é mandatório ter vocabulário em inglês para poder se comunicar com clientes e com outras unidades;, diz. O administrador acredita que utilizar termos específicos é necessário para ter uma padronização. ;O uso não é exagerado, acho que o inglês é fundamental. Mais na frente, pode ser que o mandarim comece a ser importante para os executivos também. É uma questão de abertura de mercado;, opina. Já o publicitário Rafael Hessel, 30 anos, acredita que existe um uso exagerado de termos em inglês. Ele, que trabalha com propaganda na agência GTB Brasil, e um colega começaram a anotar as palavras estrangeiras usadas em reuniões de que participavam e criaram, em 2014, o site portuguesparaexecutivos.tumblr.com.

O publicitário Rafael Hessel acredita que existe exagero na apropriaçaõ de termos em inglês


Na página, desmistificam verbetes e siglas em inglês (por exemplo, Asap, feedback, FYI e big deal) mostrando o significado de cada um. ;É uma espécie de curso para executivos, tirando sarro da gente mesmo. Recebemos mais de 200 mil acessos na época da criação;, conta. ;As pessoas se identificaram com o que publicamos porque esse uso exagerado é uma realidade. Todo mundo acha ridículo, mas é difícil fugir disso;, relata. Ele, que atuou em várias agências fora do país, como a OneBigAgency de Amsterdã, e as Ogilvys de Buenos Aires e Nova York, relata que o uso do inglês sempre esteve presente, mas que, muitas vezes, existem termos correspondentes em português, mas as pessoas simplesmente não usam. ;Acho que é exagerada a quantidade de palavras de fora que utilizamos. Podemos nos policiar um pouco mais. Eu mesmo sempre falo alguns;, confessa.

Mais português, por favor!

A verdade é que não há muito como escapar do estrangeirismo, principalmente quando se trabalha em multinacionais. Então quem pretende ou atua nessas corporações precisa se preparar e continuar se atualizando constantemente: o vocabulário corporativo é extenso e novos termos podem ser incorporados a cada minuto. ;É importante saber o que cada palavra significa porque, de certa forma, é uma padronização do mundo corporativo. A pessoa que estiver preparada para utilizar essas palavras de forma adequada terá vantagem;, garante Alexandre Bandeira, da empresa de recrutamento Harpio. De acordo com ele, porém, não ter extenso vocabulário corporativo não é fator de eliminação durante processos seletivos. ;Não é só isso que se leva em conta na hora de admitir um funcionário. Alguns aspectos são mais importantes, como os valores e os conhecimentos técnicos. Dá para aprender as palavras estrangeiras. Mas é claro que, no caso de empate, a preferência será dada a quem domina os termos usados no mundo empresarial;, destaca.

Segundo Carolina Coelho Aragon, professora de linguística da Universidade Católica de Brasília (UCB), a necessidade de entendimento de inglês varia de acordo com a área. ;Uma pessoa que trabalha com informática terá muito contato com palavras estrangeiras, então é importante fazer um curso de inglês instrumental para se apropriar desses termos. Em outros ramos, como o mercado financeiro, muitas vezes, não é preciso porque os jargões mais específicos são passados de um funcionário para o outro;, elucida. De acordo com José Cláudio Brito, diretor executivo da ADV Tecnologia, não é necessário estudar para dominar o dicionário corporativo em inglês. ;Essas palavras que são corriqueiras, aprende-se na vivência. O curso não traz essas expressões e você acaba se acostumando a usá-las;, diz. Para quem ainda não tem prática, ele deixa a dica: ;Leia artigos sobre experiências estrangeiras e acompanhe sites internacionais do ramo em que atua;.

Língua dinâmica

De acordo com Alexandre Bandeira, a quantidade de palavras estrangeiras usadas em conversas corporativas tem explicação na origem do gerenciamento no Brasil. ;Isso acontece não por falta de palavras em português, mas, sim, por seguirmos um modelo americano de administração, então temos muita influência, especialmente em inglês;, observa. Para Carolina Coelho Aragon, é natural a língua se apoderar de termos de outros idiomas. ;Os estrangeirismos ocorrem em qualquer idioma. Isso porque há um empréstimo de palavras pela necessidade linguística, como a falta de termos em português, e por fatores culturais;, explica. E, mesmo quando o equivalente existe no idioma nacional, ela esclarece que, por costume, muitas vezes as pessoas ainda usam as palavras em inglês. ;Não é uma questão de ser mais chique. A questão é que os termos são bastante usados pela mídia ou determinados grupos sociais. Daí, as pessoas não se preocupam em usar a tradução.;

Segundo ela, que é doutora em linguística pela Universidade do Havaí, isso não é ruim. ;É enriquecedor para a construção da língua, assim como palavras dos idiomas tupis e africanos fizeram parte do processo de formação do português brasileiro;, diz. Apesar disso, há quem desaprove o uso exacerbado de termos de outras línguas ao falar português. E não é um fenômeno recente. Em 1999, Aldo Rabelo, então deputado federal, propôs o Projeto de Lei n; 1676/99, que restringia o uso do estrangeirismo em escolas e documentos oficiais. Apesar de aprovada pela Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJC), a proposta foi arquivada. ;A iniciativa não foi aceita pelos linguistas porque há esse entendimento de que o uso de outras línguas é saudável;, explica a professora Carolina.

Ela também destaca que não é necessário se preocupar com a quantidade de palavras estrangeiras usadas em uma conversa. ;Muitas são esquecidas mais na frente. Algumas ficam, como abajur, e outras, não;, diz. José Cláudio Brito, da ADV Tecnologia, empresa que criou um pequeno dicionário para ajudar trabalhadores a entender as palavras estrangeiras mais usadas no mundo empresarial (confira em Glossário corporativo), observa que, apesar de natural, o uso de verbetes de fora deve ser feito com cautela e sem exageros. ;Nós temos que tomar cuidado para não trocarmos a língua nacional pela estrangeira;, diz. Principalmente, de acordo com ele, porque, quando isso se torna um hábito, a pessoa pode começar a falar dessa forma em qualquer ambiente que não seja o corporativo. ;Isso pode complicar mais a comunicação do que esclarecê-la;, afirma.

Glossário corporativo

Para facilitar a vida de quem precisa lidar com palavreado de fora na rotina, a ADV Tecnologia, empresa especializada em software de gestão, criou uma ista dos principais termos usados atualmente e seus significados


A ; D
Approach: abordagem.
Assessment: ferramenta utilizada pelas empresas para avaliar o perfil e as características do profissional.
Board: conselho diretor.
Brainstorm: conversa para troca de ideias sobre determinado assunto. Uma das palavras mais procuradas no dicionário corporativo.
Branding: conjunto de ações ligadas à administração de uma marca.
Briefing: conjunto de informações para a realização de uma determinada ação, dossiê.
Budget: orçamento.
Business Plan: plano de negócios.
Business Unit: unidade de negócios.
Case: estudo de caso.
CEO (Chief Executive Officer): profissional que ocupa o cargo mais alto da empresa.
CIO (Chief Information Officer): profissional responsável pelo planejamento da área de tecnologia da informação, como um diretor de TI.
CFO (Chief Financial Officer): profissional responsável pela administração financeira da empresa.
Chairman: presidente do conselho que dirige a empresa.
Commodity: matéria-prima.
COO (Chief Operations Officer): profissional que cuida mais de perto da rotina do negócio.
Coach: profissional que orienta a vida profissional de outras pessoas,utilizando técnicas e treinamentos, por exemplo.
Core business: é o principal negócio da empresa.
CRM (Consumer Relationship Management): ferramenta para gestão do relacionamento com clientes.
Customizar: personalizar algo como um produto, processo, serviço ou uma apresentação.
Deadline: prazo final, data em que alguma tarefa precisa ser terminada.

E ; H
E-learning: ensino ou treinamento que acontece através da internet.
Expertise: habilidade ou conhecimento em determinada área.
Feedback: retorno sobre o resultado de um processo ou atividade.
Follow-up: entrar em contato.
Forecast: previsão.
Hands-on: participação ativa.
Head: é o profissional que lidera uma área, um departamento ou um projeto.
Headcount: número de pessoas que trabalham em determinada equipe.
Headhunter: caça-talentos, recrutador.

I ; O
Insight: ideia súbita, percepção.
Internship: estágio.
Job rotation: rotação em diferentes áreas da empresa para adquirir novos aprendizados.
Joint-venture: associação de duas empresas ou mais para a produção, prestação de serviços, busca de novos mercados, etc.
Know-how: conhecimento.
KPI (Key Performance Indicator): indicador de desempenho.
Merchandising: conjunto de atividades de marketing e comunicação destinadas a promover marcas, produtos e serviços.
Newsletter: boletim de notícias.
Networking: rede de contatos profissionais.
OOO (Out of Office): ;ou-ou-ou; quer dizer nada mais do que ausente do escritório.
Outsourcing: terceirização.

P ; T
SEO (Search Engine Optimization): conjunto de técnicas que visam otimizar o posicionamento de sites nos mecanismos de busca do Google.
Skills: habilidades ou competências.
Sponsor: é o profissional responsável pelo recurso financeiro de um projeto.
Start-up: dar início a uma operação ou atividade.
Supply-chain: cadeia de abastecimento.
Trainee: profissional em treinamento.
Trend: tendência.
Target: alvo, público-alvo.

U ; Z
Workaholic: profissional viciado em trabalho.
Workshop: treinamento ou palestra.

Fonte: ADV Tecnologia disponível em: bit.ly/dicicorporativo

Estrangeira, pra que te quero?

; Dad Squarisi**
As línguas adoram bater papo. Umas contagiam as outras. Quanto maior o contato, maior a influência. No século 19, o português sofreu grande influxo do francês. Assimilou, pois, muitas palavras do idioma de Descartes. Garagem, bufê, balé servem de exemplo. No 20, o inglês chegou com força total. Falado pela potência planetária, que vende como ninguém sua música, seu cinema e sua tecnologia, impôs-se como língua internacional. O português incorporou vocábulos pra dar, vender e emprestar. É o caso de shopping, marketing, show, fashion. As corporações não ficaram imunes à moda. Caíram de cabeça nas estrangeiras. Como a maior parte da literatura de recursos humanos vem da terra do Tio Sam, as empresas absorveram o jargão que figura nos textos de estudo. Não só. Colonizados que somos, a inglesa parece mais glamourosa que a portuguesinha nossa de todos os dias.

**Editora de Opinião do CB e especialista em linguística e língua portuguesa

Não são só palavras, as siglas também


O CEO da Seven Idiomas, Steven Beggs, preparou um breve guia das siglas em inglês mais utilizadas em e-mails corporativos. Confira:

- ASAP: são as iniciais de ;As soon as possible;, o que em português é ;o mais rápido possível;. Utiliza-se o termo para sinalizar que a mensagem é urgente e precisa de uma resposta rápida.

- FYI: sigla que significa ;For your information; (para sua informação). Ou seja, é usada para indicar que o conteúdo é algo importante, de seu interesse.

- OMG: redução de ;Oh my God; (Oh meu Deus) para demonstrar espanto ou surpresa;

- RSVP: proveniente do francês ;Répondez s;il vous pla;t; (responda, por favor). A expressão é encontrada em textos de convites e indica que você precisa confirmar presença para algo.

- TIA: é a abreviação de ;Thanks in advance;, uma forma de dizer que você se encontra antecipadamente grato por algo. É usado, principalmente, em e-mails corporativos quando se pede algo para alguém.

- TKS: é a abreviação de ;Thanks;, maneira informal de dizer obrigado/obrigada (Thank you), empregada para agradecer algo ou alguém.

*Estagiária sob a supervisão da subeditora Ana Paula Lisboa

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