Trabalho e Formacao

Professores dão dicas para quem deseja passar no concurso para diplomatas

As inscrições para concorrer a uma das 26 vagas oferecidas pelo Ministério das Relações Exteriores terminam nesta segunda-feira (16). O concurso oferece salário de R$ 18 mil e a possibilidade de um trabalho com viés internacional

Eduarda Esposito*
postado em 15/07/2018 16:55

Tiago Leite Miranda, 36 anos, tentará o concurso pela sexta vez

O Instituto Rio Branco do Ministério das Relações Exteriores (ou Itamaraty) está com 26 vagas abertas para o cargo de terceiro secretário da carreira de diplomata. O salário inicial dos aprovados será de R$ 18.059,83. O certame é organizado pelo Centro Brasileiro de Pesquisa em Avaliação e Seleção e de Promoção de Eventos (Cebraspe) e terá três fases (prova objetiva; prova escrita de línguas portuguesa e inglês; e prova escrita). As matérias que cairão na primeira fase, em que serão cobradas 73 questões de certo e errado, são língua portuguesa, língua inglesa, história do Brasil, história mundial, política internacional, geografia, noções de direito e direito internacional público. Já na terceira fase, as matérias cobradas são história do Brasil, política internacional, geografia, noções de economia, noções de direito internacional público, língua espanhola e francesa. O exame deve ser bastante concorrido: em 2017, 5.939 candidatos concorreram às 30 vagas oferecidas na época. É comum que quem almeja essa carreira estude por anos e anos, pois os conteúdos são abordados com muita profundidade.
Após a aprovação, os selecionados passam por curso no Instituto Rio Branco por dois anos para, depois, começar a trabalhar com atividades consular e diplomática. Graduado em turismo, Tiago Leite Miranda, 36 anos, tentará o concurso pela sexta vez. A grande motivação é o interesse pela carreira. ;Ter a oportunidade de representar o país e ser um elo me parece algo interessante;, diz. Outros benefícios também chamam a atenção. ;Obviamente tem outras vantagens, como conhecer diversos países.; O mineiro de Passos estuda para o certame cerca de oito horas diárias, por meio de videoaulas e manuais de estudo. Espanhol não será dificuldade para Tiago, que dá aulas do idioma no Cursinho Ideg. Português deve ser o maior desafio para ele.

Hora de focar!
;O certame para a carreira de diplomata não é para aventureiros;, destaca Alexandre Hartmann Monteiro, professor de inglês do cursinho IMP. ;A prova é para quem lê muito, tem fluência na língua inglesa e vocabulário extenso;, afirma. ;A banca cobra correção gramatical, ou seja, que o candidato use os termos adequadamente. Só um bom leitor conhecerá palavras que o leitor comum não domina para fazer isso;, esclarece. Para que os concorrentes fiquem afiados para o concurso, Alexandre dá algumas dicas para praticar a leitura crítica em inglês. ;Recomendo a leitura do jornal The Economist, da revista The New Yorker e também de fontes oficiais, como textos das Organizações das Nações Unidas (ONU). Praticar o inglês lendo essas publicações ajuda na correção gramatical, que é pedida explicitamente no edital;, orienta.

[SAIBAMAIS]Espanhol merece bastante atenção no certame. Carolina Gomes Sturari, fundadora e diretora pedagógica do ;Bravo! Instituto Cultural Hispano-Americano, destaca os temas que devem ser abordados na matéria. ;Os assuntos costumam ser relacionados a política, economia e atualidades. Os candidatos podem se manter informados acessando sites estrangeiros em espanhol, que costumam ser utilizados como fontes de texto para provas, tais como El Mundo e El Pais, jornais espanhóis, e La Nación, da Argentina;, aconselha. ;Cabe lembrar que a prova de espanhol geralmente é mais rigorosa (do que a de inglês, por exemplo), já que a intenção é que ela seja seletiva. Por isso, recomendamos praticar as habilidades interpretativas por meio de simulados e provas antigas;, informa.

Outro conselho é não menosprezar a disciplina na hora de se preparar para o exame. ;Em virtude da semelhança entre as línguas portuguesa e espanhola, os candidatos podem ter a falsa impressão de que não é necessário se dedicar aos estudos. Por consequência, é justamente nessas provas que costumam ocorrer as médias mais baixas, e o candidato mais bem preparado no espanhol pode garantir um diferencial, aquela pontuação extra;, adverte.

Os professores Pedro Soares Santos e Diogo D;angelo de Araújo Roriz dão aulas de história no Estratégia Concursos e notam que os alunos costumam ter dificuldades com conteúdos que não costumam ser comentados no Brasil. ;O século 19 europeu, culturalmente, não é muito estudado no ensino médio brasileiro, nem nas graduações em geral, sequer costuma ser abordado em livros de história;, diz. No entanto, não deve ser deixado de lado. ;O exame do ano passado cobrou algo muito específico em relação ao Congresso de Viena (que reuniu embaixadores das grandes potências europeias após a derrota da França napoleônica na Rússia);, explica Pedro.

História
Ele aponta outra temática que merece atenção. ;A Guerra Fria cai em política internacional, geografia e história mundial. Em história do Brasil, também se fala muito da importância do período. De acordo com Diogo, uma característica da prova do Itamaraty é cobrar grande diversidade de assuntos de história. ;Um problema é que temos tido 11 questões, cada uma com um conteúdo diferente. Fazendo o retrospecto, salta aos olhos a Guerra Fria, que é cobrado desde 2003, sendo o tema mais frequente. Em segundo lugar, está a Revolução Industrial e os movimentos revolucionários do século 19. Seguido do Entre Guerras, período desde o fim da primeira Guerra até o começo da segunda Guerra Mundial;, afirma.

Política internacional
Uma matéria bem específica da prova para diplomatas é política internacional e o professor Victor Hugo Toniolo Silva, do Gran Cursos Online, chama a atenção para o que prestar atenção. ;É um conteúdo extenso, então é importante focar as vertentes. A primeira é a histórico-conceitual, que envolve as estruturas, as instituições, os sistemas que existem dentro da política internacional. A outra vertente é a agenda de política internacional contemporânea, os grandes acontecimentos, por exemplo, o Brexit (referendo que resultou na saída do Reino Unido da União Europeia);, explica. Victor Hugo deixa um conselho de como resolver questões no exame. ;Na hora de responder os itens, sinta-se um diplomata. Responda como se estivesse representando o governo brasileiro, julgando a proposição como um profissional;, orienta. A dica para revisar é passar o edital ponto a ponto. ;Os candidatos têm uma tendência a se dedicar mais a temas de maior afeição, ou seja, matérias em que têm facilidade e gostam de estudar. Isso não é suficiente. Então, pergunte-se qual o domínio de história de política externa brasileira, de desarmamento e não proliferação nuclear que você tem. Percorrer todo o conteúdo programático do concurso é essencial;, alerta.

O que diz o edital

Concurso do Instituto Rio Branco (IRBr) do Ministério das Relações Exteriores (MRE)
Inscrições: até amanhã (16) no site bit.ly/diplomatas
Vagas: 26, sendo 19 de ampla concorrência, cinco de cotas para negros e duas para pessoas com deficiência
Taxa: R$ 230
Salário: R$ 18.059,83
Provas: 26 de agosto (primeira fase); 22 de setembro (segunda fase); e 28, 29 e 30 de setembro (terceira fase), sempre nos períodos matutino e vespertino
Locais: todas as capitais do país

>> Passe bem / Política internacional

Considerando o cenário das relações internacionais nos países do Oriente Médio contemporâneo, julgue (C ou E) os próximos itens.

1) Segundo o teórico realista das relações internacionais Kenneth Waltz, a posse de uma bomba nuclear pelo Irã geraria estabilidade no oriente Médio.

2) A questão palestina e a relação de forças entre os atores em conflito nessa região não foram significativamente afetadas pelas transformações decorrentes da Primavera Árabe.

3) O bloqueio imposto ao Catar por um conjunto de países árabes em junho de 2017 deveu-se à convicção de que o governo catarense não vinha empreendendo esforços suficientes para combater o terrorismo, além de manter relações de cooperação com o Irã.

4) Os conflitos no Barein, na Síria e no Iêmen estão estreitamente relacionados à luta pela hegemonia regional travada entre o Irã e a Arábia Saudita.

Comentário:

1) Este item é muito interessante porque faz uma aproximação muito bem-vinda entre a teoria das relações internacionais e a agenda contemporânea. Ou seja, pega uma proposição realista de relações internacionais e vincula a uma citação concreta. Um item indicado como correto pela banca, porque realmente está certo, ainda que o senso comum diria que a proposição está errada. ;O Irã ter uma bomba nuclear seria péssimo, complicado.; Mas, conforme o pressuposto teórico, isso geraria estabilidade. Aqui se faz necessária a capacidade de leitura técnica por parte do candidato.

2) Aqui os avaliadores querem saber o quanto o candidato está conectado com a agenda contemporânea de política internacional. Não é algo que você deverá ler no livro, aqui eles estão avaliando se você está acompanhando o desenvolvimento de um tema tão relevante. É claro que a questão da Palestina, toda a relação disso foi totalmente afetada pela primavera árabe.

3) Mais um tema muito atual. Um item que cobra algo que aconteceu em junho de 2017, inclusive acredito que foi algo ousado de ter sido cobrado por ser muito próximo cronologicamente da prova. Ou seja, o certame tem um viés de atualidade, da realidade contemporânea da agenda de política internacional muito grande. Está correto e, aqui, o candidato devia acompanhar os desdobramentos da diplomacia para poder responder ao item.

4) Quem conhece bem o Oriente Médio sabe que um dos grandes conflitos, uma das grandes oposições que existem na região é, sim, entre o Irã xiita e a Arábia Saudita. Correto e muito atual. Selecionei essa questão porque mostra o quanto que o candidato deve estar antenado com o que está acontecendo na política internacionalhoje, atualidade total. Não é o que aconteceu há três meses.

Questão retirada da prova objetiva do concurso para admissão à carreira de diplomata de 2017, comentada pelo professor Victor Hugo Toniolo Silva

Gabarito: C, E, C, C

*Estagiária sob a supervisão da subeditora Ana Paula Lisboa

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