Trabalho e Formacao

Saiba como escapar do golpe do emprego falso na internet e no WhatsApp

Num país com 13 milhões de desempregados, há cada vez mais desespero por conseguir trabalho. Pessoas má intencionadas se aproveitam disso para dar golpes, exigindo pagamentos para que candidatos se inscrevam em processos seletivos ou participem de cursos. Depois de receber a quantia, os falsos recrutadores desaparecem. Confira dicas para não ser enganado!

Thays Martins
postado em 29/07/2018 14:13

Fuja do golpe do emprego falso

Num país com 13 milhões de desempregados, há cada vez mais desespero para conseguir trabalho. Pessoas mal-intencionadas se aproveitam disso para dar golpes, exigindo pagamentos para que candidatos se inscrevam em processos seletivos ou participem de cursos. Depois de receber a quantia, os falsos recrutadores desaparecem. Confira dicas para não ser enganado!
Paulo Binicheski, promotor de Justiça do MPDFT
É fato que a internet trouxe muitas facilidades para o dia a dia da população. Pagar contas sem sair de casa, ter acesso a informações de forma fácil e rápida, conversar com pessoas a quilômetros de distância são apenas algumas das possibilidades criadas pelas plataformas digitais. No entanto, o mundo conectado também apresenta riscos. A grande questão agora é, em meio a tantos dados, discernir o que é ou não verdade. E isso tanto para notícias ; já que as famosas fake news estão disseminadas por toda a parte ; quanto para qualquer outro tipo de mensagem, incluindo anúncios de emprego. Criminosos se aproveitam do desespero de um contingente de mais de 13 milhões de desempregados existentes no país para divulgar ofertas falsas.
Patrícia Souza depositou R$ 300 achando que conseguiria uma vaga
Ainda mais num momento de crise, volta e meia alguém acaba caindo nesse tipo de golpe. Foi o que aconteceu com Patrícia Souza, 40 anos. Ela viu uma oportunidade de trabalho no Facebook, em que era necessário depositar R$ 300 para se inscrever. Mas era tudo mentira. ;Eu percebi quando não surgiu a vaga. Ficaram de mandar um link com o endereço e sumiram, não tive mais contato;, conta. Ela não denunciou, nem se lembra mais o nome da empresa, mas aprendeu uma lição. ;A gente sempre tem de desconfiar, não pode confiar em tudo que está na internet. Não existe esse negócio de comprar vaga. Eu errei;, assume. Hoje ela tem uma empresa de organização de festas e eventos.
Eliz pagou R$ 150 por um curso, depois disso, nunca mais achou os golpistas
Eliz Francis, 42, também foi vítima desse tipo de golpe. ;Pelo WhatsApp, uma moça me disse que eu tinha sido selecionada para fazer parte do quadro de funcionários da empresa como recepcionista. Ela pediu que eu depositasse R$ 150 para ter acesso a um curso on-line e que, logo em seguida, eu seria contratada. Eu paguei, mandei o comprovante, e fui bloqueada logo em seguida;, recorda. ;Nunca mais consegui falar com ninguém da organização. Pesquisei e vi que várias pessoas tinham caído no mesmo golpe;, lembra. Desempregada desde 2015, ela tentava uma vaga para recepcionista. ;No desespero por um emprego, caí nesse golpe;, lamenta. Hoje, sem conseguir uma vaga no mercado formal, ela faz artesanato para se manter.
Camillo Di Jorge, porta-voz da Eset no Brasil

Farsa antiga

De acordo com o promotor de Justiça do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) Paulo Binicheski, esse crime não é de hoje. ;É um golpe antigo, não tem novidade. Só vão mudando as características, agora usam a internet, mas há casos em anúncios impressos também;, explica. A armadilha é feita usando nome de empresas famosas e desconhecidas. Os bandidos se fazem passar por representantes da instituição (às vezes, até alugam uma sala comercial para tornar a artimanha mais crível). Muitas vezes, o falso recrutador pede dinheiro para que a inscrição seja feita e/ou há roubo de dados pessoais. Depois de conseguir uma quantia em dinheiro, os farsantes desaparecem.

Quando os enganados tentam contatá-los, descobrem que os números de telefone mudaram e que não há mais ninguém no endereço usado para o encontro presencial. O crime é classificado como estelionato, previsto no Artigo 171 do Código Penal. A pena prevista varia de um a cinco anos de reclusão e multa. Os dados são alarmantes: só nos cinco primeiros meses deste ano, a PSafe,
startup brasileira que desenvolve aplicativos para telefones celulares, registrou 4,9 milhões de anúncios falsos no Brasil. De acordo com Emilio Simoni, diretor do laboratório de segurança da PSafe, a maior parte das detecções é com ofertas usando o nome de grandes redes de varejo. ;Eles usam o nome como isca, mas as empresas são tão vítimas quanto o usuário;, destaca.

Isca vistosa

Em geral, a tática é oferecer bons salários e benefícios para fisgar interessados. De acordo com Camillo Di Jorge, representante no Brasil da Eset, empresa de segurança na internet, e especialista em segurança da informação, muitas vezes a intenção por trás do falso anúncio é o roubo de dados da vítima. ;Ao clicar nos links, o computador é infectado, as máquinas são sequestradas e ficam bloqueadas, sendo controladas por terceiros;, explica. Mas não é só isso. ;A intenção é lesionar as pessoas, pegar o dinheiro. Geralmente pedem para fazer um depósito para um curso ou cadastro;, completa Paulo Binicheski, graduado em ciências jurídicas e sociais, mestre em ciências jurídicas e titular da 1; Prodecon (Promotoria de Defesa do Consumidor).

Para não ser enganado

Thayane Fernandes,analista de mídias digitais na Vagas.com

O crime, então, se apresenta com várias roupagens. Diante disso, como fazer para não ser mais uma vítima? Thayane Fernandes, analista em mídias digitais do site de anúncios de emprego Vagas.com, explica que para isso, o jeito é ficar atento. ;A gente pede que, se a pessoa tem dúvida em relação à oportunidade oferecida, entre em contato com a empresa para confirmar a informação. Além disso, sempre procure canais oficiais quando for procurar emprego. Se você não confia em nenhum site, vá direto ao da empresa, geralmente sempre tem um Trabalhe Conosco;, orienta. O promotor Paulo Binicheski destaca que, se o recrutador pedir para você depositar qualquer quantia, a dica é desconfiar e não abrir o bolso. ;Se pedem dinheiro, é golpe. Se você está desempregado, não faz sentido pagar por um curso;, ensina.
Camillo Di Jorge, administrador com MBA, observa que existem várias formas de identificar que um anúncio de emprego é, na verdade, um golpe. ;Pode ser um e-mail não direcionado a você, erros de grafia e um endereço inválido, por exemplo. Se ficar na dúvida, ligue para a empresa e veja se é uma oferta real.; De acordo com Emilio Simoni, cientista de dados, engenheiro de automação e pesquisador de segurança com 17 anos de experiência, também existem outros aspectos que podem indicar que o anúncio é falso. ;Muitas vezes, visualmente fica difícil de identificar, mas, se vier de aplicativos, tem que desconfiar. Se o anúncio te obrigar a compartilhar a oferta, é certeza que é golpe. E é sempre bom ter um aplicativo de segurança instalado no celular e no computador.;

Thayane Fernandes, administradora, pós-graduada em comunicação e mídias digitais, também orienta a prestar mais atenção a anúncios que não dizem de que empresa se trata. ;As vagas confidenciais existem, é uma prática comum, mas desconfie;, alerta. ;A empresa pode fazer isso para procurar um novo funcionário enquanto alguém que ela deseja mandar embora ainda está lá. Outro motivo pelo qual uma firma pode optar por esse formato é para que os candidatos não fiquem indo atrás do recrutador;, diz. Thayane acredita que esse tipo de prática de RH deveria ser extinta, já que, se as corporações forem mais claras e transparentes, fica mais fácil combater o golpe do emprego falso.
Outro indício, avisa Thayane, de que uma oferta é falsa é a falta de retorno. ;O feedback é muito importante, inclusive para aqueles que não avançam no processo seletivo, porque, sem resposta, as pessoas acabam suspeitando. Quando há o contato ativo, mostra-se que o canal é real;, diz. O problema é que muitas empresas ainda não adotam o costume de avisar os candidatos não aprovados, limitando-se a dar a notícia da contratação para quem passou.

De olho!

Andréia desconfiou de uma vaga e se livrou de cair em um golpe

Em busca de emprego desde novembro, Andréia Conforti, 35, participa de grupos no WhatsApp de oferta de vagas, mas foi surpreendida recentemente quando se deparou com uma oportunidade de recepcionista que exigia que ela pagasse por dois cursos. Esperta, não fez depósito e desconfiou. ;Eu enviei o currículo, e eles me deram retorno, mas eu tinha de fazer as capacitações para concorrer;, diz. Uma das formações custava R$ 30, e a outra, R$ 150. ;Logo desconfiei, porque onde já se viu pagar para conseguir emprego? E, uma vez, vi na TV que eles fecharam uma agência por causa disso;, explica. Andréia diz que só não denunciou por não saber como fazer isso.
Raquel Dias procura uma vaga de emprego há três meses
Desempregada há três meses, Raquel Dias, 37, procura uma oportunidade de caixa de comércio em grupos de Facebook, mas sempre de modo atento, pois sabe que existe gente mal-intencionada. ;Quando eu vejo que as pessoas estão comentando que a vaga é falsa, nem me candidato. Uma vez eu vi uma dessas vagas, liguei na empresa e me disseram que ela não existia;, lembra. A pedagoga, que abdicou da carreira há quase dois anos, diz que está muito difícil achar emprego. ;Eu enjoei da minha área, e a parte de caixa me fascina, porque eu gosto de lidar com o público e faço isso muito bem e com educação;, garante. Para não cair no golpe das vagas falsas, a resposta está na ponta da língua. ;Tem que ter muita atenção, pesquisar direitinho, ligar na empresa e ver se o e-mail da empresa realmente existe.;

Percebeu que é um golpe?

Saiba como denunciar

De acordo com o promotor do MPDFT Paulo Binicheski, a denúncia deve ser feita na Coordenação de Repressão aos Crimes Contra o Consumidor, a Propriedade Imaterial e Fraudes da Polícia Civil, no Complexo da Polícia Civil (Setor de Áreas Isoladas). É possível registrar boletim de ocorrência no site delegaciaeletronica.pcdf.df.gov.br ou ligar no telefone 197. ;Se for algo que tem muitos casos, é feita uma força-tarefa;, destaca. Esse foi o caso da Operação Fake Job (saiba mais em Memória). Segundo o promotor, os criminosos sempre deixam rastros, e-mail, site e endereço. ;É rastreável. Não existe crime perfeito, existe crime mal-investigado;, destaca. O advogado Matheus Melo Moreira, do escritório Melo Moreira Advogados, reforça a importância de denunciar. ;A recomendação é registrar um Boletim de Ocorrência, por mais que se ache que será ineficaz. Mas, pelo menos, é uma segurança para a pessoa;, aponta. ;Se a vítima entrar na Justiça, a gente consegue, por meio do Marco Civil da Internet, o número de IP do computador e os dados cadastrais da pessoa que usava a máquina na hora. Não necessariamente chegamos ao culpado, porque, se pensarmos em quadrilhas especializadas,elas usam programas que mascaram o número de IP;, explica o pós-graduando em direito digital e compliance. Então, para ele, o mais importante é se precaver. ;Temos de ter cuidado com nossos dados na internet como temos fora dela;, orienta.
Memória

Relembre alguns dos últimos casos registrados no DF

Anuncio de jornal oferecendo vagas

Junho de 2018
Sete pessoas foram condenadas pelo golpe do falso emprego como resultado da Operação Fake Job. Os acusados anunciavam vagas de empregos que nunca existiram, em sites, redes sociais e jornais, com a finalidade de atrair as vítimas, que chegavam a pagar até R$ 180 por cursos ou emissão de certidões que os acusados alegavam ser necessários para ingresso no emprego.
Veículos da empresa Confederal
Outubro de 2017
Luciana Nunes de Lima foi presa, acusada de enganar cerca de 170 pessoas por meio de um grupo de WhatsApp. Ela oferecia vagas na empresa Confederal, para isso solicitava a quantia de R$ 2 mil para garantir a contratação. Tudo mentira. O processo tramita em 1; instância. Na mesma época, também foi presa Isabel Cristina Barboza Feitoza, acusada de vender supostas vagas de serviços gerais, vigilantes e telefonistas. A mulher cobrava de R$ 250 a R$ 1 mil por vaga. Ao todo, são cerca de 100 vítimas. O processo também tramita em 1; instância.
Imagem de tela de celular onde aparece ícone do aplicativo WhatsApp
Julho de 2017
Ao menos 50 pessoas caíram em golpe aplicado por WhatsApp e redes sociais por Suzy Ferreira de Aguiar. A acusada oferecia vagas em uma empresa fictícia de nome VIP Segurança. Para garantir a contratação, os interessados teriam de pagar quantias entre R$ 1,5 mil e R$ 2 mil. O processo tramita
em 2; instância.
Atenção, vírus!
A Psafe recebeu alerta de 4.927.471 links maliciosos que ofereciam vagas de emprego falsas. Confira as sete empresas que mais tiveram links acessados com seus nomes sendo usados para aplicação do golpe:
Cacau Show - 2.551.419
Atacadão - 110.268
Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos - 118.494
Lojas Americanas - 106.456
Embraer - 10.932
Companhia de Bebidas das Américas (Ambev) - 8.578
Assaí Atacadista - 699
*Estagiária sob a supervisão da subeditora Ana Paula Lisboa

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