Ana Paula Lisboa
postado em 29/07/2018 15:13
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Graduada em educação artística, desenho e artes plásticas, a goiana Maria Angélica de Castro, 57 anos, começou a fazer salgados em 2003. ;Para família e amigos, eu fazia há muito tempo antes, todo mundo que comia gostava e perguntava: por que você não vende? Então, resolvi fazer isso;, lembra. ;No início, era em casa mesmo. Os primeiros clientes eram vizinhos do condomínio.; Para batizar o negócio, Angélica tirou inspiração da área artística. Surgia, assim, a Salgadart. Cerca de 10 anos depois, em 2014, a empresa mudou de nome e de foco, passando a se chamar Be Nutri. A mudança foi motivada pela filha de Angélica, Jordana Saldanha, 38. O envolvimento dela com a marca, porém, começou antes, em 2010.
;Fui atleta da Seleção Brasileira de Kung Fu durante muito tempo. Eu sempre via minha mãe produzindo salgados, mas sentia falta de uma alimentação mais saudável;, conta. Jordana, que também é graduada em jornalismo, resolveu propor sociedade à mãe com o objetivo de trazer uma pegada mais light aos alimentos. ;Eu via que o mundo estava caminhando para esse lado, mas minha mãe ainda era bem conservadora nesse sentido. Então, fiz um desafio: pedi para ela substituir a farinha branca pela integral e, se desse certo, trabalharíamos juntas;, recorda. ;O teste deu certo, ficou muito gostoso, aí tive de honrar minha promessa.; Como a empresa tinha uma clientela consolidada, acostumada a comprar produtos tradicionais, no início, o pessoal ;fazia cara feia; quando ouvia falar de salgados integrais.
Aos poucos, porém, mãe e filha conseguiram introduzir a novidade no cardápio. ;Foi uma quebra de paradigma. Ninguém estava habituado a esse tipo de alimentação. A gente apostou muito na divulgação por meio de degustação, porque, quando você prova, não tem jeito, qualquer preconceito cai por terra;, explica Jordana. As sócias serviam os produtos em eventos como BSB Mix e Feira da Lua. A estratégia era ganhar o público para, assim, alcançar donos de mercados e lanchonetes. E a tática deu certo. ;O pessoal chegava e pedia nossos produtos, então, os empreendedores começaram a correr atrás de nós.; Durante dois anos, a produção foi dividida, mantendo tanto produtos tradicionais quanto outros mais saudáveis. Até chegar a um ponto em que se tornou insustentável operar com as duas linhas.
;Não tem como fazer a comunicação de uma cozinha assada e de uma frita ao mesmo tempo. Então, resolvemos nos especializar para ser saudável de verdade;, completa. Houve resistência, e as duas acabaram perdendo parte dos clientes. Mas ganharam outros. Com o tempo, a linha de produtos parou de se restringir a lanches e passou a ser de alimentação saudável como um todo, incluindo refeições congeladas, chips, kits para festas, bebidas. Com a transformação, Jordana e Angélica sentiram necessidade de mudar a marca do empreendimento. ;O primeiro nome remetia só aos salgados. E quando você fala a palavra ;salgado;, isso remete a sal, que é a primeira coisa que a gente corta na proposta de alimentação saudável;, observa Angélica. Sob o título Be Nutri, a linha de produtos atende também veganos, vegetarianos, pessoas com restrições alimentares e que fazem dieta, entre outros interessados.
Atualmente, a fábrica, no Paranoá, produz 3 mil unidades de salgado por dia e atende mais de 300 pontos de venda, inclusive uma franquia na 115 Norte. E não só para Brasília! A rede entrega em Goiânia, Anápolis, Fortaleza, São Paulo, Curitiba e cidades da Bahia. ;Para Curitiba, chegamos a mandar 4 mil toneladas de mercadorias;, comemora Jordana. Por mês, o volume de vendas bruto chega a R$ 70 mil. ;Nosso maior faturamento é no atacado. As pessoas compram para compor a dieta de uma semana inteira, por exemplo. Porque, se deixarem para comer na rua, ou não comem ou comem besteira;, observa. Mãe e filha contam com a ajuda de 20 funcionários e de outros membros da família no trabalho: o marido de Jordana, Eduardo Repezza, 39, e o irmão dela, Szafir Rodrigues, 20. A sogra dela, Maria Helena Repezza, também cuidou do RH da firma por um tempo.
Receita do sucesso
Para Jordana, trabalhar em família é uma dádiva, desde que se aprenda a separar. ;A gente tem de deixar a parte pessoal muito de lado. No início, eu misturava um pouco os assuntos. Em casa, você tem de falar do que é de casa. Na empresa, falar do que é da empresa;, diz. ;O lado bom é que a gente nunca perde a ternura. Há mais união pelo fato de sermos um negócio familiar, a gente olha tudo com muito carinho. E os funcionários fazem o mesmo.; Angélica explica que as decisões são sempre tomadas em conjunto com a filha. A persistência, um plano de negócios bem traçado, com metas bem definidas e visão de mercado, são outros elementos que fazem a parceria dar certo.
;Por fim, é de grande valor a atualização. Estamos sempre renovando;, diz Angélica. ;Inovação e renovação são os dois pontos que nos fazem continuar. Estamos focadas em sempre ter produtos diferentes, inovar nos processos;;, completa Jordana. Não à toa a empresa foi reconhecida em duas premiações: o prêmio Sebrae Mulher de Negócios e o MPE Brasil, em gestão industrial. ;Nunca imaginei que fôssemos ganhar porque tem tanta história linda, tanta gente gerindo bem. O troféu foi só a cereja do bolo, tem todo um processo de participar: descobrimos os pontos fortes e fracos para melhorar;, relata Jordana.