Trabalho e Formacao

Saiba quais são as carreiras imunes à crise

Profissionais de três áreas têm mais facilidade para se inserir no mercado de trabalho. De acordo com pesquisa, esses setores foram os que mais abriram vagas de emprego no Distrito Federal nos últimos tempos

Thays Martins
postado em 05/08/2018 13:44
Profissionais de enfermagem, administração e recursos humanos têm mais facilidade para se inserir no mercado de trabalho. De acordo com pesquisa, essas três áreas foram as que mais abriram vagas de emprego no Distrito Federal nos últimos tempos

O percentual de brasileiros desempregados caiu de 13,1% para 12,4%. A informalidade, no entanto, tem crescido, e o número de pessoas com carteira assinada é o menor dos últimos seis anos. O número de desocupados ainda é grande: são 13 milhões. Os dados foram divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) na última terça-feira (31) e são prova de que, apesar de haver certa recuperação, o cenário empregatício do país continua muito complicado. Profissionais de algumas áreas, porém, enfrentam menos dificuldades e demoram menos para se recolocar: é o caso de enfermagem, administração e recursos humanos, em Brasília. É o que mostrou uma pesquisa do site de empregos Indeed. Segundo o levantamento, essas três carreiras são as que têm maior oferta de oportunidades no Distrito Federal.
A enfermeira Katiane foi efetivada na empresa onde era estagiária
De acordo com Felipe Calbucci, gerente nacional do Indeed no Brasil, o resultado é compreensível. ;A enfermagem está em alta devido à busca por mais qualidade de vida. A população envelhece e requer mais serviços de enfermeiros;, explica. A enfermeira Talita Nascimento Ferreira Lobato, 24 anos, não pode reclamar de desemprego. Antes mesmo de colar grau, conseguiu vaga no Hospital Brasília para trabalhar na área dos sonhos: oncologia. ;Entrei na faculdade sabendo que era isso que eu queria. Tive uma experiência familiar com minha avó e isso me motivou;, lembra. Para Talita, saber o que queria foi um diferencial, além de ter iniciado uma pós na área no Instituto Brasileiro de Extensão Educacional (Ibeed). ;Muitas vezes, as pessoas se formam e não sabem com o que querem trabalhar, falam que qualquer área serve. Mas é preciso ter foco;, garante.

Katiane Godois, 30, enfermeira pela Universidade Católica de Brasília (UCB), conseguiu emprego logo após se formar, na mesma empresa onde era estagiária, o Laboratório Sabin. ;Permaneci no estágio durante um ano e meio até terminar a faculdade e fui convidada para continuar;, lembra. ;A enfermagem tem um campo muito aberto, e Brasília tem muitos hospitais e instituições de saúde. É muito difícil uma pessoa dessa área ficar desempregada. Isso também vale para os técnicos de enfermagem. É um campo que está crescendo, a demanda está cada vez maior, e cada vez há mais faculdades;, comenta. O que a fez se interessar pelo setor, porém, não foi a empregabilidade. Katiane escolheu trabalhar nessa área após ter contato com enfermeiros durante a hospitalização da avó. ;Ela teve derrame quando eu estava no ensino médio, então ficava cuidando dela e acabei me apaixonando pela enfermagem e pelo cuidado.; Segundo ela, o principal para quem quer crescer na carreira é trabalhar com carinho e amor. ;Só assim a assistência será boa e humanizada. Tem que gostar de cuidar do próximo;, diz ela, que é pós-graduada em enfermagem do trabalho e em enfermagem em UTI (Unidade de Terapia Intensiva).

Felipe Calbucci considera natural o crescimento do mercado para administração. ;Há mais vagas administrativas, porque o mercado está crescendo, o que é um ótimo indicador. Além do que, profissionais desse ramo são necessários em todos os tipos de organização;, observa. ;E o mais interessante é a parte de recursos humanos. A disputa por talentos está cada vez mais acirrada, e há cada vez mais candidatos por seleção (o que se justifica pelas elevadas taxas de desemprego); então, essa área está se tornando estratégica;, completa. De acordo com o porta-voz do Indeed, o fato de haver alguns ramos com maior quantidade de vagas não é motivo para que as pessoas decidam trabalhar neles apenas por causa disso. ;Procure oportunidades pelas suas habilidades.;

Capacidade de gestão

A administração é um setor que, tradicionalmente, abre muitas vagas. E a procura por profissionais da área não diminuiu durante a crise. É o que explica a professora de administração do Centro Universitário de Brasília (UniCeub) Tatiane Araújo. ;O ramo de atuação é muito amplo. Toda empresa tem uma parte administrativa;, justifica. Mestre e doutora em psicologia e especialista em gestão de pessoas, ela acredita que, para ter sucesso na carreira, é preciso ter foco. ;É importante ir para uma área da administração de que você goste mais e se especializar. Costumo dizer para os alunos que existem dois caminhos, ser administrador ou administrativo. Para ser o primeiro, tem de ter capacidade de gestão;, explica.

Chuva de ofertas

De acordo com levantamento feito pela plataforma Indeed até março desde ano, as áreas de enfermagem, administração e recursos humanos foram as que mais tiveram aumento
na oferta de vagas:

; Em 2016, administração era responsável por 13,36% dos empregos oferecidos em Brasília. Em 2017, o percentual passou para 14,90%.
; As oportunidades oferecidas na área de enfermagem aumentaram de 1,45% para 2,25% das vagas totais do DF
; Em 2016, os postos abertos para RH eram 1,76% do total. Em 2017, o setor passou a ser responsável por 2,46% das ofertas.

Recuperação econômica

Felipe Calbucci, gerente nacional de um site de busca de empregos

Segundo Felipe Calbucci, do Indeed, é interessante notar que há aumento na oferta de vagas de forma geral, não só nos setores de enfermagem, administração e recursos humanos. ;É uma retomada lenta, mas está acontecendo. 2017 foi melhor que 2016, e este ano está melhor que o passado;, afirma. Apesar de haver mais candidatos disponíveis, ele acredita que as empresas que conseguem reter os melhores talentos são aquelas que oferecem benefícios condizentes com as aspirações atuais. ;Essa nova geração valoriza a diversidade, a inclusão e a flexibilidade, como poder trabalhar de casa em alguns dias, por exemplo;, afirma. Para que o ingresso em uma firma não seja frustrado, também é importante que o próprio profissional verifique se o perfil dele se encaixa na organização que oferece emprego. ;Tente entender se seu jeito tem a ver com a cultura da empresa e, para isso, converse com funcionários e ex-funcionários do local;, diz. Também é recomendável prestar atenção aos benefícios que a instituição oferece.

Remando em mares calmos

A maior oferta de vagas em Brasília se concentra em três áreas consideradas promissoras: enfermagem, administração e RH. O setor de tecnologia também está em alta
Tatiane:  Mulher negra de cabelos cacheados, usando um jaleco de enfermagem, com expressões faciais confiantes. Atrás dela tem vários bonecos de anatomia

Para cuidar de pessoas
A enfermeira Tatiane da Silva Couto Rodrigues, 30, se formou há seis meses. Ela estudou no Centro Universitário Iesb e, antes disso, atuava como técnica de enfermagem no Hospital Santa Luzia. ;Dois meses depois da formatura, fui indicada a uma promoção para atuar como enfermeira;, comemora. Ela garante que essa é uma boa área para se trabalhar. ;Tem bastante oportunidade. É um ramo bem amplo, tem clínicas, hospitais, home care;, exemplifica. ;Eu acredito que fui promovida pela dedicação no trabalho que fazia como técnica. Têm outras pessoas que terminaram o curso e nunca conseguiram isso;, diz.
Alexandre:  Homem branco de barba, usando uma camisa social de botões pretas  e um relógio no pulso. Ele está com uma das mãos em cima do mause do computador e outra em cima da mesa. O computador está ligado, têm objetos  organizado na mesa, como calendário, celular e um porta treco.

Solucionador de problemas
Cursando gestão pública no Instituto Federal de Brasília (IFB), Alexandre Fernandes, 22, faz estágio na área de recursos humanos do Ministério do Desenvolvimento Social e vê o ramo com bons olhos. ;É um setor que vem crescendo muito e conta com profissionais muito bons;, destaca. O jovem acredita que, para se dar bem nesse tipo de departamento, é importante desenvolver algumas características. ;É necessário ter uma boa comunicação e posicionamento firme, porque é preciso lidar com problemas o tempo todo. Além disso, deve-se ser proativo, competente e não querer ser apenas mais um;, afirma.
Gabriela: Mulher de cabelos lisos e mediano, os braços estão cruzados e as expressões sérias. Ela está vestindo um blazer preto e usando um colar.

Atualização constante
A administradora Gabriela Barros, 36, coordenadora de Canais de Vendas da Bancorbrás, foi efetivada após estágio de quatro meses no local. Gabriela cursou administração no Centro Universitário Iesb e, quando escolheu o curso, se preocupou com a empregabilidade. ;É uma carreira em que você tem contato com muitos setores. A área administrativa dá uma visão ampla: você entende um pouco de contabilidade, um pouco de marketing... Então, há possibilidades de emprego em muitos lugares;, percebe. Ela, que fez pós em marketing, acredita que buscar especialização é essencial para crescer no ramo.

Quer estudar? Confira instituições que oferecem cursos nas áreas consideradas mais promissoras em termos de emprego pela plataforma Indeed

Recursos humanos
Instituto Federal de Brasília (IFB)
Curso: gestão pública no câmpus Brasília
Duração: dois anos e meio
Formação gratuita
Informações: www.ifb.edu.br

Centro Universitário Iesb
Curso: gestão de recursos humanos
Duração: dois anos
Mensalidade: R$ 587,15
Informações: bit.ly/IesbcursoRH

Faculdade Ideal de Brasília
Curso: gestão de recursos humanos
Duração: dois anos
Mensalidade: R$ 476,10
Informações: bit.ly/IdealRH

Serviço Nacional de aprendizagem Comercial (Senac)
Curso: assistente de recursos humanos
Duração: 160 horas
Mensalidade: seis vezes de R$ 88,34
Informações:bit.ly/SenacRH

Centro Universitário do Distrito Federal (UDF)
Curso: gestão de recursos humanos
Duração: dois anos
Mensalidade: não informada
Informações: bit.ly/UDFRH

Centro Universitário de Maringá (UniCesumar)
Curso: gestão de recursos humanos
Duração: dois anos
Mensalidade: R$ 740
Informações: bit.ly/CesumarRH

Administração
Universidade de Brasília
Duração: quatro anos
Curso gratuito
Informações: www.unb.br

Instituto Federal de Brasília (IFB)
Duração: quatro anos no câmpus Gama
Formação gratuita
Informações: www.ifb.edu.br

Centro Universitário do Distrito Federal (UDF)
Duração: quatro anos
Mensalidade: não informada
Informações: bit.ly/UDFcursoAdm

Universidade Católica de Brasília (UCB)
Duração: quatro anos
Mensalidade: R$ 1.012,11
Informações: bit.ly/UCBcursoAdm

Centro Universitário Iesb
Duração: quatro anos
Mensalidade: R$ 771,97
Informações: bit.ly/IesbAdm

Centro Universitário de Brasília (UniCeub)
Duração: quatro anos
Mensalidade: R$ 1.583,36
Informações: bit.ly/CeubAdm

Enfermagem Universidade de Brasília
Duração: cinco anos
Curso gratuito
Informações: www.unb.br

Centro Universitário Iesb
Duração: cinco anos
Mensalidade: R$ 926,11
Informações: bit.ly/Iesbenfermagem

Universidade Católica de Brasília (UCB)
Duração: quatro anos
Mensalidade: R$ 1.296,79
Informações: bit.ly/UCBenfermagem
Centro Universitário do Distrito
Federal (UDF)
Duração: quatro anos
Mensalidade: não informada
Informações:
Gráfico que mostra as áreas dos profissionais(enfermagem, analista de desenvolvimento de sistemas, farmacêutico,  auxiliar de contabilidade/ contador, administrador, analista de recursos humanos, médico clínico, programador de sistema da informação, nutricionista, preparador físico, fisioterapia, advogado, designer gráfico, tecnólogo em logística de transporte e engenheiro civil)  mais efetivos de 2018.

A evolução do RH

Renato Mendes, sócio da aceleradora de negócios Organica

Renato Mendes, sócio da aceleradora de negócios Organica, observa que muitas corporações têm tido dificuldade de reter talentos, mesmo durante a crise. ;A nova geração tem uma característica diferente. Eles não procuram um emprego, mas, sim, um trabalho, isso porque estão em busca de um propósito, estão atrás de felicidade. E isso é um baita desafio para as empresas;, destaca. É isso que, na visão dele, tem favorecido o setor de recursos humanos. Professora do curso técnico em recursos humanos do Senac EAD (Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial), Samantha Lima Vieira concorda que a área tem se tornado promissora. ;A área de atuação é muito grande, englobando desde partes administrativas até outras mais estratégicas;, explica.

Mariana Carolina Barbosa Rego, professora de gestão de pessoas e comportamento organizacional do Instituto Federal de Brasília (IFB), destaca que o crescimento do setor é motivado, principalmente, pelo desejo de as empresas (especialmente as maiores) de valorizar o potencial humano. ;Esse aumento é reflexo da percepção que as organizações começaram a ter da importância das pessoas. Parece um discurso antigo, mas as empresas demoraram a mudar de postura com relação a isso;, analisa. ;Os bons funcionários passaram a ser considerados uma vantagem competitiva, algo difícil de se imitar pela concorrência, porque cada trabalhador é único;, completa. Samantha ressalta que o profissional da área de RH precisa saber muito mais do que apenas lidar bem com pessoas.

;Ele vai trabalhar com clientes internos e externos; então, é necessário conseguir se comunicar bem, ter inteligência emocional e instinto de liderança, porque será um representante da empresa;, afirma. Para quem quer investir na profissão, a professora deixa a dica. ;A área muda bastante, então invista em capacitações para estar sempre atualizado;, diz. Mariana ainda ressalta que esse profissional é multitarefa. ;Ele precisa entender de todas as práticas de gestão de pessoas. E além do conhecimento, é preciso ser uma pessoa empática, ter um relacionamento interpessoal muito bom, ser organizado e, principalmente, gostar de trabalhar com pessoas;, destaca. O setor de recursos humanos abre oportunidades para uma grande variedade de pessoas, desde graduados em gestão de RH, até psicólogos, contadores, economistas, advogados, administradores, entre outros.
Profissionais de três áreas têm mais facilidade para se inserir no mercado de trabalho. De acordo com pesquisa, esses setores foram os que mais abriram vagas de emprego no Distrito Federal nos últimos tempos

Ascensão tecnológica

Lucas Mendes é cofundador de uma plataforma de recrutamento digital

Além de enfermagem, administração e recursos humanos, Renato Mendes observa que há outros campos promissores. Em geral, ligados à tecnologia. ;Estamos vivendo um momento de muitas mudanças. Então, vários profissões deixam de existir, mas outras estão aparecendo;, explica. Ele cita as áreas de marketing digital, gestão de mídias sociais, SEO (Search Engine Optimization; ou optimização para mecanismos de busca, na tradução em português) e aplicativos, como tendências. ;E não há mão de obra capacitada;, destaca. Por isso, quem investir em capacitações nesses assuntos agora terá vantagem para se inserir no mercado de trabalho. De acordo com Lucas Mendes, cofundador da plataforma de recrutamento digital Revelo, a demanda por profissionais de tecnologia nunca esteve tão alta.


;A tendência de crescimento da área é de longo prazo, independentemente de o país estar em crise. Isso porque todas as empresas estão se tornando digitais. Até agora, a busca por esses profissionais cresceu 47%;, destaca. De acordo com ele, que é formado em engenharia pela Universidade de São Paulo (USP) e fez MBA na Universidade Stanford, a boa notícia é que a pessoa não precisa passar anos em um curso superior para poder atuar nesses ramos. ;O que é necessário é ter uma formação mais técnica, mas não necessariamente o profissional tem de passar de quatro a cinco anos estudando computação. Têm muitas startups e outras instituições que oferecem cursos mais enxutos e práticos;, diz. Para conseguir uma boa colocação, a dica é ;colocar a mão na massa;.

Ou seja, mais importante do que dominar a teoria, é ter prática. ;Assistir a um vídeo no YouTube de programação é diferente de ir lá e fazer;, afirma. Renato Mendes, da Organica, também não vê tanta dificuldade para se preparar para atuar na área. ;O acesso ao conhecimento nunca foi tão democrático. A educação formal vem perdendo espaço para novos modelos. Têm muitos cursos on-line e gratuitos;, destaca. Independentemente da área em que se vá atuar, o perfil do funcionário requerido hoje é diferente. ;O que chamamos de soft skills, ou seja, habilidades socioemocionais e comportamentais, têm muita importância. Na velha economia, o conhecimento técnico era que mandava. Hoje, as empresas valorizam a inteligência emocional, a capacidade empreendedora, o inconformismo;, afirma. ;Cada vez mais, as entrevistas de emprego estão se baseando em qualificações e menos em conhecimentos técnicos;, completa.
Profissionais de três áreas têm mais facilidade para se inserir no mercado de trabalho. De acordo com pesquisa, esses setores foram os que mais abriram vagas de emprego no Distrito Federal nos últimos tempos
Colaborou Ana Paula Lisboa

*Estagiária sob supervisão da subeditora Ana Paula Lisboa

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