Trabalho e Formacao

Caminhão tecnológico volta à Universidade Católica de Brasília

O mercado de trabalho exige muita atualização, especialmente para profissionais da área de informática, afinal, as novas soluções digitais surgem o tempo todo. Projeto itinerante que roda o Brasil ajuda universitários a se renovarem, tendo contato com ferramentas modernas e desenvolvendo aplicativos, volta à UCB

Neyrilene Costa*
postado em 05/08/2018 15:25
O programa HackaTruck está pela segunda vez na capital. O projeto que circula o Brasil em um caminhão esteve por seis semanas na Universidade Católica de Brasília (UCB), que recebeu a iniciativa em 2015 e, mais uma vez, em 2018. Mais de 50 estudantes da instituição receberam capacitações sobre novas linguagens computacionais com o auxílio de ferramentas que são utilizadas no mercado de trabalho. As equipes participantes também desenvolveram protótipos de aplicativos e soluções inovadoras. De Brasília, o caminhão segue para a Faculdade de Tecnologia de São José dos Campos (Fatec SJC). O HackaTruck MakerSpace é um laboratório móvel que visa à capacitação profissional de estudantes de instituições de ensino superior do Brasil. Voltado para alunos que fazem graduação na área de tecnologia da informação, o projeto é executado dentro de um caminhão com 72m;, com capacidade para 28 pessoas sentadas.
Por fora, um caminhão. Por dentro, sala de aula tecnológica: projeto capacitou mais de 8.000 universitários em todas as regiões do país
O espaço conta com a mais completa tecnologia em aparelhos e ferramentas de ponta, que vão desde janelas/vidros modernos (que podem ser usados para projetar imagens) a impressoras 3D. O veículo também conta com cortadora a laser, notebooks, celulares, projetores, quadros interativos, além de mesa e cadeiras. A iniciativa é patrocinada pela empresa de informática IBM Brasil em colaboração com a Apple e a Flextronics (indústria de eletrônicos), com execução do Instituto de Pesquisas Eldorado. O projeto é estimulado pelas leis n; 8.248/1991, n; 10.176/2001, n; 11.077/2004 e n; 13.023/2014, que concede incentivos fiscais para empresas do setor de tecnologia que tenham por prática investir em pesquisa e desenvolvimento. Entre 2015 e 2017, o caminhão rodou mais de 48 mil quilômetros, atendendo todas as regiões do país, marcando presença em 29 instituições de ensino superior públicas e particulares.
Quatro homens estão sentados envolta de uma mesa com notebooks e olhando para direção de outro homem que está em pé. No local há uma Tv, tomadas, fios, celulares. É uma sala de aula tecnológica.
Ao longo desse tempo, os beneficiados desenvolveram 357 protótipos de aplicativos. A iniciativa oferece duas capacitações para os participantes: uma a distância e uma presencial. Os que mais se destacam na formação on-line são selecionados para o curso físico dentro do caminhão. No total, 1.358 alunos foram treinados no interior do veículo (abordando inovação e desenvolvimento de aplicativos) e 6.912 tiveram acesso às aulas na internet (sobre conceitos e fundamentos de lógica de programação). Em 2018, o HackaTruck tem funcionado a partir dos três passos do conceito maker: faça, aprenda, mude. Essa proposta visa oferecer um ambiente de aprendizado em que os estudantes possam trabalhar e criar algo.
Pessoas na sala tecnológica  sentadas mexendo nos computadores
Estudantes criam aplicativos em grupo

Entenda o projeto

Os 56 alunos da UCB que participaram de atividades no HackaTruck cursam graduações relacionadas à tecnologia, como ciência da computação e análise e desenvolvimento de sistemas. Eles foram divididos em duas turmas, uma tendo aulas das 8h às 12h e outra das 14h às 18h. Os estudantes contam com o auxílio de dois professores. Os educadores dão um norte de quais possíveis eixos os alunos podem trabalhar nos projeto. Ao todo, são oito: saúde, educação, internet das coisas (IoT), varejo, segurança, agronegócio, mobilidade urbana e sustentabilidade. Alguns dos protótipos foram voltados para o aprendizado infantil, como um jogo educativo que ensina formas e cores. Outro para solucionar demandas da construção civil, em que o dono da obra pode acompanhar a evolução de longe. Um dos aplicativos dá receitas a partir de ingredientes disponíveis na casa do usuário.
[VIDEO1]

Atualização para a academia

As instituições que recebem o HackaTruck são escolhidas por meio de parcerias. No DF, a Universidade Católica de Brasília foi contemplada pela segunda vez. O caminhão esteve na unidade entre 25 de junho e a última sexta-feira (3). Ao todo, 56 alunos da instituição fizeram parte da capacitação presencial. Os conteúdos abordados em aula foram: lógica de programação, orientação a objetos, linguagens de programação (como Swift, JavaScript, RESTful APIs) e desenvolvimento iOS com aplicação em internet das coisas (IoT). O programa tem duração de seis semanas e carga horária de 120 horas, em que os alunos podem aprimorar conhecimentos e também desenvolver um protótipo de aplicativo que ajude a comunidade.
Segundo o coordenador do curso de análise e desenvolvimento de sistemas da UCB, Vilson Carlos Hartmann, a capacitação só tem a agregar ao aprendizado dos alunos. ;No projeto, os estudantes têm de fazer algo pautado em tecnologia e novas ferramentas, o que torna a qualificação mais atrativa para eles.; O coordenador percebe que o treinamento contribui com a formação acadêmica. ;A experiência que eles têm é fundamental, porque aprendem algo que muitas vezes não terão na universidade, justamente porque as inovações tecnológicas se desenvolvem muito rápido, e o currículo acadêmico não tem como acompanhar. Os estudantes também saem mais preparados para o mercado;, afirma o mestre em gestão do conhecimento e em tecnologia da informação.
Analista de desenvolvimento de software e colaborador do Instituto Eldorado, Fabrício Sousa é um dos professores que dão aulas dentro do caminhão. ;Aqui, os alunos são instruídos a aprender enquanto criam algo. E nós não somos só professores, mas, sim, apoiadores que os ajudamos e os incentivamos a se desenvolverem;, comenta. Para a gerente de projetos da IBM Ludmila Salinema, o que os estudantes desenvolvem no HackaTruck gera um impacto social muito grande. ;Aqui eles têm acesso a ferramentas de fabricação moderna que são utilizadas nas indústrias. Outro benefício é que os jovens desenvolvem um projeto todo do zero para ajudar a comunidade;, complementa.

Experiências diversificadas

Confira como foi a participação de três estudantes de Brasília na iniciativa
Rodrigo:  Homem de olhos puxados e com expressões faciais sorridentes, vestindo uma jaqueta cinza e blusa listrada de azul e branco.

Veterano no HackaTruck
Esta é a segunda vez que Rodrigo Shindi, 20 anos, participa do programa. O estudante do 7; semestre de ciência da computação participou pela primeira vez em 2015. ;Eu tinha pouco estudo na área, mas foi incrível;, comenta. Agora, em 2018, o jovem se sentiu mais preparado para participar da qualificação. ;Não é todo dia que mexemos com tecnologias de ponta e, ao mesmo tempo, aprimoramos o aprendizado;, diz. Segundo Rodrigo, os conhecimentos adquiridos só têm a acrescentar à vida profissional dele. ;É muito produtivo o que aprendemos aqui, por exemplo, gerenciamento de projetos, isso é cobrado no mercado de trabalho e não só no Brasil.; As expectativas do estudante foram superadas a cada momento ao longo das aulas. ;Gostei muito de tudo. Se eu estiver aqui na universidade quando o projeto retornar, não exitaria em participar pela terceira vez;, comenta. O aplicativo desenvolvido pelo grupo de cinco pessoas de que Rodrigo faz parte tem por nome Wall- I, que é um gerenciador de construções civis. ;Com o aplicativo, queremos que os proprietários de espaços em obras economizem tempo. O programa mostra estatísticas do que está sendo usado na construção sem ter de estar presencialmente no local;, explica.
Aline: Mulher branca de cabelos pretos e com expressão facial sorridente, atrás dela tem uma parte do caminhão azul.

Caminho de aprendizado
Aline Gomes de Brito, 19 anos, participou pela primeira vez do programa. A estudante do 3; semestre de ciência da computação vê na capacitação um caminho de oportunidades. ;É bom porque tenho contato com linguagens novas de programação que eu não conhecia;, diz. Para ela, é uma chance de complementar os conhecimentos da graduação. ;É uma oportunidade de intercalar a base do que aprendemos em sala com o que discutimos aqui. Sem contar a experiência interativa;, acrescenta. ;É muito bom ter essa imersão vendo o que se utiliza no mercado de trabalho, o que com certeza nos ajudará no futuro;, completa. O projeto desenvolvido por Aline e a equipe dela consiste em um aplicativo que sugere à pessoa receitas a partir dos ingredientes informados pelo usuário. ;Desenvolver esse aplicativo, acredito, nos dará melhores oportunidades no mercado de trabalho, pois, a partir dessa experiência, ficamos mais preparados para desenvolver coisas do tipo;, completa.
Willian:  Homem branco barbudo, usando óculos de grau e vestindo um casaco branco e uma blusa vermelha.  Atrás dela há uma parte do caminhão azul.

Ajudar e crescer
Graduado em agronegócio, Willian Cozzi Candido, 31 anos, cursa o 1; semestre da graduação em análise e desenvolvimento de sistema na UCB. Ele trabalha como cerimonialista no Supremo Tribunal Federal (STF). Em Brasília desde 2015, o paulista de Jaboticabal cultivava havia tempos o sonho de fazer uma graduação em tecnologia. ;Sempre gostei da área, demorou, mas consegui ingressar na faculdade;, conta. O desejo em participar do HackaTruck está ligado a interesses do estudante. ;No programa, tivemos contato com ferramentas a que não temos acesso no dia a dia. Assim a qualificação nos ensina a usar o que vamos precisar manusear lá na frente;, acrescenta. ;É um conhecimento que agrega muito valor.; As expectativas para que o público utilize o aplicativo desenvolvido pelo grupo dele são as melhores possíveis. ;O que fizemos pode ajudar pessoas do Brasil e quem sabe até do mundo;, diz Willian, entusiasmado. A equipe de que ele participa criou um jogo digital educativo para crianças. ;O aplicativo ensina formas e cores. Esperamos que o app atinja o maior número de pessoas possível. Essa experiência nos ajuda a investigar o que o usuário quer, o que é fundamental para desenvolver aplicativos melhores e nos tornamos profissionais de excelência;, conclui.

As fases

1; etapa: treinamento on-line para alunos que tenham conhecimento básico em TI (tecnologia da informação). O curso tem duração de 40 horas e aborda linguagens de programação e termos de tecnologia.

2; etapa: ao finalizar a etapa on-line, os estudantes fazem uma prova sobre os conteúdos estudados. Os aprovados seguem para a última fase.

3; etapa: os 56 alunos que melhor se destacarem são convidados a participar de uma capacitação presencial desenvolvida dentro do caminhão.
Confira mais informações em www.hackatruck.com.br


*Estagiária sob a supervisão da subeditora Ana Paula Lisboa

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação