Ana Paula Lisboa
postado em 02/09/2018 17:11
A história de Carla Gomes, 40 anos, dona da EBM Estética, localizada em Ceilândia, é marcada por muito esforço e superação. O negócio foi aberto em julho de 2008 e oficializado em setembro do mesmo ano. Na época, ela estava afastada do trabalho como analista de seguros por causa de doenças ocupacionais no punho e na cervical. ;Eu tive Dort (distúrbio osteomuscular relacionado ao trabalho) e LER (lesão por esforço repetitivo) e tive que passar por cirurgia;, lembra. Mas ela tirou das dores motivação para empreender na área pela qual sempre foi apaixonada. ;Desde cedo, admiro o que é belo. Eu lido com estética desde os 15 anos, fui auxiliar numa clínica dermatológica de forma voluntária. Eu não ganhava nada e ia lá só para ficar ;curiando;. Aos 18, fiz um curso técnico no ramo;, rememora.
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Para conseguir pagar uma faculdade de estética foi que Carla começou a trabalhar com seguros. Quando teve os problemas ocupacionais, não aguentou ficar parada e resolveu empreender. ;Fiz uma pesquisa e detectei que as pessoas saíam de Ceilândia para procurarem atendimentos em outras cidades satélites, pois não havia instituições especializadas aqui. Então, percebi na carência do mercado uma oportunidade;, diz. Ela teve de lutar contra pressões negativas. ;Diziam que eu estava doida por causa da medicação. Eu tomava remédios fortes, inclusive morfina, para conseguir aguentar a dor. Então, ninguém me legou a sério. Quem me levou a sério fui eu;, explica. Carla propôs sociedade a uma amiga esteticista no início, que, em pouco tempo, deixou o projeto.
;Logo, ela também não acreditou. Hoje, ela até diz que devia ter continuado comigo;, conta. ;Pedi R$ 500 para minha mãe para começar a fazer atendimentos de estética, num quartinho na minha casa mesmo. Investi parte do dinheiro em publicidade, em panfletos, e o resto em produtos;, lembra. Na própria residência, Carla começou a oferecer limpeza de pele, massagem corporal, drenagens. ;Eu não tinha equipamentos, então precisava fazer serviços que não exigissem isso.; Uma semana depois, o local ficou cheio de clientes. ;Meu marido viu aquilo e disse que não queria chegar a casa e ver esse tanto de mulher. Então, ele me emprestou R$ 200 para que eu ;sumisse; dali;, recorda. Com a quantia, Carla alugou uma sala de 25m; em Ceilândia Sul. ;Pedi móveis emprestados para a minha mãe, um amigo me ajudou a colocar divisórias de tapume, e o local ficou uma gracinha. Foi ali que nasceu a empresa;, afirma.
Desde o início, o atendimento, explica ela, sempre foi o maior diferencial. Carla cursou estética e administração no Centro Universitário Iesb e marketing na União Educacional de Brasília (Uneb). Assim, usou conhecimentos adquiridos nas três graduações na empresa que, no começo, se chamava Espaço Bela Mulher. Após sete meses de funcionamento, o empreendimento foi transferido para um local de 50m;. ;Na época, as pessoas diziam que eu estava louca de novo porque teria mais custos, inclusive para trocar a mobília.; No entanto, com mais espaço, era possível fazer mais atendimentos. ;O faturamento triplicou, contratei mais parceiros. Estávamos no auge quando recebi a notícia, no mesmo dia, de que estava grávida e com câncer na tireoide, eram oito tumores malignos. O médico me deu seis meses de vida;, conta.
Virada de vida e carreira
;Fui muito duro, mas não parei de trabalhar. Teve momentos em que eu estava passando tão mal que as clientes se preocupavam, não queriam que eu as atendesse. Só que eu não podia deixar de fazer isso, foi o que me curou;, diz. ;A estética era uma terapia, era o que me fazia esquecer da dor e da doença.; Carla retirou os tumores no quinto mês de gestação, numa cirurgia extremamente complicada, com riscos para a mãe e o feto, que, felizmente, deu certo. ;Até para a operação, eu fui maquiada porque, se morresse, queria estar bonita. Eu gosto de me sentir bem;, relata. ;Tive que esperar o bebê nascer para começar a radioterapia;, lembra. Mãe de Lucas Silva Alves, 19 anos, e Pedro Paulo Silva Alves, 9, Carla está curada. ;Estou muito bem e recebi alta. Antigamente, eu fiquei sem poder fazer atividade física nem estética. Quando superei a doença, foi o melhor momento da minha vida e fui logo fazer cross fit;, diz.
Carla retirou aprendizados dos momentos de dificuldade. ;Eu melhorei como pessoa, eu me sinto até mais bonita, passei a dar ainda mais valor às coisas. A gente consegue olhar tudo com um novo olhar, se torna mais acurada, e isso impacta a gestão. Eu melhorei e a empresa também.; Há cerca de três anos, Carla rebatizou a empresa como EBM Estética. O empreendimento está no terceiro endereço, num espaço de 100m;, com seis salas de atendimento, recepção, copa e escritório. ;Oferecemos estética facial e corporal e a parte da medicina estética (preenchimento, botox). Temos um biomédico.; No total, são três trabalhadores parceiros e dois colaboradores. A maior parte dos atendimentos são feitos pessoalmente por Carla. ;As clientes me chamam de ;a maga da beleza;. Minha agenda está sempre cheia e todas querem ser atendidas por mim. Dizem que não sou só esteticista, sou também psicóloga, porque deixo a autoestima delas lá em cima.;
E é exatamente disso que Carla mais gosta no próprio trabalho. ;A estética é uma paixão e vem para trazer mais confiança à mulher. A gente não vende estética, vende autoestima, valorização da imagem que transforma;, diz. Os planos para a companhia são grandes: Carla está passando por uma consultoria para transformar a marca em franquia. ;Já temos propostas para quatro franquias;, comemora. Só que, para isso, ela precisará se afastar um pouco do atendimento e se ocupar mais da gestão. ;Eu adoro colocar a mão na massa, esculpir o corpo, ver o resultado do tratamento. Mas vai chegar um momento em que terei de deixar o operacional;, explica. Atualmente, Carla e a equipe atendem cerca de 150 pessoas por mês. ;A metade é de Ceilândia. Os outros 50% vêm de outras cidades, como Águas Claras, Riacho Fundo, Guará, Octogonal, Asa Sul, Asa Norte.;
Tem até clientela de fora do país. ;Tenho clientes que moram na Inglaterra, na Escócia, na Holanda, por exemplo, e sempre que voltam ao Brasil, reservam horário comigo com um mês de antecedência;, descreve, satisfeita. Uma inovação da instituição é um plano de estética. ;A pessoa paga a partir de R$ 280 por mês e pode fazer vários serviços. É um diferencial e um modo mais acessível de vender estética, que não precisa ser elitizada. Tivemos adesão, até agora, de 50 pessoas;, diz. O faturamento bruto da pequena empresa chega a R$ 20 mil por mês. O filho mais velho, Lucas, estudante de arquitetura, ajuda a mãe com a publicidade. A sobrinha, Sandra Vanessa, 38, trabalha na parte financeira. O marido, Máximo Alves, teve de dar o braço a torcer por não ter acreditado no negócio no início. ;Ele fica com vergonha de não ter me apoiado no começo e tem muita admiração por mim.;
Reconhecimento
Ao longo de 10 anos, os resultados da empresa de Carla aumentaram muito. Tanto que ela está escrevendo um livro chamado E se R$ 500 virassem meio milhão?. ;Pois foi o que consegui fazer em cinco anos. O dinheiro que peguei emprestado com minha mãe rendeu tudo isso nos cinco primeiros anos;, diz. A obra recebeu oferta de duas editoras e deve chegar ao mercado até o fim do ano. A trajetória de sucesso foi reconhecida em dois prêmios do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae): o Mulher de Negócios e o MPE Brasil (Prêmio de Competitividade para Micro e Pequenas Empresas). Volta e meia, Carla é convidada para dar palestras, em instituições como Centro Universitário Iesb, Centro Universitário de Brasília (UniCeub) e Universidade Católica de Brasília (UCB). Tanto sucesso é fruto de uma dedicação que começou ainda antes de Carla empreender. Ela começou a trabalhar aos 11 anos, como monitora de uma escola infantil. ;Eu cuidava das crianças no intervalo.; Aos 14 anos, ela dava aulas de matemática. ;Eu sempre me identifiquei com números.; Aos 15, ela se enveredou pela estética.
Durante a infância, Carla e a família passaram por muitas dificuldades. ;Meu pai era vereador em Uruana (GO). Ele era um homem influente e rico de Seres (GO), empreendedor, dono de postos de gasolina e fazendas. Mas eu não herdei nada. Ele foi assassinado e, quando morreu, eu ainda era muito pequena, ele ainda ia me registrar;, conta. ;Era só minha mãe para criar eu e meus irmãos e ela veio para Brasília na década de 1960 buscar uma vida melhor. Sou filha do segundo casamento dela, que hoje tem 78 anos.; Desafios como doenças e falta de recursos foram superados com muita perseverança. ;Aprendi que você pode tornar o impossível possível. Com força de vontade, a gente chega lá. Eu tinha todos os motivos para desistir e poderia ser revoltada. Eu tive câncer, não herdei a riqueza do meu pai. Nada disse me fez parar, pelo contrário, sempre corri atrás e acreditei.; Organização e boa administração do tempo foram outros segredos. ;Você tem que ser mulher maravilha, cuidar da casa, do trabalho, dos filhos...; Buscar melhorias constantes e nunca se contentar com o mínimo também são características de Carla.
Saiba mais
3377-4939 / 98552-9469
Ceilândia Sul, QNN 22, Conjunto P, Lote 28 A, Sala 102 (Avenida da Fundação Bradesco)