Felipe de Oliveira Moura*
postado em 16/09/2018 15:18
Levantamento aponta as profissões mais procuradas pelas empresas brasileiras no primeiro semestre de 2018. Cargos ligados à atividades estratégicas de recursos humanos e à área comercial, de gestão financeira, de inovação e transformação digital estão em alta no mercado
Os profissionais que atuam em planejamento financeiro, inovação e transformação digital, atividades estratégicas de recursos humanos e na área comercial, terão mais chances de se manter no mercado de trabalho daqui em diante. As pessoas com essas qualificações foram as mais requisitadas pelas empresas no primeiro semestre de 2018. Quem garante é a Michael Page, empresa de consultoria de recrutamento que listou as 17 profissões mais demandadas em cargos de média e alta gerência no país, no período de janeiro a junho de 2018. Quase todas as vagas se distribuem entre os cargos de gerente e coordenador, com destaque para as áreas de finança e vendas. A exigência das corporações é proporcional à remuneração, que chega a R$ 80 mil.
De acordo com Sérgio Margosian, gerente da Michael Page, a alteração na relação dos serviços firmados entre empresas e empregados é a principal diferença indicada pelo estudo. ;A grande mudança é o crescimento dos contratos temporários, por meio dos quais as empresas contratam pessoas para desenvolverem projetos específicos por um determinado período;, avalia ele.
Mesmo com algumas mudanças na relação de contrato buscadas por algumas empresas, a pesquisa aponta sinais que podem significar, quem sabe, o alívio da recessão e desemprego. Andrea Deis, formada em gestão empresarial pela Fundação Getulio Vargas (FGV) e master coach pela Sociedade Brasileira de Coaching (SBC), acredita que já estamos vivendo esse momento de retomada. ;Com o aquecimento da economia, o mercado começa a investir em otimização de custos e gerenciamento de pessoas, porque a demanda crescente exige gerir melhor;, exemplifica.
Elaine Tavares, pós-doutora em administração pela Universidade do Texas e pela Aex Marseille, acredita que o estudo demonstra com ;muita precisão o que o mercado está demandando; no momento. ;As organizações sabem que tem gente que gere projetos com técnicas mais inovadoras, mas não faz parte de suas equipes. Além disso, buscar profissionais que saibam lidar com planejamento financeiro é natural no contexto de crise que temos no país, porque é importante ter controle e ética na governança.;
Recolocação no mercado de trabalho
Cláudia Bastos, 54 anos, foi contratada para ser coordenadora/gerente de RH na Caldeira Lôbo e Ottoni (CLO) Advogados Associados. O cargo está entre os mais demandados pelas empresas no primeiro semestre deste ano. Especializada em gestão da qualidade pelo Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais (Cefet-RJ), ela acumula experiência de quase 30 anos em gestão de pessoas, mas se vê diante de uma quebra de paradigmas pessoal e profissional. ;É um desafio, porque nunca trabalhei no segmento da advocacia com a possibilidade de implantar um modelo de gestão de RH. Trata-se de uma área que não tem muito esse referencial;, observa.
Graduada em psicologia pelo Instituto Cultural Newton Paiva, Cláudia trabalhava no setor de saúde em uma empresa que fazia diagnóstico por imagem. No entanto, a crise financeira a fez ser desligada do contrato formal de trabalho e ela topou trabalhar como freelancer. ;Esse cenário me fez ir para o mercado, mas continuei prestando serviço em um novo formato;, ressalta. Por causa da experiência tanto como contratada quanto de recrutadora de funcionários, a gerente de RH orienta as pessoas a estarem abertas a escutar e não descartar novas experiências no momento de buscar uma vaga de emprego. ;Percebo que os candidatos desejam uma oportunidade perfeita, sem levar em consideração o panorama geral, que é extremamente difícil;, afirma.
Transformação digital
Os trabalhadores ligados à tecnologia e inovação, com habilidades favoráveis no ambiente digital, também ganham espaço nesse panorama. Os cargos de supervisor de tecnologia da informação (TI), coordenador ou gerente de transformação digital e gerente de canais figuram na lista das 17 funções mais requisitadas. A transformação digital no mundo corporativo segue a todo vapor, segundo Elaine Tavares, diretora do Instituto de Pós-Graduação e Pesquisa em Administração da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Coppead/UFRJ). ;Quando traz essa questão da transformação digital, a pesquisa mostra a preocupação do mercado de orientação para dados;, diz.
Andrea Deis é dona da Top Leader Training, empresa de capacitação e desenvolvimento de pessoas, e acredita que o mercado tende a requisitar, daqui em diante, mais pessoas capacitadas para o mundo digital. ;O que está na dianteira pelo mundo em termos de empregabilidade e futuro de carreira é a inteligência artificial, desenvolvedores de web ou TI voltados à nanotecnologia e internet.;
Pensando nisso é que Daniel Milhomem, 31, suporte em nível 1 em uma empresa de soluções de tecnologia em TI, prepara-se para o futuro na carreira. O objetivo dele é ser supervisor de TI. ;Desejo me aprofundar na área de governança, porque é o ideal quando se pensa em alcançar um cargo de gerência;, projeta. Ele cursa o último semestre de gestão em tecnologia da informação na Faculdade Senac e está se preparando para os próximos passos.
Empregados de outras áreas devem atentar para tipos de capacitação nessa direção, uma vez que a revolução digital atingirá, de algum modo, todas as profissões. ;As pessoas devem se adequar às novas tendências com as facilidades trazidas pela tecnologia. Às vezes, é preciso um curso técnico para saber operar aquela máquina que poderia tornar o profissional absoleto.;
Técnica x Habilidades comportamentais
Muito além da técnica e das qualificações profissionais em ambiente digital, gestão de projetos e gosto pelo planejamento financeiro, o estudo aponta que as empresas buscam funcionários com boa desenvoltura em relacionamentos. Pode parecer clichê ouvir que o mercado demanda profissionais bem articulados e que se garantam em termos interpessoais, mas o requisito segue em alta nos departamentos de recursos humanos. ;Boa desenvoltura nos relacionamentos é essencial. A partir do momento que você não tem essa habilidade, acaba centralizando informação e se esforça demais para fazer uma tarefa grande. Além disso, demora muito mais para entregar o que propõe, pois faz sozinho. Quem se relaciona potencializa a eficiência de todos;, explica Andrea Deis.
De acordo com Elaine Tavares, doutora em administração pela FGV, pessoas que saibam se relacionar estão escassas e as empresas procuram este perfil com afinco. ;É difícil reunir profissionais com perfil técnico e facilidade de relacionamento. Essas habilidades mais qualitativas de relacionamento individual se destacam como grandes necessidades de mercado. Não é balela.;
Desenvolvimento constante
Carlos Henrique Sampaio, 41, assumiu há cinco meses o cargo de diretor comercial da Diletto Café. Durante 18 anos, passou pelo mercado de bebidas, bancos de investimento, indústria automobilística e varejo. O último emprego foi no segmento de tecnologia. A longa experiência do administrador de empresas pela Universidade Católica de Brasília (UCB) fez surgir várias propostas de trabalho na capital federal, justamente no comércio, um dos setores mais buscados pelas empresas até aqui. ;Surgiram vários convites para diretorias executivas, comerciais e me chamaram para assumir essa posição, tomando conta das operações comerciais no Centro-Oeste. Queriam que eu trouxesse elementos mais profissionalizantes para uma gestão comercial, de estruturação e expansão;, explica.
Mais de uma década depois, Carlos Henrique, que possui MBA em estratégia empresarial e finanças pela Fundação Getulio Vargas (FGV), depara-se com cenário diferente na iniciativa privada de grande porte em Brasília, setor que classificava como ;muito tímido;. ;Vejo o desenvolvimento e a continuidade da minha carreira executiva atuando na região, algo que há 13 anos era mais difícil. O mercado está propício a isso agora;, compara. O sucesso na carreira não vem apenas da formação e experiência que adquiriu, mas do interesse constante com que Carlos se dedica a desenvolver os vínculos profissionais. ;O maior ativo que temos são os nossos amigos. Ter uma rede de relacionamentos saudáveis é estritamente fundamental para qualquer um que se habilite ao mercado profissional e é condição indispensável para o sucesso. Em todos os meus dias, dedico uma parte do tempo para isso;, afirma.
Confira as 17 profissões mais demandadas para cargos de média e alta gerência no primeiro semestre de 2018
1 - Supervisor de TI
Remuneração: R$ 9 mil a R$ 11 mil
No semestre passado, o motivo para alta: a demanda neste momento é por profissionais multitarefas, com alto poder de comunicação e influência no ambiente corporativo.
2- Coordenador de FP (Planejamento e Análise Financeira)
Remuneração: R$ 10 mil a R$ 15 mil
As transações dentro do universo de finanças sofreram grande impacto durante a crise e ainda não viram o volume de posições ser retomado. Porém, áreas estratégicas são atualmente uma necessidade crítica dentro das empresas.
3 - Coordenador de Compras
Remuneração: R$ 8 mil a R$ 11 mil
As empresas buscaram reforçar seus times de compras tentando melhores negociações, mais controles no processo e uma gestão estratégica dos investimentos.
4 - Coordenador/ Especialista de M ; fusões e aquisições
nos mercados de Energia, Saúde, Imobiliário
Remuneração: R$ 10 mil a R$ 15 mil
Profissionais competentes para analisar, avaliar e efetivamente conduzir processos de M são bem requisitados por segmentos que estão aquecidos.
5 - Coordenador ou gerente de Transformação Digital
Remuneração: R$ 12 mil a R$ 18 mil
Empresas de todos os setores da economia estão em processo de transformação digital. Na maior parte dos casos, com foco na experiência do usuário. Esse profissional passa a ser essencial nessa fase de mudança. E deverá permanecer em alta até a consolidação desse processo.
6 - Gerente de Vendas Canal Indireto (Segmento: Bens de Consumo)
Remuneração: R$ 15 mil a R$ 25 mil
As empresas de consumo estão demandando profissionais mais qualificados para atender esse canal, devido à complexidade das negociações com empresários que, muitas vezes, comandam distribuidoras com porte e faturamento superior às próprias indústrias.
7 - Gerente de Vendas ; Segmento Energia
Remuneração: R$ 18 mil a R$ 25 mil
O mercado de energia está cada vez mais competitivo. Por isso, várias empresas do setor estão se movimentando para aproveitar essa oportunidade. Percebemos posições dentro do segmento do mercado livre de energia, fabricantes de equipamentos e também as empresas EPCistas desenvolvendo soluções de engenharia para geração, distribuição e transmissão de energia.
8- Gerente de Desenvolvimento de Novos Negócios (Logística)
Remuneração: R$ 15 mil a R$ 25 mil
Os operadores logísticos sofreram com a crise desde o ano passado, pois as grandes contas diminuíram o volume ou prorrogaram o prazo de pagamento. Por conta desse cenário, as empresas diversificaram suas áreas de atuação e atacaram os clientes de médio porte oferecendo soluções customizadas.
9 - Gerente de Canais (Tecnologia)
Remuneração: R$ 12 mil a R$ 18 mil
Desde o ano passado, aumentou significativamente o número de empresas que vieram para o Brasil com a necessidade de atuar por meio de canais e outras com a exigência de mudar a operação do país e, assim, começar a atuar em formato de parceria.
10 - Gerente de Assuntos Regulatórios
Remuneração: R$ 16 mil a R$ 22 mil
As empresas estão em fase de lançamentos de produtos e renovação de registros. Estão lidando com muitas cobranças das áreas técnicas e regulatórias.
11 - Gerente de Operação de Franquias
Remuneração: R$ 15 mil a R$ 25 mil
Muitas empresas expandiram o número de franqueados nos anos anteriores e agora precisam manter o ritmo da operação.
12 - Gerente de Crédito
Remuneração: R$ 16 mil a R$ 20 mil (considerando uma reunião mensal), dependendo do porte da empresa.
Com a crise e altos índices de inadimplência no mercado, as instituições financeiras estão tendo que redefinir suas políticas e estratégias de crédito procurando mitigar riscos e melhores práticas de mercado.
13 - Gerente de Planejamento Financeiro
Remuneração: R$ 15 mil a R$ 35 mil
Após um período de crise, as empresas concentraram-se na organização de processos, melhoria do compliance e redução de custos. Neste ano, as companhias voltaram a pensar em seus objetivos de médio prazo, fazendo análises de novos produtos e serviços a serem lançados nos próximos anos.
14 - Head de Recursos Humanos (Diretor/Gerente)
Remuneração: R$ 20 mil a R$ 30 mil
Motivo para alta em 2018: quem puxou o crescimento dessa posição foram as startups, com o aporte de investidores.
15 - Controller
Remuneração: R$ 15 mil a R$ 35 mil
Empresas que enfrentaram a necessidade de diminuir cargos importantes durante a crise dos últimos anos vêm apresentando um crescimento importante, aumentando a necessidade de buscarem profissionais sêniores e com visão mais abrangente.
16 - CFO ; Diretor de Finanças
Remuneração: R$ 20 mil a
R$ 80 mil
Ao longo dos últimos 10 anos, notamos que o perfil demandado do CFO teve modificações. As empresas passaram a demandar um profissional que tenham um background sólido em controles e processos, por exemplo. Com a retomada de mercado, entende-se que o CFO com visão mais estratégica e voltado ao negócio também volte a ser requisitado.
17 - Sócio de Contencioso Cível ; Direito
Remuneração: R$ 20 mil a R$ 50 mil
Em momentos de crise e de baixa circulação de dinheiro, a tendência é que os conflitos e as disputas aumentem, o que gera também mais processos. E como ainda vivemos um momento de instabilidade econômica e política, a posição está em alta.
Fonte: Michael Page
* Estagiário sob supervisão de Ana Sá