Jornal Correio Braziliense

Trabalho e Formacao

Saiba como captar recursos para a sua startup

Uma ideia genial não basta para ter sucesso. Para que uma empresa nascente com potencial de escalonamento saia do papel, faz-se necessário planejamento, pesquisa e, também, dinheiro. Existem várias opções para financiar o seu projeto: aceleradoras, incubadoras, investidores (anjo, semente e outros), editais de inovação...

O alto número de desempregados no Brasil que, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), ultrapassa os 13 milhões tem impulsionado a abertura de startups. De acordo com o StartupBase, banco de dados da área, existem 124 companhias do tipo registradas em Brasília pela Associação Brasileira de Startups (ABStartups). No Brasil, são 6.323, mas estima-se que, ao todo, sejam mais de 15 mil empresas, atuando nas mais diversas áreas. Com mais dificuldades de se inserir no mercado formal, cada vez mais jovens, especialmente recém-formados, partem para o plano B: abrir o próprio negócio. Muitas vezes, são ideias geniais, com alta chance de replicabilidade por meio da tecnologia. Então, o que falta, em diversos casos, é apoio financeiro. A boa notícia é que há uma diversidade de caminhos para conseguir recursos para esse tipo de organização nascente: editais de incentivo, incubadoras, aceleradoras, investidores-anjo, financiamento coletivo, linhas de crédito tradicionais e até doações de amigos e família...
É preciso, porém, muita reflexão para entender que tipo funciona melhor para você e seu negócio. Para Max Oliveira, CEO da startup de compra de passagens aéreas por milhas MaxMilhas, para buscar um financiamento, a pessoa tem de refletir sobre a real necessidade daquilo. ;Às vezes, não é necessário juntar muito dinheiro para lançar a empresa.; Além disso, é possível começar numa escala pequena para, depois, expandir. ;Há casos em que o excesso de capital atrapalha a empresa, pois ela se desenvolve muito rápido e o produto, não; o que é um problema;, completa o engenheiro de produção. Mas para os casos em que a possibilidade de replicação da ideia foi comprovada, conseguir ajuda para escalar a mercadoria é boa opção. Para saber qual fonte financeira tentar, é importante avaliar o estágio em que a empresa se encontra. ;Se estiver em fase inicial, ou seja, se o protótipo ainda não foi validado, é bom procurar investidores seed (semente), ou programas do governo;, diz o CEO da aceleradora Q4 Angels, Guilherme Tavares.
;Se está com o projeto na fase de captação de clientes, o ideal é buscar um investidor anjo, pois ele vai aplicar dinheiro na empresa e também comprar uma porcentagem dela;, indica. O especialista explica que o investimento deve ser uma impulsão para o negócio, mas o dinheiro não pode ser tudo. ;O investidor e o empresário devem ter uma sinergia de ideias. É muito importante também usar a rede de networking do fornecedor, que vale mais que qualquer aporte, além de aproveitar consultorias para ampliar a visão de negócio;, destaca Guilherme Tavares, graduado em sistemas para internet. O foco dos investidores também varia de acordo com o que eles querem alcançar, o que é muito importante, visto que as ideias do empresário e a do investidor devem se alinhar. Antes de se lançar com tudo em qualquer tipo de parceria, é preciso entender que são poucos os programas de ;doação;, que apenas despejam dinheiro na empresa. A maior parte requer algo em troca. As grandes companhias, especialmente, pedem muitos benefícios e são muito criteriosas.

Não existe almoço grátis


;Quem vai investir na empresa analisará fatores como qualificação das pessoas, uso da tecnologia, capacidade de execução do produto e tamanho do mercado;, afirma Daniel Grossi, co-fundador da aceleradora Liga Ventures, especializada em conectar grandes corporações e novas empresas. ;As companhias buscam resolver problemas, combater ineficiências e melhorar a vida das pessoas, mas muitas instituições perderam esses alvos enquanto cresceram e precisam retomar isso para não perderem os clientes, por isso, passam a analisar startups;, destaca Lucile Charpentier, diretora de Marketing e Estratégia Digital da Saint-Gobain no Brasil, empresa de construção civil que tem um programa de aceleração. Em determinados casos, grandes empresas optam por contratar startups para resolver algo que elas não conseguem solucionar sozinhas. O diferencial desse segmento é experimentar poder se permitir ao erro. O que, para grandes corporações, é mais arriscado.
De acordo com o presidente da ABStartups, Amure Pinho, esse setor só tem a acrescentar a velhas instituições. ;Muitas empresas as contratam pelo poder de desenvolver novas coisas. O que é bom para garantir o futuro dos negócios sem ter de arriscar tudo o que se construiu;, diz. ;O potencial de uma startup é muito grande. Além de ajudar na revolução do mercado, ela pode gerar novos empregos;, acrescenta a diretora de operações da aceleradora 500 Startups, Itali Collini. O perfil de donos e trabalhadores de startups é variado no que diz respeito a idade, gênero, ambições e formações.


Entenda o setor

As startups são empresas iniciantes que têm por objetivo criar um modelo de serviço ou produto que resolva um problema de modo novo e replicável. Alguns dos segmentos de atuação são: serviços profissionais e financeiros, tecnologia da informação, saúde, varejo e atacado, educação, mobilidade, entretenimento, meio ambiente, turismo... Esse tipo de empresa, na verdade, pode atuar em qualquer tipo de setor. No exterior, esse tipo de negócio é comum principalmente no Vale do Silício, grande polo de inovação dos Estados Unidos. Não faltam exemplos que deram certo. Pode-se citar a Uber (prestadora de serviços de transporte) e a Nubank (de financeiros mais simples) como casos de sucesso.

Ambas viram um problema no segmento em que gostariam de atuar e foram atrás de soluções. As projeções deram certo e se tornaram empresas de grande porte que estão em constante inovação e expansão. No Brasil, apesar de crescer a cada dia, esse segmento ainda é formado, em sua maioria, por pequenas empresas: 63% são compostas por equipes de até cinco integrantes, de acordo com a ABStartups. Este ano, inclusive, o Distrito Federal ganhou uma Lei de Inovação (n; 6.140/2018), que pode impulsionar ainda mais o avanço do setor. A nova legislação estimula a pesquisa científica e tecnológica na região por meio de investimentos a fim de estimular a geração de riquezas.


Para começar

Segundo especialistas, o principal para se abrir uma startup é o propósito de solucionar um problema. ;É preciso entender o que o cliente precisa, então, é necessário, antes de tudo, estudar;, aconselha a economista Itali Collini. A partir disso, as empresas podem obter outros ganhos. ;Ao buscar sempre uma solução melhor, a iniciativa ganhará financeiramente também;, garante o publicitário e mestre em empreendedorismo Daniel Grossi. Quem decide abrir um empreendimento como esse tem de estar preparado para enfrentar também dificuldades. ;Lidar com inovação é fazer algo que, às vezes, não foi feito antes. Então, é um trabalho muito árduo de erros e acertos, sem contar os altos riscos.; Planejar-se faz toda a diferença na hora de iniciar um negócio e reduz metade dos riscos envolvidos. ;Ao se organizar, você saberá até que ponto pode gastar porque, às vezes, não se ganha nada no começo, então, é importante guardar dinheiro;, aconselha Itali Collini.

13 perguntas antes de lançar seu negócio. Você...


1) ...criou um produto ou serviço para atender uma necessidade real do mercado?
2) ...testou sua solução com alguns potenciais clientes e provou a viabilidade de atender esse mercado?
3) ...definiu missão, visão e valores?
4) ...estabeleceu claramente seu modelo de negócios e de onde virão suas receitas e despesas?
5) ...desenhou o esboço do planejamento estratégico para desdobrar em metas básicas de acompanhamento?
6) ...conhece os concorrentes e possíveis substitutos? Não seja egocêntrico nessa resposta.
7) ...identificou e definiu o segmento de mercado em que vai buscar seu público-alvo?
8) ...validou a solução com os clientes para entender o que você precisa fazer?
9) ...construiu um funil de vendas e testou canais de maior atração?
10) ...definiu a identidade visual e storytelling da marca?
11) ...acompanha a taxa de churn (perda) dos clientes a cada mês ou já tem os KPIs (indicadores chaves de desempenho) para isso?
12) ...criou a estrutura básica de tecnologia para servidores, sistemas e infraestrutura?
13) ...organizou a contabilidade básica: impostos, orçamento, capital de giro e fluxo de caixa?

Tendo validado essas premissas e o projeto e conseguido sobreviver a esses questionamentos, há mais chances de sucesso de acordo com Diego Daminelli, cofundador e diretor de Marketing do clube de café em cápsulas Moccato, e acelerador de negócios da Organica Aceleradora

Eles respiram inovação

Conheça histórias de pessoas que apostaram numa ideia e abriram a própria startup

Doações sem custos

É difícil imaginar que é possível fazer uma doação para alguém sem gastar nada. Porém, isso é realidade na startup de impacto social Ribon. ;Para doarem, as pessoas só precisam baixar o aplicativo gratuito e entregar as moedas virtuais que ganham;, explica o idealizador e cofundador Rafael Gonçalves Rodeiro, 23 anos. Ele, que estuda engenharia de produção na UnB, teve a ideia de criar um sistema em que as pessoas poderiam ser solidárias sem gastar em 2014. A partir daí, procurou sócios para ajudá-lo a colocar o projeto de pé. Foi assim que João Moraes, 23, que cursa design na UnB, e Carlos Menezes, 23, ex-aluno de ciência da computação da UnB, se juntaram à empresa.

O aplicativo funciona da seguinte forma: o usuário recebe 100 ribons (moeda virtual) por dia que entra e escolhe a que causa doar (água potável, fortificação alimentar, medicamentos e saúde básica). O dinheiro que é cedido vem de notificações patrocinadas por empresas e é convertido em ribons. Entre 70% e 80% dos recursos arrecadados vão para causas sociais e o restante é reinvestido na empresa. ;No Ribon, entendemos que é viável e possível que a extrema pobreza seja erradicada no mundo em 2030. E queremos ser peça-chave nesse momento, fazendo com que todas as pessoas ao nosso redor vivam isso no dia a dia delas;, afirma Rafael.

A empresa participou do programa de aceleração da Cotidiano, recebendo R$ 100 mil de investimento. ;A aceleradora virou sócia minoritária da empresa e ficou com uma porcentagem de 5% a 10%;, afirma. De acordo com ele, a experiência foi muito boa por três motivos: mentoria, conexões com grandes empresas e o investimento. Os sócios agora buscam mais investidores.;Não estamos procurando outro programa de aceleração, mas estamos abertos para receber outros fundos;, observa. Ele explica como capta investidores. ;Eu procuro aqueles em que estou interessado, logo tento marcar reuniões para apresentar a empresa;, conta Rafael.
Saiba mais: www.ribon.io

Sustentabilidade em foco

O futuro é sustentável. Luiz Filipe Guerra, 26 anos, e Gabriel Castro, 23, estão convencidos disso. Os estudantes de engenharia elétrica da Universidade de Brasília (UnB) desenvolveram a startup Atmosphere pensando nisso. O objetivo da empresa é fazer com que as pessoas entendam o uso da energia de forma sustentável. O projeto Atmosphere é um mínimo produto viável (MVP) que faz a leitura de grandezas elétricas (tensão, corrente, potência ativa e reativa) de um quadro elétrico. Esses dados são lançados na nuvem e, a partir daí, o sistema repassa para o cliente informações sobre como economizar energia. ;Essas referências podem contribuir para um melhor dimensionamento de um sistema fotovoltaico de energia solar, por exemplo;, explica Luiz. A empresa foi aberta no formato microempreendedor individual (MEI). A Atmosphere não passou por nenhuma aceleração ou incubação ainda porque os sócios avaliam que o momento é de estabilizar o projeto para, então, buscar investimento. ;Estamos em um estágio de ir para o mercado;, explica. ;Apesar de participarmos de alguns editais, precisamos que nossa empresa se mantenha sem investimento por enquanto, queremos que ele venha para acelerar o processo de amadurecimento;, explica.

Da demissão ao sucesso

Ao ser demitida pela segunda vez, em 2015, a engenheira civil Tatiana Pimenta, 37 anos, tirou um tempo para si e para a família e decidiu que deveria mudar de foco. A mudança repentina fez com que ela pensasse em um negócio. ;Sempre tive vontade de empreender, mas não sabia em quê;, afirma. Ela também recebeu outra notícia impactante: o pai havia sido diagnosticado com câncer. ;A partir daí, comecei a reparar mais ainda na falta de profissionais de saúde. O que me deixou em alerta;, explica. Por incrível que pareça, foi durante uma caminhada que Tatiana teve a ideia que mudou o rumo dela. ;Veio de forma natural. Como eu estava bem preocupada com questões de saúde, achei que abrir algo na área era mais que necessário;, relembra. Foi aí que surgiu a Vittude, startup de saúde mental, que trabalha por meio de plataforma para atendimentos on-line. A idealização da empresa não foi só de Tatiana, ela contou com a ajuda do sócio e amigo Everton H;pner.

;Fui consultor de empresas por sete anos e isso me deu a oportunidade de passar por várias firmas. Assim, eu percebia vários erros e tinha vontade de arrumar, mas não podia. Então, tive o prazer de conhecer a Tatiana e começamos a desenvolver a ideia para resolver um problema;, conta o engenheiro de produção pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR). A plataforma de atendimento é desenvolvida para uma interação entre os profissionais de saúde e os pacientes. ;Os especialistas se filiam a nós e então fazemos uma agenda conjunta em que eles podem escolher os horários e formas de atendimento (on-line ou presencial);, explica a empresária. As consultas custam entre R$ 30 e R$ 500 e mudam de acordo com a região em que o paciente está inserido. Para ela, a perda de emprego só agregou a quem ela queria ser com a Vittude. ;Acredito que é importante ter um acompanhamento psicológico e, com a empresa, eu tenho a certeza de que estou ajudando outras pessoas;, acrescenta Tatiana.

;Espero que sejamos referência em saúde mental. Assim como as pessoas tem tanto cuidado com o corpo, quero que elas tenham com a mente;, complementa Everton. Atualmente a Vittude conta com mais de 4 mil pacientes, cerca de 1.600 psicólogos com atuação em mais de 200 cidades do país, sem contar o atendimento de brasileiros no exterior. A empresa foi acelerada pela Startup Farm e, este ano, foi selecionada para programas de aceleração do Facebook. A fundadora teve a oportunidade de vivenciar uma imersão no Vale do Silício para representar o empreendedorismo feminino, entre maio e junho deste ano. ;A experiência foi incrível, ganhei um networking global. Além de ter contato com fundos de investimentos internacionais, o que mais agregou foi aprender a pensar macro e em uma dinâmica de apresentação pitch (apresentação de venda da ideia);, conta Tatiana. Ela também participou do Global Entrepreneurship Summit (GES), em Hyderabad, na Índia, em 2017. O evento destaca o apoio às mulheres empreendedoras e o fomento ao crescimento econômico global.

Saiba mais:

Inovação desde cedo

; Iesb Lab:
; Casulo do Centro Universitário de
Brasília (UniCeub):
; Universidade Católica de Brasília (UCB):

Aceleradoras
; Aceleradora de Startups e Inovação (ACE):
; Cotidiano:
; Runpal:
; Acceleratus:

Investidores / editais
; Polaris Investimentos:
; Fundação de Apoio à Pesquisa (FAP/DF):
Saiba mais: ribon.io
Radiografia

.


Investimentos
A Safira Energia, empresa do setor energético, lança nesta segunda-feira (8) o programa Safira Labs, um espaço de incubação e aceleração de startups. Podem participar do programa empresas de diversos setores. A Safira oferecerá workshops com conteúdo de liderança, pitching day, comunicação, treinamento comercial e mentorias. A melhor startup ganhará uma viagem ao Vale do Silício. Os interessados em participar têm até 1; de dezembro para se inscreverem no .

Aceleradoras
Building Blocks da Saint Gobain: buildingblocks.liga.ventures
Startup Farm: startup.farm
Pipefy: www.pipefy.com
Programa Natura Startups: www.natura.com.br/startups
Programa de Open Innovation da TIM: www.tim.com.br
EDP Starter Brasil: www.edpstarter.com/brasil
Microcamp Startups: promocao.microcamp.com.br/start
Programa de Aceleração da Visa: www.visa.com.br
StartMeUp, plataforma de investimento colaborativo: www.startmeup.com.br
Vetor AG: vetorag.com.br
Anjos do Brasil, investidora anjo:www.anjosdobrasil.net

*Estagiária sob a supervisão da subeditora Ana Paula Lisboa