Trabalho e Formacao

Empresas valorizam cada vez mais estagiários, considerados investimento

O que pode ser visto até mesmo no valor das bolsas (a média nacional ultrapassa R$ 1.000), que aumenta a cada ano. Isso porque os jovens em formação serão os líderes e os funcionários estratégicos do futuro. O lugar desses colaboradores não é mais tirando xerox nem servindo cafezinho

Thays Martins
postado em 21/10/2018 14:35

Hoje, estagiário. Amanhã, CEO


As empresas passam a valorizar cada vez mais estudantes durante estágio, o que pode ser visto até mesmo no valor das bolsas (a média nacional ultrapassa R$ 1.000), que aumenta a cada ano. Isso porque os jovens em formação serão os líderes e os funcionários estratégicos do futuro

Aquele modelo de estagiário que estava na empresa para servir café e tirar xérox ficou para trás. De acordo com especialistas, esse tipo de colaborador em formação tem ganhado cada vez mais destaque nas companhias. Isso porque os gestores começaram a ver o potencial deles. Afinal, quem investe nesses profissionais iniciantes pode formar os líderes e os funcionários estratégicos do futuro. ;Diferentemente do que foi no passado, quando as empresas procuravam alguém que tirava cópias e ficava nos bastidores; hoje, elas buscam uma pessoa que trará inovação e que está ligada ao que acontece no mundo, na política, no esporte, na cultura;, explica Cristiane Adad, psicóloga e pós-graduada em gestão de pessoas e filosofia. Os estereótipos de que o estagiário é culpado por todos os erros e não tem muito a contribuir também têm caído por terra. Até porque as vantagens para o empregador são muitas.

Diferentemente do que foi no passado, quando as empresas procuravam alguém que tirava cópias e ficava nos bastidores; hoje, elas buscam uma pessoa que trará inovação e que está ligada ao que acontece no mundo, na política, no esporte, na cultura.. Cristiane Adad, especialista em gestão de pessoas
;O custo é baixo. Além disso, é uma pessoa ;sem vícios;. A empresa pode treiná-la de acordo com os próprios valores;, explica Giulia Forte, analista de Recrutamento e Seleção do Núcleo Brasileiro de Estágios (Nube). Assim, cada vez mais, estagiários e aprendizes passam a ficar à frente das cortinas. ;Essa imagem do cara que serve cafezinho está se desfazendo;, destaca. ;Se, por um lado, os estudantes têm pouca experiência profissional, por outro lado, chegam ao ambiente corporativo com ânsia de aprender;, completa Cristiane Adad, gestora de RH da CCR Metrô Bahia (concessionária responsável pelo Sistema Metroviário de Salvador e Lauro de Freitas). Vale lembrar que, pela Lei de Estágio, as atividades desenvolvidas devem ser compatíveis com o curso da pessoa. Por tudo isso, as chances de seguir na empresa após a formatura são muito altas. Afinal, o estágio é uma preparação.

Conectados

;As empresas passaram a entender que o futuro delas passa pelo estagiário; que ele vem sem experiência, mas com muita competência agregada, e ele pode ser preparado para assumir postos estratégicos com o passar do tempo;, explica Cristiane. O fato de o perfil dos estudantes ter mudado muito também contribui para a mudança. ;Hoje, eles têm acesso a muito mais informações do que no passado. Isso faz com que sejam menos acomodados. Eles se sujeitam menos a esse papel de só tirar xerox;, diz. Para conseguir se destacar, Giulia Forte esclarece que é preciso transparecer comprometimento. ;Ele deve mostrar seu potencial, o que ele pode fazer, ser interessado. Proatividade é importante;, observa a psicóloga. O mercado tem valorizado mais os estagiários, e isso se reflete até no valor da bolsa paga. Segundo pesquisa, do Nube, os de nível superior recebem, em média R$ 1.002,79 por mês.

Minha experiência


Para jovens estudantes, a oportunidade de se desenvolver na área de formação é o maior ganho do estágio

Oportunidade de aprendizado

Letícia Figueiredo, 21 anos, estudante de relações internacionais no Centro Universitário Iesb, acredita que o estágio só tem a acrescentar à formação. Ela faz estágio desde o 2; semestre e, atualmente, no 7;, está na área de relações institucionais da operadora TIM. ;É extremamente importante para a vida profissional entender como funciona o ambiente de trabalho;, diz. Ela considera que a empresa valoriza o potencial dos estudantes. ;Eu me sinto protagonista. Sou parte da equipe;, afirma. Para conseguir uma vaga, ela deixa a dica: ;Procure um estágio que se encaixe no seu perfil e participe de palestras e empresas juniores.;

De acordo com a gerente de RH da Tim, Renata Pimentel, a empresa só se beneficia com a contratação de jovens como Letícia. ;Nosso maior foco é contribuir para o crescimento deles e também suprir as nossas vagas de início de carreira;, afirma. De acordo com ela, as funções a serem desempenhadas são diversas, mas todas alinhadas com a área de estudo do aluno. ;Ele atua de acordo com a área de formação dele. Ele vai desempenhar o que aprendeu na teoria. Longe daquele conceito de servir café;, esclarece.

Agarre a sua vaga


Para o estagiário, as vantagens de ter esse tipo de experiência durante a graduação ou o ensino médio vão além da remuneração ou de uma possível efetivação. ;Primeiro de tudo, está a inserção no ramo em que se deseja atuar. Em segundo lugar, está o fato de ser um momento para se desenvolver. A faculdade ensina a teoria, o estágio é o espaço de colocar em prática;, afirma Giulia Forte. Para Cristiane Adad, o estudante só tem a ganhar com esse tipo de prática. ;A empresa conta com profissionais experientes, que farão a supervisão. Assim esses aprendizes conhecerão o mundo empresarial guiados por quem entende da área;, afirma. Ser selecionado para uma vaga, no entanto, não é tarefa fácil ; dependendo do curso, o desafio é maior.

De acordo com a Associação Brasileira de Estágios (Abres) dos mais de 8 milhões de estudantes do ensino superior, somente 740 mil estagiam, pouco mais de 9% do total. Pesquisa do Nube demonstrou que os alunos atribuem a baixa participação à pouca oferta e à alta concorrência. Outro levantamento do Centro de Integração Empresa Escola (Ciee) revelou que o número de vagas de estágio no Brasil cresceu 13,4% este ano. As oportunidades para jovens aprendizes aumentaram 11,7%. No total, o país contabiliza 114.599 aprendizes. Chances existem ; em algumas áreas, mais que em outras. Em todas, contudo, é preciso se esforçar a fim de se destacar em meio à multidão.

Para conseguir uma vaga; então, é preciso se esforçar. ;Cada área tem competências específicas necessárias. As empresas escolherão o estudante que se aproxime do que elas precisam. Fazer cursos livres e prestar atenção ao português, por exemplo, faz toda a diferença;, recomenda Giulia. Isso porque uma pesquisa do Nube constatou que mais de 40% dos candidatos são eliminados dos processos seletivos por descuidos na língua portuguesa. Cristiane Adad acredita que, mais do que tudo, é preciso ser interessado. ;Eles buscam profissionais abertos a receber informações, que tenham bom relacionamento interpessoal, senso crítico aguçado e saibam falar sobre diversos temas;, diz.

Conheça a forma reguladora


A Lei n; 11.788/ 2008, conhecida como a Lei do Estágio, regulamenta a categoria. A empresa contratante deve ter um funcionário responsável pela orientação do estudante, enviar relatórios das atividades desenvolvidas para a instituição de ensino, contratar seguro contra acidentes pessoais. Há ainda outras regras: as horas de estágio não devem ultrapassar a jornada de seis horas diárias e 30 semanais; em dias de prova, a jornada deve ser reduzida a metade; além disso, o tempo máximo de permanência numa mesma instituição é de dois anos; a cada ano, o estagiário tem direito a 30 dias de férias. A lei determina ainda a quantidade de estagiários que uma empresa pode ter pela medida de funcionários: uma firma com 25 funcionários ou mais pode ter até 20% da equipe na categoria estágio. Ao desobedecer essas normas, a empresa fica impedida de receber estagiário por dois anos, e a relação passa a caracterizar vínculo empregatício.

Minha experiência

Tales Santos usa um capacete de engenheiro. Atrás há uma construção


Para pôr a mão na massa
No caso do estudante de engenharia civil Tales Santos, 24 anos, o estágio virou emprego fixo. Isso antes mesmo de ele se formar. Ele está no 9; semestre do curso na Universidade de Brasília (UnB) e atua como auxiliar de engenharia na MRV Engenharia. Ele acredita que se destacou exatamente por mostrar interesse em aprender. ;Eu acredito que foi a questão da proatividade. De ver um problema acontecendo e tentar resolver;, justifica. A motivação inicial para buscar o estágio foi ganhar prática. ;Na universidade, a experiência de obra e canteiro fica um pouco a desejar;, diz. ;Eu gostava bastante do que fazia como estagiário. Ficava basicamente no canteiro. Agora, como efetivado, o aprendizado está sendo cada vez maior;, destaca.
Lucas Lisboa está em pé e sorri

Atalho para o sucesso
No caso de Lucas Lisboa, 24 anos, a efetivação veio de forma rápida, logo após a formatura em engenharia mecânica pela Faculdade Educacional de Colombo (Faec), em julho deste ano. Ele entrou na Sotreq, empresa de construção, mineração, energia e petróleo e marítimo, no fim de 2016. ;Desde o início, eles deixaram bem claro que tinham o perfil de aproveitar os estagiários. Havia muitos exemplos de funcionários que tinham começado dessa forma. Então, eu me senti bastante motivado;, lembra. Fora isso, ele conta que o aprendizado dentro da empresa foi fundamental. ;Eles sempre me deixaram bem à vontade. Nunca fiquei de fora, tinha liberdade para opinar.
Leonardo Barreto trabalha em um computador
O aprendizado foi muito grande;, afirma engenheiro de aplicação. A exemplo dele, o ex-estagiário Leonardo Barreto, 30 anos, começou há quatro anos na área de ambiente humano, onde atualmente é analista de treinamento. ;Como estagiário, eu pude ter um ambiente aberto para trazer novidades, fui treinado em relação às minhas qualidades técnicas e tive apoio muito grande;, destaca. Para ele, a efetivação veio como reconhecimento de um bom trabalho. ;O diferencial foi uma plataforma de cursos que tinha vários erros e eu consegui deixar tudo redondinho. Com isso, recebi uma elogio da minha coordenadora dizendo que ela recebia e-mails de reclamação e agora só recebia elogios;, conta o graduado em administração e geografia.

Aprendizes também são investimento


Além do estágio, programas de jovem aprendiz são ótima oportunidade para o jovem se inserir no mercado e para as empresas treinarem a mão de obra estratégia do futuro. Os jovens aprendizes podem ter de 14 a 24 anos e são contratados com carteira assinada. As empresas de médio e grande porte, inclusive, são obrigadas por lei a contarem com profissionais do tipo no quadro. De acordo com Ruy Leal, que tem 35 anos de experiência na capacitação de jovens para o mercado de trabalho e é autor de livros como Condutores do amanhã ; jovens que entram e dão certo no mercado de trabalho, esse modelo é a chance de empresários garimparem talentos. ;A empresa tem dois caminhos para escolher: atende a cota a contragosto considerando que aqueles aprendizes serão gastos no orçamento, ou transformarão aquela obrigação numa oportunidade, olhando-os e preparando-os como futuros colaboradores;, afirma.

Segundo ele, as atividades a serem desenvolvidas são sempre administrativas em paralelo com atividades teóricas. ;O jovem deve ter total interesse em iniciar sua vida no mercado de trabalho. Seja determinado, tenha vontade de aprender e esteja disposto a desenvolver as atividades apresentadas. Essas atitudes comportamentais são valorizadas pelas empresas, já que esses jovens, em geral, têm pouco preparo educacional;, completa. Para conseguir uma vaga, a dica é demonstrar o desejo de trabalhar ali. ;Interesse-se por essa porta de entrada, fortalecendo a sua comunicação escrita e oral, seja determinado, pois é isso o que as empresas procurarão; demonstre vontade de aprender e se desenvolver;, afirma.
O que pode ser visto até mesmo no valor das bolsas (a média nacional ultrapassa R$ 1.000), que aumenta a cada ano. Isso porque os jovens em formação serão os líderes e os funcionários estratégicos do futuro. O lugar desses colaboradores não é mais tirando xerox nem servindo cafezinho



*Estagiária sob supervisão da subeditora Ana Paula Lisboa

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