Trabalho e Formacao

Filho de libaneses aplica o estilo fenício de fazer negócios em lojas no DF

Há 40 anos, ele abriu uma empresa de materiais elétricos com a esposa, que hoje tem três unidades. O tino comercial, ele explica, herdou e aprendeu com os pais, os irmãos e ancestrais

Ana Paula Lisboa
postado em 21/10/2018 15:43
Em 1978, Cecin Sarkis, 67 anos, e Darc Sarkis, 58, eram recém-casados quando abriram juntos uma loja de materiais elétricos com o nome do fundador: a Cecin Sarkis. A esposa, professora, teve de mergulhar num ramo completamente novo para ela. ;Foi difícil. Não tinha nada a ver com o que eu fazia. Então, precisei aprender na prática;, conta. Para Cecin, que tinha experiência na área comercial, foi um pouco mais fácil, mas não deixou de ser algo diferente. ;Eu havia mexido com construção, um restaurante e um mercadinho, mas nenhum deles era a minha praia;, lembra. A parceria entre marido e mulher deu muito certo e frutificou. A empresa começou na 710 Norte, mas, com o tempo, mudou de endereço e se expandiu, atualmente, contando com unidades na 110 Sul, no SIA (Setor de Indústria e Abastecimento) e em Águas Claras. ;O grande segredo para continuar no mercado por 40 anos é a dedicação intensa que mantemos até hoje;, acredita Cecin.
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Além disso, ajuda o fato de o casal não depender apenas desse negócio para se manter. ;A gente sempre investiu em imóveis, o que dá um lastro econômico e uma estrutura melhores. A própria empresa recebe renda de aluguéis;, diz. Para Darc, a fórmula do sucesso envolve três elementos principais. ;A perseverança, a presença constante (estamos na empresa todo dia, o dia inteiro) e o desejo de acertar, fazendo tudo com cuidado, são os fatores principais;, explica. Cecin e Darc trabalham de sábado a sábado e têm tarefas bem definidas: ele cuida da parte comercial e ela, da financeira e do RH. ;Eu gosto de tudo que faço. Talvez, a parte mais desafiadora atualmente seja a gestão de pessoas, no sentido de treinar e corrigir. Antes, era mais fácil, pois os profissionais não mudavam tanto de emprego;, observa. Outros obstáculos enfrentados ao longo de quatro décadas foram as mudanças de moedas e a inflação. Ultimamente, o negócio lida com os efeitos da crise econômica.

;O comportamento do consumidor mudou muito: hoje, as pessoas só vêm na hora da necessidade. Os valores de tíquetes ficaram reduzidos, até porque o povo não tem dinheiro para gastar;, afirma. A empresa fornece produtos não só no varejo, mas também no atacado, para construtoras. A estratégia adotada pelo casal para progredir na crise foi aumentar o leque de mercadorias. ;Não ficamos só com a iluminação e a elétrica: temos seção de tintas, ferramentas, material de jardinagem, utilidades e muito mais. No total, trabalhamos com 30 mil itens;, conta Cecin. Por mês, nas três unidades, Cecin e Darc consolidam 12 mil vendas. Eles não revelam o faturamento, mas admitem que os negócios têm dado certo. Ao longo de 40 anos, o mercado se alterou bastante e, para Darc, a concorrência é uma das principais mudanças. ;Várias empresas chegaram, inclusive algumas grandes, multinacionais. E isso nos motiva a querer nos superar a cada dia, melhorar os atendimentos, oferecer mais produtos;, diz. Para Cecin, apesar de haver mais concorrência, isso não é problema, pois ;há espaço para todo mundo;.

Caráter familiar

Homem e mulher lado a lado em loja com vários lustres ao fundo

;A gente considera a loja como um filho, até porque ela veio antes dos nossos três filhos;, revela Cecin. Os empreendedores são pais das advogadas Bárbara e Débora e do graduado em marketing Cecin Filho. A primeira mora em Aracaju e os outros dois, além de ajudarem os pais na gestão da Cecin Sarkis, são donos do atacadista de materiais elétricos Itatiaia, no SIA. ;Eles estudavam perto e praticamente cresceram dentro da loja, desde os 2 anos de idade ficavam aqui, conhecem a responsabilidade envolvida. Se algum dia nos aposentarmos, vão assumir superbem a empresa;, observa o pai. ;E uma das coisas mais difíceis numa empresa familiar é a sucessão, muitas organizações desaparecem na segunda geração.; Para Darc, ver os filhos trilharem um caminho empreendedor é muito gratificante. ;A gente troca ideias. Nós temos experiência, mas eles têm novas ideias. Meu sonho é de que eles continuem o que começamos;, diz.

;O grande orgulho é ter os filhos muito próximos, trabalhando quase que lado a lado e com a certeza de que são pessoas preparadas para dar sequência a essa história;, completa Cecin. O caráter familiar do negócio acaba por contagiar a relação com os 150 funcionários. ;Não há distanciamento no nosso convívio. Qualquer coisa que tiver que falar, eles falam. Há muita proximidade;, relata Cecin. ;A maior parte dos nossos colaboradores está conosco há muito tempo, alguns há 40 anos. Vários se aposentaram e continuaram trabalhando. Então, são pessoas profissionalizadas e com autonomia para tocar o negócio quando não estamos presentes;, acrescenta. Para garantir atualização, o casal investe sempre em treinamentos para a equipe. ;Eles passam por cursos periodicamente, além de palestras, tanto para conhecer os produtos quanto de motivação.;

Histórico

A tradição da família Sarkis com materiais elétricos surgiu antes mesmo de Brasília. A primeira loja especializada em produtos de iluminação da capital federal, a Elétrica Sarkis, foi aberta em 1957 na Cidade Livre, atual Núcleo Bandeirante, pelas mãos de José Paulo Sarkis. De uma família de 14 irmãos, ele havia atuado na área em Uberlândia antes de vir para o DF. A empreitada por aqui durou cerca de duas décadas, até que ele foi trabalhar no ramo imobiliário. Depois disso, três irmãos dele abriram negócios na área: a Sarkis Material Elétrico e Refrigeração, aberta em 1965 em Taguatinga e, hoje, comandada pelos filhos do fundador e sobrinhos de Cecin; a Cecin Sarkis, iniciada em 1978; e a Sarkis Iluminação, que opera na 710 Norte. Apesar de pertencerem a membros da mesma família, tratam-se de três empresas diferentes e com gestão totalmente separada. ;Meus pais eram libaneses que vieram para o Brasil. No início, meu pai foi para Uberlândia, onde nasci, pois lá moravam parentes e amigos. Ele seguiu para São Paulo e voltou de lá casado com a minha mãe;, conta Cecin.

Depois de Minas Gerais, o casal libanês veio para Goiás, viver em Ipameri até que, por fim, veio para Brasília. ;Fomos dos primeiros a chegar aqui. Eu me lembro do dia a dia de moleque no DF, com aquelas avenidas largas, na época em que estavam enchendo o Lago Paranoá. Tudo estava sendo desmatado; então, o vento vinha e formava redemoinhos que pareciam tufões;, recorda. Cecin considera que muito do que sabe de negócios veio de herança familiar. ;Nossa escola é o sangue fenício, que é o povo melhor mercador do mundo. Também aprendi muito com meus pais, especialmente minha mãe. Nunca vi uma pessoa trabalhar tanto quanto ela. Nós tínhamos uma casa de carne e todos os irmãos ajudavam. Aos 7 anos, eu saia vendendo miúdos de casa em casa e não podia voltar enquanto não vendesse tudo. Eu adquiri a habilidade de vender para não levar cascudo dos irmãos mais velhos. Eu chegava a chorar, e o pessoal comprava de dó, mas não voltava para casa sem vender;, recorda.


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