Ana Paula Lisboa
postado em 25/11/2018 16:18
Quem diria que um jovem que procurou uma receita de pizza na internet, anos mais tarde, seria dono do próprio negócio na área, além de um pizzaiolo de mão cheia? Essa é a história de José Wilson Alves da Silva Júnior, 33 anos, que abriu, em 15 de fevereiro de 2014, a Pizza do Zé, em Águas Claras. ;Minha família nunca foi rica, nem perto disso. O orçamento era apertado. Nosso lazer era comer pizza no fim de semana;, recorda. ;Moramos no fim da Asa Sul a vida toda e, quando meu pai morreu, nos mudamos para o fim da Asa Norte, por volta de 2006. Lá, não achamos nenhuma pizzaria que fosse nosso estilo. Não gosto de nada gourmetizado;, conta.
[VIDEO1]
Foi então que José Wilson pesquisou e testou uma receita em casa. ;Paramos de comprar fora porque eu comecei a fazer todo fim de semana. Fui conhecendo os ingredientes e ajustando minha massa.; A pizza dele se tornou tradição da família. Com o tempo, amigos e conhecidos começaram a encomendar informalmente. Aos poucos, a cozinha de casa se tornou fonte de renda, mas apenas aos fins de semana, pois José Wilson cursava faculdade de engenharia civil. Com a demanda, percebeu que havia uma oportunidade de negócio. ;Eu fiz um curso no Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas), mas não saí de lá muito animado;, diz.
;O consultor deles disse: ;Se você não tiver R$ 1 milhão, nem pense em abrir nada de comida em Brasília;. Aquilo não foi fácil de digerir, fiquei desanimado, mas resolvi ir contra isso;, relata. Para começar a empresa, Zé e a mãe juntaram todas as economias da família. ;Iniciamos bem simples, mas sem dívidas.; O investimento inicial foi de R$ 120 mil.
Prioridades
Quando a empresa estava tomando forma, no primeiro ano de funcionamento, José Wilson acabou trancando a faculdade. ;Eu estava no 8; semestre de engenharia civil quando saí para dar conta da demanda aqui;, conta. Em 2018, retomou os estudos em outra instituição. Atualmente, ele concilia a graduação pela manhã com o trabalho na pizzaria de tarde e de noite. Antes disso, porém, quando estava na fase de planejamento, precisou abrir mão de uma grande oportunidade.
;Eu havia sido selecionado para fazer intercâmbio pelo programa Ciência sem Fronteiras. Estava tudo certo para eu ir para Portugal quando houve um problema com a bolsa;, lembra. Quando a viagem foi cancelada, José Wilson apostou as fichas na abertura da pizzaria: escolheu ponto comercial e estava se preparando para abrir as portas quando recebeu uma proposta tentadora. ;O MEC (Ministério da Educação) realocou as pessoas que iam para Portugal, e eu fui chamado para ir para a Alemanha.; Ele precisou recusar para seguir o sonho de empreender.
Mão na massa
A empreitada exigiu muito esforço, além de coragem. ;Até brinco que, para abrir um negócio, você tem de ser um pouco doido, pois há muita pressão, muita instabilidade. A segurança vem do conhecimento técnico, que eu já dominava;, diz. Para se capacitar, ele participou de um treinamento em São Paulo para entender como servir pizzas em grande escala. ;Fazer em casa é muito diferente. Quando aumenta o volume, a logística é outra.; Depois de inaugurar a loja, a estratégia de divulgação foi nas redes sociais.
O proprietário executa a maior parte das tarefas do negócio: faz as compras, a gestão, cuida da logística de entrega, além de ser pizzaiolo. Nas segundas e nas terças, conta com dois funcionários. Nos outros dias, são três colaboradores. Por muitos anos, a mãe dele, Maria de Lourdes Alves da Silva, 62, trabalhou na Feira dos Importados. Hoje, aposentada, vai à pizzaria todos os dias para ajudar o filho com atendimento. O pai, de quem herdou o nome, era funcionário do Banco do Brasil e morreu há mais de 10 anos. O empresário tem duas irmãs, Lucrécia Zaira e Nathércia Nayara. A segunda mora nos EUA. A outra vive no DF e, quando necessário, vai à loja para ajudar. ;Ela é uma pizzaiola melhor do que a maioria dos que já conheci;, elogia.
A veia empresarial foi herança da mãe e dos avós, que tinham um armarinho no interior do Maranhão. ;Meu pai era anti empreendedorismo. Ele achava que eu tinha de ir atrás de um concurso público, pois se sentia confortável com a estabilidade;, relata. A instabilidade do comércio, ele reconhece, é um desafio. ;Quem não tem estômago para isso sai rapidinho. Eu já sabia que existe uma oscilação enorme, então isso não me assustou.;
Resultados
Todas as pizzas do Zé são feitas com muçarela sem lactose. Há opções de massas grossas e finas, com e sem lactose, e até integral e sem glúten. Ele bolou as opções alternativas para atender a mãe, que sofria com intolerância à lactose e ao glúten, e agradou a clientela. A variedade agradou o público. A pizza deep dish, no formato de uma panela funda e muito recheada, foi uma novidade muito bem recebida. O faturamento da microempresa, cujo forte é o delivery, é da ordem de R$ 700 mil por ano.
José Wilson está satisfeito com os resultados, mas não hesita em frear a velocidade para ajustes. A empresa chegou a atender cerca de 300 pessoas por semana, mas, no momento, passa por reorganização. ;Precisei trocar a equipe de funcionários inteira recentemente por problemas comportamentais;, observa. Para ele, a parte de recursos humanos é um desafio frequente. ;Contratar é muito difícil. Você quase não acha gente com conhecimento técnico. Mas essa não é a pior parte. O complicado é quando não há interesse, responsabilidade;, elenca. ;Fala-se muito em desemprego no país, só que tem muita gente que não quer trabalhar de verdade;, lamenta.
Saiba mais
Pizza do Zé
Shopping Laguna Mall, Avenida Castanheiras, em Águas Claras.
www.facebook.com/pizzadozeh Fone: 3547-3577