Trabalho e Formacao

Plataforma digital otimiza o trabalho de reforço escolar

Estudantes de engenharia da UnB criam ferramenta digital que facilita trabalho de professores particulares

Felipe de Oliveira Moura*
postado em 02/12/2018 19:01
O formato das aulas particulares que três amigos e estudantes do curso de engenharia da computação, na Universidade de Brasília (UnB), davam a alunos do ensino médio era o tradicional. Tiago Lenza, 25 anos, Marcos Yan, 26, e Matheus Rosendo, 25, aproveitavam o conhecimento que tinham nas matérias ditas exatas ; matemática, física, química e biologia ; a fim de atuarem como professores aos interessados em reforço escolar. A dificuldade de encontrar alunos, aliada aos empecilhos como deslocamento, confiabilidade e comunicação ágil, motivou a criação da Colmeia, plataforma que simplifica a contratação de professores particulares. ;Com essa onda de ;uberização;, resolvemos formalizar esse mercado em que, normalmente, o educador não tinha garantia de que iria obter o valor da aula. O pai precisava receber em casa alguém que ele não conhece o suficiente, a partir da experiência de outra pessoa;, afirma Tiago Lenza.
Matheus, com os alunos Gabriel e Victoria, é professor da plataforma criada por ex-alunos da UnB
A partir da concepção da ideia, os jovens partiram para a prática. Cada um dos sócios desembolsou cerca de R$ 2 mil à época, em 2016. Logo nos primeiros meses de serviço lançado, o cenário se mostrava promissor. ;Testamos no mercado e, embora, tivéssemos pouquíssimos clientes, vimos que havia um potencial muito grande;, relembra Tiago. Dois anos após sua criação, a Colmeia está presente em Brasília, Goiânia e São Paulo, com planos de expansão para Rio de Janeiro e Belo Horizonte para o ano que vem. Já são mais de 100 professores cadastrados somente no Distrito Federal ; e uma lista de espera que ultrapassa três mil pedidos.

A plataforma funciona tanto pelo aplicativo quanto pelo site da Colmeia. O interessado escolhe a disciplina e a etapa de ensino para a qual precisa da aula de reforço particular, nos níveis fundamental ou médio. Depois disso, o aluno tem acesso a uma lista de professores, que traz minibiografia, datas e horários disponíveis, além de poder checar a pontuação do docente, feita com base nas avaliações dos contratantes anteriores. O grande trunfo, segundo Tiago, é a praticidade do processo que, desde o agendamento até o pagamento, é feito on-line. Além disso, o sócio-fundador classifica a seleção dos professores como ;bem rigorosa;. Ele conta que os candidatos são avaliados pelo histórico escolar, currículo, entrevista virtual e que os antecedentes criminais são checados para garantir o máximo de segurança aos clientes.

Pais e alunos

A economiária Ludmila Albertini, 42, tinha dificuldade de acompanhar os estudos da filha Júlia, 11, por causa da rotina puxada de trabalho. Foi então que ela optou pela plataforma, com a qual se mostra satisfeita. ;Facilitou a minha vida como mãe, na função de apoiar e de ajudar. Os professores são qualificados, normalmente universitários da UnB;, afirma. As aulas de reforço de Júlia, que está no quinto ano, são pontuais, afirma a mãe. Ocorrem somente em períodos próximos às provas no colégio ou quando a filha apresenta alguma dificuldade. Matemática e português costumam ser as disciplinas requisitadas por ela.

A mãe conta que a filha teve aulas de reforço no formato tradicional, mas que não se adaptava devido ao TDAH (Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade). ;Era um reforço escolar em uma sala com várias pessoas. Minha filha dizia que havia muito ruído na sala, muitas pessoas conversando;, conta. Ludmila conta que, com a plataforma, os professores vão até a casa dela e são mais sensíveis às dificuldades da menina. ;Alguns professores têm um conhecimento sobre o TDAH, não apenas sobre as disciplinas. Eles são atenciosos com ela;, relata. Mãe e filha também fazem inglês duas vezes por semana para melhorar a fluência no idioma.
O gerente nacional da Caixa Econômica Federal, Luiz Roberto Caires, 41, conheceu a Colmeia por amigos e relata que retomou o sonho de estudar a língua inglesa e se tornar fluente. ;Frequentei cursos rápidos e não conseguia me adaptar, porque tinha que remarcar ou cancelar, devido ao trabalho. Sempre tive vontade de voltar e nunca colocava em prática. O aplicativo e a praticidade me fizeram voltar a estudar inglês;, diz. Luiz tem aulas de inglês corporativo duas vezes por semana.

Professores

Engenheiro elétrico pela UnB, Matheus de Moraes descobriu o gosto pela prática docente. Aproveitando a aptidão em matemática e física, ele se candidatou e foi selecionado para dar aulas particulares das disciplinas, as quais ensina na Colmeia há um ano e meio. O professor tinha dado aula em escolas particulares anteriormente, mas optou pela plataforma em função da comodidade no deslocamento. ;Dou aulas somente nos lugares próximos à minha casa e nos horários que posso;, afirma ele, morador da Candangolândia.

Segundo Matheus, contam como grande atrativo no aplicativo o fato de não ter que cobrar os clientes ou correr o risco de não receber pela aula dada devido à inadimplência. O professor tem cerca de seis alunos fixos mensalmente e outros tantos esporadicamente. Não falta trabalho. A cubana Ana Laura Afonso chegou ao Brasil há dois anos e meio para fazer o mestrado em tecnologias química e biológica na UnB. Bioquímica pela Universidade de Havana, ela aproveitou a língua nativa para dar aulas na Colmeia. ;Eu dava poucas aulas, apenas de espanhol. Aprendi o português para dar as matérias que fazem parte da minha formação (matemática, física, física, química e biologia);, conta. Ana Laura mora na Asa Norte e gosta da praticidade que o negócio oferece na comunicação entre professores e alunos. ;Há muita flexibilidade de escolher os horários para trabalhar. Posso mudá-los de um dia para o outro. Tem um chat que consigo falar com os alunos ou pais de última hora, em caso de alguma emergência;, elogia.


*Estagiário sob supervisão de Ana Sá

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