Trabalho e Formacao

Conheça a história da chef do restaurante PiauÍndia

Depois de manter restaurante em casa por oito anos, empresária precisou interromper o trabalho. Há quatro anos, reabriu na Vila Planalto, onde conquista a população local e artistas daqui e de fora unindo a gastronomia nordestina e a indiana

Ana Paula Lisboa
postado em 03/02/2019 16:26
Quem diria que a combinação entre a Índia e o Nordeste brasileiro daria tão certo? A ligação pode não parecer óbvia logo de cara, mas Nicole Magalhães, 40 anos, sentiu que havia uma conexão forte entre essas duas culturas, especialmente no aspecto tempero, em viagem ao país da Ásia Meridional. O resultado foi o restaurante PiauÍndia, cuja história começou há 12 anos na casa da família de Nicole e que, há quatro anos, funciona na Vila Planalto. Por dia, o local, que abre apenas para almoço, recebe até 200 pessoas. Desde o início, a proprietária relata que era comum receber personalidades, inclusive de outros países, como o então embaixador da China. De uns tempos para cá, o espaço tem chamado a atenção pela presença de artistas, como os cantores Caetano Veloso, Ana Vilela, Silva, Tiê, Marcelo Jeneci, Johnny Hooker e Céu.
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A empresa também tem um serviço de catering, atendendo no camarim, no próprio restaurante ou na casa de Nicole, no condomínio Solar da Serra, na região do Lago Sul. Com esse tipo de comodidade, a chef serviu ainda as cantoras Elza Soares e Gal Costa. ;Eu recepciono o artista no aeroporto e a gente monta um banquete;, diz. A visita de Caetano Veloso, a esposa, Paula Lavigne, e os filhos, ocorreu depois do último show dele em Brasília, em dezembro. Nas redes sociais, o casal elogiou o restaurante, considerado por Paula como ;o melhor de Brasília;. Caetano agradeceu a recepção e disse que foi uma experiência ;incrível;. Para Nicole, foi uma grata surpresa. ;Foi um encontro mágico, muito rico. Recebi 25 pessoas no total, principalmente da família dele, depois da meia-noite, quando eles saíram do show. Esse receptivo durou até as 3h30. Foi muito leve;, comenta.
Depois de manter restaurante em casa por oito anos, empresária precisou interromper o trabalho. Há quatro anos, reabriu na Vila Planalto, onde conquista a população local e artistas daqui e de fora unindo a gastronomia nordestina e a indiana

;Um dos filhos pediu carne suína, outro pediu prato com cogumelo, e o Caetano quis um camarão com leite de coco e maxixe. No dia seguinte, recebi o presente mais lindo ao ver que o próprio Caetano elogiou o restaurante. E o produtor me contou que foi ele mesmo que escreveu, não foi nenhum assessor;, conta. ;Fui ver na página dele e ele nunca tinha feito isso com restaurante de Brasília. Então, foi mais do que um prêmio, uma motivação para continuar arrepiando;, brinca. ;Foi muito rico ouvir da Elza Soares, aquela diva maravilhosa, que meu tempero tem axé, tem abundância;, acrescenta. Publicitária, Nicole conta que esse olhar de acolhimento com relação a artistas surgiu da experiência que ela teve trabalhando na MTV. ;É uma galera que rala pra caramba, que vive de hotel em hotel;, diz.
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Histórico

Nicole nasceu e cresceu em São Paulo, mas a origem da família é nordestina. Então, ela passou temporadas da infância em Paratinga (BA), às margens do Rio São Francisco. ;O entretenimento daquela ;renca de menino; nessa região ribeirinha era fazer ;cozinhado;. Fazíamos fogão a lenha com galhos e pedras que a gente achava na roça. Catei muito umbu e tamarindo;, relata. Na família dela, havia muitas cozinheiras bem preparadas, então, por muito tempo, só sobrava para Nicole a parte de lavar a louça. Depois de casada, isso não mudou muito, pois o marido dela, o piauiense Evandro Viana, 48, é formado em gastronomia. ;Eu continuei lavando a louça;, brinca. Então, ela, que veio morar em Brasília em 1999, começou mesmo a se aventurar pelo preparo de refeições após tornar-se mãe. Pensando em ter mais tempo com os três filhos, Nina, 14 anos; Davi, 12; e Flora, 5, Nicole e o marido tiveram a ideia de cozinhar para convidados em casa.
Depois de manter restaurante em casa por oito anos, empresária precisou interromper o trabalho. Há quatro anos, reabriu na Vila Planalto, onde conquista a população local e artistas daqui e de fora unindo a gastronomia nordestina e a indiana
Depois de manter restaurante em casa por oito anos, empresária precisou interromper o trabalho. Há quatro anos, reabriu na Vila Planalto, onde conquista a população local e artistas daqui e de fora unindo a gastronomia nordestina e a indiana

O espaço onde moram é quase uma chácara e tem pé de bacupari, cagaita, araticum, jenipapo e outros frutos. Aproveitando plantas do quintal e juntando a culinária indiana (pela qual Nicole se interessou após passar a praticar ioga) e a nordestina (por causa da origem familiar tanto de Nicole quanto de Evandro), surge o PiauÍndia. No condomínio onde mora, o casal cozinhava para convidados apenas nos sábados e nos domingos, mediante reserva. Lá, o restaurante funcionou por oito anos. ;Já até planejamos a construção da casa com essa intenção, então, temos duas grandes varandas de fronte para um vale. Era uma forma muito gostosa de receber, e minha família participava de todos os processos;, conta. ;Era o modelo ideal de negócio, que dialoga com a economia criativa;, observa. O projeto só foi interrompido quando a legislação falou mais alto.

;Houve uma mudança na Lei de Ocupação Urbana e fomos notificados de que deveríamos parar. Eu já estava com agenda lotada para os próximos três meses. Foi uma ruptura muito forte;, comenta. A partir disso, o PiauÍndia passou um ano e um mês de portas fechadas, até reabrir na Vila Planalto, há quatro anos. ;A gente não queria perder a atmosfera de casa, por isso escolhi esse bairro, de essência nordestina, candanga...; Hoje, Nicole conta com oito funcionários. No início, eram 16. ;Foi um erro de cálculo. A gente vai aprendendo a empreender, no peito e na raça;, admite. ;Empreender envolve muita entrega. Tem que tomar injeção de coragem.;
Postagem que Caetano Veloso fez sobre o restaurante
E, para melhorar nisso, ela aposta em estudar: volta e meia faz curso no Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas). A organização é outra ferramenta que ajuda muito nessa missão. ;Abrir uma porta é muito fácil. Manter-se aberto é que são elas.; Nicole está se descadastrando da categoria Eirele (Empresa Individual de Responsabilidade Limitada) para funcionar pelo Simples Nacional. ;No último ano, nosso faturamento cresceu 10%. E foi nosso menor faturamento, porque estamos num período difícil. As pessoas continuam comendo fora, mas gastam menos para isso;, comenta. Para este ano, as expectativas são boas, e a empresária já tem um novo projeto em mente. Na segunda quinzena deste mês, Nicole planeja começar a abrir também para café da manhã no sábado e no domingo. ;Vai ser um café sonoro, om chorinho, jazz...;

Saiba mais

- Vila Planalto, Acamp. DFL, Casa 2 / 3574-4234
- Funcionamento: de terça a domingo, para almoço

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