Trabalho e Formacao

Brasil tem pior colocação em cinco anos em exame de proficiência em inglês

A falta dessa competência causa perdas em inovação, pesquisa, tecnologia, atualização e competitividade para as empresas. É muito raro que alguém consiga aprender a língua somente com as aulas da escola, por isso, é tão difícil achar profissionais fluentes, mais valorizados pelo mercado

Tayanne Silva*
postado em 03/03/2019 15:59

É hora de elevar a proficiência em inglês


O Brasil teve o pior resultado em cinco anos em exame de proficiência mundial. A falta dessa competência causa perdas em inovação, pesquisa, tecnologia, atualização e competitividade para as empresas. É muito raro que alguém consiga aprender a língua somente com as aulas da escola, por isso, é tão difícil achar profissionais fluentes ; que são valorizados pelo mercado
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Um estrangeiro que deseja visitar o Brasil pode passar por dificuldades caso pretenda se virar por aqui apenas falando inglês. Mesmo tendo sediado eventos de porte mundial, como a Copa e as Olimpíadas, o país tem baixa proficiência no idioma que, hoje, é considerado um código universal. Quando o assunto é o trabalho, não é muito diferente: boa parte dos profissionais brasileiros não tem boas competências na língua ; mesmo que o idioma seja visto, em muitas áreas, como elemento quase obrigatório para crescer na carreira. E o pior: os resultados nacionais em inglês estão decrescendo em vez de subir. Pesquisa da EF (Education First), empresa de educação internacional, avaliou o nível de conhecimento nessa língua estrangeira de 1,3 milhão de adultos de 88 países, onde esse não é o idioma materno. O Brasil caiu da 41; posição (nível baixo), em 2017, para a 53; (nível baixo). Esse foi o pior resultado dos últimos cinco anos.

Luciano Timm, vice-presidente de relações acadêmicas da EF na América Latina há 15 anos, destaca que um dos motivos para o país estar nessa classificação é a falta de entendimento de que a língua inglesa é uma competência básica, como português e matemática. ;Essa ausência se dá, entre outros fatores, pela descontinuidade de ótimas iniciativas, como programas que levam estudantes para o exterior ou disseminam a língua, que era o caso do Ciência sem Fronteiras e do Idiomas sem Fronteiras, entre outros. Países que apostaram em práticas como essa tiveram um salto muito maior na proficiência;, enfatiza. Graduado em relações internacionais pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos), Luciano observa que o resultado é muito preocupante porque o Brasil não tem avançado e há uma necessidade de revisão urgente. ;O país perde em inovação, na área da pesquisa, na descoberta de novas tecnologias que poderiam ser desenvolvidas aqui;, diz.

Luciano Timm representa a EF no Brasil
;Por exemplo, a citação de pesquisadores de estudos globais é em inglês e, se esse domínio não for parte fundamental, como educaremos os universitários? Não estaremos conectados com o restante do mundo;, analisa. De acordo com ele, as empresas também perdem bastante com o resultado, pois deixam de ser competitivas globalmente, de inovar, e de terem acesso a novas formas de gerenciamentos e utilização de produção. ;Não usam também novas tendências que estão sendo aplicadas em outros países e acabam tendo piores resultados no mercado;, diz, preocupado. E os empregadores do país reconhecem essa importância: outro levantamento da EF mostra que 75% das organizações do país afirmam que o inglês é considerado muito útil no trabalho. Assim, essa competência precisa ser valorizada também pelos trabalhadores, já que esse conhecimento pode ser fator decisivo para conseguir ou não uma promoção ou um emprego.
A falta dessa competência causa perdas em inovação, pesquisa, tecnologia, atualização e competitividade para as empresas. É muito raro que alguém consiga aprender a língua somente com as aulas da escola, por isso, é tão difícil achar profissionais fluentes, mais valorizados pelo mercado

DF se destaca

Apesar de a colocação do Brasil ser baixa no levantamento da EF, Brasília sobressai entre as unidades da Federação: a capital federal tem o melhor nível de inglês do país, aparecendo à frente de São Paulo e Rio de Janeiro. ;Esse resultado se deve a ações feitas para a capacitação de servidores por parte do governo, como custear estudo de idiomas, capacitações no exterior, intercâmbios, entre outras iniciativas;, sugere Luciano Timm. ;Isso faz com que exista uma competitividade entre esses alunos, pois precisam melhorar na língua para serem aceitos nesses programas.; Outro motivo é o fato de a população da capital federal ganhar mais que a maior parte do país. ;Há uma correlação de renda da população de Brasília;, avalia Luciano.

Conhecimento abriu portas

Mariana aprendeu inglês para não perder um intercâmbio e reconhece o valor dessa habilidade

Mariana Rodrigues Oliveira dos Santos, 26 anos, sente que há uma grande insuficiência por parte do Brasil para falar e ensinar inglês. ;Eu estudei todo o meu ensino fundamental em escola pública em uma cidade de 5 mil habitantes no Piauí e tive a oportunidade de fazer o ensino médio em uma escola particular. Assim, conheço de perto os contrastes das duas perspectivas. Mas mesmo a escola particular não tinha uma boa base de ensino do idioma;, afirma. Depois que entrou no curso de geoprocessamento do Instituto Federal do Piauí (IFPI), no entanto, ter algum conhecimento de inglês se tornou importante para participar do programa Ciência sem Fronteiras. Então, ela fez um cursinho de inglês instrumental particular. A piauiense fez o Toefl (Test of English as a Foreign Language) na modalidade ITP (Institutional Testing Program), em agosto de 2013, como uma das etapas para a seleção do edital de intercâmbio acadêmico do governo federal.

;O teste varia de 310 a 677 pontos e, na época, eu consegui 480;, lembra. A pontuação foi suficiente para ser aprovada para estudar em Vancouver, no Canadá, mas ela teria, primeiro, que passar por um curso de idiomas lá para, então, ter a chance de ter aulas na universidade. Mariana foi reprovada no primeiro teste de nivelamento. ;Deram um prazo de cerca de dois meses para eu fazer de novo. Caso eu não passasse, eu corriao risco de voltar para o Brasil;, lembra. Graças ao empenho, conseguiu continuar. O ambiente também ajudou. ;Considero que, para aprender uma língua, é necessária uma imersão com pessoas e culturas;, opina. ;Não me considero fluente! Acho que ainda falta muito para isso, mas consigo entender a ;main idea; das frases e manter um diálogo sem maiores problemas;, observa.

A experiência no intercâmbio, então, foi fundamental tanto como um extra no currículo quanto para aprender inglês. O que foi muito útil quando ela precisou fazer o teste de proficiência como pré-requisito para uma seleção de mestrado, em novembro de 2017; obtendo uma boa pontuação (8,8 pontos de um total de 10). Hoje, ela faz mestrado em geografia na Universidade Federal do Piauí (UFPI). ;O idioma me ajudou a encontrar mais embasamento teórico para meu mestrado;, comemora ela que, hoje, atua como pesquisadora de climatologia urbana na Universidade de São Paulo (USP) com bolsa do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico). ;Uma segunda língua é importante para seu crescimento profissional e pessoal. E obtive grandes resultados, experiências e conhecimentos na minha vida graças ao inglês;, celebra.

O idioma será meu ganha-pão

Júlia se apaixonou pela língua: quer ser professora

Júlia Carvalho Oliveira, 23 anos, estuda letras-inglês na Universidade de Brasília (UnB). O objetivo dela é dar aulas de inglês como língua estrangeira e, mais na frente, quando fizer mestrado e doutorado, ser professora numa universidade. ;Quero dar aulas de inglês nas instituições superiores porque adoro trabalhar com o uso correto dessa língua, tenho paciência e vocação;, afirma. Ela considera a língua importante por ser a principal usada para a comunicação entre nações. ;Hoje, ela tem status de língua franca (universal) que tem mais falantes não nativos do que nativos;, diz. A moradora do Guará fez o Toefl, em 2015, e o Teste de Aptidão Linguística (TAL), em 2017, e obteve sucesso. Ela acredita que certificados internacionais como esses são de grande importância porque medem as habilidades de compreensão e de expressão no idioma.

;É essencial para programas de intercâmbio, para os quais é necessário comprovar essas capacidades, caso do Asas para o Mundo;, conta. O edital a qual a jovem se refere é oferecido pelo Centro Interescolar de Línguas do Guará (Cilg), onde ela estuda. Ela também acredita que ir para fora do país é a melhor forma deaprender o inglês por causa da interação da língua cotidianamente. Júlia não se considera fluente, mas está em busca de se aprimorar. ;Eu tenho facilidade para aprender inglês. Gosto da literatura americana;, explica. No ensino médio, ela considerava a matéria fácil. ;Podíamos escolher entre fazer inglês ou espanhol. Então, nem era uma matéria obrigatória;, lembra.

Falta de valorização

Maria Eugênia Sanson, diretora acadêmica de uma escola

Segundo a diretora acadêmica da Cultura Inglesa, Maria Eugênia Sanson, o nível de inglês no Brasil é, de fato, muito baixo em comparação com o de outros países. O resultado, no entanto, não deve ser analisado de forma isolada. ;Se olharmos para os resultados no ranking do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa), veremos que os resultados em matemática, leitura e ciências também são baixos;, afirma. ;E as razões são bem complexas, frutos de vários elementos. E isso nos diz que a educação, de forma geral, não vem tendo um resultado muito positivo;, lamenta. ;Apesar disso, isso nos mostra uma ótima oportunidade de investir na mudança desse cenário.;

Outro fator que explica o baixo desempenho do brasileiro no inglês é o fato de as aulas nas escolas de educação básica (tanto públicas quanto particulares) não serem suficientes para aprender, de fato, o idioma. Mestranda em língua estrangeira pela Universidade de Reading, Maria Eugênia Sanson relata que, durante muitos anos, o ensino de inglês não foi valorizado nas escolas, o idioma era considerado uma disciplina secundária, de menor importância. E os efeitos disso permanecem nos colégios de hoje. ;Os pais que viam a língua como uma importante parte da formação do indivíduo confiaram, então, às escolas de idiomas essa tarefa. Essas instituições ou cursos sempre tiveram expertise nessa área e seus resultados costumam ser muito bons;, diz Maria Eugênia.
Mariana aprendeu inglês a partir de cursinhos, filmes e seriados
Mariana Duarte Figueiredo de Souza, 28, formada em pedagogia pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, se considera fluente em inglês desde os 19 anos. Ela morou em Chicago, onde estudou introdução à psicologia e desenvolvimento infantil. A paulista conta que aprendeu o idioma por meio de cursinhos no Brasil. As aulas do colégio tiveram pouco efeito. ;Não lembro de nada de inglês na época da escola. Não tive quase nada significativo. Aprendi nas escolas de inglês e, acredite, por meio da televisão e de seriados;, observa ela, que hoje dá aulas de inglês. Mariana nunca fez um teste de proficiência, mas se garante na língua. ;Nunca foi algo que achei extremamente necessário. Não tem importância para mim, uma vez que me comunico em inglês e, para mim, isso prova minha competência;, opina.

Última opção

Luciano Luti, coordenador de uma rede de ensino da língua

Luciano Luti, coordenador nacional da United Idiomas, percebe que há desvalorização do inglês nos ensinos fundamental ou médio ; tanto que as escolas de educação básica não conseguem capacitar os alunos para ter fluência. ;E é difícil atingir isso em grupos grandes, pois é preciso praticar a conversação.; O graduado em letras - inglês pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) acredita que quem mais busca o idioma são pessoas que precisam da língua para dar uma melhorada na carreira, para não perderem oportunidades ou são obrigadas por outro motivo. Quem quer alcançar proficiência precisa correr atrás por conta própria, por exemplo, fazendo um cursinho à parte. E é aí que entra outro problema: o brasileiro tende a só procurar aprender esse código como última alternativa, quando realmente precisa.


Como resultado, pouco se usa a língua no cotidiano, inclusive nas universidades. ;Apesar das influências culturais, nós não utilizamos no dia a dia e não temos o costume de ser um país falante no idioma;, aponta Luciano Luti, coordenador nacional da United Idiomas. De acordo com levantamento do British Council, instituição pública do Reino Unido, apenas 5% da população brasileira é fluente no idioma. ;O inglês ainda acompanha o desenvolvimento econômico dessa porcentagem. Então, estamos falando de pessoas que têm acesso à universidade e uma boa renda econômica (classe média ou média alta);, destaca Luti. ;A grande maioria da população não tem acesso à língua, pois o idioma é considerado um item de luxo;, completa.
Lucas deixou o inglês pra lá, mas reconhece a importância
Lucas Rodrigues Freire, 21 anos, é formado em análise e desenvolvimento de sistemas pela Universidade Católica (UCB) e nunca fez curso particular de inglês. ;Busquei aulas gratuitas na internet e algumas matérias que comprei. Mas não consegui aprender, e não tive paciência para continuar tentando;, analisa. Para ele, a única motivação para aprender o idioma seria o fato de ser considerado um item ;obrigatório; para a carreira. ;Sou da área de informática; então, era para eu ter um inglês avançado, pois é muito importante para me dar bem no mercado de trabalho;, admite. O morador de Samambaia considera que tem um nível básico na língua. ;Na escola, não ensinavam quase nada, foram vários anos somente falando do verbo to be;, afirma.

Comparação de gênero

Será que as mulheres falam melhor a língua inglesa do que os homens? Sim! Essa é a constatação aferida em todos os oito índices da EF mundialmente. O fato de as brasileiras terem mais escolaridade que os brasileiros puxa essa conclusão para cima: a pesquisa considerou o fato de as mulheres serem mais propensas a concluir o ensino médio e a frequentar as instituições do ensino superior. Maria Eugênia Sanson, da Cultura Inglesa, observa que o resultado pode ter a ver com características que ela considera femininas. ;As mulheres, de forma geral, são mais motivadas, dedicadas ao estudo e à aprendizagem do idioma, usando diferentes estratégias para se desenvolver;, analisa. Luciano Luti, da United Idiomas, acredita que há também uma questão de som por trás disso. ;O homem brasileiro geralmente tem um tom de voz muito grave e, no inglês, o tom é acima (agudo) ; às vezes, até estridente em momentos de simpatia. Por isso, avalio que é mais fácil para as mulheres passarem a compreender e a se comunicar na língua;, diz.

Aulas de física em outra língua na UnB

O professor Demétrio, ao centro, com alunos

O Brasil tem de correr atrás para recuperar e aumentar o nível de proficiência no idioma. Boas iniciativas nesse sentido existem por aí. Uma delas, na UnB, onde um professor resolveu dar aulas de física em inglês! Demétrio Filho, do Instituto de Física, ofereceu, pela primeira vez, a disciplina física 1 no idioma no semestre de verão da instituição. Alunos de várias graduações cursam a disciplinas, incluindo os estudantes de física, matemática, química e engenharias. ;É importante notar que outros cursos têm esse tipo de proposta de dar aulas em inglês, como letras. Mas dentro da física não tinha uma matéria do ciclo básico totalmente no idioma;, observa.

Demétrio é mestrando em física pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e explica a motivação. ;Eu pensei nessa questão da internalização. Muitos alunos investiram no inglês como segunda língua, mas, quando entram na universidade, param de praticar. Além disso, escolas bilíngues em Brasília estão crescendo e estender essa ideia seria o ideal;, afirma. O professor observa que a dificuldade dos estudantes matriculados na classe não era o idioma em si, mas, sim, o vocabulário, ou seja, o inglês técnico, que é diferente do usado para conversação.

Alunos como Maria Clara Fernandes, 19 anos, que cursa o 3; semestre de engenharia ambiental, adoraram a ideia. Tanto que, apesar de já ter cursado física 1, resolveu ajudar o professor como monitora da matéria para poder acompanhar as aulas. ;Isso é muito importante porque, se a pessoa não sabe inglês, fica muito restrita no mundo dela;, diz. ;Eu tive dificuldade com o linguajar técnico da matéria, mas peguei rápido;, conta. Outro que resolveu se tornar monitor para conferir as aulas em inglês foi Luís Eduardo Curi Serra, 19, estudante do 3; semestre de engenharia mecânica.

Mariana Rizzo, 18 anos, estudante do 4; semestre de química, conta que não sabia que a disciplina seria em inglês quando se matriculou. ;A turma de português estava lotada e não tinha como entrar;, lembra. O idioma, porém, não foi desafio. ;Para mim foi fácil, porque fiz inglês desde pequena e também já fui para exterior por turismo. A minha dificuldade foi na física mesmo;, afirma. Rafael de Oliveira, 21 anos, estudante do 2; semestre de engenharia química, percebe a importância da iniciativa. ;Caso siga área acadêmica, eu terei que produzir textos em inglês; então, é uma boa ajuda;, elogia.

;Eu já tinha sido reprovado nessa matéria duas vezes em português. Quando vi que tinha me matriculado na turma de inglês, foi um baque;, conta Calebe Velasco, 21 anos, do 4; semestre de química licenciatura. Desta vez, porém, ele conseguiu terminar o semestre aprovado. ;Eu sei um pouco de inglês, mas fiquei mais preocupado com termos técnicos em inglês da disciplina. Mas nós tivemos ajuda do professor, dos meus colegas e dos monitores;, relata. ;O incrível é que acabou sendo uma maneira mais fácil para mim;, afirma.

Perguntas para

A falta dessa competência causa perdas em inovação, pesquisa, tecnologia, atualização e competitividade para as empresas. É muito raro que alguém consiga aprender a língua somente com as aulas da escola, por isso, é tão difícil achar profissionais fluentes, mais valorizados pelo mercado

Carina Fragozo, graduada em letras pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC- RS), autora do livro Sou péssimo em inglês ; tudo que você precisa saber para alavancar de vez o seu
aprendizado, dona do canal do YouTube English in Brazil
Qual o objetivo do livro?
Sempre quis escrever um livro! Por causa da visibilidade do meu canal do YouTube, recebi convite da editora para participar da série Sou péssimo em. Na obra, cito os fatores pelos quais o brasileiro costuma ser péssimo em inglês. Então, uni o meu conhecimento acadêmico com à experiência com o grande público para dar dicas práticas. O meu livro é um guia para estudar inglês, é como se fosse um coach. Não é uma gramática, eu ensino a estudar e como tornar esse processo mais prazeroso.

Quais são os motivos para o brasileiro ser péssimo em inglês?
Eu tenho pensado muito sobre esse assunto. Todo mundo sabe que o inglês abre portas em nível nacional e internacional e facilita no mercado de trabalho. Mesmo assim, apenas 3% da população brasileira é fluente no idioma. São vários fatores que explicam isso: há um ensino muito voltado para as regras da gramática e não para a comunicação (isso não necessariamente tem relação com o profissional que dá as aulas, é uma questão do sistema). Além disso, temos pouco tempo para estudar inglês nas escolas, geralmente, 50 minutos. Outro fator: não precisamos falar inglês para viver aqui, quando praticamos, é sempre em contextos artificiais (salas de aulas, reuniões, trabalho, turismo). Outros motivos: temos medo de falar.

Os cursos de inglês no Brasil são ultrapassados?
Há cursos e cursos... Então, não podemos dizer que todos são ruins. O que acontece é que algumas escolas aceitam professores sem formação. Por exemplo, aquele docente que viajou e aprendeu a língua pode ser contratado, mas não necessariamente ele domina a didática. Acho isso bem perigoso.

Quais as dicas para quem vai começar ou retomar os estudos?
Cuidado com anúncios que prometem fórmulas milagrosas para aprender o idioma fluentemente em pouco tempo. Aprender uma língua estrangeira é um processo demorado e requer dedicação. Recomendo estabelecer metas de curto prazo (por exemplo: até semana que vem, quero ser capaz de pedir um café em inglês) e registrar todas as metas que cumprir. Desse modo, você consegue visualizar o desenvolvimento. Em segundo lugar, não tenha medo de errar. Nossos equívocos são evidência de que o aprendizado está em andamento. Em terceiro lugar, é melhor estudar e praticar um pouquinho todos os dias do que estudar por longos períodos apenas aos fins de semana.

Leia!

A falta dessa competência causa perdas em inovação, pesquisa, tecnologia, atualização e competitividade para as empresas. É muito raro que alguém consiga aprender a língua somente com as aulas da escola, por isso, é tão difícil achar profissionais fluentes, mais valorizados pelo mercado

Sou péssimo em inglês: Tudo que você precisa saber para alavancar de vez o seu aprendizado

Autora: Carina Fragozo
Editora: Harpercollins Brasil
128 páginas
R$ 31,60
Pode não parecer, mas estudar inglês não é coisa de outro mundo. Falta de foco, dificuldade de entender o que é falado, medo de errar e falta de afinidade com a língua podem ser pedras no sapato de quem está tentando aprender o idioma mais influente do mundo. Carina Fragozo analisa todos esses problemas e explica as soluções, com dicas práticas para ajudar o leitor a mudar sua relação com a língua inglesa e extrair dela o melhor que puder.

Participe!

Rizia Prado oferece curso on-line de inglês voltado para empreendedores do agronegócio ou profissionais que atuam nesse setor. As inscrições podem ser feitas até 14 de março no site bit.ly/2GqlHpG. A capacitação é gratuita e ajudará o participante a aprender vocabulário técnico da área.


Palavra de especialista

A falta dessa competência causa perdas em inovação, pesquisa, tecnologia, atualização e competitividade para as empresas. É muito raro que alguém consiga aprender a língua somente com as aulas da escola, por isso, é tão difícil achar profissionais fluentes, mais valorizados pelo mercado

Apesar de não ser a língua mais falada do mundo (que é o mandarim), o inglês é uma língua comercial. Muitas pessoas precisam desse idioma para ontem porque estão perdendo oportunidades, como empregos e promoções, pela falta dessa capacidade. O que digo sobre isso é: você se atualiza ou se atualiza! Cada vez mais, haverá menos chances para quem não domina o idioma. No mercado do agronegócio, responsável por 25% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro, o inglês virou um requisito básico. Várias empresas desse setor exigem que o funcionário saiba essa língua. A fluência ainda é tabu, existe o mito de que ser fluente é saber toda a gramática. Mas ninguém lembra as regras gramaticais ao conversar. Ser fluente é se comunicar sem dificuldade, com confiança e entender a mensagem passada (ouvir, entender e depois falar).

Rizia Prado, especialista em inglês agro pela Oxford Seminars

Passo a passo da fluência

Confira orientações de Luciano Luti, coordenador nacional da United Idiomas, Maria Eugênia Sanson, diretora acadêmica da Cultura Inglesa, e Bianca Way, diretora de ensino do Centro de Cultura Anglo Americana CCAA).
; Pratique com frequência. Separe 15 minutos do dia para estudar, faça isso em qualquer lugar que desejar. Para quem está começando, é melhor praticar um pouco diariamente do que por três horas seguidas de uma vez. Quem tem mais proximidade com o idioma pode aprimorá-lo com mais horas de estudo. Quanto mais, melhor!

; Vá às aulas. Para aprender uma língua, é preciso se dedicar, começando por frequentar um curso e manter a concentração nesses momentos. Então, deixe de lado smartphones e tablets, a não ser que seja para consultar expressões.

; Aprimore seu listening. Isso é, dê atenção ao som: a partir de atividades simples, como ouvir músicas, você poderá melhorar o vocabulário. Primeiro, tente entender e preste atenção sem conferir a letra da música; depois, ouça conferindo; por último, ouça sem a letra novamente. Vale lembrar que nem sempre as letras de músicas seguem as normas gramaticais.

; Aposte em filmes e séries. Eles podem ajudar a aprender inglês dando boas risadas! Quando o nível é intermediário ou avançado, e o conhecimento básico está enraizado em você, é possível maratonar essas produções audiovisuais sem legenda (para forçar o ouvido a entender). Caso não seja fácil, ative as legendas no idioma para evitar que as palavras e expressões passem despercebidas. Não necessariamente se deve parar para anotar cada termo desconhecido e pesquisar o significado. O objetivo é aguçar a interpretação e compreender a língua pelo contexto.

; Encontre a turma para praticar. Combine com colegas de trabalho ou amigos para usar a língua em determinadas situações ou horas do dia.

; O poder de artigos, revistas e livros. Essas são outras formas de ter contato com o inglês, escolha uma ou outra palavra que não conhece para verificar no dicionário e expandir seu vocabulário.

; Errar é essencial para aprendizagem. Não tenha vergonha nem medo de cometer erros! Aprender não deve ser motivo de constrangimento nem impedir de continuar tentando.

; Pense em inglês. Como seria aquela frase na língua inglesa?

; O vocabulário. Pegue um papel e anote cinco palavras desconhecidas todos os dias e as mentalize. Em um ano, serão 1.825 palavras conhecidas.

Guia para concurseiros


Rodrigo Berghahn, coordenador da Minds Idiomas, dá dicas para quem precisa dominar o inglês para passar em concursos públicos

- A organização é essencial. Isso porque o concurseiro tem muitas matérias para estudar. Por isso, muitos deles deixam de lado o estudo do inglês que pode ser justamente a chave para passar no concurso. Estude uma hora por dia e, no tempo livre, leia jornais e portais em inglês e veja filmes sem legenda (a não ser que isso ainda não seja possível);

- Não deixe de lado a parte gramatical. Dedique pelo menos 20 minutos diários para estudar a norma culta da língua inglesa. Use os outros 40 minutos para ler textos e praticar interpretação;

- Sabichões também precisam revisar. Quem já sabe bem a língua e se garante nela acaba, por vezes, deixando de estudar esse conteúdo. No entanto, é importante revisar, pois a tendência de esquecer, principalmente, as regras gramais é grande.

- Fique atualizado. A maior parte das questões aborda contextos atuais. Ou seja, fatos que estão ocorrendo na política, na sociedade, no meio ambiente. Isso exige do candidato estar antenado com o que está acontecendo no Brasil e no mundo, ter capacidade analítica e entender o objetivo do texto.

*Estagiária sob a supervisão da subeditora Ana Paula Lisboa


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