Paula Beatriz*
postado em 09/04/2019 14:00
O Comando da Aeronáutica (Comaer) oferece 70 vagas para os Exames de Admissão aos Cursos de Formação de Oficiais Aviadores, Intendentes e Infantaria da Aeronáutica do ano de 2020. Do total de oportunidades, 14 são reservadas para negros. Há 30 vagas para oficiais intendentes, que são responsáveis pela administração na área militar, atuando nos setores de licitações, finanças, material, subsistência, patrimônio e controle. Existem também 15 chances para oficiais de infantaria, que têm como missão executar ações defensivas, ofensivas, especiais e de proteção. Há ainda 25 vagas para aviadores, que serão pilotos da Aeronáutica. As chances para aviadores e intendentes são para ambos os sexos, já as de infantaria são apenas para candidatos do sexo masculino. A formação será ministrada pela Academia da Força Aérea, em Pirassununga (SP).
Trata-se de um curso de nível superior, da fase de Formação do Ensino Aeronáutico. O processo tem duração de quatro anos, em regime de internato. Durante esse período, os selecionados serão cadetes, recebendo remuneração de R$ 1.054, alimentação, alojamento, fardamento, assistência médico-hospitalar e odontológica. Aos concluintes da Formação de Oficiais Aviadores (Cfoav), da Formação de Oficiais Intendentes (Cfoint) e da Formação de Oficiais de Infantaria (Cfoinf), é conferida a graduação de bacharel em administração, com ênfase em administração pública. Os que passaram pelo Cfoav são diplomados também com a graduação de bacharel em ciências aeronáuticas, com habilitação em aviação militar; enquanto os que fizeram o Cfoint se tornam bacharéis em ciência de logística, com habilitação em intendência da aeronáutica. Após a formatura, os cadetes serão promovidos a aspirantes a oficiais da área pretendida, com remuneração inicial de R$ 1.176.
As etapas
O exame é constituído de prova escrita, inspeção de saúde, exame de aptidão psicológica, teste de avaliação do condicionamento físico, procedimento de heteroidentificação complementar e validação documental. A avaliação objetiva é composta de questões de língua portuguesa, física, matemática e língua inglesa. São 64 questões objetivas de múltipla escolha, com quatro alternativas cada. Haverá ainda redação sobre tema da atualidade. Ao todo serão cinco horas e 20 minutos de prova. O teste de aptidão física exige que os candidatos do sexo masculino façam 26 repetições de flexão e extensão dos membros superiores com o apoio de frente sobre o solo, 42 repetições de flexão do tronco sobre as coxas, um salto horizontal atingindo no mínimo 1,8 metros, e corrida de 2.250 metros em 12 minutos. As mulheres precisam fazer 16 repetições de flexão e extensão dos membros superiores com o apoio de frente sobre o solo, 34 repetições de flexão do tronco sobre as coxas, salto horizontal atingindo no mínimo 1,4 metros, e corrida de 1.850 metros em 12 minutos.
Exatas
Professor de matemática e física do Ponto dos Concursos, Henrique de Oliveira Tiezzi conta que funções e geometria analítica estão entre os conteúdos com mais chances de aparecem na prova. ;Esses tópicos, em matemática, são os que mais caem, além de serem aqueles em que os alunos têm mais dificuldade e erram com frequência;, comenta. Na prova de física, a parte de mecânica está mais presente, porém o professor conta que elétrica costuma ser o maior problema para os candidatos. ;A parte de mecânica envolve cinemática, dinâmica e Leis de Newton. Mas as questões de elétrica, em especial eletromagnetismo, estão entre as que os alunos mais erram;, diz. Na hora de estudar, refazer exercícios é importante.
Texto e português
Lucília Garcez, escritora e professora aposentada de letras da Universidade de Brasília (UnB), diz que, geralmente, os temas da redação são mais contemporâneos e envolvem assuntos que estão na mídia. Ela alerta os alunos em relação às principais dificuldades da prova. ;O gerenciamento do tempo é o maior problema. Os candidatos precisam ter disciplina para treinar a escrita no menor tempo possível;, comenta. A escritora reforça que os candidatos precisam exercitar principalmente a concentração e o planejamento de ideias. ;É necessário compreender que a produção de textos é uma atividade complexa, que exige da mente várias habilidades cognitivas simultaneamente;, explica. Fazer e refazer redações é a melhor forma de praticar. ;Quando escrevemos nas situações práticas da vida, temos muito tempo para elaborar os textos, até sentir que eles correspondem a nossos objetivos. Esse processo faz parte da produção;, comenta.
;Para os concursos, a prática durante o preparo vai nos levando à perfeição e isso nos ajuda na hora de produzir um texto em um curto período de tempo;, continua. Conte com um amigo, familiar, professor ou colega que aceite ser seu leitor crítico. ;É importante também marcar o tempo em que você está fazendo o texto. A professora também observa que ler e reler o comando da redação várias vezes é importante para se certificar de que não está faltando nada. ;Identifique o gênero de texto solicitado para não fugir às exigências. Reflita um pouco sobre as características formais e estruturais do gênero pedido;, alerta.
De acordo com o professor de português do Colégio Militar de Brasília (CMB) Albert Iglésia, o conteúdo mais frequente na disciplina é análise sintática, sendo que os tópicos que os alunos mais costumam errar são sintaxe e concordância. ;As regras de concordância merecem uma atenção especial. Em português, observa Albert, praticar fazendo exercícios é o melhor caminho para acertar. ;Nada melhor do que reunir as provas dos últimos cinco concursos, resolver questões, analisar o tipo de abordagem e perceber a frequência com que certos conteúdos vêm surgindo ultimamente;, aconselha.
O que diz o edital
Cursos de Formação de Oficiais Aviadores, Intendentes e Infantaria da Aeronáutica do ano de 2020
Inscrições: encerradas em 28 de março; confira o edital no site ingresso.afaepcar.aer.mil.br
Taxa: R$ 70
Vagas: 70
Salários: R$ 1.054 (durante o curso) e R$ 1.176 (após a conclusão)
Prova: 23 de junho de 2019
Locais: Brasília, Canoas (RS), Campo Grande, Porto Velho, Boa Vista, Manaus, Belém, Parnamirim (RN), Salvador, Curitiba, Recife, Rio de Janeiro, São Paulo, Pirassununga (SP), Belo Horizonte e Barbacena (MG)
>> Passe bem / Português
Violência: presente e passado da história
Vilma Homero
Ao olhar para passado, costumamos imaginar que estamos nos afastando dos tempos da ;barbárie pura e simples; para alcançar uma almejada ;civilização;, calcada sobre relações livres, iguais e fraternas, típicas do homem culto. Um olhar sobre a história, no entanto, põe em xeque esta visão utópica. Organizado pelos historiadores Regina Bustamante e José Francisco de Moura, o livro Violência na História, publicado pela Mauad Editora com apoio da FAPERJ, reúne diversos ensaios que mostram, ao longo do tempo, diferentes aspectos da violência, propondo uma reflexão mais demorada sobre o tema.
O livro é fruto de um ciclo de palestras organizado pelo professor André Chevitarese em 2001, no Instituto de Filosofia e Ciências Sociais (IFCS), da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Na ocasião, profissionais de diversas formações acadêmicas, com estudos focados em diversas temporalidades históricas, apresentaram suas análises. Estiveram presentes historiadores, como Ciro Flamarion Cardoso, Norma Mendes e Francisco Carlos Teixeira da Silva, mas também cientistas sociais, como Cristina Buarque de Holanda, o jurista Nilo Batista, o filósofo Gabriele Cornelli, o teólogo Paulo Nogueira e vários outros pesquisadores interessados em refletir sobre questões como essas. ;Isso nos permitiu traçar uma análise sob múltiplos enfoques, perceber como a violência é um fenômeno multifacetado, com diferentes significados ao longo da história e das diferentes sociedades. Desta forma, esperamos ter um olhar menos autocentrado, procurando compreender realidades diferentes para melhor entender o presente;, explica a professora Regina Bustamante.
Nos ensaios reunidos no livro, podemos vislumbrar como, desde a antiguidade e ao longo da história humana, a violência se insere, sob diversos vieses, nas relações de poder, seja entre Estado e cidadãos, entre livres e escravos, entre homens e mulheres, ou entre diferentes religiões. ;Durante a Idade Média, por exemplo, vemos como a violência se manifesta na religiosidade, durante o movimento das Cruzadas. Ou, hoje, no caso dos movimentos sociais, como ela acontece em relação aos excluídos das favelas. O sentido é amplo. A desigualdade social, por exemplo, é um tipo de violência; a expropriação do patrimônio cultural, que significa não permitir que a memória cultural de determinado grupo se manifeste, também;, prossegue a organizadora. (...)
A própria palavra ;violência;, que etimologicamente deriva do latim vis, com significado de força, virilidade, pode ser positiva em termos de transformação social, no sentido de uma violência revolucionária, usada como forma de se tentar transformar uma sociedade em determinado momento. (...)
Essas variadas abordagens vão aparecendo ao longo do livro. (...)
Na Roma antiga, as penas, aplicadas após julgamento, ganhavam um sentido religioso. Despido de sua humanidade, o réu era declarado homo sacer. Ou seja, sua vida passava a ser consagrada aos deuses. Segundo a pesquisadora Norma Mendes, ;havia o firme propósito de fazer da morte dos condenados um espetáculo de caráter exemplar, revestido de sentido religioso e de dominação, cuja função era o reforço, manutenção e ratificação das relações de poder;. (...)
O historiador Francisco Carlos Teixeira da Silva é um dos que traz a discussão para o presente, analisando as transformações políticas do último século. ;Desde Voltaire até Kant e Hegel, acreditava-se no contínuo aperfeiçoamento da condição humana como uma marcha inexorável em direção à razão. (;) O Holocausto, perpetrado em um dos países mais avançados e cultos à época, deixou claro que a luta pela dignidade humana é um esforço contínuo e, pior de tudo, lento. (...) E, sobretudo, mais de 50 anos depois da II Guerra Mundial, a ocorrência de outros genocídios ; Ruanda, Iugoslávia, Camboja etc. ; leva a refletir sobre a convivência entre os homens nesse começo do século XXI.;
O historiador prossegue: ;De forma paradoxal, a globalização, conforme se aprofunda e pluga os homens a escalas planetárias, é fortemente acompanhada pelo localismo e o particularismo religioso, étnico ou cultural, promovendo ódios e incompreensões crescentes. Na Bósnia ou em Kosovo, na Faixa de Gaza ou na Irlanda do Norte, a capacidade de entendimento chegou a seu mais baixo nível de tolerância, e transpor uma linha, imaginária ou não, entre bairros pode representar a morte.;
Como nem tudo se limita às questões políticas e às guerras, o livro ainda analisa as formas que a violência assume nas relações de gênero, na religião, na cultura e aborda também a questão dos direitos humanos, vista sob a perspectiva de diferentes sistemas culturais.
Da leitura global do texto, só é correto o que se afirma em:
a) O Holocausto e os outros genocídios do século XXI comprovam que a humanidade ainda está vivendo imersa na ;barbárie pura e simples;.
b) A globalização determina ainda mais o acirramento das diferenças, o que diminui o nível de tolerância entre as pessoas.
c) Os ensaios que constituem o livro Violência na História trazem exemplos que enfatizam tanto o lado negativo, quanto o positivo da violência.
d) A busca por uma ;civilização; na qual as relações livres, iguais e fraternas promovam a dignidade humana é um esforço contínuo e lento.
Comentário:
Em A, o Holocausto foi genocídio acontecido no século XX. Em B, o texto afirma que a globalização é acompanhada pelo localismo e particularismo, que promovem ódios crescentes (linhas 54 a 58). Em C, por mais que o livro apresente a face positiva da violência, ele enfatiza os exemplos negativos. Confirma%u2010se a alternativa D no trecho ;a luta pela dignidade humana é um esforço contínuo e, pior de tudo, lento; (linhas 46 a 49).
Questão retirada do concurso para oficiais aviadores, intendentes e infantaria da aeronáutica 2018, comentada pelo professor Barbara Barreto
Gabarito: letra D