Ana Paula Lisboa
postado em 15/04/2019 14:00
A nutricionista Camila Valadão, 28 anos, e o administrador Paulo Valadão, 38, empreenderam para recomeçar a vida em Brasília. Após se preparar por mais de um ano, o casal deixou empregos, vendeu carros, desocupou um apartamento em Águas Claras, enfim, deixou tudo com o objetivo de migrar para a Carolina do Norte, nos Estados Unidos, onde a irmã de Paulo mora. Chegando lá, a dupla não se acostumou e, depois de um mês, retornou ao Brasil. ;A ideia era ir para ficar, estudar um ano e, depois, abrir um negócio lá. Só que vi que não era aquilo... A Camila até desejava ficar, eu que não me adaptei;, explica Paulo, que é natural de Uberlândia (MG). As condições climáticas foram fator decisivo.
;A gente ficou noivo em Nova York, estava -2;C, foi tranquilo. Mas a temperatura lá onde minha irmã mora chega a -15;C no inverno. Então, a gente saía na rua e o vento cortava a cara, era muito frio. E eu perguntei para a Camila: é isso que você quer para a sua vida?;, lembra. ;Foi um baque para mim. Afinal, a gente tinha se preparado por mais de um ano para migrar;, diz Camila, que é brasiliense. Ao voltarem para a capital federal, no começo de 2017, os dois alugaram um apartamento no Noroeste. Ali, perceberam que o bairro ainda em construção poderia ser promissor para o início de um negócio. Além disso, eles precisavam arranjar nova fonte de renda.
Foi então que, inspirada pelo projeto de um primo de Paulo, que tem uma rede de bolos em Minas Gerais, a dupla decidiu abrir uma loja do ramo num dos mais novos setores do DF, que ainda não contava com nenhum do comércio do tipo. ;Esse primo não queria ser franquia, então nos vendeu uma consultoria, nos deu know-how de cozinha, equipamentos e receitas;, conta Paulo. Apesar de Camila ser nutricionista, ela não tinha experiência com esse tipo de produto, então a orientação foi fundamental. ;Quando abri a loja, eu fazia todos os bolos; agora, tenho funcionárias que me ajudam. Mas caí de paraquedas mesmo, não sabia fazer nada e tive três dias de consultoria para aprender;, relata ela. ;Aprendi com a cara e a coragem.; Eles procuraram orientação do Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas) para fazer pesquisa e plano de negócios.
Nascia, assim, em julho de 2017, o Atelier de Bolos. O casal investiu mais de R$ 300 mil em reforma e equipamentos para abrir a loja, que lembra uma casa de bonecas, com tons rosa-bebê e azul-Tiffany, mas com aquele constante cheiro de bolo no forno (que atrai muita gente). Além de vender produtos para levar e fazer entrega por meio do Uber Eats, a casa serve café e conta com espaço para quem quer comer no local. O carro-chefe, explica Paulo, é a qualidade. ;A gente tentou pegar um nicho de mercado que tem aqui. A Asa Norte é cheia de casa de bolo. Então, às vezes, a pessoa vai no banco e compra um só porque passou na frente;, aponta. ;No Noroeste, não. Não tem esse movimento. O morador vem aqui, se o produto não for bom, ele não vai voltar;, diz. ;Temos que fidelizar realmente o cliente para dar certo. E graças a Deus, tem dado certo;, comemora Camila.
Frequentadores como Paulo Fernando Siqueira Lima, 44, são só elogios para a loja e se tornaram figurinha carimbada por ali. O agrônomo mora numa quitinete na comercial da Noroeste com a esposa e vai ao Atelier de Bolos quase que diariamente. ;Eu gosto muito, a qualidade é muito boa, tem muitas opções; O brownie eu acho o melhor de Brasília;, diz. Acostumado a ver muitos negócios abrirem e fecharem no Noroeste, Paulo Fernando acredita que Camila e Paulo não correm esse risco. ;Os que abrem e fecham são mais no amadorismo. Se tiver qualidade e bom atendimento, mantém: as pessoas voltam;, afirma.
Evolução
No primeiro mês, chegavam pessoas para conhecer a loja; no segundo, clientes fidelizados passaram a voltar; no terceiro, as contas se equilibraram; no quarto, o negócio começou a pagar as contas; no sétimo mês, passou a dar lucro. E isso mesmo pagando um aluguel alto por mês: R$ 6.500, contando o condomínio. ;O investimento inicial já se pagou; mas, volta e meia, colocamos algo novo, investimos mais;, conta Camila. Mensalmente, o volume de vendas bruto é de R$ 80 mil. Por dia, são assados 60 bolos ali. O sábado é o dia mais movimentado: quando chegam a sair mais de 120. ;Por dia, temos cerca de 80 vendas;, informa Paulo.
Os resultados deixaram o casal animado para expandir: eles estão se preparando há mais de um ano para lançar uma segunda unidade, no Sudoeste. ;O que falta agora é achar um ponto ideal;, explica Paulo. ;A gente confia na qualidade do nosso bolo;, comenta Camila. ;O nosso é caseiro mesmo, não usa essência. O bolo de cenoura é feito com cenoura mesmo. É de alta qualidade, mas colocamos uma margem de lucro não tão alta de modo que sai mais barato que comprar na padaria;, diz Paulo. Os tradicionais inteiros saem a R$ 18,90; os especiais, a R$ 24,90 (e também é possível comprar só a fatia). Há também a linha premium, com opções mais caras, como naked cake. ;Toda a produção é feita para ser vendida em até 24 horas. Então, tudo é fresquinho, com massa fofinha;, completa Paulo. Boa parte das receitas ainda são as mesmas que Camila aprendeu na consultoria.
É o caso dos tradicionais cenoura, chocolate, coco, fubá, formigueiro, laranja, limão, mesclado, queijo e trigo. Entretanto, ela fez cursos, inventou e trouxe opções novas, como o bolo vulcão (aquele que, quando você parte, vem uma ;enxurrada; de calda) de cenoura com brigadeiro belga, brigadeiro com leite em pó, leite em pó com pasta de avelã e chocolate e red velvet. Mini-bolo, bolo no pote e brownie também fazem sucesso. Graças ao sabor e à alta qualidade, que pode ser percebida na abundância de recheios e caldas, o casal tem conquistado público fora do Noroeste também. ;Às vezes, a gente até se surpreende quando a pessoa conta que veio do Sudoeste, do Lago Norte, da Asa Sul, da Asa Norte;, relata Camila.
;Os clientes chegam pelo boca a boca, porque comeram numa festinha de alguém, ou pelas redes sociais.; Há cinco meses, nasceu Antônio, filho do casal. Camila se afastou das atividades por 40 dias e voltou ao batente. ;Mas, com 20 dias, estava confeitando bolos;, conta Camila. O casal se divide de modo que, em qualquer horário, um dos dois está na loja. Eles percebem que isso faz muita diferença para lidar com um dos maiores desafios que precisam como empreendedores: a capacitação e a dedicação da mão de obra. Camila e Paulo acreditam que os cinco funcionários trabalham mais e melhor com a presença deles. O que resulta num melhor atendimento ao público.
Saiba mais
@atelierdebolosbsb / 3347-8012 / 99666-4749 (WhatsApp)
CLNW 10/11, Bloco C, Loja 3, Noroeste
Funcionamento: de segunda-feira a sábado, das 8h às 20h