Trabalho e Formacao

Conheça o dono do alicate-truck que faz sucesso na 103 do Sudoeste

Em caminhão adaptado, goiano fatura cerca de R$ 20 mil por mês, afiando ferramentas de metal. O trabalho móvel começou este ano; mas ele acumula 15 anos de atuação na área

Ana Paula Lisboa
postado em 06/05/2019 14:00
Quem passa distraído pela comercial da Quadra 103 do Sudoeste pode nem reparar que, no estacionamento, funciona a Afiarte, empresa itinerante de afiação de ferramentas. No entanto, quem precisa desse tipo de serviço vem de longe atrás da habilidade de Roberto Carlos de Oliveira, 52 anos, responsável pelo negócio. É o caso da manicure Maria do Socorro Cruz, que veio do Riacho Fundo com 22 alicates para seu Roberto afiar e gravar o nome. ;Não encontro ninguém que trabalhe bem como ele perto de onde moro. Até já tentei, mas aí não fica do jeito que eu gosto;, conta ela, que é cliente do goiano há cinco anos. Por meio de motoboy, ele faz entregas em regiões como Águas Claras, Vicente Pires e Lago Sul. A cidade de Maria do Socorro não é contemplada, mas ela faz questão de ir atrás dele.
Engenheiro agrônomo, Roberto Carlos pagou a faculdade com esse trabalho
Roberto afia e faz gravações em alicates, tesouras, facas, instrumentos cirúrgicos e odontológicos, serra circular e outras ferramentas de metal. Já são 15 anos trabalhando no ramo. ;Nesse tempo todo, atendi mais de 10 mil pessoas, com certeza;, diz. Até o fim de 2018, ele atuava numa sala comercial na 303 do Sudoeste. Desde o fim de janeiro, passou a atuar num truck. Foi um jeito de cortar custos com aluguel e ganhar mobilidade. ;Eu não precisava mais de um espaço tão grande. E foi melhor assim. Lá, eu ficava escondido. Aqui, toda hora passa alguém. Ganhei clientes;, comemora. Por dia, atende no mínimo 15 pessoas. Diariamente, afia 80 alicates, mas o volume pode chegar a até 120. O espaço do caminhão é suficiente para acomodar maquinário, as ferramentas para afiar em envelopes com o nome dos clientes e ainda sobra espaço para Roberto e o colaborador Deusimar Aparecido Gonçalves Cunha, 44, trabalharem.
Roberto Carlos com o colaborador Deusimar
;Nós somos conhecidos desde crianças porque a fazenda da família dele faz divisa com a do meu pai;, conta Deusimar. Roberto chegou a ter oito colaboradores. Hoje, muitos passaram a trabalhar no ramo como autônomos. Alguns, até na mesma região, sendo concorrentes diretos. Atualmente, o único ajudante dele é Deusimar. ;É muito bom trabalhar com o Roberto, ele tem muita paciência para ensinar, aprendi tudo com ele;, diz. Deusimar recebe 20% dos lucros do negócio. O rendimento bruto mensal da Afiarte varia entre R$ 18 mil e R$ 20 mil. ;E o faturamento só cresce, graças a Deus;, celebra Roberto, que tem dois filhos, de 11 e de 12 anos.

Histórico

Roberto cresceu na roça, em Campinaçu (GO), e deixou a cidade natal para correr atrás do sonho de estudar. ;Saí do interior aos 35 anos pensando em me tornar engenheiro agrônomo. Vim fazer a 5; série do ensino fundamental no DF;, conta. ;Vim ficar na casa de uma tia em Brazlândia, mas oportunidade de emprego era muito difícil porque tudo que eu sabia fazer era na fazenda, trabalho braçal;, diz. Roberto também ajudou as duas irmãs dele a virem para a capital federal. ;Eu vi uma oportunidade, pois aqui havia melhores condições de estudo e trabalho;, explica. Hoje, ele se alegra de ver as sobrinhas formadas. ;As três filhas da minha irmã mais nova são graduadas em arquitetura, direito e enfermagem. Para mim, é o maior orgulho;, comenta, satisfeito.
A cliente Maria do Socorro, manicure
A outra irmã de Roberto abriu um salão de beleza em Brazlândia. ;Foi onde tudo começou. Ela não achava quem amolasse bem os alicates;, recorda. Foi por insistência da irmã que ele passou a mexer com isso. ;Passei uma tarde lá, e ela pediu para eu amolar, eu disse que não sabia, mas ela argumentou: você, na fazenda, amola tesoura e faca, acho que você consegue;, relata. ;Da primeira vez, não ficou muito legal. Eu fiz de novo, e minha irmã disse: agora ficou melhor do que o pessoal que amola aqui.; Então, ele pegou martelo, lima triangular e outras ferramentas e saiu para oferecer o serviço nas ruas de Brazlândia. Na primeira tarde, faturou R$ 170. Ele percebeu que aquela era uma boa oportunidade e se tornou afiador profissional.
O trabalho envolve concentração e precisão com as ferramentas
Roberto terminou a educação básica na rede pública e ingressou na graduação em engenharia agronômica na Upis Faculdades Integradas. ;Paguei meu curso com esse trabalho, mesmo afiando ferramentas só aos fins de semana na época. Peguei meu diploma em 2007;, afirma. Na época, ele chegou a cogitar deixar a Afiarte para exercer a agronomia, no entanto, os rendimentos da empresa eram mais interessantes. ;Quando fui procurar emprego na área, queriam me pagar uma média de R$ 3 mil a R$ 5 mil, no máximo. E eu já fazia de R$ 7 mil a R$ 8 mil com os alicates;, explica. ;Eu vi que um trabalho na área da minha faculdade não daria igual. Então, não parei mais, não.; Mesmo assim, os conhecimentos adquiridos durante a graduação não foram em vão: Roberto os aplica na fazenda dos pais.

Além disso, vários conteúdos que viu durante o curso são úteis no negócio: as aulas de marketing e de contabilidade, por exemplo, o ajudam na lida da empresa. Até mesmo o maquinário para afiar instrumentos foi baseado no que viu na formação. ;A gente estudava mecânica para entender máquinas agrícolas. Então, a faculdade me abriu muito a cabeça;, comenta. Ao longo de 15 anos de atuação, Roberto chegou a trabalhar em diferentes regiões do DF. A escolha final pelo Sudoeste se deu pelo poder aquisitivo do público. ;Aqui, as pessoas conseguem pagar R$ 20 para amolar um alicate, que é o valor que cobro.; As mudanças não afetaram a fidelidade da clientela: boa parte o acompanha desde o começo pela qualidade do trabalho dele.

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