Ana Paula Lisboa
postado em 26/05/2019 18:06
A economista Patrícia Olivera, 39 anos, tem experiência em organismos internacionais e trabalhava numa organização social do Ministério da Ciência e Tecnologia quando resolveu largar tudo para empreender de um jeito diferente. ;;Eu sempre fui muito feliz em todas as minhas experiências profissionais, mas sentia uma lacuna;, conta. Por isso, quando Maria Amélia, dona da famosa rede de doces que leva o nome dela, a convidou para gerenciar e ser sócia de uma unidade da doceria no Sudoeste, Patrícia aceitou o desafio na hora. A parceria completou um ano em abril. ;Eu era cliente da Maria Amélia na loja da 308 Sul. A Rafaela, filha dela, ficava muito lá. Eu chegava, conversava, dava sugestões, mostrava o que não estava muito legal. A gente começou a ter uma afinidade muito grande;, conta. Tanto que a proprietária e a filha passaram a procurar Patrícia para pedir ideias. ;Sempre conversávamos e isso virou uma amizade, um vínculo, uma coisa muito gostosa. Depois começamos a falar de filhos, de namoro, de vida;;
Ao longo de 10 anos, desenvolveu-se uma relação de confiança. ;Um dia elas disseram que um ponto muito bom tinha ficado vago no Sudoeste. E me perguntaram: Patrícia, você quer ser sócia? Eu levei um susto. Eu tinha acabado de voltar de licença-maternidade;, lembra ela, que é mãe dois meninos, de 1 ano e de 6 anos. ;Eu cheguei ao meu trabalho e disse: estou saindo, vou ali ser feliz e não volto;, brinca. Apesar da surpresa inicial, um mês depois do convite, a sociedade se concretizava com a abertura da unidade. ;Todos os investimentos e todos os ganhos são meio a meio;, esclarece. E os resultados são motivo para comemorar: a loja recebe 170 clientes pagantes por dia, o que dá um total de cerca de 300 pessoas diariamente. A loja não tem cozinha porque o condomínio não permite; então, todos os produtos são fornecidos pela fábrica da Maria Amélia, que faz entregas ali duas vezes por dia. Os únicos preparos feitos na hora são os da parte de café. Os carros chefes são tortinha de red velvet, bem-casado, café expresso, café coado, soda e chá gelado.
Patrícia fica ali 12 horas por dia de domingo a domingo para garantir que tudo dê certo. ;Eu converso com todo mundo mesmo. Todo mundo me conhece, vem tomar café comigo. A presença constante do dono faz diferença tanto para as funcionárias (porque eu sou o exemplo delas) quanto para os clientes, que sabem com quem falar em caso de qualquer reclamação;, afirma. Clientes como Mariana Sobral, 37 anos, percebem a diferença. ;Gosto muito dos produtos, do ambiente e do atendimento. Já fui em outras unidades e não achei tão boas como esta;, elogia. O contato com Patrícia é um diferencial. ;Ela é simpática demais, conversa com todo mundo. Eu sou de Recife e até brinco que ela não é brasiliense, porque o pessoal daqui é mais fechado;, conta a servidora pública, que frequenta a loja uma vez por semana, muitas vezes com a filha pequena.
Equipe treinada
O faturamento bruto varia entre R$ 55 mil e R$ 60 mil mensalmente. ;Chegamos à maturidade financeira com oito meses;, diz. Os ganhos são tão positivos que o negócio cresceu fisicamente: começou numa loja de 30 m; e, desde 24 de abril, ocupa também o espaço ao lado, passando a contar com o dobro do tamanho. Para conseguir um bom desempenho em pouco tempo, o peso da marca Maria Amélia foi importante.
Por trás desses números também está uma equipe bem qualificada. O time de cinco funcionárias escolhido por Patrícia há cerca de um ano nunca faltou um dia de trabalho. ;Quando eu fui fazer a seleção, as amei de cara. Até brinco que elas que me escolheram.; A gestora foi treinada pela própria Maria Amélia e fez um curso de barista; repassando todos os conhecimentos adquiridos às subordinadas. ;Muito do ;não sucesso; de um negócio vem de falha de comunicação e de não entender os colaboradores. Como posso querer que elas vendam uma torta de pistache, se elas nunca comeram pistache?;, exemplifica.
É por isso que Patrícia fez questão de organizar degustações em reuniões internas para que todas conheçam os produtos e saibam diferenciar e explicá-los aos clientes. ;Sempre me incomodou, como cliente, perguntar sobre um prato, perguntar se o garçom ou quem está atendendo gosta dele e ouvir a resposta ;não sei, nunca comi nada daqui;. Então, foi minha prioridade fazer com que quem trabalha aqui conheça com o que trabalha;, observa. Além de conhecimento técnico para oferecer um bom atendimento, a gestora identifica entusiamos e motivação como primordiais na equipe. ;Não digo que elas são minhas colaboradoras ou funcionárias, digo que são minhas emocionadas porque a gente trabalha com emoção;, afirma. ;As pessoas vêm comer um bolo ou um brigadeiro porque estão chateadas, ou estão na TPM. Se estão felizes e querem comemorar, vêm aqui também. Então, trabalhamos o tempo inteiro com emoções;, explica. ;E um serviço ou produto ruim acaba com a emoção, mata tudo;, completa.
Dedicação
Assim, o padrão de qualidade ali é alto. ;Se eu vejo que o café não ficou bom ou bonito, faço refazer;, diz. A preocupação com a apresentação e o sabor foi tão enfatizada por Patrícia que, hoje, está incorporada também nas empregadas. O zelo é importante, inclusive, para o sucesso da rede Maria Amélia. ;A responsabilidade de vender um produto já conhecido é maior. Não posso servir algo mais ou menos, pois o cliente espera excelência. Se algo dá errado, isso afeta toda a marca;, percebe. A dedicação é um traço da gestão e da personalidade de Patrícia. Filha de uma dona de casa e artista plástica brasileira e de um uruguaio naturalizado brasileiro, ela conta que o pai sempre a ensinou a se esforçar. ;Ele falava: se você vai fazer uma coisa, faça bem-feito, não importa o quê. Então, é se dedicar de corpo e alma ao que você faz;, conta.
Ela também demonstrou inclinação para o empreendedorismo estava presente desde cedo. ;Quando eu tinha 15 anos, eu convenci meu pai a abrir uma lanchonete na garagem de casa, em Taguatinga. Ele era servidor público, vivia para o trabalho e tinha se aposentado. Então, foi um jeito de arranjar uma atividade para ele;, relata. O projeto durou 10 anos. ;Foi uma vivência interessante. É diferente trabalhar com o público, com diferentes pessoas. Eu aprendi, com essa atuação no comércio, que você precisa ter dedicação e saber considerar o outro lado.; Desde cedo, Patrícia conta que imaginava que trabalharia com pessoas. ;Eu pensei em ser aeromoça. Eu era apaixonada por aeroporto e hall de hotel porque tinha muita gente e do mundo inteiro.; Aos 18 anos, ela foi procurar trabalho. ;Meu pai disse: você não precisa. Mas eu precisava sair de casa, ver gente;, explica. E, na Maria Amélia do Sudoeste, essa paixão por contato com um público grande e diverso se tornou realidade.
Engajamento
Apesar de sempre primar pela dedicação, Patrícia diz que ;tudo mudou; quando deixou de ser empregada para se tornar dona de um negócio. ;Tem um olhar diferente. Antes, eu estava no meio do projeto. Eu não tinha contato com o cliente. Aqui, quando entrego uma tortinha, ofereço um serviço de qualidade, vejo a felicidade no rosto das pessoas. Não tem preço lidar com essas emoções;, descreve. Ela acredita que o mais importante para o sucesso de qualquer negócio é sempre identificar o que se pode melhorar e conhecer o que se vende. ;Não penso na concorrência. Penso em fazer um bom trabalho. Se meu cliente saiu satisfeito, é isso que importa;, aponta. Para ela, o apoio da família é essencial. ;Foi isso que me permitiu estar aqui. Tanto para ficar com meus filhos, quanto para me ajudar no trabalho. Quando precisa, meu irmão e minha mãe vêm cá;, diz.
Saiba mais
Maria Amélia do Sudoeste
Quadra 303 do Sudoeste, Bloco C, Loja 40. Telefone: 3026-0083. Funcionamento: de segunda a sábado, das 9h30 às 20h; domingo, das 9h às 19h30