Trabalho e Formacao

Uma mãozinha para escolher a carreira na escola

O Projeto das Profissões, criado por professora de centro de ensino fundamental em Ceilândia, leva trabalhadores de diversas áreas para o colégio. O objetivo? Ajudar alunos do 5º ano a conhecerem diferentes profissões e a verem sentido no estudo. A iniciativa melhorou o engajamento dos estudantes, que passaram a fazer mais as tarefas de casa

Brenda Silva*
postado em 03/06/2019 07:00
Uma chef de cozinha, um delegado, uma bióloga, um advogado e uma fotógrafa. Esses e outros trabalhadores têm visitado o Centro de Ensino Fundamental (CEF) Professora Maria do Rosário Gondim da Silva, em Ceilândia, para contar aos alunos como é a profissão deles. Desde 2017, a orientadora educacional Hivana Nogueira Sampaio coordena o Projeto das Profissões, que tem como público-alvo alunos do 5; ano. Segundo ela, a iniciativa surgiu devido à pouca quantidade de crianças que faziam o dever de casa. ;Eu percebi que os meninos não estavam dando valor ao estudo, porque é algo que a gente não colhe agora, mas, sim, lá na frente. Então, o resultado era uma coisa muito abstrata para eles;, diz.
Turma de alunos do 5º ano do CEF Professora Maria do Rosário Gondim da Silva
Trabalhando há uma década no centro de ensino, Hivana tem 42 anos e é graduada em pedagogia voltada para orientação educacional. Apresentar caminhos e vertentes de uma carreira profissional foi a solução encontrada por ela para motivar os alunos. ;Assim, fica mais fácil para a criança se localizar e entender a importância do estudo, porque não adianta você trabalhar o conteúdo se ela não vê um objetivo naquilo;, explica. James Mayner Silva, 46, é diretor da escola há sete anos e percebe a importância do projeto. ;É muito oportuno, porque os alunos do 5; ano estão na transição dos anos iniciais para os finais do ensino fundamental;, aponta. A partir do 6; ano, em vez de um professor só para a turma, as aulas passam a ser ministradas por educadores de áreas específicas (português, matemática, ciências, entre outros).

Segundo James, as crianças do projeto ;se deparam com a variedade do conhecimento junto à diversidade das profissões;. E isso é positivo para facilitar a transição. O projeto é desenvolvido ao longo de cada ano. Inicialmente, a orientadora apresenta vídeos sobre a importância da educação para seguir uma profissão e pede que a turma entreviste a família. As perguntas se referem ao grau de escolaridade e, caso os responsáveis pelo estudante não tenham terminado o ensino básico, técnico ou superior, a razão do aprendizado incompleto. Segundo Hivana, a maioria dos pais que pararam os estudos relatam que não contaram com circunstâncias favoráveis ou tiveram que ajudar financeiramente a família. O diálogo serve ;para o aluno perceber que ele tem a oportunidade de estudar, de conhecer profissões; e, acima de tudo, ;para que ele não desista;.

Leque de possibilidades

Num segundo momento, a turma elabora uma lista com o que cada um ;quer ser quando crescer;. Com a relação em mãos, é hora de chamar os profissionais citados à escola para esclarecer dúvidas, relatar o que fazem, contar a própria história, de que maneira chegaram ao cargo e quais os benefícios e as dificuldades encontrados. A orientadora cita um exemplo. ;Muitos alunos que têm interesse em seguir a carreira policial querem atuar nas ruas, porque é o que eles conhecem desse trabalho. Então, o profissional da área vem e explica para as crianças quais as outras vertentes;, observa Hivana. ;É como mostrar um leque de possibilidades dentro de uma profissão.;
A orientadora Hivana Sampaio criou o projeto em 2017
Após um estudante expressar a vontade de ser cozinheiro, a chef de cozinha Rosimar Sampaio Correia, 46, foi convidada para apresentar a profissão dela no colégio. ;Eu falei sobre como é o curso de gastronomia e do leque de opções muito grande que a área tem: você pode ser um cozinheiro, um confeiteiro, trabalhar numa padaria...;, relata. Rosimar é formada em gastronomia pelo Centro Universitário Iesb e trabalhadora autônoma no ramo de confeitaria. Segundo ela, a curiosidade da turma pelas atividades de um chef foi grande. ;Acredito que é uma forma de mostrar aos alunos o que realmente é um chef, que não é só chegar lá e cozinhar. Ver o interesse deles nisso foi uma experiência inexplicável;, conta.

Leque de possibilidades

Num segundo momento, a turma elabora uma lista com o que cada um ;quer ser quando crescer;. Com a relação em mãos, é hora de chamar os profissionais citados à escola para esclarecer dúvidas, relatar o que fazem, contar a própria história, de que maneira chegaram ao cargo e quais os benefícios e as dificuldades encontrados. A orientadora cita um exemplo. ;Muitos alunos que têm interesse em seguir a carreira policial querem atuar nas ruas, porque é o que eles conhecem desse trabalho. Então, o profissional da área vem e explica para as crianças quais as outras vertentes;, observa Hivana. ;É como mostrar um leque de possibilidades dentro de uma profissão.;

Após um estudante expressar a vontade de ser cozinheiro, a chef de cozinha Rosimar Sampaio Correia, 46, foi convidada para apresentar a profissão dela no colégio. ;Eu falei sobre como é o curso de gastronomia e do leque de opções muito grande que a área tem: você pode ser um cozinheiro, um confeiteiro, trabalhar numa padaria...;, relata. Rosimar é formada em gastronomia pelo Centro Universitário Iesb e trabalhadora autônoma no ramo de confeitaria. Segundo ela, a curiosidade da turma pelas atividades de um chef foi grande. ;Acredito que é uma forma de mostrar aos alunos o que realmente é um chef, que não é só chegar lá e cozinhar. Ver o interesse deles nisso foi uma experiência inexplicável;, conta.


Resultados

Alunos do 7º ano foram os primeiros a participar do projeto, Pedro está à frente de todos à esquerda

Para Ketelyn da Silva, 12 anos, o contato inicial com o projeto já fez a diferença. ;Foi muito legal o que foi passado até agora, porque deu ideias para a gente escolher o que ser quando crescer;, diz a aluna do 5; ano. Antes da iniciativa, ela queria seguir a carreira de policial militar. Agora, ela mudou de ideia. O primeiro profissional a conversar com a turma de 2019 foi um educador físico, e Ketelyn logo se identificou com a área. ;Depois que eu vi como ele ajuda as pessoas a terem o corpo em forma, resolvi ser professora de educação física também. Policial já não é mais o meu sonho;, afirma.
De dançarina para médica, de engenheira civil para veterinária, de professora para policial. Essas são algumas das variadas transições de objetivos profissionais por quais alunos passaram durante o projeto. Segundo Hivana, a iniciativa também muda a postura das crianças em sala de aula. ;Os estudantes começam a ter outro olhar e, agora, têm mais interesse em fazer o dever de casa;, comemora. Para o diretor do centro de ensino James Mayner Silva, o resultado do projeto é evidente: a criança logo começa a construir e seguir um objetivo. ;Os alunos passam a valorizar mais o conhecimento e a visualizar com mais clareza o que eles querem;, descreve James.

Aluno do 7; ano, Pedro Henrique Santos Lopes, 12 anos, participou do Projeto das Profissões em 2017. Ele mora com a avó em Ceilândia e conta que já quis ser cozinheiro. ;Eu sou fascinado por culinária desde que era pequeno. Eu ajudava e ajudo minha avó na cozinha até hoje;, relata. Depois, a escolha de Pedro mudou. Agora ele está mais interessado no que existe fora do planeta e quer seguir a carreira de engenheiro espacial. ;No ano passado, eu comecei a estudar astronomia em ciências, gostava muito e não perdia uma aula. Então, fui pesquisar e vi que tinha outras áreas como engenharia e matemática;, conta o estudante. Pedro pretende fazer a graduação em uma universidade nos Estados Unidos ou, quem sabe, na Rússia.

Encontre suas aptidões

O Projeto das Profissões, criado por professora de centro de ensino fundamental em Ceilândia, leva trabalhadores de diversas áreas para o colégio. O objetivo? Ajudar alunos do 5º ano a conhecerem diferentes profissões e a verem sentido no estudo. A iniciativa melhorou o engajamento dos estudantes, que passaram a fazer mais as tarefas de casa

Confira cinco dicas para ajudá-lo a buscar a profissão certa. As orientações são do coach e consultor de carreiras Emerson Weslei Dias. Ele é contador e fez MBA em gestão estratégica de pessoas. Ocupa o cargo de diretor de Liderança e Gestão de Pessoas da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac).

1. Exercite o autoconhecimento
Para descobrir uma carreira capaz de trazer satisfação, é preciso saber tudo de que você gosta. Saiba as coisas que te incentivam e dão prazer.

2. Leia sobre assuntos do seu interesse
A vocação pode estar associada aos temas que você ama. A leitura desses conteúdos facilita na hora de escolher a carreira. Mantenha-se sempre informado.

3. Converse com amigos e familiares
Peça a pessoas que convivem com você e o conhecem bem para falar sobre suas melhores características. Às vezes, nós mesmos nem percebemos nossas qualidades. A partir daí é possível encontrar profissões que se relacionam com os traços da sua personalidade.

4. Viaje e conheça outros lugares
Viajar é uma ótima forma de abrir a mente para um mundo de opções. O contato com novas culturas e uma experiência internacional podem fazer com que a visão da realidade mude, além de estimular o próprio conhecimento.

5. Pesquise e estude
Procure saber mais sobre as áreas ligadas ao que você gosta de fazer, converse com profissionais da área, conheça as rotinas e visite as empresas. Dessa forma, é possível entender e vivenciar a experiência profissional de fato. Conhecer a realidade das profissões é fundamental, pois muitas delas se mostram diferentes no dia a dia daquilo que geralmente se imagina.


Evasão no ensino superior

Em 2017, a quantidade de estudantes que ingressaram e desistiram de cursos de graduação no Brasil são próximas: 3.226.249 começaram um curso superior e 3.194.295 tiveram matrículas trancadas ou desvinculadas. Os dados são do Censo da Educação Superior, feito anualmente pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep). Ao buscar na internet, vários sites destacam a relação entre a evasão e a não identificação dos alunos com os cursos escolhidos. A psicóloga Juliana Pasqualini concorda parcialmente com essa afirmação. ;Como docente, acredito que um problema social como a evasão precisa ser olhado na complexidade em que está envolvido;, declara. Segundo ela, a questão não pode ser resumida à falta de orientação profissional, mas a prática pode ajudar: ;Quando você faz uma escolha baseada no conhecimento mais completo sobre como será a profissão, você tem mais chance de ter um vínculo maior com o curso;.


Palavra de especialista

Juliana Pasqualini é formada em psicologia e doutora em educação escolar

Orientação profissional tem valor na escola
;A orientação profissional é um campo de trabalho da psicologia que trata da reflexão com a pessoa sobre a relação dela com o trabalho. Nos últimos anos, essa prática vem substituindo a orientação vocacional, discutida por estudiosos da área com o argumento de que não existe uma vocação inata para cada pessoa. Ao longo da vida, cada um vai desenvolvendo capacidades e interesses que os aproximam de uma área profissional. Para aplicar a prática aos ensinos infantil e fundamental, uma adaptação é necessária. A intervenção quer ampliar o conhecimento de mundo que as crianças têm sobre as possibilidades. Elas têm uma visão muito romantizada, e a orientação profissional traz uma perspectiva realista para elas;.

Juliana Campregher Pasqualini, psicóloga e doutora em educação escolar, professora da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (Unesp)
*Estagiária sob a supervisão da subeditora Ana Paula Lisboa

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