Trabalho e Formacao

Trabalhadores por trás dos games

Nem só de experts em tecnologia e desenvolvimento se faz um jogo. Conheça profissionais de diferentes especialidades que trabalham com esse tipo de produto

Eduarda Esposito*
postado em 10/06/2019 14:00
O mercado de jogos digitais é cada vez mais promissor em Brasília e no Brasil. E, além de oportunidades de negócios, como mostrou a reportagem ;Carreira em jogos;, publicada no caderno Trabalho & Formação Profissional no último domingo (2), gera empregos. Diferentemente do que se possa pensar, o setor tem espaço bem mais do que apenas para especialistas em desenvolvimento ou em tecnologia da informação. Cientistas e engenheiros da computação são grande parte da mão de obra nessa área, mas ela é composta também por ilustradores, músicos, roteiristas, administradores, gestores de projeto, dubladores e muitos outros perfis. Conheça alguns trabalhadores do ramo:
Clarice (E) e Mariana (D), do Ateliê Xinela: pegada de jogos com arte

Socióloga no entretenimento digital

Clarice Cançado Monteiro, 28 anos, se formou em sociologia pela UnB e acabou indo trabalhar numa área improvável para graduados na área, tudo porque o interesse por games falou mais alto. ;Em 2015, eu comecei a estudar jogos por conta própria e só tinha a vontade de fazer, mas não sabia programar, desenhar, nem nada;, admite. De modo autodidata, ela aprendeu a usar softwares de edição de imagens, arte e animação ao longo do ano de 2016. ;Eu dava aula de sociologia e, nas horas vagas, estudava desenvolvimento de jogos focado em arte;, explica.

;Em 2017, eu parti para a programação mesmo, com a intenção só de sobreviver com isso, mas aí eu me identifiquei muito com esse processo e hoje em dia é uma das coisas que mais gosto de fazer dentro dos jogos;, afirma. ;A comunidade de jogos é muito unida aqui em Brasília, que tem muita disposição para compartilhar conhecimentos, a galera se ajuda muito, então aprendi muito dessa forma;, conta. O Ateliê Xinela, fundado em junho de 2018 focado em ;games e coisas maneiras;, de acordo com a descrição da própria empresa, além de desenvolver jogos com uma pegada mais ligada à arte, também funcionam como um ateliê criando materiais artísticos como camisetas, decorações e etc.

Artista plástica graduada na área pela UnB, Mariana Bittencourt , 27, também trabalha no Ateliê Xinela e entrou no mercado de jogos para desenvolver games com caráter artístico. ;Trabalho com ilustração 2D, mas experimentamos um pouco de tudo. Meu curso de formação se alinha bastante com o que faço hoje no ateliê. Nunca fiz nenhuma capacitação no universo dos jogos, mas aprendo muito com amigos da área, além de game jams (competições de jogos) e sendo curiosa na internet;, relata. Mais conhecida como Nana, ela pretende continuar nesse mercado. ;Vejo muito potencial na área.;

O valor da ilustração

Designer Hugo, da Behold Studios

O visual de um jogo pode ser definitivo para o sucesso dele. Há muitos artistas colorindo e trabalhando em cada detalhe do cenário e dos personagens para garantir isso. Entre eles, está o ilustrador Hugo Vaz Aragão Carneiro, 30, sócio da Behold Studios. ;Antes de entrar nesse mercado, eu tinha o desenho como hobby, tinha interesse na parte visual da coisa e decidi entrar no curso;, conta o graduado em desenho industrial pela UnB.

;No meu dia a dia, faço o trabalho de ilustração, que não é exatamente a minha formação, mas, como eu desenhava antes, então, encaixou muito bem;, conta. ;Também produzo logotipo, identidade visual, design de interface;;, elenca. ;Meu processo é basicamente desenhar bastante, rabiscar no papel e, então, levar para o computador com ajuda do Photoshop, minha principal ferramenta;, explica. Outro auxílio é uma mesa digitalizadora, que permite passar o traço da caneta para a tela do computador. ;É a junção da técnica do papel com o potencial que o programa traz;, ressalta.

Roteirista de atalhas virtuais

Tiago trabalha como freelancer

Tiago Rech, 30, fez graduação em jogos digitais na Universidade Feevale, no Rio Grande do Sul. Ele começou a faculdade por querer se tornar roteirista de games. ;Eu iniciei minha carreira trabalhando num estúdio de jogos que ficava ao lado da universidade, de proriedade dos coordenadores do curso, e eles chamavam alguns alunos para trabalhar lá;, recorda. ;No fim de 2012, esse estúdio fechou. E, no ano seguinte, alguns colegas me convidaram para outro projeto;. O roteirista autônomo admite que, muitas vezes, trabalhar só com roteiro acaba ficando inviável, apesar de ser esse o foco dele.

;Quando entrei no curso de jogos, foi pela parte de roteiro, mas, neste mercado, num estúdio pequeno, existem muitas competências imediatas necessárias;, pondera. ;Às vezes, precisam de um programador, de um artista, então você pega a chance que surgir. E, depois, vai indo para o roteiro, aos poucos. Foi que aconteceu comigo;, aponta. ;O desenvolvimento é algo bem particular de cada projeto. Há necessidades bem específicas. Tudo o que é colocado no roteiro terá que acontecer no jogo, se houver uma batalha, terão que programá-la, desenhá-la etc.; ;Vim para Brasília a convite da Behold Studios para desenvolver o jogo Galaxy of Pen and Paper em 2017;, conta. Tiago trabalha como freelancer desde 2018, e já colaborou com a produção de quatro jogos. Os jogos Z, Zoongs, produzidos para Androids (não se encontram mais disponíveis). O Galaxy of Pen & Paper (Steam) e Decor Dream (iOS) e mais três estão em fase de produção.

Arquiteto de jogos

Alexandre se envolveu com o mercado na faculdade

Arquiteto e urbanista graduado pela Universidade de Brasília (UnB), Alexandre Theodoro Assumpção Costa, 29 anos, se envolveu com o mercado de games durante a faculdade. ;Sempre fui muito atraído pelos jogos. Conforme eu fui estudando, percebi que havia uma aplicação muito legal para a arquitetura naquela área;, lembra. ;Então, comecei, ainda na graduação, a estudar sobre o espaço virtual, sobre como poderia desenvolver maquetes e simulações. Assim que me formei, entrei neste setor;, explica.

;Acredito que muitos entram na área de forma amadora, na vibe do ;vamos fazer jogo;, mas sem ter noção de administração, marketing, design;, compara. ;No meu caso, aproveitei o meu background para começar com o pé direito;, conta. ;Como sou de arquitetura, eu sou voltado mais para game design, sou a pessoa que estuda o funcionamento do jogo, as mecânicas, e a própria arte;, esclarece. Hoje, Alexandre é fundador da Level Cap Studios, uma das empresas que utilizam o espaço da Indie Warehouse no Lago Norte.

Quem faz a trilha sonora

Assim como o visual, o som de um game é outro aspecto decisivo, a fim de dar emoção nos momentos certos, sem deixar a música ser enjoativa. Essa é a missão de Pedro de Freitas Neder, 27. ;Eu tenho trabalhado em game jams. A minha missão nesses eventos é cuidar unicamente do som;, conta o estudante do 6; semestre do curso de música da UnB. Pedro admite que, muitas vezes, a função dele poderia ser substituída por bancos de dados de som prontos. ;Têm trilhas prontas, disponíveis e gratuitas na internet. O que é ruim para o meu trabalho;, observa. No entanto, uma música personalizada para um jogo faz a diferença.

Durante game jams, a atividade é um pouco superficial, pois há pouco tempo para desenvolver um game. ;São curtos, não dá para trabalhar muito neles, então acaba que temos que fazer alguma sonoplastia, mas o meu foco é em trilha sonora e é a formação que estou buscando;, conta ele, que também é aluno da Escola de Música de Brasília. ;Faço curso de piano técnico erudito;, diz. ;Estou me aprimorando, mas eu não diria que é essencial ter um diploma para trabalhar com música em jogos. Mas é interessante o conhecimento que se adquire ao longo do curso;, afirma. ;Normalmente, eu não participo muito da parte criativa do jogo, eu me envolvo mais na história e tento ficar a par da estética do jogo, do áudio, para criar a música certa;, explica. A experiência do Pedro com o mercado foi apenas em eventos. ;Ainda não participei de nada voltado para o mercado remunerado;, explica.
Homem branco, sorrindo, com bigode e cabelo muito curto. Usa blusa escura e está sentado em frente a um teclado.

O músico Víctor Hugo Sanches Moreira, 22, é novato no mercado de jogos. ;Eu comecei no ano passado no setor de jogos, mas faço trilha sonora para produtos do audiovisual (vídeos, comerciais, etc) há um ano e meio.; Ele atua como autônomo e é contratado sob demanda. ;Também componho música para concursos e fiz a trilha sonora de um jogo que é projeto de conclusão de curso de um amigo;, conta. O jovem não se restringe ao setor de games: ele o enxerga como mais um ramo em que pode trabalhar. ;Sou autônomo, dependo de demanda e contratos. Faço o que vier;, afirma. Víctor explica a diferença entre produzir para jogos e outros produtos audiovisuais. ;Para games, a trilha tem que ser mais dinâmica. É preciso compor várias coisas que vão se conectar para se tornar algo maior. E, de acordo com as ações do jogador, e o caminho, a música vai mudando também;, informa. ;O cinema também tem suas peculiaridades, como pegar um vídeo e colocar a música no tempo exato para marcar tal ação;, diferencia. De formação, Víctor tem o curso de trilha sonora para cinema e TV, com Eugênio Marcos.

*Estagiária sob supervisão da subeditora Ana Paula Lisboa

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