Conseguir um emprego é visto como um desafio crescente à medida que aumentam os índices de desemprego. No entanto, mesmo num cenário de crise, há setores que estão em amplo crescimento, serão tendência nos próximos anos e necessitam de pessoas qualificadas para assumir as vagas. Para quem está no momento de escolher a profissão ou cogita trocar de carreira, a dúvida que fica é se o melhor caminho é investir numa dessas áreas que estão em alta no momento ou seguir os próprios gostos e aptidões. É o velho dilema entre se decidir pela orientação vocacional ou pelo ramo promissor ou que ;dará dinheiro;. Para especialistas, o que está crescendo deve ser, sim, considerado. No entanto, não se pode deixar de lado fatores como talento e amor pela função, pois fazem toda a diferença.
De acordo com o diretor executivo da Bazz Estratégia e Operação de RH, Celso Bazzola, a maior parte das carreiras que estão em alta e devem crescer nos próximos anos são ligadas à tecnologia. É o caso dos cargos de analista de mídias sociais ; responsável por administrar as redes de uma pessoa ou empresa ;, desenvolvedor mobile ; pessoa que cria softwares e aplicativos para celulares ; e designer de games ; profissional que desenvolve jogos eletrônicos. Celso, que é graduado em administração, explica que, devido à tendência de envelhecimento da população, também há maior oferta de empregos relacionados à saúde da terceira idade. Ele cita como exemplo os cargos de gerontólogo ; profissionais que estudam o envelhecimento da sociedade e podem ocupar diversos cargos na área ; e cuidadores de idosos. Confira todas as áreas promissoras no gráfico Em alta, na página 4.
Hora de fazer a escolha
Quem está planejando a carreira deve ficar atento às profissões que estarão em destaque nos próximos anos. No entanto, esse não pode ser o único critério. ;É muito importante que os jovens acompanhem as tendências do mercado, mas não aconselho que eles escolham a profissão levando só isso em conta;, alerta Bazzola. ;É fundamental considerar a aptidão e o gosto pelo cargo. A vocação deve ser a prioridade. Se o jovem conseguir unir vocação e tendência de mercado, melhor ainda;, afirma Daniel Leandro, gerente de TI do grupo Brasal, concorda que é importante checar quais são as áreas em ascensão. ;É preciso pensar, daqui a 10 anos, como a profissão estará, porque todas estão sofrendo transformações;, diz. Para aqueles que já têm graduação, mas estão sem emprego e se interessaram por alguma função do momento, o conselho é se atualizar ou migrar para alguma das áreas que estarão em alta. ;Uma pessoa com experiência no setor administrativo, por exemplo, pode investir no cargo de conselheiro (profissional que auxilia na gestão de uma empresa);, sugere o diretor da Bazz Estratégia e Operação de RH. Essa é outra profissão que provavelmente estará em destaque nos próximos anos.
Decida com o pé no chão
Apesar de as perspectivas apontarem o crescimento dessas carreiras, Betina Limone, gerente de Desenvolvimento Humano no Banco Cooperativo do Brasil (Bancoob), ressalta que as profissões de destaque podem ser bem diferentes daqui a algum tempo. ;Em função dessas transformações, esses cargos vão mudar muito. A gente não sabe como será daqui para a frente;, alerta. Por isso mesmo, ela afirma que a escolha deve ser calcada no perfil profissional. Por causa de tudo isso, segundo Betina Limone, mais importante do que a escolha da carreira são as competências.
;Tem que ter atenção às soft skills. Toda profissão é importante, mas é preciso desenvolver características comportamentais;, afirma. ;É fundamental ter flexibilidade, capacidade de se adaptar, criatividade, habilidade de tomar decisões rápidas. Assim, o profissional tem chance de ir muito longe, independentemente da área;, completa. Apesar disso, ela ressalta a necessidade de se ter conhecimentos em tecnologia. ;Devido à transformação digital, é preciso ter uma formação complementar. A tecnologia será importante para todas as áreas;, diz.
Apoio à terceira idade
Ao precisar achar uma nova profissão, Márcia Cristina Rodrigues, 34 anos, optou por uma carreira considerada em alta: a de cuidadora de idosos. Ela escolheu a atividade há dois anos por identificação e vocação. ;Por onde passo, eu percebo que os idosos têm necessidade de atenção e cuidado. Muitas vezes, eles são abandonados pela família, e nós (cuidadores) nos tornamos o suporte deles;, conta. Para exercer a profissão, Márcia fez curso técnico de enfermagem no Centro Técnico de Educação Profissional (Cetep). No momento, ela cuida de dona Emília Lobo de Almeida, 88 anos, de segunda a sexta-feira. ;Minha rotina é toda por conta dela. Controlo a medicação, levo para passear, levo ao médico. Estou sempre com ela;, diz.
;A dona Emília é um amor, muito brincalhona;, completa. Márcia afirma que está muito feliz e realizada com a profissão. Antes de ser cuidadora, Márcia atuava como operadora de caixa em um supermercado, mas sofreu um acidente de trabalho e precisou deixar o emprego. ;Eu lesionei o tendão da mão e fiquei três anos parada. Tive de fazer reabilitação no hospital para voltar a trabalhar. Lá, eu comecei a observar a situação de pessoas doentes e me identifiquei com a área da saúde. Decidi, então, fazer um curso técnico de enfermagem;, conta. Na mesma época, ela percebeu que era preciso ter mais profissionais para prestar serviços a idosos.
Atividade mobile
Instrutora de cursos de informática do Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac), Joseneuza de Aguiar aposta que a carreira de desenvolvedor mobile vai crescer muito em um futuro próximo. ;Esse cargo é tendência porque, hoje em dia, todo mundo carrega a vida no celular. Agenda, contatos, e-mails, aplicativos, entre vários outros recursos;, explica a professora de desenvolvimento mobile no Centro Universitário e Faculdade Projeção. Para seguir a carreira, é preciso ter formação ou curso técnico na área de programação e informática. Além disso, Joseneuza chama a atenção para o perfil de um desenvolvedor mobile. ;Deve ser uma pessoa que não tenha resistência nenhuma à tecnologia e esteja disposta a estudar muito porque é preciso se atualizar constantemente. Tudo muda muito rápido nesse ramo; diz.
Um dos alunos dela, Allisson Batista, 23, trabalhou como desenvolvedor de softwares e aplicativos para celulares no ano passado. A empresa em que atuava o alocou em uma equipe de desenvolvedores mobile, e ele gostou muito da experiência. ;Eu trabalho na área de TI, mas meu foco é a web. Sempre quis atuar em mobile, então foi bom ter essa oportunidade;, comenta. ;Acredito que esse ramo vai crescer muito nos próximos anos;, completa. Allison é formado em análise e desenvolvimento de sistemas. Durante os meses em que trabalhou como desenvolvedor mobile, ele fez manutenções no aplicativo da empresa de cartões-alimentação Green Card. ;Era uma demanda de acessibilidade para pessoas que têm dificuldade para ler de perto. Tivemos de adaptar o aplicativo e aumentar a fonte das palavras;, conta. Além disso, ele desenvolveu um aplicativo para o Banco do Brasil.
Tecnologia estratégica
Cientista de dados no Banco do Brasil, Rogério Lopes, 42 anos, está num ramo que cresce a todo vapor. Ele sabe bem como o uso de ferramentas digitais é importante. Formado em computação pela Universidade de Brasília (UnB), Rogério nem imaginava que trabalharia nessa função. ;Em 2015, surgiu um problema para a gente estudar. A inadimplência tinha aumentado muito. Eu tive que prever a recuperação dessas pessoas;, lembra. A reflexão sobre isso acabou levando-o a cursar um mestrado na área. Para quem quer investir no setor, ele deixa a dica: ;Apesar de ser uma formação densa, há uma disponibilidade muito grande de material gratuito na internet. Tem aulas de Stanford disponíveis, por exemplo.;
*Estagiárias sob supervisão da subeditora Ana Paula Lisboa