Luvas de aço e protetores auditivos fazem parte do cotidiano de quem trabalha cortando peças de roupa na fábrica Dona Jô, que tem 64 colaboradores e funciona no Setor de Indústria e Abastecimento (SIA). Thiago Lima, 30 anos, é supervisor de produção, mas já atuou em quase todas as áreas da fábrica, inclusive no corte. Apesar dos riscos oferecidos pelas máquinas, ele conta que se sente seguro no ambiente de trabalho e gosta do que faz: ;Sou apaixonado;. De acordo com Thiago, para evitar acidentes, basta seguir as orientações de segurança do estabelecimento. ;A empresa disponibiliza e sempre cobra o EPI (equipamento de proteção individual). No caso, é o protetor auricular, óculos de proteção e luva de aço, dependendo do setor onde o funcionário trabalha;, explica.
;Outra orientação importante é manter o cabelo preso. Como a gente trabalha com máquinas, acaba que, se você descuida e o cabelo está solto, ele pode ser arrancado pelo motor;, completa. ;Nunca tive muito medo de trabalhar com máquinas. Eu senti receio quando fui transferido para o gerenciamento da produção, porque tive que lidar diretamente com pessoas;, diz Thiago. Embora nunca tenha sofrido um acidente de trabalho, ele conta que já presenciou um. ;Aconteceu com um colega em uma fábrica onde eu trabalhava. Por não utilizar óculos de proteção na hora da expedição (finalização das peças), a agulha quebrou e quase perfurou o olho dele; diz. ;Então, é muito importante que os equipamentos sejam utilizados corretamente.; Ele não percebe motivo para que haja alteração nas NRs. ;A gente usa o que as normas exigem. Não sinto falta de nenhum equipamento a mais ou a menos. Cada setor utiliza equipamentos de segurança específicos, e a gente sempre usa o que a norma obriga;, afirma.
Natália Feitosa, 34, costureira na fábrica Dona Jô, diz se sentir segura no ambiente de trabalho. Ela conta que é sempre muito cautelosa ao utilizar a máquina de costura. ;Nunca aconteceu nenhum acidente comigo. Além de utilizar os equipamentos obrigatórios, sempre tomo alguns cuidados, como não deixar chaves de fenda perto da máquina. Deixo dentro da gaveta ou longe da máquina de costura, porque elas podem provocar vários acidentes;, afirma. No entanto, a costureira já deixou o ofício na fábrica por cerca de um ano devido a dores nas costas. ;Aqui na fábrica tem uma máquina que não é muito comum no Brasil. Até você se acostumar, você sente um pouco de dor nas costas, e eu passei muito tempo costurando nela sozinha. Depois que compraram mais máquinas, decidi deixar a função por um tempo;, comenta.
Lucival Júnior Paguerra é analista na Dona Jô e tio do dono da fábrica, que mora nos EUA. Ele diz que não tem dificuldade em aplicar as NRs no estabelecimento. ;A legislação é clara. A gente procura seguir exatamente a questão da segurança do trabalho, não só em relação aos equipamentos que são exigidos, mas em relação ao conforto dos funcionários;, diz. ;Não é nem pela empresa, mas pela segurança dos trabalhadores;, completa. Ainda de acordo com Lucival, que é formado em administração pública, a empresa não enfrenta dificuldades para fazer com que os funcionários cumpram as exigências. ;A gente procura trabalhar a conscientização sobre a importância desses equipamentos. Até hoje não tive problema nenhum com relação a isso;, diz.
O maior alvo da revisão
Algumas normas regulamentadoras passaram por revisão que estão pendentes de publicação. É o caso da NR n; 12, que estabelece medidas de prevenção de acidentes em ambientes onde se utiliza maquinário, principalmente indústrias. De acordo com Leonardo Osório, procurador do MPT, essa norma já passou por revisão várias vezes ao longo dos anos, sem que fosse descaracterizada. Para o advogado Luís Camargo, a NR n; 12 é o principal alvo da modernização das normas regulamentadoras. ;Os empresários do setor industrial têm que disponibilizar equipamentos seguros, máquinas modernas. E eles não querem investir. O ponto é exatamente esse;, afirma. ;A principal proposta do empresariado hoje é acabar com a NR n; 12;, completa. Na opinião de Daniel Chiode, sócio da Chiode Minicucci Advogados Associados, a revisão da NR n; 12 é algo positivo.
;Estão falando em mexer na NR n; 12, que trata principalmente dos maquinários. Essa norma é um transtorno para qualquer empresa por ser muito burocrática. O parque industrial brasileiro está cada vez mais sucateado porque é muito difícil até mesmo você substituir maquinário;, diz Daniel Chiode. De acordo com ele, isso faz com que o país perca competitividade. ;A gente tem situações de clientes que importaram maquinários e enfrentaram todo o embaraço para trazer as máquinas e botá-las para funcionar. Quando elas finalmente estavam funcionando, tiveram de passar por algumas adequações relacionadas às normas do trabalho, em especial relacionadas a treinamentos que têm de ser dados ao trabalhador. Isso atrasa muito o início da atividade;, explica o advogado graduado pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). ;O trabalhador precisa ser treinado e capacitado, mas há muito espaço para mexer com questões de burocracia;, completa.