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Conheça Raquel Brasil, dona de marca de tênis com a cara de Brasília

Artista resolveu criar marca de calçados funcional e com estética que homenageia o DF. Por mês, chega a vender 500 pares. Ela conquista clientes com criatividade e bom atendimento

Ana Paula Lisboa
postado em 14/07/2019 11:10
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Atriz, cantora, artista plástica e escritora, Raquel Brasil, 46 anos, concentrou todo seu talento artístico e o depositou na Trilha Calçados, marca que criou há 10 anos tendo como foco design e funcionalidade. A estética dos tênis, de autoria de Raquel, se relaciona com a geografia do cerrado e reflete as linhas retas da capital do país. Há modelos, por exemplo, que reproduzem monumentos, como a Ponte JK e o Congresso Nacional. E não faltam opções: com lantejoulas, estampas de animais, renda, e as mais diversas cores, cano alto ou baixo, é possível achar um modelo para cada ocasião. ;Por isso, o slogan é: todas as tribos no mesmo lugar.; Os sapatos, leves e flexíveis, são pensados para caminhadas e se adaptam a terrenos áridos e água (pois secam rapidamente) . ;O objetivo do meu sapato é dar essa sensação de que você está descalço;, aponta.
No total, há mais de 300 modelos, vendidos por revendedores e na loja de 24m;, na 103 Norte, que guarda um estoque de 5 mil pares. ;Meu produto é indicado para correção postural e para trabalhar a reflexologia plantar. As pessoas que revendem Trilha são, em sua maioria, fisioterapeutas, personal trainers, professores de educação física e de dança, que sabem da questão funcional do sapato;, afirma. Os tênis estão disponíveis para todos os tamanhos e idades, a partir de recém-nascidos. ;Não tenho um público-alvo. ;Tem de tudo: homem, mulher, adulto, criança, velho...; O faturamento bruto mensal fica entre R$ 30 mil e R$ 50 mil. ;Varia muito. Sempre que tem férias e feriado, em que mais gente vai para cachoeira, Chapada ou praia, as vendas aumentam. Tem madame do Lago Sul que só vem quando vai viajar para a Europa e precisa de algo confortável e estiloso para andar muito a pé;, conta.
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Entre os clientes ilustres de Raquel estão os músicos João Donato, Tulipa Ruiz, Pepeu Gomes e Morais Moreira. Praticantes de ioga, dança de salão, trilha, musculação, pilates, esportes aquáticos, entre outros, são grandes frequentadores da loja. Os preços das peças variam entre R$ 108 e R$ 198, no caso da bota de chuva de cano alto. O produto mais vendido é a bota fit. ;Ela é um tênis mais altinho, com um acolchoado atrás que elaborei para não machucar quando ando de skate. Mas ela acabou se tornando o xodó da galera da musculação e da Chapada, pois pesa apenas 80g;, descreve. Até chegar ao atual formato dos tênis, foi preciso fazer muita pesquisa e experimentação. ;Eu fiz muita coisa que não deu certo também. No começo, o solado escorregava;, admite. Tudo isso foi importante, porém, para chegar ao modelo ideal. Todas as solas são feitas de PVC reciclado, por um fornecedor de São Paulo.
Brasiliense aprendeu a trabalhar com vendas antes de empreender
O resto da fabricação é feito no DF por um pequeno grupo de quatro costureiras, à mão. Todos os materiais foram pensados para não agredir a natureza. ;Tenho muitos amigos veganos e já pensava nisso desde o início.; Entre os tecidos usados nas peças estão nylon, camurça, lona, hemp, tecido de garrafa pet, cetim e juta. Por tudo isso, a produção não é em grande escala. ;Demora para um tênis ficar pronto. Por exemplo, se minha bota fit de musculação acabou, os clientes já sabem que leva de dois a três meses para chegar mais;, explica.

O valor do atendimento

Além de ser responsável pelo design, pela compra dos tecidos e pela montagem de coleções, Raquel faz sozinha a gestão financeira e as vendas na sede. Ao longo da vida, ela já trabalhou como faxineira, vendedora, atendente em galeria de arte, padaria e locadoras de vídeos. ;Isso me fez aprender muito. A gente faz de tudo nessa vida, mas com dignidade;, diz. Todas essas experiências deram a Raquel grande habilidade em vendas. ;Se o cliente encontra bom atendimento, bom produto e bom preço, ele volta;, percebe. Pela dificuldade de encontrar pessoas tão apaixonadas pelo produto e dedicadas aos clientes como ela própria, a empreendedora optou por trabalhar sozinha na loja. ;Já teve gente que me ligou, disse que não foi bem-atendida e que deixaria para voltar quando eu estivesse ali. Um dos segredos do sucesso é mesmo a presença do dono.;
Modelo que lembra a Ponte JK
;O povo gosta de vir, conversar, pedir ajuda para escolher;, afirma. Ela já chegou a ter franquias em Melbourne, na Austrália, em Fortaleza e no Sudoeste. Todas acabaram fechando. ;O segredo do sucesso deve ser eu mesma;, brinca. No entanto, ela não desistiu do projeto e espera poder criar um modelo de franquia. A brasiliense acredita que, além da simpatia para atender e entender a clientela, é essencial ter criatividade, além de persistência. ;Sou uma pessoa de muita fé e muita fibra. Sempre tive de correr atrás. Faço de tudo para dar certo.;

Como nasce uma ideia

Sapato inspirado no Congresso Nacional

A empresa surgiu do próprio interesse de Raquel por esse tipo de calçado. ;Fui criada em fazenda. Sempre fui moleca, de ir para cachoeira. Sou mais de um estilo rock clássico de usar tênis. Nunca fui patricinha de andar de salto;, descreve. Ela sentia falta de encontrar no mercado sapatos do tipo que pudessem ser usados em qualquer ambiente, algo que ela aplicou na marca própria. ;A Trilha tem uma identidade. E essa identidade sou eu. O mesmo tênis que uso para ir à academia uso para ir à balada. Eu queria algo bonitinho, que desse tanto para ir à cachoeira quanto para usar com vestido;, diz.

Lado artístico

Raquel demonstra inclinação e talento para as artes desde cedo. ;No colégio, ganhava troféus de primeiro lugar em literatura estudantil. Sempre pintei muito e gostei de cores. Com 15 anos, eu tinha uma banda de rock, cantava, pintava quadros para vender;, diz. Toda a experimentação artística era autodidata. ;Tenho preguiça de estudar, essa é a verdade;, brinca. ;Mas a criatividade sempre foi forte em mim;, percebe. ;Tinta era algo muito caro. Então, eu experimentava criar as minhas próprias, misturando cola com tintura de parede e tudo mais;, afirma. ;Aos 15 anos, fui trabalhar num escritório de engenharia como secretária, mas, pelo meu dom de desenhar, acabei fazendo prancha, desenhando estruturas hidráulicas, elétricas;;

Mais tarde, ela se envolveu com teatro. ;Apresentei peça no Teatro Nacional. Escrevi um livro que ainda não publiquei de poemas, poesias e filosofias; Sou muito intensa;, define. ;A minha casa é uma obra de arte.; No entanto, hoje em dia, ela concentra na Trilha toda essa intensidade artística. ;Quando alguém me pergunta se eu ainda pinto, eu respondo que minhas pinturas agora estão nos sapatos. São mais de 300 combinações de cores de solado e tecido, além de estampas que eu desenho;, destaca. ;Apesar de serem coleções ilimitadas, são mini-coleções limitadas numa ilimitação de criação de sapato;, filosofa.

Origem

Raquel Brasil é de uma família tradicional no DF, que já estava na região antes mesmo da fundação da nova capital. ;Meu avô Joaquim Marcelino de Sousa era um dos ;donos; de Brasília, ele tinha uma fazenda onde hoje é o Lago Paranoá, que foi desapropriada;, explica. ;Apesar de eu ser de uma família tradicional daqui, é uma família humilde, o pessoal veio da roça. Sempre trabalhei muito, já fiz de tudo nesta vida;, conta. A mãe de Raquel trabalhava no antigo Ministério da Educação e Cultura e o pai, músico. A empreendedora é a mais velha de três irmãos e tem duas filhas e dois netos.

Saiba mais

Trilha Calçados
SCLN 103, Bloco A, Loja 3
3447-2126 / 98168-1269
trilhabrasil.com

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