Trabalho e Formacao

O futuro dos taxistas

Na avaliação de trabalhadores da área, especialistas e autoridades, a profissão persiste, mas os condutores precisam se atualizar e melhorar o serviço para cativar o público. Os motoristas que perceberam essa mudança já estão surfando a onda da busca por bom atendimento

Correio Braziliense
Correio Braziliense
postado em 28/07/2019 04:08

O Dia do Taxista coincide com o Dia de São Cristóvão, padroeiro dos motoristas, e foi na última quinta-feira (25). A classe será homenageada na quinta-feira (1;), às 19h, no Plenário da Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF), em sessão solene convocada pelo deputado distrital Chico Vigilante (PT). O surgimento dos aplicativos de transporte, como Uber e Cabify, trouxe grande concorrência para a classe, e há taxistas que até acham que não há o que comemorar.
No entanto, muitos outros perceberam na coexistência com motoristas de apps a oportunidade de se aprimorar a fim de conquistar a clientela. Afinal, com uma oferta maior, muitas vezes com preço menor, é preciso se diferenciar para conseguir fidelizar e aumentar a quantidade de público. Qualificar-se para atender passageiros mais exigentes é o caminho encontrado para isso. A boa notícia é que a mudança no nível do serviço oferecido por taxistas já começou, assim essa profissão permanece e continua sendo lucrativa para muitos.

Concorrência
Desde a chegada dos aplicativos de transporte particular ao Brasil, o número de corridas de táxis caiu pela metade. ;O motorista que, antes, fazia em média 10 corridas por dia, agora faz quatro ou cinco;, afirma o presidente do Sindicato dos Permissionários e Motoristas Auxiliares de Táxis do Distrito Federal (Sinpetaxi), Suéd Sílvio. ;Nós estamos sofrendo muito com a concorrência;, diz. ;O que o sindicato está tentando garantir é o espaço do táxi. Em grandes eventos, por exemplo, você tem pessoas saindo de vários lugares: Gama, Taguatinga, Guará... O pessoal vai de app porque é mais barato;, admite.

;Mas, na hora de ir embora, tem muita gente saindo do mesmo ponto, o que estoura a tarifa dinâmica e deixa o aplicativo mais caro que o táxi. É aí que a gente ganha;, afirma. No entanto, para garantir a sobrevivência dos taxistas no mercado, Suéd cobra apoio do governo. ;Muitos pontos de táxi que nós solicitamos não são demarcados ou ficam escondidos. O Estado precisa estar mais ativo, ser mais eficaz nas decisões a favor dos taxistas para garantir nosso espaço, que é tradicional e cultural;, argumenta. ;Se o governo for mais ágil, conseguiremos tornar o táxi mais barato e acessível. O problema é que os aplicativos movimentam dinheiro; o táxi, não;, completa. Além disso, uma queixa comum é a falta de fiscalização para os apps.

De acordo com diretor executivo da Confederação Nacional do Transporte (CNT), Bruno Batista, ;os governos, de uma forma geral, têm uma deficiência na fiscalização de todas as ordens;. Ele cita o exemplo da dificuldade em fiscalizar o transporte clandestino por vãs e ônibus piratas. ;Isso também acontece na questão dos veículos que trabalham por aplicativo. O governo não tem fôlego para fiscalizar todos eles;, diz. O taxista Aldo da Silva concorda. ;Se o Estado fiscalizar as outras plataformas, a tendência é ficar mais caro. Mas não um valor absurdo, passando para o preço justo pelo serviço;, acredita.

;O camarada (por exemplo, que trabalha com Uber) anda com o pneu do carro até dar na lona, não faz a manutenção do carro... Isso interfere diretamente na segurança do passageiro. Para o app, é bom, porque diminui o preço para concorrer com o táxi;, completa. No entanto, o secretário de Transporte e Mobilidade do Distrito Federal (Semob), Valter Casimiro Silveira, garante que há fiscalização. ;Há, sim, inspeção, e ela tem encontrado algumas irregularidades com motoristas que não fizeram a vistoria do veículo, que não têm algum selo obrigatório... Eles são punidos;, afirma. ;Essa sensação de que não há fiscalização é muito mais pela questão do desconforto do motorista de táxi com a concorrência;, avalia.

Numeralha
Números da capital federal

7 mil
Taxistas no DF


3.400
Táxis no DF**

88
Táxis adaptados para
cadeirantes no DF

600 mil
Número estimado de taxistas no Brasil

300 mil
Estimativa de táxis no Brasil

Fonte: Sinpetaxi

**Cada taxista pode ter dois motoristas auxiliares usando o mesmo carro, por isso, há mais pessoas do que veículos licenciados


Requisitos
Documentos necessários para tirar ou renovar licença de taxista:

; CNH
; Certificado de curso do Sest / Senat
; Comprovante de residência
; Atestado médico
; Certidão nada consta criminal (TJDFT)
; Certidão de débitos do GDF
; Certidão trabalhista (TST)
; Declaração de regularidade do INSS ou MEI

Ventos promissores

A profissão de taxista vai acabar? Na opinião do secretário de Transporte e Mobilidade do Distrito Federal (Semob-DF), Valter Casimiro Silveira, a resposta é não. ;Eu acho que, mesmo que os aplicativos tenham vindo para ficar, você não deixa de ter a utilização do serviço de táxi;, afirma. ;Com toda a precariedade das relações de trabalho e a questão do baixo custo desse novo transporte, eu vejo que, em um futuro bem próximo, ele vai ter que ser ajustado na questão do preço para continuar tendo viabilidade;, analisa. ;Agora é uma novidade, todo mundo está tentando ganhar dinheiro com esse novo tipo de atividade, mas, ao longo do tempo, vai se demonstrar que não é um trabalho tão vantajoso assim;, diz.
;A gente sabe que a dificuldade de emprego também gera uma boa procura para poder trabalhar com aplicativos, mas eles não se sustentam ao longo do tempo, por causa da baixa remuneração e do alto custo que os motoristas têm. Então, eu vejo uma perspectiva de futuro para o taxista;, diz. ;Hoje, está em baixa, mas acredito que, em um futuro bem próximo, isso voltará a ser procurado;, completa. Bruno Batista, da CNT, concorda. ;A estratégia de renovação já está acontecendo. Os taxistas passaram a ter uma concorrência muito forte por um tipo de público que opta por serviços que eles não ofereciam;, percebe. ;O que a gente observa hoje é que já há uma preocupação maior em manter a qualidade, oferecer outros tipos de serviço e se portar de uma forma um pouco mais polida;, afirma.

;Basta lembrar que uma das restrições grandes para o público que usa o aplicativo é dispor de um smartphone. Apesar de isso ser uma curva crescente no Brasil, boa parte da população não tem internet para acessar esse tipo de serviço;, aponta. ;Então, eu imagino que é uma profissão que está sofrendo uma mudança de ambiente muito forte, que está tentando se renovar. Qual vai ser o fôlego dessas mudanças? Só o futuro dirá;, comenta. O presidente do Sinpetaxi, Suéd Sílvio, tem boas expectativas com relação ao futuro da profissão. ;O táxi é diferente dos aplicativos. As plataformas digitais não têm a garantia de segurança do Estado. Nos apps, a gente tem pessoas que não são profissionais, mas tem aquilo como bico. São pessoas que, normalmente, tem outro emprego ou estão desempregadas;, diz.

;Os motoristas trabalham sem vínculo empregatício e não têm segurança nenhuma. O passageiro também não tem. Lógico que o diferencial é o preço, por isso, muitas pessoas optam pelos aplicativos;, afirma. No entanto, de acordo com Suéd, a diferença entre o preço do táxi e das plataformas digitais está diminuindo. ;O valor cobrado pelos aplicativos está subindo gradativamente, principalmente devido ao aumento do preço da gasolina, enquanto o do táxi se mantém. O último reajuste de tarifa de táxi foi em 2016. Nunca mais nós tivemos ajuste, não estamos discutindo sobre nem vamos mexer na tarifa;, explica. ;Hoje a diferença de preço já não é tão grande. Antes, ela chegava a 50%. Agora eles são 40% mais barato do que a gente. Além disso, eles têm uma tarifa dinâmica, que pode chegar a ser três vezes maior que a do táxi, quando muitas pessoas estão saindo do mesmo ponto.;

*Estagiária sob supervisão da
subeditora Ana Paula Lisboa

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