Trabalho e Formacao

Quer passar no concurso de diplomatas? Confira dicas de especialistas

As inscrições vão até 12 de agosto. Concurso é considerado um dos mais difíceis do país. O salário é de R$ 19 mil

Tayanne Silva*
postado em 05/08/2019 14:00
Se você é graduado em qualquer área, quer ter experiência fora do país e, ao mesmo tempo, ser funcionário público, a carreira de diplomata pode ser uma boa opção. O edital para interessados nas 20 vagas oferecidas pelo Ministério das Relações Exteriores, o Itamaraty, foi lançado. Entre as oportunidades, há quatro reservadas para negros e uma, para pessoa com deficiência. Os selecionados começarão no cargo de terceiro-secretário, com remuneração inicial de R$ 19.199,06. Antes disso, precisam passar pelo Curso de Formação de Diplomatas do Instituto Rio Branco (IRBr), com duração de três ou quatro semestres. Neste ano, a banca organizadora, que costumava ser o Centro Brasileiro de Pesquisa em Avaliação e Seleção e de Promoção de Eventos (Cebraspe), foi substituída pelo Instituto Americano de Desenvolvimento (Iades).
Heloísa, recém-formada em relações internacionais,fará o concurso
O concurso é, reconhecidamente, um dos mais difíceis do país, com uma série de etapas. Por isso, é preciso se dedicar com afinco aos estudos para passar. A primeira fase trará 73 questões de certo ou errado de língua portuguesa, língua inglesa, história do Brasil, história mundial, política internacional, geografia, economia direito e direito internacional público. A segunda etapa é discursiva: o concurseiro terá que produzir uma redação de 65 a 70 linhas e responder a duas questões de interpretação, de análise ou de comentário de textos. Os itens dessa etapa poderão envolver os temas das disciplinas português, línguas (inglesa, espanhola e francesa), história do Brasil, geografia, política internacional, economia, direito e direito internacional público.

Heloísa Valença, 26 anos, graduada em relações internacionais pela Universidade de Brasília (UnB), concorrerá ao cargo. Ela se interessou pelo concurso quando fez estágio no Itamaraty. De olho numa vaga, a jovem estuda cerca de 12 horas por dia. ;Eu deixei meu emprego como atendente ao cliente para me preparar. Faço exercícios em plataformas on-line, assisto a videoaulas e troco informações com amigos. Também escolho textos e depois traduzo para outras línguas;, afirma. Para interessados no concurso como Heloísa, Jean Marcel Fernandes, coordenador científico do curso de diplomatas do Gran Cursos Online, explica que a prova exigirá do candidato muito estudo.

;A banca busca um candidato bem informado, que tenha bom senso, se expresse bem por escrito e oralmente;, analisa. ;É necessário ter tempo, dedicação e disciplina. O conteúdo do exame é muito da área de humanas. Então, um candidato que tem um conhecimento social mais aprofundado ganhará mais vantagem;, afirma. Jean Marcel Fernandes é diplomata há mais de 19 anos e sugere que os candidatos priorizem conteúdos que considerem como a pedra no sapato deles antes de passar para outros. ;Faça um mapeamento do que você tem dificuldade. Se você já conhece a disciplina, é uma vantagem. Dedicar-se mais àquelas que não sabe ou não tem aptidão é se diferenciar do seu concorrente;, diz. ;A explicação para isso é que muitas pessoas não estudam o que não se dão bem porque é mais chato;, observa.

Dicas específicas

Jean é formado em direito pela Universidade de São Paulo (USP) e prevê como os conteúdos das matérias de direito e direito internacional e política internacional podem ser cobrados. ;O tema de imigração e migração pode aparecer nessas disciplinas por causa dos venezuelanos que vêm para o Brasil, pela situação dos sírios na Europa e dos refugiados nos planos internacional e nacional;, destaca. ;Já em direito, merece destaque a nova regulamentação da condição jurídica do estrangeiro no Brasil por causa da Lei de Migração (Lei n; 13.445/2017). Como esse assunto não foi explorado ainda, é preciso prestar atenção, pois sai muito na mídia;, diz.

Geografia é uma das disciplinas consideradas mais amplas e pesadas por alguns candidatos. ;Uma das formas de minimizar essa dificuldade é estudar as categorias de análise: espaço, território, paisagem, lugar e região. Geralmente, são temas cobrados na prova, dão uma unidade metodológica ao conhecimento disperso geográfico;, sugere Alexandre Vastella, professor de geografia do Estratégia Concursos. ;A banca pode fazer pegadinhas e propor questões com duplo sentido, contextos que não são facilmente respondidos com o ;certo; e ;errado; e que dependem da visão do examinador;, observa.

O geógrafo alerta que é importante prestar atenção à postura dialética da disciplina. ;Ou seja, é uma matéria que costuma ressaltar as desigualdades no espaço geográfico sob o prisma da luta de classes, porém, sem ideologismos. As desigualdades ficam muito evidentes, por exemplo, no espaço agrário brasileiro e também se repetem no contexto urbano;, explica o mestre e doutor em geografia pela USP. Segundo ele, na geografia do concurso de diplomata, os únicos conhecimentos realmente básicos, do nível de vestibular, são os raros temas voltados à geografia física, como os biomas do Brasil.

Fique de olho

A língua portuguesa tem um peso bem grande na prova. José Maria, professor dessa disciplina no Direção Concursos, explica que o concurso é de alto nível, e deixar essa matéria de lado é uma loucura. ;O exame será muito disputado e o português se tornará um diferencial, principalmente para desempatar e ganhar pontos;, analisa. A dica é estudar e praticar. ;A grande mudança foi a substituição do Cebraspe pelo Iades. Mesmo assim, o conteúdo programático atual se assemelha muito ao anterior. Fazer as provas anteriores de diplomata pode ajudar a observar a construção dos textos, da gramática e dos vocabulários nos itens;, explica. ;Fazer os exercícios dará um norte do que vai cair e assistir a videoaulas, também;, diz.

O que não fazer nas questões discursivas? ;Não abrace causas políticas e partidárias; não polarize argumentos, seja objetivo; não pense que não deve estudar a gramática; a cobrança sobre normas ortográficas será muito elevada;, afirma. ;Além disso, são mais de 70 linhas para escrever e é necessário ter uma base de muita leitura para ajudá-lo a criar um conhecimento linguístico apurado e uma capacidade argumentativa.; José sugere que os concurseiros leiam editoriais de grandes jornais e revistas, busquem e se informem sobre temas da atualidade, como envelhecimento da população, minorias e direitos de mulheres, negros, população LGBT%2b, imigrantes, entre outros.

O que diz o edital?

Concurso de admissão à carreira de diplomata do Itamaraty
Inscrições: até 12 de agosto no site www.iades.com.br
Nível: superior
Taxa: R$ 208
Salário: R$ 19.199,06
Provas: a primeira fase será em 8 de setembro, em dois períodos de três horas, cada um (o primeiro começa às 9h30, e o segundo, às 15h); a segunda fase será em 12 de outubro, com
duração de cinco horas e início às 14h
Locais: todas as capitais do país

Passe bem / Português

Quando a maioria da população, com razão, está escandalizada com a violência que impera nas cidades do país, um outro número não recebe tanta atenção quanto os cerca de 60 mil assassinatos registrados anualmente no Brasil. No trânsito, morrerão, neste ano de 2018, segundo estimativas oficiais, 80 mil pessoas. A eliminação das vírgulas isolando o termo ;com razão; não prejudicaria a correção gramatical, apesar de alterar o sentido original.

Comentário:

Observe o trecho: Quando a maioria da população, com razão, está escandalizada com a violência... No trecho original, dá-se a entender que a maioria da população tem razão quando se escandaliza com a violência. Já no trecho reescrito, sem as vírgulas, dá-se a entender que somente uma parcela da população tem razão (há uma parcela que não tem) ao se escandalizar com a violência. Dessa forma, a alteração proposta não prejudica a correção gramatical, mas altera o sentido original.

Questão criada e comentada pelo professor de português José Maria


*Estagiária sob supervisão da subeditora Ana Paula Lisboa

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