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Você tem mania de terceirizar a culpa? Faça o teste e descubra!

Segundo a consultora Alessandra Canuto, jogar a culpa nos outros é muito comum e está por trás de muitos conflitos em relacionamentos profissionais e pessoais. Coautora de livro sobre o assunto diz que o medo da rejeição é a grande razão por trás disso

Isadora Martins*
postado em 12/08/2019 16:13
;A culpa não é minha;. ;Eu não tenho nada a ver com isso;. ;Queria muito, mas não tenho tempo;. Frases como essas fazem parte do vocabulário de pessoas que adoram dar desculpas. O que acaba gerando conflitos. Essas justificativas esfarrapadas também produzem vitimização, procrastinação e acomodação. Muitos apontam o dedo para a família, os amigos, os colegas de trabalho e o chefe em vez de assumir a culpa pelas situações que não saíram como planejadas. Esse perfil é bastante comum, gera problemas em todas as áreas da vida e é abordado no recém-lançado livro A culpa não é minha.?!
Da esquerda para a direita, Adryanah Carvalho, Allessandra Canuto e Ana Luiza Isoldi são amigas, colegas de profissão e dividem a autoria do livro
As autoras e coaches são a professora Allessandra Canuto, a engenheira civil Adryanah Carvalho e a advogada Ana Luiza Isoldi. O leitor é convidado a entender por que divergências se instalam nas relações pessoais e profissionais e como é possível lidar com isso sem terceirizar a culpa. A obra traz também testes para o público identificar se tende a jogar a responsabilidade para cima dos outros. Segundo as autoras, assumir as consequências dos próprios atos traz muitos benefícios, inclusive aprender com os erros.

Uma das principais causas para a mania de fugir da culpa é o desejo de ser perfeito. Só que isso é uma utopia. É preciso colocar os pés no chão, baixar a bola e perceber que todo ser humano está sujeito a cometer equívocos. Confira entrevista com a Allessandra Canuto, consultora em gestão estratégica de conflitos e sócia da Alle ao Lado, empresa focada em consultoria e coaching para empresas. Ela é professora de disciplinas de ética, avaliação de desenvolvimento, treinamento e desempenho, trabalho em equipe, dimensão humana na governança, gestão de carreira e dinâmica de grupos na pós-graduação da Kroton Educacional.

Como vocês se conheceram e por que decidiram escrever o livro?
Nós somos amigas e colegas de profissão, fizemos cursos de profissionalização juntas. Eu e a Ana nos encontramos na pós-graduação da SBDG (Sociedade Brasileira de Dinâmica dos Grupos). Já eu e a Adryanah nos conhecemos em um treinamento para palestrantes; eu fiz a ponte entre as duas. Fui a precursora da ideia de escrever o livro e convidei as duas para participarem. Para mim, a Ana é uma referência no que diz respeito à mediação de conflitos, e a Adryanah é expert em comunicação. Achei que isso complementava minha parte, mais voltada para análise de conflitos e tomada de decisão.

Como surgiu a ideia da obra?
Uma das coisas que eu sempre percebi muito forte no mercado de trabalho é a dificuldade que as pessoas têm de uma autorresponsabilização. Sempre que problemas surgem, começam a falar que a culpa não é delas. A culpa é de outro setor, de outro indivíduo, de outra área, mas nunca da própria pessoa. Então, eu e as outras autoras pensamos: ;acho que temos que falar sobre isso, né?;.

Que situações serviram de inspiração para escrever o livro?
Brinco que foi no mestrado que fiz em um casamento de 20 anos. Serve essa? (Risos) Era muito engraçado que eu tentava me colocar, mas não me sentia ouvida e achava que a culpa era minha. Eu pensava: ;Gente, eu preciso melhorar minha comunicação porque necessito ser entendida;. Essa foi uma grande alavanca.
Allessandra é consultora em gestão de conflitos e percursora da ideia do livro
Qual é o principal obstáculo ao lidar com conflitos?
O medo é a causa raiz. Por medo da mudança, da opinião dos outros e da rejeição, acabamos nos acomodando e nos vitimizando. Assim, não conseguimos nos tornar nossa melhor versão.

Por que as pessoas costumam jogar a culpa nos outros?
Acho que as pessoas têm um receio da responsabilidade porque, quando fazemos uma escolha e o resultado não é bom, nos autopunimos. Acredito que a gente não erra, só acerta ou aprende. Vivo essa crença. Quando você tem essa percepção, está tudo bem errar, tudo bem se responsabilizar por algo que não foi ;ok;. Nós não nascemos perfeitos, mas idealizamos isso. O maior impacto de não se responsabilizar é não crescer. É ficar estagnado na postura de vítima.

E quando a pessoa se culpa demais? Isso é um problema?
Acho que, às vezes, a gente tem de assumir a culpa mesmo. Só que fazer isso excessivamente, para mim, é ter a síndrome do super-herói. É aquele que quer ser o ;bonzão;, o que sempre salva todos. Nenhum dos extremos é saudável. Essa pessoa (que se culpa demais) precisa responder para si mesma qual ganho secundário tem ao se culpar tanto por uma coisa que não tem nada a ver com ela. Se não, vai viver uma autossabotagem contínua.

Você já teve algum desafeto no trabalho? Como as pessoas devem reagir a isso?
Eu nunca tive uma experiência pessoal, mas já enfrentei algumas situações no papel de facilitadora. É sempre muito desafiador porque você lida não só com o que está acontecendo naquele momento, mas com todas as questões que afetam a situação em questão. Às vezes, são questões bem difíceis com as quais a pessoa está lidando e que interferem, direta ou indiretamente, na vida profissional. Aí a gente tem que ter toda uma flexibilidade e um acolhimento para lidar com isso de maneira a produzir um bom resultado.

Qual a dica para gestores que precisam lidar com pessoas que não costumam assumir a culpa pelos próprios atos?
Uma das coisas que mais funcionam na liderança é o exemplo. A segunda é criar uma relação de confiança com esses colaboradores, porque as pessoas, para ficarem à vontade com a autorresponsabilização, precisam sentir que estão em um ambiente seguro. Criando relações de confiança, o líder vai ter uma equipe que se autorresponsabiliza mais.

E quando a pessoa que não assume responsabilidade é o líder?
No caso contrário, a primeira estratégia do subordinado para com o líder deve ser propor uma conversa de alinhamento de expectativas. Nessa conversa, o subordinado deve colocar uma situação verificável onde ele enxergue isso no líder, não simplesmente o que acha ou o que sente.

Como uma pessoa pode identificar que está terceirizando a culpa?
A gente logo sabe. Quando usamos as frases ;a culpa não é minha;, ;isso não tem a ver comigo; ou ;isso aqui é problema do outro;, percebemos que estamos terceirizando. Essa linguagem é um sinal fácil para identificarmos que estamos jogando a responsabilidade em outra pessoa. Outra forma de perceber é quando você se sente sem saída, quando bate aquela angústia e você pensa: ;Meu Deus, eu não sei o que fazer;. Essa angústia é um sinal de que você não está tomando para si sua parte de responsabilidade.

O que se ganha ao assumir a culpa por um erro no trabalho?
Ao assumir a responsabilidade de alguma questão, você ganha credibilidade, porque começa a ser visto como uma pessoa que se autorresponsabiliza, uma pessoa honesta. Além disso, você ganha empoderamento, porque a maioria faz o contrário, a maioria foge. Eu só vejo ganhos.

Qual o seu conselho para quem está começando a carreira?
Muito do que acontece em relação a conflitos diz respeito ao fato de não estarmos felizes em determinada situação. Normalmente, também terceirizamos essa frustração. Então, primeiro, precisamos achar um propósito para o que estamos fazendo. Minha dica é ter um propósito para este momento da sua vida. Isso faz toda a diferença.

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Leia

A culpa não é minha? - Guia para resolver seus conflitos e tomar decisões

A culpa não é minha? ; Guia para resolver seus conflitos e tomar decisões
Autoras: Allessandra Canuto, Adryanah Carvalho e Ana Luiza Isoldi
Editora:
Literare
Books
International
182 páginas
R$ 34,90

*Estagiária sob supervisão da subeditora Ana Paula Lisboa

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