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Tendências profissionais

A WorldSkills, principal competição de ensino técnico, atualiza-se de acordo com o mercado e aponta carreiras em alta. Nas últimas duas edições, foram acrescentadas sete modalidades à disputa que acompanham as novidades da tecnologia

postado em 18/08/2019 04:14

Entre quinta-feira (22) e 27 de agosto, 63 jovens brasileiros ; entre eles, três do DF ; representarão o país na maior competição de ensino profissional do mundo, a WorldSkills. Desta vez, o torneio será em Kazan, na Rússia, reunindo 1.660 competidores de mais de 60 países. O campeonato, que ocorre a cada dois anos, acompanha as mudanças no mercado de trabalho e aponta as profissões que estão em alta, além de indicar a qualidade da educação profissional das nações participantes. Nas edições de 2017 e 2019, foram incluídas, ao todo, sete modalidades: arte 3D digital para games, logística internacional, computação em nuvem, segurança cibernética, tecnologia da água, tecnologia em laboratório químico e hotelaria.

;No geral, a WorldSkills, assim como a educação profissional, dialoga com o percurso das profissões, que se modificam ao longo do tempo;, explica Rafael Lucchesi, diretor-geral do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai), entidade que, junto ao Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac), é responsável pela delegação brasileira na competição. ;O conjunto de novas tecnologias, evidentemente, demanda profundas mudanças no mundo do trabalho. Isso se reflete em novas abordagens no campeonato;, completa. De acordo com o diretor, a nova indústria que surge a partir da Quarta Revolução Industrial prioriza a colaboração em detrimento de uma estrutura vertical e hierarquizada. ;Isso envolve um conjunto de novas habilidades e competências socioemocionais (as soft skills) que serão fortalecidas no mercado que está surgindo.;

Talento reinado no DF
Para se preparar para a WorldSkills, 56 competidores do Senai e sete do Senac, de diversas modalidades e das mais variadas regiões do Brasil, estão em Brasília. Eles treinam durante o dia e, à noite, dormem num hotel. Conheça histórias de alguns dessas ;feras; do ensino técnico que disputarão modalidades em alta no mercado de trabalho.

Paixão pela modalidade

Um dos jovens que está de malas prontas para ir a Kazan é Thiago Felipe Salkovski, 22 anos. Ele representa o Brasil na modalidade de tecnologia da água, uma das novas ocupações listadas pela WorldSkills. ;A minha categoria simula o dia a dia de um operador de estação de tratamento de água. Eu vou enfrentar situações como análises químicas, manutenção em bombas e válvulas e a parte mais básica de automação;, explica. Apaixonado por química, o curitibano conta que sempre se deu bem nessa matéria na escola e, por recomendação da ex-supervisora de estágio, decidiu fazer um curso técnico no Senai, onde conheceu a WorldSkills.

;Meu professor gostou da minha postura e achou que eu seria um bom competidor;, afirma. ;Eu me interessei bastante pela ideia porque sou um pouco competitivo e vi que era uma grande oportunidade de crescimento pessoal e profissional.; Thiago treina em um dos centros do Senai em Brasília desde abril. Ele conta que pratica, em média, 10 horas por dia de segunda a sábado. Com tanto treino, está confiante para o campeonato. ;Estou bem preparado. Comparado a como eu estava antes, em Curitiba, eu evoluí muito. Aqui, tenho bastante estrutura e profissionais muito qualificados para me ensinar;, diz.

;Acho que vou conseguir chegar à Rússia e fazer um bom trabalho e, quem sabe, trazer uma medalha de ouro para o Brasil;, aspira. O competidor sonha fazer faculdade de engenharia química e pretende trabalhar na área ou ser professor. ;Eu gosto de ensinar e, talvez, futuramente, eu possa instruir o próximo competidor;, comenta. De acordo com ele, a atividade é tendência no mercado. ;A parte de saneamento é muito importante e necessária. Em muitos lugares do Brasil, ainda não há saneamento básico. Então, acredito que é uma área que vai crescer muito.;

Aprendizado em tecnologia

Participar da WorldSkills é uma ;chance de aprender muito em pouco tempo;, diz Raissa Marcon Constante, 24. Ela integra a dupla que representa o Brasil na modalidade de cibersegurança, que aparece no campeonato pela primeira vez. De acordo com a competidora, representar a nova categoria será um desafio. ;A gente não tem uma base, por exemplo, do que foi cobrado anteriormente. Muitas outras ocupações já têm provas de anos anteriores, já há uma linha do que pode cair. Para a gente, é tudo surpresa;, analisa. ;Também é um grande desafio para todo mundo porque todos os outros também vão de primeira viagem, sem ter muita informação;, completa. ;É nisso que a gente tem que pensar. A dificuldade existe para os dois lados.;

Raissa fez curso técnico e faculdade de redes no Senai e acredita que a área em que compete é promissora. ;Um profissional de cyber security ajuda a garantir a segurança da informação em diversos setores do mercado de trabalho;, explica. ;Um exemplo são aquelas pessoas contratadas para tentar invadir as redes de empresas como forma de teste para saber se os dados estão seguros ou não.; Hoje, ela atua profissionalmente na área de redes, mas, no futuro, pensa em atuar especificamente com cibersegurança. ;Eu trabalho parte do meu dia e na outra parte eu treino. É uma rotina bem pesada, mas tudo valeu a pena porque, agora, no meu emprego, posso aplicar vários conhecimentos que adquiri nos treinos;, conta.

A jovem, que nasceu na cidade de Tubarão (SC), já havia participado das seletivas estaduais para a WorldSkills duas vezes. ;Eu tentei uma vaga na delegação brasileira na área de redes, mas não consegui passar para a etapa nacional;, conta. ;Quando surgiu a modalidade de segurança cibernética, tentei novamente e passei pela seletiva com meu colega porque a categoria é em dupla.; As expectativas dela para o torneio são altas. ;Acho que estamos bem preparados. Claro que sempre dá aquele medinho porque vamos competir com pessoas do mundo todo;, afirma. ;Eu estou bem confiante de que vou chegar lá e dar o meu melhor. Vou conseguir fazer tudo que eu treinei e estudei;, ressalta.

A competidora considera que tem o importante papel de representar as mulheres em uma área ocupada predominantemente por homens no campeonato ; a de tecnologia. ;Eu acho muito importante nós estarmos inseridas nesse meio. Algumas ocupações têm mais meninas, mas, na área de tecnologia, é bastante difícil;, lamenta. ;Sinto que tenho a responsabilidade de passar a mensagem para outras mulheres de que nós também somos capazes de estar na área de tecnologia e de ciência tanto quanto os homens;, comenta. ;Hoje vejo maior participação feminina nesse setor, mas ainda não tanto quanto deveria.;

Preparação intensa
O competidor mais jovem da delegação brasileira é Gabriel dos Santos Vieira, 16. Ele representará o país na modalidade jogos digitais em 3D. Nessa ocupação, os participantes são desafiados a desenvolver um personagem para videogame. ;A gente desenha, faz a modelagem, texturiza (coloca poros, pelos, fogo...) e, por fim, faz o esqueleto do personagem (rigging), que será finalizado na animação;, conta. Os artistas de jogos digitais em 3D são responsáveis pela parte visual.
;O foco é a arte. Não participamos da programação.; Natural de Estância (SE), ele é aluno do Serviço Social da Indústria (Sesi) e fez o curso técnico de programação de jogos digitais no Senai com o objetivo de treinar para a competição. ;Fiquei sabendo da WorldSkills na escola onde eu estudava e entrei no Senai com o intuito de participar do campeonato.; O jovem está treinando no centro de treinamento do Senai no Setor de Indústrias Gráficas (SIG) desde janeiro, com uma rotina puxada de preparação.

;Treinamos, em média, 10 horas por dia. Às vezes, ficamos até um pouco mais tarde para finalizar uma prova ou um simulado;, afirma. ;Como nós estamos há muito tempo aqui, acabamos nos acostumando;, completa. O jovem, que participou de um campeonato de educação profissional em Melbourne, na Austrália, como forma de treinamento, está confiante para a competição na Rússia. ;Acredito que a gente testou diferentes possibilidades e desafios que podem ocorrer;, comenta. ;Treinamos não só a parte técnica, mas também a comportamental. Então, sinto que estamos preparados.;

Em alta no mercado

;Estou bastante confiante. A gente teve uma preparação muito forte. Há três semanas, participei de um campeonato na Índia, disputando com representantes de outros oito países, e fiquei em segundo lugar;, conta Leandro Ribeira Mota, 23, competidor que representará o Brasil na modalidade de computação em nuvem. De acordo com o paulista, que mora em Londrina (PR), há 20 anos, o mercado para essa área está em pleno crescimento. ;Uma empresa precisa manter seus sistemas altamente disponíveis, de forma que nunca fiquem fora do ar. A computação em nuvem vem para garantir isso;, explica.

;Nos últimos dias de declaração do Imposto de Renda, a quantidade de usuários utilizando o site da Receita Federal é grande, o que pode fazer o sistema parar de responder;, afirma. ;O que eu faço é criar recursos para que, independentemente da quantidade de usuários que estejam utilizando o site, ele continue funcionando com qualidade;, exemplifica. Foi por meio do curso técnico em informática no Senai que surgiu a oportunidade de Leandro participar da WorldSkills. ;Na época, o coordenador viu que eu tinha um perfil diferenciado e me chamou para treinar;, relata. O estudante tentou representar o Brasil na modalidade de administração de sistemas e redes em 2017, mas ficou em segundo lugar na etapa estadual.

Ele continuou o treinamento e, este ano, realiza o sonho de participar da delegação brasileira. Leandro também está alocado no centro de treinamento do SIG. ;A rotina é um pouco pesada, mas vale a pena. A gente treina 10 horas por dia normalmente. Um dia ou outro, a gente acaba ficando mais tempo, mas é um sacrifício que recompensa;, avalia. ;Estamos aprendendo bastante nesta etapa de preparação. Todos os treinamentos que temos aqui com professores qualificados nos ajudarão a ter melhor desempenho e mais oportunidades de emprego depois.; Quando voltar da Rússia, o foco do competidor será terminar a faculdade de ciência da computação na Universidade Estadual de Londrina (UEL) e procurar serviços como freelancer.


*Estagiária sob a supervisão da subeditora Ana Paula Lisboa

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