Trabalho e Formacao

Chefe a distância

Trabalhar fora do escritório é uma prática que está ganhando espaço no mercado. Saiba quais são as principais vantagens e desvantagens de apostar no sistema e conheça experiências de gestores com o formato

Correio Braziliense
Correio Braziliense
postado em 25/08/2019 04:08

Com o avanço da tecnologia e a transformação das relações de trabalho, que passam a ser mais flexíveis, há cada vez mais pessoas desenvolvendo atividades profissionais sem, necessariamente, estar no escritório da firma. Para muitos, já é realidade trabalhar de casa, de um coworking, de um café ou de qualquer outro lugar. E, entre quem ainda não conta com a possibilidade do home office, é crescente o desejo de atuar nesse modelo. É o que revela pesquisa do Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística (Ibope). O estudo, de 2018, concluiu que, a cada 10 brasileiros, oito almejam trabalhar em locais alternativos à empresa. Os dados também identificam crescente vontade dos trabalhadores de ter mais flexibilidade no expediente.

De acordo com Tatiane Araújo, professora de gestão de pessoas e estratégia, um home office é, basicamente, um escritório fora do local de trabalho. Ela considera que o crescimento da modalidade é resultado de uma junção de fatores. ;Além de o proprietário não ter que arcar com os custos de manter um colaborador num espaço físico, o uso de novas tecnologias e a flexibilidade de horários que a modalidade traz são aspectos positivos;, analisa a administradora formada pelo Centro Universitário de Brasília (UniCeub). ;Um ponto positivo desse tipo de serviço é a quebra de barreiras físicas. É possível se conectar com mais pessoas, atingir gente que talvez nunca ficasse sabendo do negócio;, diz.

Porém, a professora explica que também há pontos negativos. ;Não tem como ter um feedback real tanto dos clientes quanto dos colaboradores. Para manter esse modelo, é necessário ser organizado e muito disciplinado;, explica. As atividades remotas já ocorrem tanto em empresas particulares quanto em órgãos públicos. Apesar de trazer uma série de vantagens para empregador e empregado, o sistema também implica dificuldades, especialmente, no início, quando os colaboradores e os chefes ainda estiverem se acostumando com esse novo tipo de relação. Para o empregado, ter a disciplina para manter bom rendimento mesmo sem alguém ;no pé;, cobrando, além de se acostumar a atuar sem socializar com outras pessoas, implica alguns desafios. Gerir equipes a distância e em home office também pode ser particularmente desafiador para os gestores.

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Cuidado evita mal-entendidos

CEO e fundador de startup desenvolvida para facilitar o fluxo de pagamentos internacionais, a Husky, Tiago Santos tem experiência em gestão de pessoas em home office. Formado em ciências da computação pela Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT), ele administra um time de nove pessoas, todas de cidades diferentes. ;Nós nunca nos encontramos todos pessoalmente, mas não é algo que faça muito falta para o desenvolvimento do trabalho: temos um bom entrosamento;, afirma. Ele admite que a dificuldade do diálogo existe, mas acredita que ela pode ser contornada. ;Uma vez ou outra, quando entra alguém novo, essa pessoa demora uns meses para aprender como funciona a questão do contato, é normal;, pontua.

;A conversa de forma escrita pode gerar alguns mal-entendidos. Para isso não acontecer, precisamos redigir uma mensagem que seja clara para todos;, destaca. Tiago afirma que uma boa administração por parte dos gerentes define como a equipe lida com o trabalho remoto. ;Nas reuniões por videoconferência, precisamos coordenar bem as discussões para que não se tornem intermináveis;, explica. ;Todos têm ideias e propostas, então é necessário organizar para que todos sejam ouvidos e não haver ruídos no processo;, diz. A decisão de gerir a firma remotamente foi uma das primeiras tomadas pelo CEO da Husky e pelo sócio dele. ;É bem proveitoso estar fora do escritório. Além de fugir de todo o processo de deslocamento até o serviço, o funcionário pode estar mais perto da família, não precisa ficar mudando de cidade por causa do emprego;, observa.

Na avaliação de Tiago, o rendimento de quem trabalha em casa é bem melhor do que o de quem fica no escritório. ;A produtividade é bem maior. Basicamente porque, no ambiente corporativo, a pessoa tem algumas distrações;, afirma. Alguns exemplos são telefone tocando, colegas conversando e outras demandas que interrompem a produção. Ele admite que, fora do escritório, também há elementos que podem interromper o indivíduo, mas acredita que é mais fácil controlá-los. ;É mais simples conter as distrações em casa. Desse jeito, a pessoa se torna dona do próprio tempo;, define.

Desisti da loja física

Laís Xavier, 20 anos, é estudante de design de moda no Instituto Federal de Brasília (IFB), e abriu um espaço em uma loja colaborativa, a fim de complementar a renda. Três meses depois, no entanto, decidiu ficar apenas com o negócio on-line. ;Os encargos do aluguel do espaço são altos e, como eu vendia mais pela internet do que na loja física, abri mão do lugar;, lembra. Ela afirma que vê vantagens e desvantagens na decisão. ;Diminuiu o custo de manter o negócio, mas, em contrapartida, os clientes não podem tocar no produto e só têm contato com as fotos e informações que disponibilizamos para eles;, afirma.

Também trabalhando como professora de moda em um colégio particular de Brasília, Laís conta que, além dos custos de manter o local, tinha outras preocupações que não tem atualmente com o mercado virtual. ;Conseguir manter o negócio dessa forma é difícil. É preciso ir à loja para repor estoque e limpar o espaço. Às vezes, eu não tinha muito tempo disponível para isso;, explica. A estudante não passou dificuldades com o gerenciamento da loja a distância. ;Como nós atingimos apenas o comércio local de Brasília, não temos problemas com entregas. Mantemos planilhas atualizadas e, apesar da equipe pequena, gerenciamos tudo direitinho;, diz.

Para a fundadora da Ecolua Store (que vende canudos, escovas e talhares de bambu pelo Instagram @ecoluastore), o meio digital oferece mais oportunidade para quem está começando. ;Além de não ter tantas taxas, atrai bastantes clientes e de qualquer lugar eu posso vender e postar coisas para divulgar o trabalho. Além disso, existem plataformas de pagamento que facilitam muito o processo;, afirma ela, que é sócia de Isadora Rodrigues. Laís afirma que, para voltar ao espaço físico, é necessário estar bem economicamente. ;A empresa tem que ter uma estabilidade muito boa para conseguir manter espaços físicos. Então, uma dica minha, por experiência própria, é: aposte no trabalho remoto.;

*Estagiária sob supervisão da subeditora Ana Paula Lisboa

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