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Quer ser professor universitário?

Docentes dão dicas para aprovação em certames de universidades federais. Os salários podem chegar a quase R$ 17 mil

Correio Braziliense
Correio Braziliense
postado em 01/09/2019 04:08
Andreia recomenda cuidado para reduzir a ansiedade com os estudos

Ao menos 84 universidades federais estão com editais abertos para preenchimento de vagas de professores. Na Universidade de Brasília (UnB), as chances são para as áreas de língua espanhola; medicina veterinária; vida/saúde; ciências exatas e da terra e engenharias; e humanidades e ciências sociais. Para professor substituto, há três vagas, com salários entre R$ 3.130,85 e R$ 4.304,92. Há ainda 50 oportunidades para professores visitantes, com remuneração de R$ 16.591,91. As etapas em comum na maior parte dos concursos para docentes são provas de títulos (análise curricular), de conteúdo escrito (da área de atuação do docente) e didática (em que o candidato dá aula perante uma banca sobre tema sorteado 24 horas antes).

Exame de conteúdos
Andreia Marreiro Barbosa, professora de direito na Universidade Estadual do Piauí (Uespi), chama a atenção para a importância de ler o edital. ;Normalmente, a pessoa já tem uma ideia do campo em que quer atuar. Então, é importante olhar os editais passados de concursos da área;, destaca. ;Quando sair o concurso pretendido, é importante ler e reler para identificar as regras;, observa a coordenadora da pós-graduação em direitos humanos Esperança Garcia, na Uespi, e doutoranda na mesma temática na UnB. Em relação à etapa escrita, ela comenta sua experiência durante a preparação. ;Fiz um esquema sobre o que eu já sabia: quais autores eu já havia lido e quais argumentos me eram familiares;, relembra. ;Depois, construí textos, em que consegui identificar as lacunas no meu conhecimento e fazer levantamentos de informações para melhorar minha produção.;

A advogada conta que, no início, não sabia ao certo como elaborar os textos que a auxiliariam na prova escrita. ;Recebi uma dica de um amigo que foi excelente: fazer como se fosse um artigo científico. Em todos os textos, eu começava com o objetivo, a metodologia e os autores que utilizaria;, elenca. Sobre a bibliografia oferecida em alguns editais, a advogada indica leitura atenta. ;Mas o candidato não deve se prender só a ela. É importante procurar bibliografias complementares;, sugere.

Prova didática
Para a prova pedagógica, em que é preciso dar aula, a sugestão de Andreia Marreiro Barbosa também é pela preparação com antecedência. ;Eu fiz um esquema com os tópicos da aula à medida que fazia os textos para a prova escrita. Já estava pensando e elaborando o plano de aula;, afirma. ;Nas 24 horas que o candidato tem entre o sorteio do tema e a prova didática, eu terminei de planejar a aula e ensaiei, no mínimo, três vezes, sempre com cronômetro para me ajudar no controle do tempo.; Andreia destaca a relevância de conhecer os avaliadores. ;Para todas as provas, uma dica muito importante é saber quem faz parte da banca. Saber os perfis, o que pesquisam, o que já publicaram e, inclusive, se têm publicações sobre os temas da prova.; Para o professor Rodrigo Silva, coordenador científico de coaching do Gran Cursos Online, a postura corporal durante a prova didática é essencial.

;O candidato deve evitar se movimentar demais ou focar apenas em uma pessoa da banca avaliadora. Deve falar com pausas e prestar atenção na dicção, mantendo um ritmo de respiração;, observa Rodrigo, que também é professor do Centro Universitário Iesb. Ele aponta processos básicos que podem atrapalhar o candidato, como nervosismo em excesso. ;O discurso é muito importante para mostrar domínio do conteúdo. O nervosismo natural de uma seleção vai ser identificado pela banca e não deve se confundir com falta de conhecimento ou preparo.; O coach não recomenda que o participante decore tópicos da aula. ;Não é recomendado, até porque o tema é decidido algum tempo antes da prova. É importante ter os assuntos bem-dispostos na mente e, a partir deles, desenvolver a apresentação;, indica. ;Quando a banca fizer perguntas, ouça atentamente, sem interromper. Caso não tenha entendido a interrogação, peça para repetirem, até que a dúvida esteja completamente clara;, continua.

;É necessário prestar atenção ao tom de voz também, não usar gírias, não falar muito alto nem muito rápido.; Para o professor, demonstrar enviesamento político pode prejudicar o candidato. ;É básico, mas é importante ressaltar: deve-se tomar cuidado com posicionamentos ideológicos. O professor, via de regra, deve apresentar várias posições para a banca. Faz parte do processo acadêmico mostrar contrapontos, até para a validação da argumentação;, opina. Rodrigo é a favor de recursos visuais. ;Se for possível, a apresentação de slides é muito bem-vinda, mas não pode ser carregada, nem de imagens nem de palavras;, argumenta. ;Tem que ser quase como uma ficha, sem ficar lendo, nem a apresentação nem nenhum outro material, durante a prova didática.; O professor acredita que a principal dica para os candidatos é ;lembrar que, apesar de estar se apresentando para a banca, está sendo verificada a capacidade de lecionar para alunos. Então aquele momento deve ser tratado como uma sala de aula de fato.;

Virgílio Arraes, professor de história e de relações internacionais da UnB, destaca o plano de trabalho da aula, exigido nos certames. ;O candidato deve se concentrar em fazê-lo de maneira sintética, de modo que possa projetar as falas para a aula;, sugere. ;Às vezes, um esboço muito pormenorizado atrapalha porque pode não haver tempo de desenvolver tudo ou a pessoa pode não se lembrar de todos os pontos, o que é natural pelo nervosismo do momento.; Ele ressalta a importância de não se prender a assuntos propostos. ;A ideia é que, durante a aula, o candidato tenha liberdade para desenvolver o tema. O plano deve ser um guia no qual ele possa se inspirar.;Sobre a maneira de conduzir a apresentação, o professor Virgílio destaca a procura do equilíbrio. ;É essencial a consciência de que ser didático não significa ser simplório. O candidato deve se preocupar em ser claro, simples e preciso na exposição;, sugere. ;Citar muitos autores ou fazer uma exposição pernóstica (pretenciosa) para impressionar a banca não funciona. Ser simples não é ser simplório. Essa é a minha principal recomendação;, argumenta o docente.

Currículo em jogo
A preparação para a análise curricular, para Andreia Marreiro Barbosa, exige organização. ;Essa etapa é composta pela apresentação dos certificados de todas as informações que estão no currículo Lattes. A dica é cuidar da atualização das informações e, especialmente, para a organização dos documentos;, observa. ;É importante colocar os certificados na ordem. No meu caso, essa apresentação foi no dia em que o tema da aula foi sorteado. A comprovação de cada uma das informações pode ser trabalhosa. Organização é importante;, continua. Virgílio Arraes chama a atenção para os diplomas de pós-graduação.

;É uma questão extremamente importante, que nem sempre é lembrada pelos candidatos. Quem fez mestrado ou doutorado fora do país precisa validar os diplomas no Brasil, com risco de a inscrição não ser homologada.; O professor, que já foi presidente da Associação dos Docentes da Universidade de Brasília (AdUnB), explica que a revalidação é necessária porque as áreas de conhecimento, muitas vezes, são diferentes dependendo do país. ;Um exemplo: o candidato fez doutorado em teologia e, dentro de teologia, estudou história das religiões. No Brasil, ele pode homologar o diploma em história ou em filosofia;, exemplifica. ;A homologação em determinada área vai direcionar o campo para um futuro concurso ou área de estudos.;

Equilíbrio

Andreia Marreiro Barbosa não descarta o cuidado com a saúde mental durante a etapa de preparação. ;Eu tentei, durante todo o tempo de preparo para o concurso, fazer processos de autocuidado. Fiz terapias naturais e alternativas, como acupuntura, uso de óleos essenciais e florais e psicoterapia;, lembra. ;Cuidar de mim ajudou na construção da minha confiança e são exercícios que ajudam também a diminuir a ansiedade.; A advogada continua, ressaltando a relevância da autoconfiança. ;É muito importante que a gente confie na nossa trajetória;, observa. ;Geralmente, esses concursos exigem da pessoa uma história acadêmica e uma vida dedicada aos estudos, à produção do conhecimento e à academia. Eu acho que essa confiança na própria caminhada e no próprio processo é essencial.;



*Estagiária sob supervisão da subeditora Ana Paula Lisboa

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