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Confira dicas para concursos de professores de universidades federais

Pelo menos 84 universidades federais estão com inscrições para seleções de docentes. A maior parte apresenta fases de prova escrita, didática e de títulos

Ana Isabel Mansur*
postado em 02/09/2019 14:00
Ao menos 84 universidades federais estão com editais abertos para preenchimento de vagas de professores. Na Universidade de Brasília (UnB), as chances são para as áreas de língua espanhola; medicina veterinária; vida/saúde; ciências exatas e da terra e engenharias; e humanidades e ciências sociais. Para professor substituto, há três vagas, com salários entre R$ 3.130,85 e R$ 4.304,92. Há ainda 50 oportunidades para professores visitantes, com remuneração de R$ 16.591,91. As etapas em comum na maior parte dos concursos para docentes são provas de títulos (análise curricular), de conteúdo escrito (da área de atuação do docente) e didática (em que o candidato dá aula perante uma banca sobre tema sorteado 24 horas antes).

Exame de conteúdos

A professora Andreia recomenda o autocuidado para diminuir os níveis de ansiedade durante a preparaçãoAndreia Marreiro Barbosa, professora de direito na Universidade Estadual do Piauí (Uespi), chama a atenção para a importância de ler o edital. ;Normalmente, a pessoa já tem uma ideia do campo em que quer atuar. Então, é importante olhar os editais passados de concursos da área;, destaca. ;Quando sair o concurso pretendido, é importante ler e reler para identificar as regras;, observa a coordenadora da pós-graduação em direitos humanos Esperança Garcia, na Uespi, e doutoranda na mesma temática na UnB. Em relação à etapa escrita, ela comenta sua experiência durante a preparação. ;Fiz um esquema sobre o que eu já sabia: quais autores eu já havia lido e quais argumentos me eram familiares;, relembra. ;Depois, construí textos, em que consegui identificar as lacunas no meu conhecimento e fazer levantamentos de informações para melhorar minha produção.;

A advogada conta que, no início, não sabia ao certo como elaborar os textos que a auxiliariam na prova escrita. ;Recebi uma dica de um amigo que foi excelente: fazer como se fosse um artigo científico. Em todos os textos, eu começava com o objetivo, a metodologia e os autores que utilizaria;, elenca. Sobre a bibliografia oferecida em alguns editais, a advogada indica leitura atenta. ;Mas o candidato não deve se prender só a ela. É importante procurar bibliografias complementares;, sugere.

Prova didática

Para a prova pedagógica, em que é preciso dar aula, a sugestão de Andreia Marreiro Barbosa também é pela preparação com antecedência. ;Eu fiz um esquema com os tópicos da aula à medida que fazia os textos para a prova escrita. Já estava pensando e elaborando o plano de aula;, afirma. ;Nas 24 horas que o candidato tem entre o sorteio do tema e a prova didática, eu terminei de planejar a aula e ensaiei, no mínimo, três vezes, sempre com cronômetro para me ajudar no controle do tempo.; Andreia destaca a relevância de conhecer os avaliadores. ;Para todas as provas, uma dica muito importante é saber quem faz parte da banca. Saber os perfis, o que pesquisam, o que já publicaram e, inclusive, se têm publicações sobre os temas da prova.; Para o professor Rodrigo Silva, coordenador científico de coaching do Gran Cursos Online, a postura corporal durante a prova didática é essencial.

;O candidato deve evitar se movimentar demais ou focar apenas em uma pessoa da banca avaliadora. Deve falar com pausas e prestar atenção na dicção, mantendo um ritmo de respiração;, observa Rodrigo, que também é professor do Centro Universitário Iesb. Ele aponta processos básicos que podem atrapalhar o candidato, como nervosismo em excesso. ;O discurso é muito importante para mostrar domínio do conteúdo. O nervosismo natural de uma seleção vai ser identificado pela banca e não deve se confundir com falta de conhecimento ou preparo.; O coach não recomenda que o participante decore tópicos da aula. ;Não é recomendado, até porque o tema é decidido algum tempo antes da prova. É importante ter os assuntos bem-dispostos na mente e, a partir deles, desenvolver a apresentação;, indica. ;Quando a banca fizer perguntas, ouça atentamente, sem interromper. Caso não tenha entendido a interrogação, peça para repetirem, até que a dúvida esteja completamente clara;, continua.

;É necessário prestar atenção ao tom de voz também, não usar gírias, não falar muito alto nem muito rápido.; Para o professor, demonstrar enviesamento político pode prejudicar o candidato. ;É básico, mas é importante ressaltar: deve-se tomar cuidado com posicionamentos ideológicos. O professor, via de regra, deve apresentar várias posições para a banca. Faz parte do processo acadêmico mostrar contrapontos, até para a validação da argumentação;, opina. Rodrigo é a favor de recursos visuais. ;Se for possível, a apresentação de slides é muito bem-vinda, mas não pode ser carregada, nem de imagens nem de palavras;, argumenta. ;Tem que ser quase como uma ficha, sem ficar lendo, nem a apresentação nem nenhum outro material, durante a prova didática.; O professor acredita que a principal dica para os candidatos é ;lembrar que, apesar de estar se apresentando para a banca, está sendo verificada a capacidade de lecionar para alunos. Então aquele momento deve ser tratado como uma sala de aula de fato.;

Virgílio Arraes, professor de história e de relações internacionais da UnB, destaca o plano de trabalho da aula, exigido nos certames. ;O candidato deve se concentrar em fazê-lo de maneira sintética, de modo que possa projetar as falas para a aula;, sugere. ;Às vezes, um esboço muito pormenorizado atrapalha porque pode não haver tempo de desenvolver tudo ou a pessoa pode não se lembrar de todos os pontos, o que é natural pelo nervosismo do momento.; Ele ressalta a importância de não se prender a assuntos propostos. ;A ideia é que, durante a aula, o candidato tenha liberdade para desenvolver o tema. O plano deve ser um guia no qual ele possa se inspirar.;Sobre a maneira de conduzir a apresentação, o professor Virgílio destaca a procura do equilíbrio. ;É essencial a consciência de que ser didático não significa ser simplório. O candidato deve se preocupar em ser claro, simples e preciso na exposição;, sugere. ;Citar muitos autores ou fazer uma exposição pernóstica (pretenciosa) para impressionar a banca não funciona. Ser simples não é ser simplório. Essa é a minha principal recomendação;, argumenta o docente.

Currículo em jogo

A preparação para a análise curricular, para Andreia Marreiro Barbosa, exige organização. ;Essa etapa é composta pela apresentação dos certificados de todas as informações que estão no currículo Lattes. A dica é cuidar da atualização das informações e, especialmente, para a organização dos documentos;, observa. ;É importante colocar os certificados na ordem. No meu caso, essa apresentação foi no dia em que o tema da aula foi sorteado. A comprovação de cada uma das informações pode ser trabalhosa. Organização é importante;, continua. Virgílio Arraes chama a atenção para os diplomas de pós-graduação.

;É uma questão extremamente importante, que nem sempre é lembrada pelos candidatos. Quem fez mestrado ou doutorado fora do país precisa validar os diplomas no Brasil, com risco de a inscrição não ser homologada.; O professor, que já foi presidente da Associação dos Docentes da Universidade de Brasília (AdUnB), explica que a revalidação é necessária porque as áreas de conhecimento, muitas vezes, são diferentes dependendo do país. ;Um exemplo: o candidato fez doutorado em teologia e, dentro de teologia, estudou história das religiões. No Brasil, ele pode homologar o diploma em história ou em filosofia;, exemplifica. ;A homologação em determinada área vai direcionar o campo para um futuro concurso ou área de estudos.;

Equilíbrio

Andreia Marreiro Barbosa não descarta o cuidado com a saúde mental durante a etapa de preparação. ;Eu tentei, durante todo o tempo de preparo para o concurso, fazer processos de autocuidado. Fiz terapias naturais e alternativas, como acupuntura, uso de óleos essenciais e florais e psicoterapia;, lembra. ;Cuidar de mim ajudou na construção da minha confiança e são exercícios que ajudam também a diminuir a ansiedade.; A advogada continua, ressaltando a relevância da autoconfiança. ;É muito importante que a gente confie na nossa trajetória;, observa. ;Geralmente, esses concursos exigem da pessoa uma história acadêmica e uma vida dedicada aos estudos, à produção do conhecimento e à academia. Eu acho que essa confiança na própria caminhada e no próprio processo é essencial.;



*Estagiária sob supervisão da subeditora Ana Paula Lisboa

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