Quem visita o Polo de Modas do Guará 2 se depara com a fachada amarela e preta da Galeria 40, a primeira loja colaborativa da cidade. Fundado pelos irmãos Roniere de Lima, Raniere Maria e Manoel Neto, o espaço completa dois anos no próximo mês. A Galeria 40 nasceu para proporcionar variedades e produtos diferenciados aos moradores da região. Clara Brito, gerente do espaço desde o início, afirma que a aceitação da loja por parte do público tem sido grande. ;Quem compra não vem só do Guará. Vem gente da Asa Sul, do Lago Sul, de Águas Claras, de todo o DF;, conta. Os colaboradores também não estão concentrados em um bairro e estão divididos entre mulheres e homens. ;Temos parceiros de Águas Claras, Asa Norte e Lago Sul, por exemplo. São mulheres e homens microempreendedores;, completa Clara.
Entre importados, mercadorias infantis e escolares, eletrônicos, vestidos de festas, itens de casa e de decoração, roupas de praia e piscina, produtos artesanais e lembranças de Brasília, a Galeria 40 reúne hoje mais de 300 produtos de cerca de 50 colaboradores. ;Cada espaço é de um microempreendedor. Eles alugam e nós administramos: oferecemos o espaço físico, a nota fiscal, os funcionários e as tecnologias;, explica Clara. ;O colaborador não precisa estar o tempo todo supervisionando as mercadorias, embora ele arrume e organize o nicho do jeito que achar mais apropriado.; Mesmo quem é novato no universo colaborativo se encanta com as possibilidades que o segmento oferece para os envolvidos. ;É uma grande oportunidade de crescimento para os colaboradores e para a loja, que pode divulgar as parcerias e o trabalho feito;, comenta Aline Borba, que há um mês é vendedora na galeria.
A loja disponibiliza espaços para aluguel a partir de R$ 50 e cobra 20% de taxa administrativa em cima das vendas do mês de cada colaborador. O contrato, atualmente, é de quatro meses, podendo ser renovado. ;Um espaço colaborativo acaba servindo como uma sondagem do mercado, para ver como está a situação financeira de quem compra e do microempreendedor;, observa Clara. ;Não adianta colocar taxas muito altas porque o colaborador não vai conseguir pagar e vai encarecer os produtos;, completa a gerente. Como a Galeria 40 emite notas fiscais, não é preciso ser microempreendedor individual (MEI).
;Fica mais barato para o parceiro, de todo jeito. Se ele montar uma loja, mesmo sem vender, precisa pagar funcionários, bancar aluguel, luz, água e impostos como ICMS;, enumera Clara. ;Vamos adaptando também, de acordo com o que percebemos. No começo, o menor valor de um nicho era R$ 80, por exemplo;, continua. A loja faz divulgações via redes sociais, mas os colaboradores podem ; e devem, de acordo com Clara ; anunciar as próprias mercadorias. ;A galeria divulga o espaço como um todo. Quando o colaborador anuncia, ele fideliza o cliente, que vem até aqui comprar o produto que viu nas redes sociais;, explica.
Apoio para começar
Paula Cruz alugou um espaço na Galeria 40 para revender pijamas e roupas de ficar em casa no início de 2018. Acabou ficando no espaço apenas três meses. Há menos de um mês, a brasiliense de 41 anos resolveu pagar novamente por um nicho; dessa vez, com produtos voltados ao universo infantil. ;Tem que ter a percepção de qual tipo de mercadoria vende de acordo com o lugar em que a loja está. Às vezes, o público que frequenta não tem interesse no que você está vendendo. Foi o meu caso;, relata Paula. ;Tenho percebido que a área infantil é mais fácil de vender; então, estou testando.; Ela, que trabalha em uma firma particular, também vende as mercadorias pela internet.
;O que eu vejo é que o espaço em uma loja colaborativa traz segurança porque é um ponto fixo, um apoio, até porque muitas pessoas ainda têm medo de comprar on-line;, observa Paula. ;Como parceira e cliente, eu acho a loja colaborativa um espaço muito legal porque tem um pouquinho de várias marcas, de coisas diferentes, no mesmo lugar. Tem presente criativo, não é cheio de mesmices, muitas marcas autorais e artesanais;, observa.
Para Paula, no entanto, falta às lojas colaborativas maior visibilidade e divulgação. ;Se você for conversar com as pessoas, muita gente não sabe que existe nem o que é ou qual o conceito. Não é só falar nas redes sociais, acho que precisa divulgar em jornais, até do bairro mesmo.; Paula argumenta que a maior parte do público das lojas colaborativas está concentrada em uma faixa etária mais jovem. ;Eu falo mais com pessoas entre 45 e 50 anos. Está na moda para quem tem 25 anos, que é mais antenado. Os mais velhos não sabem o que é. Eu vejo essa grande dificuldade;, pondera a colaboradora.
Iniciativa desbravadora
O primeiro estabelecimento no formato colaborativo do DF foi a Endossa. Fundada em São Paulo, em 2008, a primeira loja de Brasília foi aberta em 2012, na 307 Sul. Hoje, está presente em quatro pontos do DF: 306 Sul, 310 Norte, shopping CasaPark e Águas Claras. Luana Ponto, 33 anos, e Maíra Belo, 35, sócias da Endossa em Brasília junto a Victor Parucker, contam que a loja de Águas Claras, inaugurada em dezembro do ano passado em um contêiner na Avenida Castanheiras, era um sonho antigo. A concretização veio quando uma hamburgueria artesanal do DF fez o convite. ;A gente já pensava em vir para Águas Claras há um tempo e em ter uma loja em contêiner. Foi inegável;, relembra Luana, que entrou na Endossa, como gerente, em 2014. Maíra ingressou no mesmo ano como atendente.
Na gestão delas, a loja da Asa Sul, que estava para ser fechada, foi para um espaço maior, e outras três foram lançadas, uma a cada ano: a da Asa Norte em 2016 e a do CasaPark, em 2017. As duas alugavam espaços na loja: Luana tinha um brechó de peças autorais e Maíra ainda tem uma marca em exposição na unidade da Asa Sul. Elas contam que, apesar de estarem há sete anos no DF, ainda existem pessoas que desconhecem o conceito de loja colaborativa. ;Até hoje tem gente que entra na loja da Asa Sul e fala que nunca tinha visto! E não sabe o que é. Pergunta se é brechó ou armarinho;, diverte-se Luana.
Maíra completa: ;É um conceito muito legal, então dá gosto explicar. Aqui em Águas Claras, ninguém conhece ainda, nem a loja nem a economia colaborativa, então estamos levando a palavra adiante. Saindo do Plano Piloto em direção à parte sul, por enquanto.; As empresárias contam que acessórios são os itens que mais têm saído na nova loja, que tem 60 marcas. ;As pessoas estão aqui comendo, enquanto esperam o lanche vêm dar uma olhada. São compras mais rápidas;, observa Luana. Marcos Peter, 24, é atendente da unidade do CasaPark há três meses e observa que o público é formado por compradores de itens de decoração do shopping e espectadores do cinema.
Maíra e Luana acreditam que a Endossa faz parte de um momento em que as pessoas estão procurando produzir e consumir de maneira consciente. ;Estamos indo no mesmo caminho de poder escolher e incentivar aquilo que se está consumindo e não só comprar sem saber de onde veio, quem fez, como foi produzido e se fazer aquilo causou ou não sofrimento a alguém;, pondera Maíra. ;Economia criativa é usar a arte, a moda e outros formatos de negócios para solucionar problemas e talvez desconstruir modelos antigos;, completa Luana. ;E pensando que abarca, principalmente, pequenos e médios negócios e que vem para solucionar problemas, a Endossa, então, veio para dar oportunidade para as pessoas que não tinham como abrir lojas físicas sozinhas;, completa.
;Então é economia criativa, é sustentável, é pensar no pequeno, é consumo consciente. Está tudo junto.; Elas acreditam que a expansão de estabelecimentos no formato colaborativo é um forte indício da força e da importância desse momento consciente. ;Várias lojas estão sendo abertas, bem longe do Plano e fora do Eixo. É muito massa, porque as pessoas estão se reunindo, investindo, empreendendo, se ajudando e incentivando a economia local.; Marcos Barbosa, 33 anos, gestor geral da Endossa Brasília, acredita que a loja coletiva é uma boa oportunidade para pequenas empresas. ;A diferença é o ciclo de coisas, de marcas e produtos. É a marca das marcas. Tem muitas lojas que começaram aqui e hoje têm indústria e loja próprias.;
Os aluguéis nas unidades Endossa de Brasília variam de R$ 320 a R$ 540. Não há cobrança de
valores administrativos, mas existem taxas de venda para os colaboradores: ICMS, taxa de cartão, valor da franquia. ;Eles têm acesso e gerência on-line. Então, na hora de cadastrar os preços, veem quanto vai ser descontado das taxas de venda, e quem paga, na verdade, é o cliente;, observa Maíra. ;O colaborador pensa em quanto quer lucrar e calcula o preço final.;
Serviço
Confira informações dos espaços colaborativos citados na reportagem
Meu Espaço
Quadra 8, Lote 3, Bloco 19, Loja 1 - Sobradinho (DF)
Contatos: 99190-2613 e 98520-1687
Instagram: @meuespaco.lojacolaborativa
Galeria 40
QE 40, Conjunto I, Lote 5 - Guará 2 (DF)
Contato: 3047-4240
Facebook: @Galeria40
Brasília deCoração
SCLN 407, Bloco C, Loja 17 - Asa Norte (DF)
Contato: (61) 99176-4322
Site: brasiliadecoracao.com.br
Instagram: @brasiliadecoracao
Mercearia Colaborativa
CLN 412, Bloco E, Lojas 4, 6 e 10 - Asa Norte (DF)
Contato: (61) 99936-1616
Site: merceariacolaborativa.com.br
Instagram: @merceariacolaborativa
Endossa
Águas Claras: Rua 28 Norte, Lote 7, Av. Castanheiras
Shopping Casa Park
Asa Sul: SCLS 306, Bloco A, Loja 30
Asa Norte: SCLN 310 Bloco C Lojas 14-20
Site: endossa.com
Instagram: @endossabsb
Até 10 de outubro, todas as unidades da Endossa estão arrecadando doações de comidas, roupas e brinquedos para a creche Semeando Esperança, na Estrutural.
*Colaborou Luiz Neto, estagiário sob supervisão de Ana Paula Lisboa