Trabalho e Formacao

Nichos de comida

Correio Braziliense
Correio Braziliense
postado em 29/09/2019 04:17

As lojas colaborativas, em geral, apresentam produtos de diferentes ramos e formatos, mas não perecíveis. Já a Mercearia Colaborativa, na Asa Norte, vende comidas e bebidas de diversos fornecedores para os clientes. Além de local que pode ser usado por quem gosta de estudar ou trabalhar fora de casa, com lanchonete, mesas e cadeiras, a loja tem freezers e prateleiras como opção de espaço para os colaboradores. Criada em setembro de 2016, o negócio tem como sócios Carol Oliveira, Gustavo Bill e Bernardo
Motta. A gerente é Gabriela Da;Fré.

Hoje, a loja tem 55 colaboradores e ainda conta com espaços para novos integrantes. Os administradores da mercearia também trazem objetos de fora do DF, como linguiça curada e vinhos. ;Quando a gente abriu, não tinha nenhuma loja colaborativa para comida. Fomos a primeira. Nada mais era do que uma feira permanente, até porque todos que vendem aqui fazem e participam de feiras em outros lugares.;

Os colaboradores são de locais variados do DF: Novo Gama, Paranoá, Lago Oeste, Asa Norte, Asa Sul, Setor de Indústrias, entre outros. Os clientes também não são de um bairro apenas, o que foi potencializado pelo serviço de delivery que a mercearia passou a ofertar. ;Temos conseguido chegar a outros bairros e atrair novos clientes por meio da entrega feita por parceiros;, conta Carol.

Salete Souza Cruz, moradora do Lago Sul, conheceu a Mercearia Colaborativa em uma feira no Brasília Shopping. ;Gostei muito de uma farofa que comprei e só vi sendo vendida aqui. Desde então, venho comprar;, conta a moradora do Lago Sul. ;Vou passar as férias em Aracaju e estou levando para o pessoal de lá experimentar porque eu comentei bastante!”, comenta, enquanto pede 10 pacotes da farofa de um colaborador da mercearia.

Carol percebe que a Mercearia Colaborativa foi abraçada por muitas pessoas que foram dispensadas de seus empregos e que precisavam de uma nova fonte de renda. ;Abrimos pegando o gancho da crise;, conta. ;Muitas pessoas têm receitas de família ou cozinham para amigos com uma culinária afetiva e queriam ver aonde chegariam com as vendas;, explica. ;Temos colaboradores, por exemplo, que saíram para abrir unidade própria. Eu brinco que aqui é um mini-Sebrae;, orgulha-se a sócia.

;Eles fizerem o teste sem precisar de um investimento inicial muito alto, de alugar loja, contratar funcionário e criar estrutura de cozinha.; A crise não atrapalhou as vendas. ;As pessoas não deixam de comprar comida, mesmo com a crise. Talvez o tipo de compra que tenha mudado, de repente a pessoa não compra mais um vinho diferente ou uma cerveja cara;, reflete Carol. Para manter um espaço na Mercearia, é necessário pagar o aluguel e arcar com as taxas tributárias. A mensalidade dos nichos varia entre R$ 250 e R$ 500, para opções dentro dos freezers. As prateleiras custam R$ 300 por mês. De acordo com o volume das vendas, a taxação é maior.

Dependendo do fechamento de cada colaborador, é cobrado um percentual que varia entre 19% e 23%. O tempo mínimo de permanência por contrato é de três meses, renovado mensalmente. Carol acredita que o cenário colaborativo está só começando a fazer parte da vida das pessoas. ;Eu acho que ainda vai pegar muito. Até criar essa cultura, é um processo intenso. A pessoa colaboradora precisa se envolver, é um trabalho coletivo.; Para ela, faz parte do gerenciamento de uma loja coletiva preparar o parceiro. ;Não queremos ser só um ponto de venda, queremos que o colaborador desenvolva seu produto e vá para frente com ele.;

Um dos pontos de orgulho da trajetória da Mercearia Colaborativa é o gerenciamento de perdas. ;Estamos lidando com produtos que têm prazos de validade. No começo, ficávamos arrasados quando eventualmente os alimentos se perdiam. Hoje em dia estamos quase no zero desperdício.; O próximo passo? ;Estamos sendo muito assediados para abrir a segunda Mercearia. Talvez na Asa Sul mesmo. Já tivemos desenhos para ir para outros lugares interessantíssimos, mas ainda não deu;, diz Carol.

Colaboração no Plano

Desde maio de 2017, a Asa Norte tem mais um ponto colaborativo. Trata-se da Brasília deCoração, iniciativa de Rafaela Schenkel para vender artesanatos com detalhes de Brasília que fazia, com preço mais acessível em relação a outras lojas similares. A ideia extrapolou as lembranças brasilienses e tornou-se uma loja colaborativa, hoje tocada por Áurea Vasconcelos e Kacau Castro. Rafaela não mora mais na cidade e cedeu o uso do nome para a dupla. Áurea entrou no negócio em 2018 e Kacau, há pouco mais de um mês. Desde novembro do ano passado, a Brasília deCoração está na 407 Norte. O outro espaço, na 410 Norte, ficava nos fundos da comercial. ;Estamos bem melhor aqui na 407, é uma rua mais movimentada e com o comércio mais diversificado;, observa Áurea.
;Estamos com muitos produtos veganos agora também. Essa é uma rua com público forte nessa área. Queremos atrair as pessoas que frequentam a quadra e não reparam nas lojas que chegam;, comenta Kacau. As empresárias contam que a faixa etária da clientela mudou de uma quadra para outra. No antigo local, pessoas acima de 50 anos
eram as maiores frequentadoras. No espaço atual, a média está na casa dos 30 anos. Para Áurea e Kacau, as feiras são essenciais para o sucesso de uma loja colaborativa.
;É onde conhecemos pessoas que querem ter um espaço na loja e possíveis clientes;, observa Kacau, que é formada em administração e produtora de eventos. Elas participam de feiras que tenham a ver com os segmentos dos produtos. Embora não seja o foco, muitos produtos encontrados na loja são artesanais, desde cosméticos até bijuterias. Uma das vantagens da produção em pequena escala, para elas, é a proximidade com quem produz. ;Eu consumo muito aqui na loja, porque é difícil encontrar o que temos aqui em outros lugares;, conta Kacau. ;Por nos conhecermos, eles apresentam os produtos e explicam como são feitos;, completa.

A maioria dos 23 parceiros que a loja têm hoje são mulheres, embora muitas marcas sejam lideradas por casais. É o caso da Moaralê, saboaria natural comandada por Alexandre Dafoe e Moara Giasson. O casal é colaborador da Brasília deCoração há cerca de um ano. Para ele, o modelo colaborativo precisa ter, de maneira mais clara, um objetivo de negócio. ;As meninas da Brasília deCoração estão muito mais perto do ideal desse desenho, de como ser, de fato, colaborativo.

É muito importante que a intenção da loja seja vender os produtos dos colaboradores, não a sua própria marca;, pondera o bacharel em relações internacionais de 41 anos. ;Estamos sempre em contato com outras pessoas que estão buscando uma nova forma de se sustentar, e as lojas colaborativas fazem parte disso;, destaca. O aluguel de um espaço no Brasília DeCoração custa entre R$ 120 e R$ 420; há 10% de taxa administrativa.

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