O filtro de spam do seu e-mail, os mecanismos de busca na internet, programas antifraude do cartão de crédito. Tudo isso funciona com a ajuda da inteligência artificial (IA). A ferramenta está cada vez mais presente no dia a dia das pessoas e também das empresas. Pensando nisso, a Universidade Federal de Goiás (UFG) inova ao oferecer graduação na área. Trata-se da primeira instituição de ensino superior pública a ter um curso de inteligência artificial. A primeira turma goiana está prevista para começar no primeiro semestre de 2020. Os 40 estudantes serão selecionados por meio do Sistema de Seleção Unificada (Sisu), que se baseia nas notas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem).
O curso ocorre no período integral, no câmpus Samambaia, em Goiânia. Anderson Soares, professor de inteligência artificial do Instituto de Informática da UFG e presidente da comissão de elaboração do curso, explica que a graduação vem para suprir um deficit que existe no mercado de trabalho. Ele observa que, geralmente, a formação das pessoas que trabalham na área vem de programas de pós-graduação, e isso acaba restringindo a quantidade de profissionais disponíveis. Existem quatro tipos principais de inteligência artificial: robótica, processamento de linguagem natural, análise visual e aprendizagem de máquina. Os setores que mais têm utilizado a tecnologia são marketing digital, varejo e distribuição, marketplace, segurança e logística.
Para além desses ramos, as possibilidades de atuação são muito amplass. ;Existe o uso de IA em praticamente qualquer setor, sobretudo os mais digitalizados. Mas o que mais tem se destacado é a aplicação na saúde, na automação de processos e na inteligência preditiva;, assinala o professor. Ele destaca também que a tecnologia tem sido usada no monitoramento de grandes plantações do agronegócio, indústria bastante forte no Centro-Oeste. O principal objetivo do novo curso da UFG, segundo Anderson, é oferecer a formação adequada para que os profissionais possam atender as demandas e ocupar novos postos de trabalho que estão sendo criados.
Tecnologia que fascina
O interesse principal de Lucas é a área de desenvolvimento de software atrelado à inteligência artificial, mas ele também considera interessantes projetos que são desenvolvidos no campo da saúde. Rafael Teixeira, 28, doutorando pelo programa de pós-graduação em ciência da computação da UFG, desenvolve tratamento preventivo a doenças crônicas a partir do uso de inteligência artificial em seu trabalho de pesquisa. Ele avalia que a área tem muito potencial, mas ainda enfrenta resistência de profissionais. ;Acredito que pela origem filosófica da medicina, ainda exista essa dificuldade;, diz. Ele explica que a tecnologia pode facilitar na identificação e na prevenção de doenças. ;É como se fosse um médico treinado para atender a milhões de pessoas. A gente joga os dados em uma IA e ela consegue avaliar vários casos de uma vez só;, esclarece o pesquisador.
Perfil profissional
Robert Duque-Ribeiro, diretor-executivo e líder de Applied Intelligence da Accenture, sinaliza que é necessário que o profissional formado na área tenha não só o conhecimento técnico para desempenhar as tarefas de programação e execução das ideias, mas, principalmente, deve saber pensar e desenvolver soluções a partir do uso da ferramenta. A empresa que ele representa oferece serviços de estratégia empresarial, consultoria, digital, tecnologia e operações na América Latina. Robert espera que as formações em IA não sejam voltadas apenas para processos técnicos, mas estimulem também as habilidades criativas do profissional.
Potencial econômico
Em 2017, a Accenture fez uma análise de cinco economias sul-americanas e constatou que a IA tem o potencial de aumentar as taxas de crescimento no continente em até um ponto percentual por ano até 2035. No Brasil, a pesquisa estimou que a tecnologia pode aumentar o valor acrescentado bruto ; diferença entre o valor da produção e o valor de consumo ; em até US$ 432 bilhões no mesmo período. O setor público é o ramo com maior potencial de crescimento, em áreas como saúde e mobilidade urbana.
Outros cursos
Em Brasília, o Centro Universitário Iesb tem uma graduação em ciência de dados e inteligência artificial, iniciada em fevereiro de 2018. Segundo o e-MEC (emec.mec.gov.br), portal do Ministério da Educação (MEC) que informa os cursos autorizados pela pasta, o Centro Universitário UniDomBosco oferece bacharelado na área a distância desde abril deste ano. A Escola de Matemática Aplicada da Fundação Getulio Vargas (Emap/FGV) começará a primeira turma do curso de ciência de dados e inteligência artificial em fevereiro de 2020. Assim como a UFG, há outras instituições que iniciarão formações em inteligência artificial, ainda sem data prevista: a Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC Goiás) abrirá curso tecnológico a distância em big data e inteligência artificial; enquanto o Centro Universitário Curitiba (UniCuritiba) e o Centro Universitário Claretiano lançarão bacharelados em inteligência artificial presenciais.
*Estagiária sob supervisão da subeditora Ana Paula Lisboa