Trabalho e Formacao

TI em alta no mercado

Enquanto mais de 14 milhões de pessoas sofrem com o desemprego, no setor de tecnologia são os empregadores que sofrem para contratar. As oportunidades da área só aumentam, mas faltam profissionais qualificados para assumir esses postos. Quem se adianta e se capacita leva vantagem e lucra com bons salários

Correio Braziliense
Correio Braziliense
postado em 13/10/2019 04:17
Enquanto mais de 14 milhões de pessoas sofrem com o desemprego, no setor de tecnologia são os empregadores que sofrem para contratar. As oportunidades da área só aumentam, mas faltam profissionais qualificados para assumir esses postos. Quem se adianta e se capacita leva vantagem e lucra com bons salários

Não é novidade que as profissões na área de TI (tecnologia da informação) estão em alta e são tendência para o futuro. Mas você sabe quais cargos são mais requisitados pelas empresas e como é possível se preparar para eles? De acordo com um levantamento do Instituto de Gestão e Tecnologia da Informação (IGTI), as cinco profissões que devem revolucionar o mercado de tecnologia nos próximos anos são profissional de big data e cientista de dados, profissional de machine learning, gestor de segurança em tecnologia da informação, gestor de inovação, arquiteto e engenheiro 3D.

O gerente acadêmico do IGTI, João Paulo Nascimento, explica que as empresas estão preocupadas em contratar profissionais qualificados para a área de tecnologia, principalmente no contexto da transformação digital. ;Apesar da situação do país, com números não tão animadores em outros setores, a área de TI está experimentando uma alta bem consistente em vagas de trabalho;, diz.

Para se ter uma ideia, uma pesquisa da Associação Brasileira das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação (Brasscom) revelou que o setor de TIC (tecnologia da informação e comunicação) movimentou R$ 479 bilhões em 2018, o equivalente a aproximadamente 7% do Produto Interno Bruto (PIB). Além disso, de acordo com o levantamento, o macrossetor de TIC gerou 43 mil postos de trabalho no mesmo ano.

Enquanto a oferta de vagas para TI é ampla, faltam profissionais qualificados para assumir esses postos. De acordo com a Brasscom, no período de 2018 a 2024, a demanda do mercado será de 420 mil trabalhadores ; cerca de 70 mil ao ano. Hoje, o Brasil forma 46 mil pessoas em cursos da área de tecnologia nesse tempo. Para João Paulo Nascimento, mestre e doutor em modelagem matemática e computacional pelo Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais (Cefet-MG), uma das possíveis causas dessa desproporção é a falta de investimento das pessoas na formação extracurricular.

;O currículo da faculdade é importante, ele aborda os principais temas que o estudante precisa saber, mas o aluno precisa correr um pouco mais, buscar cursos extracurriculares para complementar a formação;, aconselha. Na avaliação da professora do Departamento de Administração da Universidade de Brasília (UnB) Débora Barem, a formação na área de TI ;não é modesta;. Ela explica que esse mercado exige um nível de conhecimento bem especializado, um dos fatores que dificulta a capacitação da mão de obra. ;Hoje, seja no Brasil, seja em outros países, há uma necessidade por esses profissionais. Tanto é que eles estão sendo muito bem pagos por isso;, comenta. ;Há muita gente procurando, mas poucas pessoas têm qualificação, e isso é fundamental.;

Como se preparar
Diante desse cenário, especialistas aconselham os profissionais que se interessam por tecnologia a buscar capacitação na área. Há diversas opções para isso, desde videoaulas até cursos de graduação e pós-graduação. ;Se você gosta, se você tem propensão, já comece desde cedo a fazer esses cursos. Há muitas opções baratas e até gratuitas;, sugere a professora da UnB Débora Barem. ;Vamos pensar que você quer trabalhar como desenvolvedor de aplicativos, por exemplo. A Apple disponibiliza um curso completo para o IOS. O Android (sistema operacional desenvolvido pelo Google) oferece cursos básicos de programação com videoaulas. A própria Microsoft tem um catálogo enorme de cursos em tecnologia;, diz.


Ela ressalta, ainda, que, no setor de TI, há várias possibilidades de atuação. ;Quando a gente fala no aprendizado sobre programação, não existe um único ramo. Por isso, a pessoa precisa identificar do que ela mais gosta;, explica. ;Se eu vou para a área de segurança da informação ou vou desenvolver jogos digitais, os caminhos são diferentes;, exemplifica. De acordo com a especialista em mercado de trabalho, o mais importante é que a pessoa decida qual profissão se encaixa melhor no perfil dela.


João Paulo Nascimento, gerente acadêmico do IGTI, explica que há diversas opções na internet para quem deseja se qualificar na área. ;A gente tem, por exemplo, desafios que são colocados em sites especializados no assunto. Os estudantes têm a possibilidade de resolver essas questões e colocá-las no portfólio;, comenta. De acordo com o mestre e doutor em modelagem matemática e computacional, essa é uma oportunidade de preencher o currículo sem necessariamente ter trabalhado na área.


Na avaliação do professor Pergentino Araújo, que ministra o curso de ciências de dados e inteligência artificial no Centro Universitário Iesb, o ensino superior é a melhor forma de se preparar para os cargos na área de TI. ;Acredito que essa seja a maneira mais adequada para que você se torne apto para ser contratado;, opina. ;A demanda é muito grande, mas há muitos profissionais ruins na área. São pessoas que, por conta própria, tentam aprender uma tecnologia, sem embasamento algum;, acrescenta. O professor, que faz pós-doutorado em ciência da computação na UnB, explica que esses profissionais acabam não se mantendo no mercado.

Reciclagem profissional

Não é apenas quem deseja ocupar um cargo de TI que precisa se capacitar em relação às novas tecnologias. O conselho dos especialistas vale para todos os profissionais que desejam se manter no mercado. ;Eu não consigo ver um trabalhador que não tenha algum tipo de conhecimento nessa área em um futuro um pouco mais distante;, afirma a professora Débora Barem. De acordo com ela, não é necessário saber especificamente sobre programação, mas deve-se ter a condição de entender ou, pelo menos, de conversar sobre esse mundo. ;Não dá para viver à margem desse paradigma, achando que ele não está acontecendo, porque ele está;, alerta. ;Então, cada profissional, em sua área, pode começar a entender um pouco disso.;


O professor do Iesb Pergentino Araújo concorda que os conhecimentos em tecnologia são importantes para quaisquer áreas. ;Tudo hoje em dia envolve computação. Nem que seja no mínimo, você está trabalhando com um computador;, diz. ;É interessante que os profissionais busquem algum tipo de curso que possa dar essa base para que eles saibam operacionalizar um computador;, completa. De acordo com João Paulo Nascimento, gerente acadêmico do IGTI, a reciclagem profissional é muito importante nesse cenário. ;Mesmo as áreas que não estão diretamente relacionadas às novas tecnologias, daqui a um tempo serão afetadas por elas. Isso é fato. Então, quando isso acontecer, os profissionais precisam estar preparados;, opina.

Carolina Carioba, diretora de RH da empresa de comércio eletrônico OLX

*Estagiária sob supervisão da subeditora Ana Paula Lisboa

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