Trabalho e Formacao

Vou perder meu emprego para um robô?

Correio Braziliense
postado em 13/10/2019 04:17 / atualizado em 19/10/2020 17:42

Na opinião de especialistas, é inevitável que algumas ocupações — principalmente as que envolvem atividades muito repetitivas ou insalubres — sejam mecanizadas no futuro. No entanto, novas ocupações surgirão e os profissionais podem se recolocar no mercado. “Eu não acredito que a tecnologia vai diminuir a quantidade de empregos. Pelo contrário, acredito que o número de ocupações vai aumentar, principalmente aquelas ligadas à área de TI”, opina o professor Pergentino Araújo. “É claro que algumas atividades básicas vão ser automatizadas, como aconteceu com a Revolução Industrial. No entanto, vale ressaltar que a inteligência artificial não vem para substituir 100% o ser humano, ela vem para apoiá-lo.”


Na visão da especialista em mercado de trabalho Débora Barem, a crença de que as máquinas substituirão os seres humanos é mais um medo do que uma realidade. “Durante a vida inteira, a tecnologia veio para se somar aquilo que o homem tem de mais brilhante, que é a forma criativa de resolver problemas. Ela vem para facilitar nossa vida, não para nos substituir”, analisa. Ainda segundo a professora, isso não significa que algumas profissões não possam ser extintas. Ela cita como exemplo o caso do cobrador de ônibus. “Várias cidades do Brasil já não têm mais trocador. Nossa responsabilidade social é treiná-lo para que ele não fique sem emprego”, explica. “Mas a tecnologia não vai parar. Ela veio para facilitar nossa vida”, acrescenta.

 

Empreendedorismo e tecnologia

Desde criança, Flávia Torres Ferreira, 39 anos, se interessa por tecnologia. Hoje, ela torna casas inteligentes, equipando-as para prover comodidades aos moradores. Bacharel em ciência da computação pela Universidade Católica de Brasília (UCB), ela decidiu investir no setor e criou uma empresa que desenvolve projetos e instalações de sistemas de energia fotovoltaica, sistemas de segurança eletrônica, automação, telecom, áudio e vídeo — a C&T Estação Solar.
De acordo com a empresária, a proposta do negócio é conectar economia, segurança e conforto de uma maneira sustentável. “Você já se deu conta de quantos dispositivos ‘conversam’ entre si? Essa convergência de comunicação é a base da IoT (Internet das Coisas) e foi pensando nesse princípio que surgiu a empresa”, conta. A brasiliense explica que a automação residencial consiste em utilizar tecnologia para facilitar tarefas habituais.


“Hoje, você já nem precisa dar comandos. Pelo posicionamento do GPS do seu celular, é possível criar rotinas e sua casa ou escritório se prepara para te receber”, diz. “No fim do dia, sua residência detecta que você está a caminho e segue a rotina: liga o ar-condicionado para que você chegue e tenha um ambiente agradável, aciona o preparo do jantar, liga as luzes, aciona a banheira para que você possa tomar um banho aconchegante, abre o portão para o seu veículo, destrava as portas…”, exemplifica.


“Além disso, você é recebido com um café de aroma especial e sua música ambiente preferida.” Antes de empreender, a brasiliense trabalhou no Banco do Brasil e na Embratel, onde reforçou o portfólio em tecnologia. Além da graduação na área,  fez quatro cursos de profissionalização: informática industrial, na Escola Técnica de Brasília (ETB); sistemas eletrônicos de segurança, FrontEnd e eletricista de sistemas fotovoltaicos em microgeração em off-grid, no Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai).

 

Futuro cientista de dados

Carlos Henrique Carneiro Costa, 19, faz parte da primeira turma de graduação em ciência de dados e inteligência artificial do Centro Universitário Iesb, uma das áreas de TI mais promissoras para os próximos anos, de acordo com o levantamento do IGTI. Depois do curso, ele estará apto a analisar e interpretar dados de uma empresa, traduzindo-os para uma linguagem mais acessível e gerando informações a partir deles.


Desde o ensino médio, Carlos sabia que queria seguir carreira na área de TI. A escolha por ciência de dados veio após uma conversa com o irmão. “Inicialmente, eu queria cursar engenharia de software na UnB, mas acabei não passando pelo PAS (Programa de Avaliação Seriada) e fiquei perdido por um tempo”, relata. “Meu irmão já trabalhava na área e me falou sobre o curso de ciência de dados, especificamente sobre a graduação do Iesb, que era nova na época”, acrescenta.


O estudante, então, pesquisou sobre a profissão e se interessou, principalmente porque, de acordo com ele, a ciência de dados é uma área ampla e tem diversos campos de atuação, além de ser inovadora. Atualmente no 4º semestre da graduação, o jovem participa de um projeto de iniciação científica com o objetivo de identificar as principais causas de reprovação em matérias de exatas na instituição de ensino. “Aqui no Iesb, os cursos dessa área têm muita evasão, principalmente por causa de disciplinas como cálculo e álgebra”, relata.


“A gente vai coletar grandes bases de dados sobre os alunos para tentar entender por que eles reprovam nessas matérias: se eles não têm tempo de estudar, se vêm para a aula muito cansados…”, acrescenta. “Nós já até temos ideias da causa, mas não temos dados, e isso a ciência de dados pode nos proporcionar.” Carlos conta que está gostando muito da graduação. “Principalmente por ser um curso novo, estamos recebendo muito apoio.” Quando se formar, ele quer continuar estudando — o jovem pretende fazer mestrado e doutorado na área.

 

Segurança da informação

“Eu sempre gostei muito da área de TI, sempre fui muito curioso em relação à tecnologia. Essa curiosidade acabou despertando interesse, então eu escolhi minha profissão por amor e identificação com a carreira”, conta Flávio Rodrigo Barbosa, 34. Graduado em rede de computadores, o goiano é analista de segurança da informação na empresa de informática NCT, que é procurada por outras instituições para prestar, entre outros serviços, o de proteção de dados.
“A cada dia que passa, a gente tem mais necessidade desse tipo de profissional porque a quantidade de informações cresce muito”, explica Flávio. “Hoje você faz pagamentos, transferências bancárias e, até mesmo, compra imóveis pela internet. Por trás disso, existe uma infraestrutura muito grande, existe todo um cuidado para que essas informações não vazem”, acrescenta. O analista, que, anteriormente, era militar e trabalhava na área de redes do Exército, conta que grande parte dos clientes dele são governamentais, o que exige responsabilidade.


“Existe um cuidado muito grande com esses dados. Uma informação dessas na mão errada pode gerar um escândalo político”, diz. De acordo ele, a empresa onde trabalha sente o drama para contratar profissionais da área de TI. “Há vagas disponíveis que a gente não preenche. Elas pagam muitíssimo bem, mas a gente não encontra profissionais específicos, ou por causa da formação, ou porque eles ainda estão muito imaturos para lidar com esse teor de informação”, relata.

 

Palavra de especialista

Visão empresarial: é difícil contratar e reter
“A dificuldade para contratar empregados de TI existe porque há demanda muito alta, mas não há tantos profissionais. Para a área de TI, a gente não prioriza uma tecnologia específica na hora da contratação. A nossa avaliação leva mais em conta capacidade analítica e lógica, do ponto de vista da tecnologia, do que uma experiência específica. Conseguimos contratar, mas demanda muito tempo e dinheiro. Por isso, estamos sempre pensando em maneiras de melhorar o recrutamento. A gente também investe na formação e no desenvolvimento para a retenção desses profissionais. É difícil mantê-los — acredito que isso seja uma realidade em todas as empresas de tecnologia —, porque, como há uma grande oferta de vagas,  eles recebem propostas todos os dias. O que a gente faz é proporcionar oportunidades de crescimento, reavaliar o pacote de remuneração e benefícios, para ter certeza de que está alinhado com as melhores práticas do mercado.”
Carolina Carioba, diretora de RH da empresa de comércio  eletrônico OLX

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