Trabalho e Formacao

Jovens se reinventam com apoio

Conheça histórias de profissionais em início de carreira que mudaram de rumo e ganharam uma fonte de renda graças à ajuda do Instituto Entre Nós

postado em 08/12/2019 04:18
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Estampando música

Conhecido pelo sobrenome, Márcio Sena, 22, mora em Planaltina desde que se entende por gente. Ele vê o instituto como uma extensão da própria casa. Foi no ensino médio, aos 18 anos, que ele conheceu e começou a participar de batalhas de rima, aqueles encontros de hip hop onde dois MCs duelam entre si com rimas improvisadas. O movimento começou quando a Batalha do Neurônio ocorreu em Planaltina.


Depois, Sena se juntou a um amigo e começou a organizar mais eventos como esse. Atualmente, eles têm um canal no YouTube chamado Guerra do Flow, com mais de 211 mil inscritos. É o sexto maior canal de batalhas de rima do Brasil. ;Foi muita luta. Sofremos pressão policial;, lamenta, ao relembrar o início do projeto. Contudo, a dupla superou a opressão e, atualmente, alguns policiais costumam comparecer aos eventos para curtir e até gravar.


;Para mim, isso é uma conquista;, comemora Sena. Ele já presenciou muitas histórias comoventes de pessoas que mudaram de vida depois do hip hop e fica triste ao presenciar preconceito contra amantes desse ritmo. ;Um amigo meu que era do crime conheceu a batalha e mudou. Está até estudando.; No canal, Sena empreende para conseguir oferecer prêmios para os vencedores das batalhas. Todas as sexta às 19h30, há batalhas no Complexo Cultural de Planaltina.
De segunda a quinta, o horário é o mesmo, porém os duelos de rimas ocorrem em localidades como Buriti, Araponga e Estância, dependendo do dia. No sábado, é às 18h, no Vale. ;Algumas pessoas pensam que são maloqueiros, mas eles só querem oportunidade. Esse preconceito atrapalha;, afirma Bruno Melo, vigilante patrimonial. Bruno é o responsável pelas técnicas de sublimação e serigrafia do instituto, área pela qual Sena se interessou. Ambos se conheceram na organização.


Irmão de Renata, Bruno se tornou treinador no instituto no estilo aprender fazendo: viu vídeos no YouTube e, então, passou a ensinar jovens a estampar tecidos.


;A gente aprende ensinando;, afirma Bruno, ao recordar que, no começo, não sabia nada de sublimação, técnica de impressão em tecido. Foi no YouTube que aprendeu as técnicas necessárias. À medida que assistia a vídeos na plataforma, passava para os jovens do projeto e, em conjunto, colocava a mão na massa e produziam para vender. ;Esses meninos são muito guerreiros. Eles têm muita força de vontade. O que você passa para eles, eles dão o melhor para atender!”, diz Bruno.


;Antes, eram quatro meninos desempregados. Agora, todos os quatro estão empregados;, comemora. O Instituto Entre Nós fechou uma parceria com o festival Coma e, graças a isso, a organização do evento levou os jovens da Guerra do Flow para oficinas no festival. Lá, eles aprenderam sobre o mercado e perceberam a necessidade de estudar e se profissionalizar no mundo da música.


Um ponto alto para Sena foi a chance de conhecer Thomas Bertoni, planaltinense, guitarrista da Banda Scalene e um dos organizadores do festival. Depois de receber apoio do instituto e dominar a máquina de serigrafia e sublimação, o jovem espera montar a própria grife de camisetas dentro da organização e, quem sabe no futuro, ajudar mais pessoas como ele está sendo ajudado.

Depois da gravidez...

Aos 21 anos, Renata Pereira estudava educação física na Faculdade Anhanguera, em Sobradinho, e trabalhava como vendedora em uma loja de enxovais. Quando descobriu que estava grávida, teve de sair da faculdade. Depois que o filho, Matheus, nasceu, Renata, hoje com 23 anos, não tinha quem ficasse com o bebê, nem dinheiro para colocá-lo numa creche. ;Deixar filho pequeno em casa é complicado;, enfatiza.


Ela ficou desempregada e queria fazer um curso de design de glicerina, onde aprenderia a fazer sabonetes e velas para vender. Contudo, não tinha condições financeiras para bancar a capacitação nem para comprar os materiais a fim de começar a produção. O instituto foi o local certo para buscar ajuda: a Osc pagou o curso e comprou o material para ela empreender. ;Só devemos passar na pele o que a gente comeria;, explica.


Por isso, Renata se esforça para fazer sabonetes mais naturais. Nenhum deles tem glúten ou lactose na composição. O de buriti e o de mel são livres de essência e corante. Ela também faz sabonetes com outras fragrâncias, mas precisa utilizar essência e, dependendo do caso, também é necessário adicionar corante, como nos sabonetes de maracujá, limão, mel, bambu, petit gateau e laranja. Com as vendas, Renata espera voltar a estudar em janeiro do próximo ano. Sonha fazer um curso técnico em enfermagem.

Queijo é a solução

Andrei Camargos, 27, estava desempregado. Sem saber o que fazer para conseguir dinheiro, começou a perguntar às pessoas mais próximas e, em uma conversa com um familiar, surgiu a ideia de produzir queijo. Graças a uma parceria do instituto com o Senar (Serviço Nacional de Aprendizagem Rural), a sogra dele, Eunice Alves, fez um curso sobre derivados do leite. Por isso, ele a procurou atrás de dicas. Além do mais, o jovem foi atrás de Toinho do Queijo, produtor independente da região, e conheceu a cozinha dele.

Conversando e pesquisando, Andrei começou uma jornada de aprendizado. Os primeiros testes deram certo e, há cerca de dois meses, ele passou a comercializar seus primeiros queijos de porta em porta. A sogra, orgulhosa da produção do genro, não vê vantagens nos encontrados em supermercado. ;No mercado eles são cheios de ar, criam uma barriga. Esse do Andrei é bem prensadinho;, elogia.

A produção de queijo frescal ainda está no começo. Por isso, Andrei espera que o instituto o ajude com a precificação, embalagem, etiqueta, verificação de qualidade e venda. ;A intenção é vender em supermercado;, diz, esperançoso. O próximo passo é pedir um curso de queijos finos. ;Queremos distribuir queijos bonitinhos, bem embalados.;

Realidade desenhada

Mailson Borges Rocha, 29, é prestador de serviços gerais numa Unidade Básica de Saúde (UBS), mas o que ele gosta mesmo de fazer é desenhar. A especialidade dele são desenhos realistas. Há quatro anos, o jovem deixou o hobby por questões financeiras. ;O material é caro. Uma resma do papel de desenho Lana Bristol, com 20 folhas, custa entre R$ 150 e R$ 200;, conta. Os lápis têm diversas gramaturas e também são caros.

Expert em desenhos de rosto humano e de animais, o jovem leva, em média, de seis a sete horas para concluir uma obra. Ele fechou uma parceria com o instituto e está fazendo ilustrações que serão estampadas em camisetas. Mailson também recebe encomendas, e interessados podem escolher o material onde a obra será feita. É necessário dar uma entrada, equivalente ao custo para o artista comprar o que necessita e, na entrega, paga-se o restante.

Um auxílio-alimentação diferente

Como todo supermercado, o Ultrabox tem de se desfazer de alguns alimentos semanalmente. São dispensadas frutas e verduras que, embora estejam boas para o consumo, já não apresentam a mesma beleza na prateleira. Em vez de ir direto para o lixo, esses alimentos são doados para quem necessita. Todas as terças-feiras, o instituto recebe essas mercadorias. Os voluntários fazem uma triagem.


;Algumas frutas vêm boas, outras vêm com uma parte ruim, aí a gente corta para ver se dentro está bom ou ruim;, explica Bruno. Quando o alimento não serve para consumo, ele é jogado fora. Depois da seleção, tudo é separado em sacolinhas e distribuído em bairros carentes de Planaltina, para famílias cadastradas. ;Conheci histórias inimagináveis em pleno século 21;, lamenta. Outro dia, ofereceu uma pera para um criança carente enquanto distribuía as frutas e ela, sem acreditar no que estava ouvindo, perguntou: ;Eu posso pegar mesmo?;


Ele só entendeu a cara de espanto da criança depois de ela explicar que ouviu da mãe que uma pera custava R$ 5 mil. O instituto também recebe doações da Frutbrasil, distribuidora de frutas. Embora a distribuidora faça muitas doações, a proprietária Eunice Alves explica que sempre sobram frutas. ;Por isso, nós, do instituto, queremos comprar uma máquina para desidratar;, conta. Quando a fruta está seca, é possível vender a preços melhores e reaproveitá-las.

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